Monday, September 17, 2012

Os rostos da República: Manuel Cerejeira (08)



A entrega de um capelão da Armada, implicado no golpe da Sé, em 1959,  por Cerejeira é o melhor exemplo da colaboração do cardeal com a PIDE mesmo que a repressão atingisse os “seus padres”.
O Cardeal não podia ignorar o que se passava na PIDE, tendo sido informado pela própria sobrinha, presa em 1963, que os “detidos eram sujeitos a tortura do sono e se ouvia à noite pancadas, gritos e corpos a cair” (cf. Arquivo da PIDE/DGS, pc. do GT n.º 688.

Outra postura lamentável de Cerejeira foi a sua postura face à Censura, uma vez que a Concordata não permitia que a imprensa Católica a ela ficasse sujeita. No entanto, o Estado violou várias vezes esse acordo internacional, como aconteceu com o Bispo da Beira ou o processo dos Bairros de Lata.

O Bispo do Porto, Ferreira Gomes, desabafou que o Patriarca tenha colaborado com a censura ao rejeitar um pedido de publicação de um esclarecimento, no “Novidades”, sobre a recusa de uma audiência solicitada em nome da Campanha de Delgado.

É nesse ano que aparece o célebre discurso jubilar em Coimbra em que o antigo professor condena os “cristãos que punham máscaras a desfigurar o rosto autêntico do cristianismo, acrescentando-lhe etiquetas".

Afirmava-se a dissidência dos “católicos progressistas”, tema de violenta crítica de Salazar numa Intervenção das Nações unidas, em Dezembro de 1958.Nessa intervenção, Salazar ameaça romper com a Concordata à qual os bispos respondem que a hierarquia sempre dera "provas de respeito pelas autoridades públicas mas, que, como cidadãos, os leigos eram livres de optar por qualquer actuação no plano político, económico, social ou cultural”.

Esta posição dos bispos portugueses anima os leigos católicos e alguns padres que não se revêem nas ideias de Cerejeira e origina a célebre carta “As relações entre a Igreja e o Estado e a Liberdade dos Católicos”. Os autores – Abel Varzim, Silva Botelho, Teixeira da Fonte, Perestrelo, Costa Pio, etc. – foram reprimidos pelo regime, perante o silêncio do Patriarca. Tinham sido assassinados, no Porto, dois opositores, pela PIDE que perseguiu os autores do texto. É o início do seu descrédito total.

Nem Salazar estava a seu lado, como se vê na inauguração do Monumento a Cristo Rei, em 1959, enviando a “marioneta” Américo Tomás, a quem ordena discrição nas cerimónias.

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