A entrega de um capelão da
Armada, implicado no golpe da Sé, em 1959, por Cerejeira é o melhor exemplo da colaboração do cardeal
com a PIDE mesmo que a repressão atingisse os “seus padres”.
O Cardeal não podia ignorar o
que se passava na PIDE, tendo sido informado pela própria sobrinha, presa em
1963, que os “detidos eram sujeitos a tortura do sono e se ouvia à noite
pancadas, gritos e corpos a cair” (cf. Arquivo da PIDE/DGS, pc. do GT n.º 688.
Outra postura lamentável de
Cerejeira foi a sua postura face à Censura, uma vez que a Concordata não
permitia que a imprensa Católica a ela ficasse sujeita. No entanto, o Estado
violou várias vezes esse acordo internacional, como aconteceu com o Bispo da
Beira ou o processo dos Bairros de Lata.
O Bispo do Porto, Ferreira
Gomes, desabafou que o Patriarca tenha colaborado com a censura ao rejeitar um
pedido de publicação de um esclarecimento, no “Novidades”, sobre a recusa de
uma audiência solicitada em nome da Campanha de Delgado.
É nesse ano que aparece o
célebre discurso jubilar em Coimbra em que o antigo professor condena os
“cristãos que punham máscaras a desfigurar o rosto autêntico do cristianismo,
acrescentando-lhe etiquetas".
Afirmava-se a dissidência dos
“católicos progressistas”, tema de violenta crítica de Salazar numa Intervenção
das Nações unidas, em Dezembro de 1958.Nessa intervenção, Salazar ameaça romper
com a Concordata à qual os bispos respondem que a hierarquia sempre dera "provas
de respeito pelas autoridades públicas mas, que, como cidadãos, os leigos eram
livres de optar por qualquer actuação no plano político, económico, social ou
cultural”.
Esta posição dos bispos
portugueses anima os leigos católicos e alguns padres que não se revêem nas
ideias de Cerejeira e origina a célebre carta “As relações entre a Igreja e o
Estado e a Liberdade dos Católicos”. Os autores – Abel Varzim, Silva Botelho,
Teixeira da Fonte, Perestrelo, Costa Pio, etc. – foram reprimidos pelo regime,
perante o silêncio do Patriarca. Tinham sido assassinados, no Porto, dois
opositores, pela PIDE que perseguiu os autores do texto. É o início do seu
descrédito total.
Nem Salazar estava a seu
lado, como se vê na inauguração do Monumento a Cristo Rei, em 1959, enviando a
“marioneta” Américo Tomás, a quem ordena discrição nas cerimónias.
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