A assistência
religiosa aos soldados na frente de guerra foi uma bandeira,
em 1917, liderada por Cerejeira.
É um ano grandioso
para os católicos, com as aparições de Fátima, e de grande excitação, com a
revolta de Sidónio Pais.
Sidónio é recebido em
Coimbra por uma comissão da qual faz parte Oliveira Salazar e no jantar
compareceu também Manuel Cerejeira.
Percebe-se desta
profunda amizade de juventude que Cerejeira sempre tenha recusado qualificar de
totalitário o regime, realçando antes o facto deste, através da Constituição de
1933, reconhecer à Igreja e às famílias um espaço de actuação na educação.
Em 1918, Cerejeira
doutorou-se em Ciências Históricas e Geográficas, com uma dissertação sobre
Clenardo – uma vítima da Inquisição - e o Renascimento em Portugal que obteve
vinte valores, tendo um dos membros do júri sublinhado o “talento Formosíssimo
e brilhante, a vastidão dos seus conhecimentos, o seu espírito científico,
superiores qualidades de método e exposição”.
Com Sidónio, a
questão religiosa é atenuada, com regresso dos bispos exilados e reatamento das
relações com o Vaticano.
Cerejeira prepara-se
para ser professor na área do seu doutoramento, usando-a para legitimar o papel
universal e nacional da Igreja pelo que o homem moderno não devia adorar o
Estado, a raça, a nação ou classe. Aquilino Ribeiro, António Sérgio ou Ferreira
de Castro contam-se entre os seus admiradores e Fernando Namora chegou a
descrevê-lo como “homem de letras de alta estirpe” com um “temperamento receptivo
à novidade”.
No entanto, Namora
distingue as duas fases da vida de Cerejeira, a “do jovem brilhante
universitário de Coimbra” e a “do intelectual revestido de pesadas funções de
cardeal de Lisboa”, num período de comprometimento com a ditadura, com “rumores
de divergências crescentes” entre o guia da Igreja e o Chefe de Estado Novo
(cf. Moreira das Neves, in
“Sentados na Relva”).
Nesta altura,
Cerejeira e Salazar continuavam a viver e a almoçar muitas vezes juntos,
notando-se cada vez mais a diferença de temperamentos. À simpatia, alegria e
sentimento do primeiro, o segundo respondia com dureza, sobriedade e
organização reservada e fria.
Cerejeira dizia que
Salazar “tinha durezas joaninas (D. João II) e fraquezas femininas” enquanto o
segundo o definia como “um bárbaro literário”.
Em 1925, ambos
integram a direcção coimbrã do Centro Católico Português que consegue eleger
quatro deputados aquando da renúncia de Manuel Teixeira Gomes, que abre caminho
à intentona organizada a partir de Braga, pelo Marechal Gomes da Costa, para
impor a ditadura e extinguir a I República.
O Patriarcado de
Lisboa foi envolvido no golpe e o CCP começa a colaborar com a ditadura,
enquanto Cerejeira se dedicava a uma produtiva fase de investigação histórica e
publicava uma das suas obras mais emblemáticas “A Igreja e o pensamento
contemporâneo”, uma tentativa de reconciliar a ciência com a religião.
Dois anos depois, ele
e Salazar, trocam Coimbra por Lisboa, para iniciar a “época de ouro” das suas
vidas.
“Quem sou eu? De mim
não sou nada; e se tirardes o que Deus na sua misericórdia pôs em mim, só
encontrareis de próprio o pecado. Mas, se olhais à obra da graça em mim,
reconhecereis que sou o novo Apóstolo que vos é enviado em nome do Senhor, ao
qual foi dada a missão de governar a sua Igreja”, em Portugal. Estas
palavras destacam-se da sua
primeira saudação ao clero e fiéis de Lisboa, em 1930.
A ditadura tinha
satisfeito os católicos ao separar os sexos nas escolas e assinar acordo com
Vaticano referente ao Padroado no Oriente. Cerejeira tinha 40 anos e era o
quase patriarca mais jovem na história de Lisboa. É Cerejeira quem pressiona
Salazar a aceitar o cargo de ministro das Finanças em Abril de 1928, deixando
assim “rebentar o vulcão de ambições” e “ser útil à Igreja”.
Cerejeira lembra a
Salazar que ele está no posto de ministro como “emissário dos amigos de Deus” e
felicita-o quando ele apresenta o seu primeiro orçamento para 1929.
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