É Manuel Gonçalves Cerejeira
quem pressiona António Oliveira Salazar a aceitar o cargo de ministro das
Finanças em Abril de 1928.
A portaria dos sinos
gera um conflito que leva à demissão do primeiro-ministro, antecedida da
demissão de Salazar que não é aceite e acaba por reforçar a sua posição.
Em Novembro de 1929,
Cerejeira era nomeado Patriarca de Lisboa e, automaticamente, cardeal, o mais
jovem membro do Colégio dos Cardeais, sendo conhecido como “Cardeale bambino”.
Cerejeira beneficiava
da conjura dos sinos, porque a primeira escolha foram os Arcebispos de Évora e de
Braga (Manuel Vieira de Matos) e, entretanto, Salazar criava dois pilares do regime
– Acto Colonial e a União Nacional, em 1930 - , enquanto Cerejeira enervava o
ditador com pedido de amnistia para alguns opositores. Salazar vai apresentar cumprimentos
a Cerejeira e separam-se as águas. Cerejeira e Salazar despediram-se com “um
aperto de mão que não foi igual a nenhum dos anteriores. As relações
colaborantes passaram a ser frias e graves” – descreve Franco Nogueira.
Ao reivindicar a
Liberdade para a Igreja, na chegada ao poder de Salazar, em 1932, Manuel Cerejeira
coloca-se contra o comunismo e o totalitarismo de Estado.
Nessa perspectiva,
compreendemos melhor a crítica à participação de católicos nas listas da
oposição e nim à criação do Partido da Unidade Nacional.
A política era um negócio
para Salazar enquanto o de Cerejeira passava pela “defesa dos princípios do
regime, independência da Igreja e das legítimas liberdades do ser humano”.
A longa vida de
Manuel Gonçalves Cerejeira foi terreno de irónicas contradições e de inúmeros
efeitos perversos.
Garantida a independência
da Igreja, a JOC e a Juventude Universitária tornaram-se os primeiros sinais de
independência da Igreja face ao Estado novo.
“Emancipar a Igreja,
numa linha de independência na respectiva esfera e cooperação no terreno comum
em que os dois poderes se encontravam” era a linha de acção do Cardeale
Bambino. Foi assim que bateu o pé ao ministro António Carneiro Pacheco, quando
este lhe pediu que dissolvesse o Escutismo Católico (cf. José Geraldes Freire,
in Resistência Católica ao Salazarismo-Marcelismo, Porto, Telos, 1976, pp.
206-208).
O presidente do
Conselho nunca ouviu as súplicas e queixumes do Cardeal porque achava que “cada
um estava no seu papel” e a verdade é que Cerejeira nunca fez “o jogo das
oposições, levantando a voz a condenar o regime” - como reconheceu mais tarde
Marcelo Caetano.
Salazar há-de negar
qualquer relação entre os católicos e a sua ascensão ao poder como resposta ao
apelo de Cerejeira para que os católicos não caiam na “tirania pagã de César ou
na tirania bárbara de Lenine”, pelo que os padres se deviam limitar à política
do “padre-nosso” para fazer “reinar a justiça e a caridade”.
Chegávamos a 1933
quando o regime criava os pilares da repressão (PVDE e depois PIDE e o
Secretariado Nacional de Propaganda, com o plesbicito da Constituição. O Estado
Novo afirmava-se com o fracasso da greve geral de 18 de Novembro de 1934 e a
ilegalização do Movimento Sindicalista de Rolão Preto.
Cerejeira lutou pela
representação da Igreja na Câmara Corporativa e pelo ensino oficial segundo os princípios
da “doutrina e moral cristãs, tradicionais do país”, mas teve de aceitar a
Legião Portuguesa, a Mocidade Portuguesa e a Obra das Mães, abrindo o Campo de
concentração do Tarrafal e a organização militar para adultos. A Mocidade
Portuguesa gerava desconfiança a Cerejeira que lançou a Acção Católica que em
1940 já tinha 41 mil associados.
O Cardeal Cerejeira
aproveita a encíclica contra o comunismo, de 1931, para condenar a revolução
totalitária que conduzia “à miserável igualdade na escravidão”e a bomba dos
anarquistas, a 4 de Julho de 1937, é aproveitada para engrossar a “lenda do
carácter providencial de Salazar em inúmeras manifestações de apoio e missas de
agradecimento organizadas pelo regime e pela Igreja”.
Cerejeira
aproximava-se de Salazar e não tardava a ouvir-se, em 1940, Cerejeira bradar
por “honra e glória ao Estado Novo, que, no ano jubilar da Nação portuguesa,
institui uma ordem nova na qual se afirma a paz a e harmonia da Igreja e do
Estado, pelo reconhecimento dos direitos daquela e garantia dos legítimos
interesses deste”.
Daí a afirmar que
“cabe aos cristãos derrotar o comunismo” foi um pequenino passo gigantesco a
que o Estado Novo deve responder com “reformas para assegurar à classe operária
as condições para uma existência humana e cristã, com o necessário à
sustentação da vida, da família, da habitação e da educação”.
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