Friday, April 18, 2008

Braga: a encruzilhada dos novos centros comerciais



Só o mercado vai dizer se Braga tem ou não capacidade para suportar novos investimentos na área de centros comerciais — assegura António Afonso — director geral do Braga Parque.

Em entrevista à Rádio de Braga Antena Minho, no programa “Empresa e empresário”, o director geral do Braga Parque acrescenta, no entanto, que, “para todos os projectos que estão licenciados, acho que não”.

Explicando-se melhor, António Afonso recorda: “estamos a falar de um centro comercial com cerca de 70 mil quadrados de área para alugar e de outro com cerca de 40 mil metros quadrados. Para as pessoas terem uma ideia, o Braga Parque tinha uma área de doze mil e agora tem 19 mil metros quadrados. Estamos a falar de dois centros comerciais com uma área muito superior à do Braga Parque”.

Mas existem outros receitas, porque, adianta o responsável pela gestão da unidade bracarense, “gosto de olhar para outras realidades que já existem, há comportamentos de consumo que são parecidos.

A sensação com que fico é que o aparecimento de dois novos centros comerciais acabará por ser prejudicial para todos e o mercado será curto para toda essa oferta de espaços. Não podemos olhar para Braga só, mas para a sua envolvente. Há outros centros comerciais do Porto acabam por ter influência em todo o Minho e no Alto Minho, quando vamos ter mais um grande centro Comercial no porto e outro em Guimarães. Tudo isso se relaciona, o que agrava ainda mais a situação.”

NOVA CONCEPÇÃO

O Braga Parque estreou em Braga uma nova concepção de Centro Comercial porque, diz António Afonso, “hoje, ir a um centro comercial não tem que ser visto de forma negativa, numa perspectiva só comercial, porque os centros comerciais são locais de socialização onde as pessoas se encontram umas com as outras, onde vão por motivos de lazer e de cultura”.


Sob administração de António Afonso, inserido num mundo mais vasto que é a Mundicenter, o Braga Parque, pertence a uma das primeiras empresas a construir centros comerciais em Portugal, começando com as Amoreiras que há 20 anos foi um marco arquitectónico e comercial de Lisboa.

Aliás, isso mesmo acontece em Braga. Sempre que possível tenta-se que em termos arquitectónicos seja um edifício que possa marcar positivamente, agradável a quem circula na cidade”, para que depois seja um complexo comercial e instrumento de promoção da cultura e das iniciativas bracarenses.

Para António Afonso, ver o Braga Parque como parceiro da Semana Santa de Braga, concretiza uma das suas marcas, a sua estreita ligação com a cidade.

Não é só publicidade porque pensamos que um centro Comercial pode e deve fazer parte da cidade. Na base está o objectivo de fidelizar clientes e nada melhor que as pessoas sentirem que nós nos preocupamos com a cidade. As pessoas sentem o centro comercial como deles e a melhor forma de o fazer é através da vertente cultural. As pessoas já se habituaram a ver exposições de arte sacra na Semana Santa, para além de acções pontuais, como a sua divulgação da em vários locais como forma de chamar turistas a Braga.

Há sempre formas de apoiar e não apenas de patrocínios, em dinheiro, mas com outras acções de divulgação das actividades e animação no centro comercial.

Consolidar e preparar o futuro

Face aos projectos que se adivinham para Braga, a administração da Mundicenter está numa fase de estudo dos números e a ver como se tudo se ajusta. “Os números deixam-nos satisfeitos mas dão-nos poucos indicadores ainda e precisamos de tempo. Estamos sempre a pensar em como fazer melhor e o Braga Parque já mostrou nestes nove anos que estamos atentos e preocupados em fazer melhor. Estamos atentos às possibilidades de melhorar este centro comercial”.

Inaugurado em 13 de Maio de 1999, o Braga Parque constitui um exemplo paradigmático de sucesso empresarial, em número de consumidores e sobretudo em volume de vendas, o que não o impede de ser um dos maiores parceiros da Semana Santa de Braga, entre outras iniciativas que envolvem a cidade.

Depois foi inaugurada em Novembro passado uma nova fase que permitiu abrir uma loja que é muito significativa e de outras lojas na área do vestuário que melhoraram a nossa oferta, para além de aumentarmos os cinemas e uma loja que há muito tempo era esperada em Braga, a FNAC.

“A vida passa por aqui” porque “nós tentamos que seja mais que um conjunto de lojas mas funcione como ponto de encontro, ponto de cultura e ser um ponto de referência da vida da cidade”.

Para além das propostas culturais, algumas delas inspiradas na cidade e outras que inspiram Braga, a estratégia do Braga Parque “tenta assim a fidelização de clientes porque a inovação tenm de ser feita pelas lojas e na zona nova com 15 lojas”.

O nosso objectivo — prossegue o nosso interlocutor — é ir dando atractivos e motivos às pessoas para que se sintam bem e não estejam sempre a vera s mesmas coisas. Umas acções tem carácter comercial e outras não. Todas as pessoas sempre que vão ao centro comercial devem ter coisas novas que possam ver, mesmo que vão todas as semanas ao Braga Parque”.

Com o aumento, nos últimos anos, das respostas que mais damos a lojistas é não. Tinha 90 lojas, “fomos afinando a qualidade e cada vez mais tinhamos poucoas lojas para oferecer a novas marcas que apareciam. Braga é a provavelmente a cidade mais interessante para as novas marcas, a seguir a Lisboa e Porto. Muitas marcas quando escolhem Braga pensam no Braga parque e tinhamos problemas em dar resposta”.

O tráfego de pessoas tem aumentado todos os anos, mas a subida tem sido mais forte em termos de facturação, apesar ads obras realizadas no ano passado, com a menor oferta de lojas e de cinema (a partir de Maio até Novembro).
Como se explicam estes números de vendas (24,7 milhões de euros em 2000 e em 2006, as vendas totalizaram 52 milhões de euros)?

Em nove anos, do conjunto de lojas que abriram inicialmente, quase metade continuam mas as outras foram susbtituídas e os números mostram que a substituição resultou em aumento de vendas.

É muito mais difícil acertar logo em todas, no começo, mas “foi-se acertando” de acordo com os gostos do público para dar sucesso às quase 110 lojas.

As obras abalaram o tráfego de pessoas que foi recuperado no final do ano, mas em etrmos de vendas as obras não penalizaram os lojistas, uma vez que o Natal e as novas lojas permitiram recuperar os valores de vendas.
Os dados de 2008, dos primeiros meses confirmam esse crescimento.



Por anúncio do jornal

António Afonso nasceu no Porto mas conhece a cidade de Braga há muitos anos porque tem uma parte muito minhota uma vez que tem família em Guimarães.

Não foi preocupante vir trabalhar para Braga, depois de fazer os estudos de economia na faculdade de Economia do Porto.
Foi recrutado pela Mundicenter em 1999, em Junho, e começou a exercer funções no Braga Parque, de director geral, desde Novembro. Até então foi director comercial.

No dia a dia, o mais difícil para António Afonso, é gerir relacionamentos de pessoas porque estes têm de ser obrigatoriamente a base da gestão. As decisões de carácter operacional, “depois de serem todos ouvidos, são da nossa responsabilidade, tendo em consideração o que é melhor para o centro deve ser o melhor para cada um dos lojistas.

Se há coisa que prezamos é ter um relacionamento próximo com todos os lojistas. Quanto à área comercial — está na moda — as relações de venda não devem ficar aí mas ser relações de parceria, dentro de um centro comercial. O centro só está bem quando as suas lojas funcionam bem.

Essa noção de parcerias existe e é mesmo assim que o Braga Parque tem de funcionar”.
O décimo aniversário “vai ser celebrado com qualquer coisa em grande”. No fim deste mês há o desfile de moda, com muitas caras conhecidas, “é para nós um grande evento e estamos concentrados nesse evento. Não vamos esquecer o concurso de bandas de música jovem” — conclui António Afonso.

Bento XVI: um gesto corajoso



O Papa Bento XVI proporcionou-nos uma grandiosa lição de coragem ao reunir-se em Washington com um grupo de pessoas que foram abusadas sexualmente por membros do clero.

O nosso Alexandre Herculano dizia que não nos devemos envergonhar de corrigir os nossos erros e mudar as opiniões, porque isso significa que não temos vergonha de raciocinar e aprender.

O grupo, acompanhado pelo arcebispo de Boston, orou com o Papa que escutou depois os seus relatos pessoais e lhes ofereceu palavras de encorajamento e de esperança.

Bento XVI "garantiu-lhes que rezaria por eles, pelas suas famílias e por todas as vítimas de abusos sexuais".
O encontro durou 20 a 25 minutos, e o arcebispo de Boston entregou ao Papa um livro contendo a lista de mil vítimas da sua diocese.

A Igreja católica norte-americana foi abalada por este escândalo depois da confissão em 2002 do arcebispo de Boston na época, que admitiu ter protegido um padre que agredira sexualmente jovens católicos, o que desencadeou uma série de revelações embaraçosas e um afluxo de queixas.

Falando aos bispos norte-americanos no terceiro dia da sua viagem aos Estados Unidos, Bento XVI reconheceu que o caso foi, "por vezes, muito mal gerido" mas defendeu "a compaixão e a atenção às vítimas".

Embora tenha denunciado também os "costumes sexuais" da sociedade americana que constituem o "contexto" deste escândalo, Bento XVI afirmou-se acima da mediocridade de grandes lideres mundiais.

Pode parecer desabido, citá-lo a este propósito, mas Mao Tse Tung defendia que os líderes devem evitar a arrogância. “É uma questão de princípio para os dirigentes, mas é também uma importante condição para manter a unidade. Nem mesmo aqueles que não cometeram erros graves e conseguiram grandes êxitos no trabalho devem ser arrogantes”.

Assumindo os erros de alguns membros da Igreja Católica, além de um acto de enorme coragem e lucidez do papa, ao fazê-lo, Bento XVI reconquistou provavelmente o coração dos americanos e abriu de par em par a porta da reconciliação e lançou as sementes da Esperança.

Os católicos dos Estados Unidos humilhados pelos acontecimentos tristes de 2002, podem agora sentir-se orgulhosos de pertencerem a uma família de crentes que sabe pedir perdão e merece o perdão da sociedade norte-americana.

Tuesday, April 15, 2008

Trova do Vento que passa

Partimos. Vamos. Somos.


Somos — os dois? — a Trova do Vento que passa
Do "nosso" Manuel Alegre.
Ele é que é o maior, sem dúvida.
Acho eu, minha Trova da liberdade de informação.
Agora, abra o ficheiro do Youtube

http://www.youtube.com/watch?v=lnX9NwhoUws


e oiça... Seja também
"alguém que resiste,
alguém que diz não".
Mesmo na noite
Mesmo no dia
Mesmo na semana
Mesmo no ano
Mais triste.


Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
o vento nada me diz.

La-ra-lai-lai-lai-la, la-ra-lai-lai-lai-la, [Refrão]
La-ra-lai-lai-lai-la, la-ra-lai-lai-lai-la. [Bis]

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

[Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.]

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Quando Shakespeare falava da Madeira


O Funchal está a celebrar 500 anos da sua fundação, quando os primeiros colonos ali se instalaram, idos do Continente, e a transformaram num celeiro.

Nos séculos seguintes assiste-se à nova realidade, a do Vinho da Madeira, que se torna um produto de exportação importante para a Inglaterra", até citada em algumas obras de Shakespeare.

No século XX, o Funchal passa a ser uma cidade moderna e depois de 1974 que se assiste a um projecto autonómico interessantíssimo que transforma totalmente a ilha e o Funchal de cidade romântica do séc. XIX, numa capital que tenta ser competitiva, atractiva e moderna.

Foi através do comércio do açúcar e do vinho que o Funchal se tornou um importante porto de escalas das rotas atlânticas para onde vieram numerosos mercadores estrangeiros desde os genoveses aos ingleses, com o comércio do vinho.

Por isso, nesta data solene custa a entender que Cavaco Silva, ao visita a Madeira aceite não ser recebido pela Assembleia Regional numa cedência inesperada a Alberto João Jardim.

A Assembleia Regional Legislativa é o primeiro órgão de governo próprio da região autônoma e constitui o mais sublime representante da vontade do povo da Madeira

O silêncio e a cedência de Cavaco Silva assumem maior gravidade face às afirmações do presidente do Governo Regional que ofendem a Assembleia Legislativa, o Presidente da República e o Estado de direito democrático.

Recorde-se que o presidente do PSD/Madeira e do Governo Regional da Madeira justificou esta decisão para evitar que o Presidente da República tivesse uma péssima imagem da Madeira mostrar o bando de loucos que está dentro da Assembleia Legislativa.

Alberto João Jardim citou os deputados da oposição como "o fascista do PND, o padre Egdar (do PCP)" e "aqueles tipos do PS".

O presidente da República ouviu, não se demarcou e assobiou para o Oceano Atlântico, colocando-se ao mesmo nível de Alberto João Jardim, aninhado, de cócoras. Mesmo depois de ser tratado como "sr. Silva"

Ser ou não ser... democrata, eis a questão que Cavaco Silva não teve coragem de colocar durante esta visita.

Saturday, April 12, 2008

Braga: da cidade para Aveleda



Depois de Adaúfe — onde há pessoas fantásticas, não há? — prosseguimos o nosso passeio por mais uma freguesia situada fora do casco urbano. Hoje vamos até Aveleda.
É a Capela da Senhora de Mazagã ou do Parto ou do Ó. Seja qual for a invocação que o povo lhe faz, estamos perante o ex-libris da freguesia de Aveleda.

A Capela foi edificada em 1756 sob orientação do entalhador bracarense Marceliano Araújo, sendo lhe atribuída também a execução de alguns elementos decorativos tipicamente beneditinos, como as imagens da frontaria, em dois grupos, sobre peanhas, que representam o Encontro de Nossa Senhora com sua Mãe. Trata-se de um motivo escultórico que se repete no retábulo da capela Mor.

As imagens do Interior da Igreja eram emprestadas para o Calvário de S. João do Souto, junto à Capela dos Coimbras, durante a semana Santa, na cidade de Braga. Este elemento decorativo devia justificar o seu nome: Capela da Senhora do Encontro e evitar outras designações que indevidamente lhe foram dadas ao longo dos tempos.

Quando à designação de Senhora do Parto deriva da festa que ali se realiza anualmente. Sabe-se que antigamente havia uma romaria das parturientes e agora tem lá uma imagem.

É curioso verificar que Santa Maria é o patrono de Aveleda, mas a imagem que pontifica na Igreja paroquial é a da Senhora do Ó ou do Parto. Devia ser lá que se devia fazer esta festa ou romaria das parturientes.

A capela possui um belíssimo retábulo, com um sacrário em estilo Rocaille, com pinturas de rosas em redor da porta. Os dois caixilhos em cada lado do retábulo, atribuídos a André Soares, representam S. Miguel e as Almas. Daí que esta capela também seja designada por Capela das Almas pois em tempos teve ali sede a Confraria dos mesmo nome.

A festa da Senhora do Parto – cuja imagem está na Igreja Paroquial de Aveleda – realiza-se no último Domingo de Setembro.




O árabe Marzagão

O Nome Mazagão deriva da palavra árabe Marzagão, nome de uma praça forte no norte de África, e existe noutras localidades – esclarece Adelino Ribeiro, um homem que se tem dedicado à investigação e recolha de dados históricos da sua freguesia.

O seu nome fica a dever-se a alguém muito rico que veio do Norte de África e se instalou ali. Esse indivíduo teria tanto poder que, em 1875, quando o ramal ferroviário de Braga estava a ser construído, obrigou a CP a fazer lá um apeadeiro para possibilitar aos muitos trabalhadores da sua Quinta (onde está situada agora a APECDA e que nos anos quarenta era um grande celeiro) um acesso mais fácil para eles. E

sse indivíduo é o avô da proprietária que vendeu a Quinta à APECDA e foi director do extinto Banco do Minho, além de ser sócio do grande banqueiro famalicense Cupertino Miranda. Não era um indívíduo de sangue real porque a casa não tem armas nem brasão real

Quem construiu a linha foi uma empresa inglesa e os engenheiros tinham dificuldade em pronunciar ‘Marzagão’, escreveram na placa do apeadeiro ‘Mazagão’ e assim continuou este nome.

Situada à saída do perímetro urbano de Braga, tem como padroeira Santa Maria, mas a origem dos seu nome divide os historiadores. Se uns se inclinam para uma origem celta germânica, da palavra “Vellêdas”, outros preferem a palavra latina “avellanas”.

No primeiro caso, a origem do nome do tempo da ocupação dos ‘gallos’ celtas que trouxeram para cá o seu culto, os seus druidas ou sacerdote e as suas “Vellêdas” ou sacerdotisas e estas eram escolhidas entre as donzelas mais famosas, quase sempre filhas de druidas, e faziam voto de castidade por um certo número de anos. No segundo caso, a origem latina do nome deve-se ao facto de Aveleda ter sido um aterra onde abundavam as árvores de avelãs.

Os autarcas e os estudiosos da heráldica parecem ter preferido esta segunda versão, a julgar pela escolha do brasão para a freguesia que inclui um escudo vermelho, com cinco ramos de aveleira, folhados do mesmo e frutados de ouro.

Quer uma origem quer outra para este nome e sobretudo a sua situação entre dois montes, um deles desde há muito tempo chamado de S. Mamede fazem pensar que a povoação desta terra é muito antiga, apesar de o primeiro documento que se refere a Aveleda datar do século XIII.

Aí se referia que Aveleda pertencia ao couto de Braga e mais tarde terá pertencido a Vimieiro. Entre 1320 1 371 aparece integrada no couto de Bastuço, até passar depois para o termo de Braga, mantendo-se assim até aos nossos dias.

Adaúfe: Operária ensaia coros de Bom Sucesso e Santa Maria



A Capela da Senhora do Bom Sucesso mantém todo o esplendor davido ao carinho que os seus devotos lhe dedicam desde meados do século XVIII. Trata-se de um lugar muito conhecido pela festa em honra de Nossa Senhora do Bom Sucesso, que se venera numa capelinha construída em meados do século XVIII (1752), no primeiro Domingo de Setembro e pelas célebres papas de sarrabulho. É o coração de uma das freguesias antigas que, mais tarde, foi anexada pela grande Matriz de Adaúfe.
Todos os Domingos, às 9 horas, é celebrada a Eucaristia sempre solenizada pelo grupo coral que é constituído por dez vozes, duas delas masculinas.

Rosa Maria Carvalho é a coordenadora e ensaiadora desta força juvenil que já teve mais elementos mas que resiste a ensaiar todos os sábados à noite. Quem quiser cantar já sabe que pode aparecer às 21,30 horas.

A coordenadora está satisfeita porque “tem havido grande assiduidade ultimamente”.
Esta operária aprendeu a tocar piano na Escola EB 2/3 de Palmeira e gosta tanto de música que já esteve a coordenar também o coral da Capela de Santa Marinha, ao longo de duas décadas.

Com um repertório consttiuído por muitas dezenas de cânticos de música sacra, o coro é constituído por jovens estudantes e trabalhadores que funcionam como uma rede de amizade que se mantém há uns vinte anos.
A Rosa Maria é operária têxtil e continua apostada no recrutamento de novos elementos porque “faltam vozes masculinas. Só temos duas”.

A coordenadora começou a cantar e a tocar nas celebrações dominicais aos onze anos e nunca mais abandonou estas tarefas que lhe absorvem tempo porque “gosto muito de música”.

Al´m do envolvimento nas festas do segundo fim-de-semanna de Setembro, o grupo coral da capela do Bom Sucesso realiza quase sempre um jantar de Natal como forma de cimentar a união entre todos os elementos.

De resto, a dedicação de Rosa Maria acaba por contagiar outros elementos da paróquia, como foi o caso da Susana Raquel que se viu estimulada a aprender a tocar e a seguir uma formação na área do ensino da música.
Hoje é a coordenadora do grupo coral de Santa Marinha.



HÁ VINTE ANOS A CANTAR

Sabe-se que há vinte anos, pelo menos, um pequeno grupo de pessoas se reúne todas as semanas para ensaiar os cânticos e animar a Eucaristia dominical na Capela de Santa Marinha, agora bem alindada com um arranjo exterior que a enriqueceu.
A Capela surge aos olhos do visitante como um belo miradouro sobre o vale do rio Cávado e ostenta sobre a porta principal a data da sua construção.

Este pequeno templo acolheu até há dois anos uma festa em honra da padroeira mas não tem havido gente suficiente para retomar a celebração.
No entanto, um grupo de cinco jovens continua a manter o brilho necessário à Missa vespertina, sob coordenação da Susana Raquel Dias, finalista de Educação Musical na ESE de Viana do Castelo, desde Janeiro deste ano, em substituição da Rosa Maria (Bom Sucesso).

Aliás, foi a ver a Rosa a tocar que nasceu em Susana o gosto pela música na Escola EB 2/3 de Palmeira. Depois frequentou a Escola de Música Sacra.

Já fomos 26 elementos” — recorda Susana Dias que acompanha os restantes elementos à viola, entoando cãnticos mais jovens.
De vez em quando, tentamos angariar novos elementos mas as pesoas não estão para se prender a horas marcadas “ — lamenta a coorenadora deste grupo que ensaia às sextas-feiras, pelas 21 horas.

A Missa celebra-se aos sábados, às 18,30 horas, onde estes cinco canores mostram os que valem com um “vasto repertório”
Com alargamento e pavimentação recentes do caminho entre Ferreiros e Penela, foi facilitado o acesos condigno a outra capela antiquíssima: trata-se de um pequeno templo construído em 1760 que tem como patrona Santa Marinha, outra das antigas freguesias que foi anexada pela de Adaúfe.

Apreciada como deve ser a capela de Santa Marinha, podemos fazer inversão de marcha, enquanto apreciamos algumas proprie-dades agrícolas como bonitos exemplares da arqui- tectura rural minhota, em direcção ao centro da freguesia, onde, à face da estrada nacional, podemos apreciar outra capela bonita, a de S. João, onde também existe um pequeno grupo coral que é coordenado pelo ensaiador do grupo da Missa das 11 horas na Igreja Paroquial.

Adaúfe: a engenheira solidária dos sons e catequese



Com dezena e meia de elementos e com ensaios quinzenais, o Grupo Coral de Adolescentes é um dos sete existentes na paróquia de Adaúfe. Afirmou-se há 14 anos a esta parte, quando Ana Paula Teixeira Antunes lançou um desafio aos seus adolescentes da catequese do sétimo ano para animarem a Eucaristia que nesse tempo se celebrava aos Domingos à tarde.

Era uma Eucaristia participada por muita gente mas sem cânticos e eu notei que tinha um grupinho de rapazes e raparigas com boas vozes e desafiei-os a animar a Celebração. Eles aceitaram e ainda existem dois elementos desse tempo inicial” – recorda Ana Paula Antunes.

Mais tarde, a Missa foi transferida para os sábados e agora a animação musical é repartida também pelo grupo coral de Jovens.
Os ensaios realizam-se nas sextas-feiras à noite: “é o único dia que há disponível porque a maioria dos elementos estuda”.
Ana Paula Antunes é a ensaiadora de cânticos mais ritmados adequados à idade dos membros do coro, acompanhando-os à viola enquanto alguns elementos tocam outros instrumentos de percussão. O grupo também era acompanhada por um organista mas “essa pessoa agora trabalha e não tem disponibilidade para o fazer”.

Depois de ter aprendido a tocar viola na Casa de Cultura, Ana Paula Antunes já enriqueceu o grupo coral com mais de cem cânticos que são também entoados em casamentos, baptizados, para além da festa do Dia da Mãe e dos Reis em Montariol.
A coordenadora e ensaiadora procura entre os compositores a maioria das músicas que ensaia mas busca também algumas de Espanha que traduz para a nossa língua porque “os espanhóis tem músicas muito lindas e que agradam aos adolescentes”.

O grupo coral dos adolescentes realiza também um passeio anual ao centro do país, a Torres Vedras e durante esses dias anima a Eucaristia naquela cidade. O passeio deste ano está marcado para o último fim-de-semana de Julho.

Quanto a reuniões de convívio, tornam-se mais raros por causa da dificuldade em reunir todas as pessoas, dado que a maioria são estudantes que “são bastante assíduos aos ensaios e nas celebrações”.



A ENGENHEIRA
DA MÚSICA
E DA SOLIDARIEDADE

Sem desprimor para outras pessoas muito sublimes que encontramos ao longo desta semana vivida em Adaúfe, Ana Paula Antunes é uma mulher fascinante quando se fala de doação de si e das suas capacidades em favor da comunidade em que vive.

Sem usar mais adjectivos, porque as suas acções falam melhor, Ana Paula Antunes é licenciada em Engenharia Agro-Pecuária pela Universidade de Coimbra.

Sempre gostei de cantar – remata, ao explicar-nos este gosto especial pela arte dos sons que nasceu na infância, quando duas tias que fizeram o Curso de Cristandade cantarolavam umas melodias que ela aprendeu “com facilidade”.
Já de pequenina cantava e o Padre Correia incentivou-me a tocar viola, no tempo da escola primária, quando já cantava nas festas da escola, como no Natal, etc.” – lembra a nossa interlocutora.

Este gosto pela música acompanhou-a ao longo da vida até se licenciar em Coimbra e uma primeira experiência profissional numa exploração em Vieira do Minho.

Desempregada, depois surgiu a oportunidade de vir trabalhar no Centro Social de Adaúfe, como acontece actualmente sem esquecer o “sonho de fazer aquilo que gosto e para o qual estudei. Tenho as minhas hortas em casa e continuo a praticar” – acrescenta, entre sorrisos.

Quanto ao seu trabalho actual, Ana Paula não esconde que gosta “do que faço aqui e continuo a estar a par daquilo que estudei”.

Esta engenheira da agro-pecuária dá explicações depois do trabalho nas disciplinas de matemática, ciências e físico-químicas e ainda descobre tempo para animar a Eucaristia em Montariol e fazer visitas à Cadeia de Braga, aos sábados à tarde, onde anima a Eucaristia com os acordes da sua viola e os sons da sua voz.

Além de coordenar o Grupo Coral dos Adolescentes faz catequese com o sétimo ano, em Adaúfe, e representa o Concelho de Braga no Conselho Pastoral Diocesano.

Com uma agenda “onde tenho tudo apontado”, Ana Paula encontra ainda um espaço para dar aulas de Viola em Celeirós, numa comunidade terapêutica.

Adaúfe: formação dos jovens é a prioridade


Com sete grupos corais, a paróquia de Adaúfe proporciona aos fieis celebrações litúrgicas de qualidade, com musica cujo ritmo se adapta aos participantes, desde os adolescentes aos seniores. Marcada pela emigração — com cerca de dois mil habitantes fora da freguesia e a ganhar o sustento no estrangeiro, Adaúfe é uma freguesia de transição entre a cidade e o meio rural interior minhoto.

Esta constitui uma das principais riquezas desta paróquia, embora os grupos das capelas sejam mais pequenos. Os grupos dos jovens e dos adolescentes e da missa das 7,30 horas tem cerca de dezena e meia de membros e o da missa das 11 horas possui mais alguns elementos que os outros.

Todos os grupos possuem um coordenador e ensaiador, excepto o da capela de S. João que é apoiado pelo ensaiador do grupo da missa das 11 horas na Igreja paroquial.

Com a Festa da Padroeira a 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição, com cerimônias religiosas apenas, Adaúfe celebra com grande empenho a Festa da Assunção de Nossa Senhora, a 15 de Agosto. Esta festa tem uma procissão com certo nível, desde há três anos para cá, com a representação de quadros bíblicos que tem sido espectacular”.

Depois, a festa tem um programa popular profano e com a participação do rancho folclórico.

Quanto a Festas, a da Capela de Santa Marinha, no primeiro Domingo de Agosto, deixou de se fazer há dois mil anos. Este ano também não deverá haver por falta de gente para a Comissão de Festas. A Capela da Senhora do Bom Sucesso continua a manter sua festa no segundo domingo de Setembro, devido ao bairrismo dos lugares de Moinhos, Vale e Pinheirinho que fazem uma festa com “grande nível”.

Em termos de confrarias, Adaúfe possui apenas a das Almas, uma vez que as restantes acabaram por agonizar e morrer, como a de S. António e de S. Sebastião, entre outras.
“As pessoas não estavam motivadas para trabalhar e por isso elas acabaram” — explica o pároco de Adaúfe.

ENCONTRAR
PESSOAS
PARA SERVIR
OS OUTROS

A maior dificuldade sentida pelo padre José Sepúlveda Costa consiste em encontrar “pessoas que se disponibilizem para assumir um compromisso continuado”. “É um pouco complicado” — acrescenta embora reconheça que, na Juventude, há dois sectores em que Adaúfe está bem servida. Um deles é o da catequese com um conjunto de catequistas de elevado nível, a maioria universitários e alguns já licenciados”. O outro é o grupo de jovens e a Companhia das Guias de Portugal, a viver um momento de grande pujança e crescimento.

Na catequese toda a acção é desenvolvida a partir da Igreja em que as reuniões incluem as catequistas da s capelas, onde não há catequistas suficientes para as várias cllasses. Ali tem as primeiras seis classes, excepto no Bom Sucesso.
A Catequese funciona toda nas salas do rés-do-chão da residência paroquial, do centro social e na sede da Confraria das Almas.

No que se refere aos jovens, o padre José Sepúlveda lembra o grupo de jovens e a Companhia de Guias. O padre Viana tentou criar um grupo de escuteiros que passado pouco tempo acabou por não vingar.As guias já existem desde o tempo do padre Correia e “hoje estão outra vez em força depois de há alguns anos terem passado por alguma crise”.

A Companhia de Guias de Adaúfe está motivada e talvez tenham hoje a melhor situação quer em quantidade quer em qualidade de trabalho e formação, sempre com a preocupação de estar ao serviço da paróquia que se nota bem no segundo domingo de cada mês”.

Mas há outras áreas como a Conferencia Vicentina que ajudam pessoas e famílias mais carenciadas, com um apoio de presença e distribuição de bens. São os membros da Conferencia Vicentina que fazem a ponte comigo, para passarem a receber a comunhão ao Domingo, o que é um trabalho importante mas há uma dificuldade em arranjar elementos para esse trabalho. As pessoas que pertencem à Conferência Vicentina são todas de meia idade e mais e há o perigo de acabar opor não haver “pessoas que queiram fazer isso”.



A dimensão social da actividade paroquial é assegurada também pelo Centro Social que presta apoio aos idosos, em regime de centro de Dia, apoio domiciliário e ATL para os mais pequenitos.

No centro de Dia presta apoio a dez idosos, no apoio domiciliário são servidos trinta idosos e no ATL também são servidas refeições para 25 crianças, mediante protocolo com a Junta de Freguesia.

À tarde, o ATL é frequentado por nove crianças face às alterações introduzidas pelo Ministério da Educação mas “vamos tentar resolver o problema sem despedir ninguém. Temos de ter presente que o nosso Centro tem uma dimensão pequena e o numero de funcionários — sete — não gera grandes preocupações”.

Em termos de apoio domiciliário, “vamos conseguindo dar resposta à procura mas o numero de utentes é flutuante”.
O Centro Social é uma IPSS e financeiramente vive com as comparticipações dos utentes e da Segurança Social.

CENTRO SOCIAL
SEM PAR(ES)
DO ESTADO

Nós não temos condições para mais. Só com um edifício de raiz. Temos um terreno aqui junto à Igreja, temos um projecto aprovado, estava em PIDDAC, agora candidatamos ao PARES e esse é o nosso sonho: um Centro social com mais valências e com melhores condições que este não tem Ao fazer uma obra de raiz, reuníamos todas as condições que a Segurança social exige”.

Nesse projecto, “não fomos nós que decidimos quais eram as valências. Foi a Segurança Social que fez um estudo e determinou as valências a constar como centro de Dia, apoio domiciliário e ATL. Contemplava creche e Lar de idosos com a capacidade para trinta pessoas. Retirou-se o ATL, devido às mudanças recentes”.

Que esperanças? “Não sabemos se pode haver alguma esperança. Não vamos desistir. Tivemos uma reunião com a Directora da Segurança Social de Braga. Se não íamos muito animados viemos pior. O PIDDAC está fechado, O PARES não está a dar dinheiro para obras desta envergadura. Agora abriu a terceira fase do PARES mas é só para o Porto e Lisboa. Não está fácil mas às vezes dá vontade de desanimar” — confessa o padre José Sepúlveda Costa.

“Dizem que temos um projecto espectacular mas não passa disso” — sublinhou.
Em termos de obras, há onze anos estavam a terminar as obras na Igreja que custaram cerca de 25 mil contos. Depois, começaram algumas obras nas residência paroquial e “estamos agora com o restauro que está quase concluída,onde gastamos à volta de onze mil contos”.

Também foi “restaurado o órgão de tubos, em que gastamos seis mil contos, mas metade foi financiada pela Junta de Freguesia”.
Para o Centro social, não foram feitas grandes obras e a “única coisa que fizemos foi aquele salão para o Centro de dia com mobiliário novo e ar condicionado”.

No que concerne às Capelas, junto à da Senhora do Bom Sucesso, estamos a fazer um pequeno salão num terreno que se comprou com o saldo das Comissões de festas para se transferir para lá a catequese e ensaios do grupo coral que agora são feitas na Capela.

“Temos aqui ao lado da Igreja uma casa devoluta e queríamos fazer um salão paroquial com espaço para festas e para a catequese. Esperamos pela vontade dos proprietários e enquanto isso não acontece vamos solicitando o salão da sede da Junta de Freguesia que tem tido uma colaboração muito boa, atenciosa e dedicada com a Paróquia” — prossegue o pároco de Adaúfe.

Se esse espaço ficar disponível é o nosso projecto a lançar.
Com boas relações com a autarquia e outras instituições da localidade, “tendo sempre a noção das nossas competências e o serviço da comunidade, unindo forças e colaborando muito bem” porque o facto de “ser de Adaúfe me trouxe mais vantagens que desvantagens na relação com as pessoas”.

Alem da relação institucional, “existe uma relação de amizade que simplifica muito as coisas” – acrescenta o padre José Sepúlveda é responsável por um jornal mensal que envia 500 exemplares para os emigrantes no estrangeiro. O jornal está a aberto a ser veículo de informação para todas as instituições.

Sobre o futuro, como pároco de Adaúfe, “tenho coisas que gostava de fazer e um dos desejos é “ver se conseguimos fazer qualquer coisa com a Juventude. Já tivemos um grupo de jovens mas as coisas descambaram e a imagem que ficou foi negativa. Estamos a ver se tentamos avançar com alguma coisa para trabalhar com a Juventude porque eles são os homens e s mulheres de amanhã”.

Aproveitar aqueles que queiram, nos últimos anos da catequese, para trabalhar com eles e dar-lhes formação através de um grupo de jovens “seria o grande trabalho a fazer e mais necessário neste momento”.

Olhando para os onze anos de serviço aos seus conterrâneos, o padre José Sepúlveda Costa destaca as alterações na procissão da Festa de 15 de Agosto, porque havia algum receio das reacções das pessoas mas “o resultado final foi muito bom”.

No ano passado “fizemos uma encenação da Paixão ao vivo e as pessoas ficaram encantadas. Faz-nos bem porque as pessoas aderem e gostam”.

ATLETA E JORNALISTA

“Posso dizer que me custou um bocado quando deixei o futebol, aos 29 anos. Como dizia o meu treinador, naquela altura é que eu podia por a render tudo o que eu tinha mas entendi que o futebol me roubava muito tempo”.

A nostalgia dos campos de futebol ainda está presente no coração do padre José Sepúlveda, um excelente médio ala direito” que brilhou ao serviço da selecção do Seminário e na equipa da sua terra natal, o Adaúfe.

O padre José Sepúlveda Costa tinha talento para o futebol enquanto seminarista e mesmo já depois de ordenado padre, ao serviço da equipa da sua terra, o Grupo Desportivo de Adaúfe, durante oito anos. “Com 29 anos, ainda era o jogador mais rápido do Adaúfe, quando deixei o futebol. A velocidade era uma das minhas armas” — admite este sacerdote que entrou ao serviço dos seus conterrâneos no dia 16 de Fevereiro de 1997, para substituir o padre Hugo Viana, depois de ter estado treze anos ao serviço dos seminários deiocesanos como professor e prefeito.

Em 21 de Setembro do mesmo ano assume definitivamente a paroquialidade mantendo as estruturas existentes que encontrou e dinamizando outras. A conclusão das obras na Igreja e a recuperação da residência paroquial, colocada ao serviço do Centro Social e dos movimentos pastorais assinalam onze anos de serviço a Adaúfe.

Servindo-se do jornal “Mensagem nova”, fundado pelo padre Correia, o pároco de Adaúfe dialoga com a comunidade emigrante constituída por cerca de duas mil almas que abandonou a terra à procura de melhores ganhos para si e para as suas famílias.

Os jovens constituem agora a sua principal preocupação enquanto o projecto para o novo Centro Social está em “banho maria” à espera de financiamento por parte do Estado que idealizou aquele projecto de acordo com as necessidades daquela freguesia e das localidades vizinhas.

A saudade parafraseada



Apertar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Um murro, um soco, um pontapé, doem.
Bater com a cabeça na quina da mesa,
dói morder a língua!
Dói a pedra no rim.

Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade do gosto de uma fruta rara.
Saudade do amigo que nos deixou.
Saudade de uma cidade.
Saudade de nós, porque o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorosa é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, da ausência forçada.

Podias ficar na sala e ela no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Podias ir ao dentista e ele para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Podias ficar o dia sem vê-lo, e ele o dia sem vê-la, mas viam-se amanhã.

Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
ao outro sobra a saudade que ninguém sabe como matar.

Saudade é simplesmente
não saber, é ignorar.
É ignorar se ele continua a fungar num ambiente mais frio.
É ignorar se ele continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.

É não saber

se ele tem comido bem
por causa daquela mania
de estar sempre ocupado,
se ele tem assistido às aulas,

Se ele ainda sorri com aqueles olhos que falam
Se ele ainda canta as músicas que eu adorava
Se ele continua a gostar dos mesmsos filmes
Se ele escarnece os meus desenhos

Saudade é não saber nada!
É não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos,
É não saber como encontrar tarefas que lhe encham o pensamento,
É não saber como secar as lágrimas diante de uma música,
É não saber como vencer a dor do silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber
se ele está com outra, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz,

Saudade é nunca mais saber
de quem se ama e ainda assim dói.

Saudade é isso que senti enquanto escrevi
e o que tu, provavelmente, estás a sentir agora,
depois de saber que eu tenho saudades de ti.
Já agora mata-me a saudade
porque queres saber de mim.

Não faço a barba aos sábados
Não sorrio com aqueles olhos que falam
Não canto as tuas canções
Não voltei ao cinema
Nem rio dos teus desenhos.

Os meus dias são mais curtos,
Trabalho e trabalho para esquecer
A desilusão que tu foste
E secou as minhas lágrimas
Apos tanta dor silenciosa!

Nem sei se tenho saudade.
Gostava de lhe dar outro nome
Porque, para Pablo Neruda,
Saudade é "amar um passado que não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida"

... E eu começo a ter saudade
De a tua saudade ignorar
Para voltar a fazer
a barba ao sábado
Para voltar a cantar
Para voltar a sorrir
Para voltar falar alto
E fazer com que outra
Sinta saudade de mim.

Tuesday, April 1, 2008

D. Jorge Ortiga: não aos silêncios cúmplices




Anunciava-se grande expectativa e uma eleição incerta do presidente da Conferência episcopal Portuguesa, mas os bispos portugueses com a sua sabedoria proverbial, resolveram o assunto de uma assentada.

Não chegou a haver caso ou tema de especulação jornalística e D. Jorge Ortiga acabou por suceder a si mesmo, para mais um mandato à frente da Igreja Portuguesa.

O arcebispo Primaz de Braga considera como prioritária a regulamentação da Concordata e promete intensificar
os nossos contactos com o Governo, particularmente na área da regulamentação da Concordata.

Acabou por se registar uma “eleição sem programa nem campanha eleitoral, porque o objectivo é “dar continuidade a um projecto que já tinha assumido”, apostando no “trabalho na iniciação cristã” e procurando que “as dioceses trabalhem em sintonia”.

É uma dupla vitória da Igreja Bracarense que se deve também ao perfil humano e moderado de D. Jorge, dado que na segunda votação, dos 29 bispos eleitores, 16 votaram em D. Jorge Ortiga, enquanto o cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, foi o segundo mais votado.

O vice-presidente, D. António Marto, ex-bispo auxiliar de Braga, foi eleito à terceira volta. Os bispos portugueses aprovaram uma alteração dos estatutos da CEP, que dá a um padre o cargo de secretário e porta-voz. O escolhido é Manuel Morujão, antigo Provincial dos Jesuítas, a servir na Arquidiocese de Braga.

Cansado do cargo e da exposição mediática, o Arcebispo de Braga acabou por se constituir como a ponte que fez o consenso entre dois blocos liderados por Lisboa e Porto.

A Igreja Portuguesa, os cristãos portugueses esperam, para alem da postura consensual de D. Jorge, uma intervenção mais vincada na defesa da dimensão social do homem crente que espera respostas da Igreja e não silêncios coniventes e comprometedores.

Os portugueses anseiam que a Igreja não se enrede nem desgaste energias a lutar pelos seus direitos na Concordata. Esses direitos apenas são importantes se a Igreja Católica Portuguea (pelo seu presidente e no seu conjunto) não correndo se esquecer dos seus deveres: ser a voz dos (cada vez mais) sem voz.

De Arentim até as pedras falam


Arentim — deriva de Argentinim, prateada ou de prata — alarga-se em campos verdes riscados pelo rio Este e pela linha do comboio, colocados em anfiteatro demarcado pelos montes de Santo André e da Pedra Bela de onde s e olha cá para baixo e se vê o velho rio Este. Se olhar ao longe avista a cidade de Braga, à distância de uma légua. Se estiver bom tempo também se avistam as “lanchas no mar”.

A Câmara Municipal de Braga propõe agora aos habitantes das freguesias urbanas uma rota pelas freguesias. Eis o nosso humilde contributo, para que não vão passear sem nada nas mãos que os ajudem num itinerário.

No Monte de S. André terá havido uma capela com o mesmo nome mas existe um penedo “santo” que tem o feitio de uma cama onde dizem estar aí o Santo.

Outrora, este rio tinha águas cristalinas, muitos peixes e, junto aos açudes, os miúdos davam uns mergulhos no Verão, mas agora segue como doente incurável e alquebrado pela poluição visível nos trapos, plásticos e toda a forma de lixo deixada nas suas margens.

No século XVIII, escrevia-se que os peixes mais encontrados no rio eram as “vogas e trutas, escallos e bardos, a maior abundância escallos e som muito gostozos”.

Nessa altura o rio era atravessado através de uma “ponte de traves e paus na estrada que passa da vila de Guimarães para a vila de Barcelos, feita e conservada á custa da freguesia”.

Nascida à sombra de uma villa romana duvidosa ou de um certo e comprovado mosteiro, as pedras são encontradas aqui e ali no lugar do Assento e no Campo da seara — a merecer uma prospecção arqueológica quando houver dinheiro — e até serviram para construir, no século XVII a Velha igreja de Arentim.

O mosteiro de Argintym é mencionado em documentos de 1088, onde se fala do abade Aloitus, seguindo-se outros de 1188 onde já se escreve Arintin e 1477 onde o nome evolui para Aremtim. Em 1514, os documentos disponíveis escrevem Aremtym até que a Corografia Portuguesa de Carvalho da Costa escreve Arentim.

O crescimento de Arentim fica a dever-se à conhecida revolução do milho. Em 1758, as Memórias Paroquiais afirmam a existência de 80 casas e 230 habitantes contra as 270 famílias actuais com quase mil pessoas.

De Arentim, até as pedras falam e podem inspirar o seu tratamento museológico como boa forma de reutilização da Velha Igreja, abandonada há cerca de trinta anos.

No pequeno núcleo museológico instalado provisoriamente na sede da Junta de Freguesia, podemos ver um capitel coríntio dos tempos romanos e é um dos primeiros locais onde se encontraram peças de origem moçárabe.
Existem também dois modilhões de rolos que são os primeiros aparecidos em Portugal e datáveis do século X.


Por falar de pedras, convém fazer uma visita à velha igreja de Arentim, presumivelmente construída no século XVII e com um interior remodelado no século seguinte. Tem pouco valor artístico a sua torre sineira de 1879 (‘os sinos se achavam pendurados em uns paus quasi podres e que ameaçavam ruina o que seria não só de grave prejuízo, quebrando os sinos, mas além disso, indecência e vergonha para a freguesia’).

As alterações à sacristia datam dos anos 60 do século passado, mas encerra um enorme valor sentimental: foi ali que muitos dos habitantes de Arentim casaram, foram baptizados e frequentaram a catequese. Verifica-se que na sua construção foram usadas pedras do antigo mosteiro do lugar do Assento mas sai-se de lá um pouco triste com a sensação de abandono e descuido com que os moradores envolvem as ruas de acesso ao templo.

Do lado direito da porta principal da Igreja Velha pode observar-se uma pedra aparelhada de grandes dimensões que faz recordar a cultura castreja mas também foi utilizada em monumentos medievais.

Na sacristia da Igreja existem outras pedras visigóticas ou moçárabes, eventualmente vindas do antigo mosteiro, citado pela primeira vez nas doações que D. Afonso Henriques faz à Sé de Braga.



O templo original possuía três altares, o maior com a imagem de S. Salvador, outro com a imagem da Senhora do Rosário e um terceiro com a imagem de S. Sebastião e S. António. Em 1758, o pároco dizia que a Igreja pertencera aos Templários…
O povo de Arentim tem agora um novo templo, construído na década de 70, por estímulo do Padre David de Oliveira Martins, com um centro paroquial, onde após o 25 de Abril funcionou sede da Junta de Freguesia e o Grupo Cénico.

Na década de oitenta, uma estudiosa do Museu Martins Sarmento propôs que a Igreja Velha fosse transformada em museu da freguesia de Arentim. Esta igreja corre o risco de ser destruída ou degradada com funções em nada condignas. A comunidade não aceitaria a sua degradação sem protesto. Foi um edifício que congregou ao longo de três séculos a comunidade e o arcebispado, interessado na preservação do seu património não gostará de o ver destruído ou indignadamente degradado.

Por isso, Maria Isabel Fernandes sugeria a recuperação e reutilização da Igreja Velha em núcleo de arqueologia com o material que já existe e com o que encontrará quando se realizarem escavações no Campo da Seara.

E por que não se podem guardar aí os abandonados arados com dentes em pau ou em ferro, os malhos, limpadores de cereais, grades de dentes em pau ou em ferro de preparar a terra para as sementeiras, as sacholas, enxadas, alviões, sachos, engaços ou as carrelas, espadelas, vassouras de giestas ou codeços, sedeiros, jugos ou cangas de arcos ou brocha, cofos, cofinhos, forcalhos, rasas com rasão, etc.?

Capela a merecer classificação

No lugar da estrada existe a melhor pérola do património construído em Arentim: a capela da Senhora das Neves ou de S. Gonçalo, com um altar barroco que o povo diz ter vindo da Velha igreja, quando se fez a sua remodelação, no século XVIII.
A ASPA já pediu a sua classificação, ao IPPAR (então IPPC) em 1982 e até agora não foi tomada qualquer decisão.

A mesma estudiosa que citámos antes, aponta esta capela como escolha alternativa para um núcleo museológico vocacionado para a arte sacra como imagens das antiga Igreja, os oratórios, presépios, imagens em marfim ou madeira existentes em muitas casas da freguesia. Nas “Memórias Paroquiais” de 1758 escreve-se que a festa era celebrada a 5 de Agosto e que nesta capela havia uma imagem de Santa Catarina.

De acordo com um levantamento feito pela ASPA, a pedido do presidente da Junta de Freguesia, em 1980, Alcino Pinto Faria, no interior, esta capela possui boa talha, do segundo período do barroco, e o pavimento está recoberto por lajes de ardósia, o que “parece não ter paralelo no concelho”.

Foram realizadas naquela década obras de recuperação do telhado que estava em ruína total de modo a proteger a talha do altar principal de “excelente qualidade”.

Não estamos perante um grande monumento mas de um “modesto templo rural, construído numa época determinada (antes de 1769) e com personalidade própria que não deve perder”.



Os moinhos negreiros

Arentim possuía em 1758 oito moinhos negreiros no rio Este e alguns ainda se mantinham em funcionamento há pouco mais de uma década mas agora estão abandonados e em decomposição.

Não faz sentido levar as mós para um museu, longe do rio e sem qualquer utilização e onde não se ouvem as águas que correm, o barulho da roda a moer nem se vê o milho transformar-se em farinha.