Thursday, October 21, 2010

Cem anos de República no Minho (17)



Formado em Lisboa um Governo Provisório, após a aclamação da República, no Minho e na sua capital, decorriam plácidos e ordeiros os primeiros dias, ainda fascinados com a presidência do dr. Teófilo Braga.

Todavia, a paz era efémera, porque o principal acto deste Governo foi pôr em execução as leis do Marquês de Pombal e Joaquim António de Aguiar, sobre a extinção das ordens religiosas que, mercê da protecção dada pela monarquia, viviam em Portugal ministrando o ensino, umas, dedicando-se à enfermagem nos hospitais, outras.

Seguidamente, vêm as leis de protecção à família, com a criação do registo civil — uma guerra tremenda com a Igreja Católica que detinha o monopólio do Registo com os cartórios paroquiais — separação da Igreja do Estado, divórcio, etc, enquanto eram dados os primeiros passos para o reconhecimento da República — só existia a francesa e a helvética — numa Europa dominada por monarquias. A grande conquista foi a escola que “liberta e emancipa o cidadão do obscurantismo

Alguns monárquicos, refeitos dos sustos das primeiras horas, começam a conspirar, combatidos em Braga e no Minho por grupos d rapazes criados para o efeito. Em Braga pontifica esse inolvidável republicano e democrata, Justino Cruz, além de outros cidadãos como Luís Simões de Almeida, Tristão Manuel da Silva, Álvaro Augusto Ferreira Pipa (fundador do jornal Correio do Minho, em 6 de Julho de 1926).

No ano seguinte, reúne-se o primeiro Parlamento da República, constituinte, para o qual foram eleitos alguns bracarenses como Domingos Pereira, , Joaquim de oliveira, João de Freitas e João Palma.

A República foi benéfica para a cidade de Braga, com a conclusão do abastecimento de água, a tracção eléctrica (eléctricos), a electricidade nas aldeias e o embelezamento de vários jardins e largos da Roma Portuguesa, mas no interior este progresso ficou não chegou.

As juntas de freguesias das aldeias limitaram-se, como as anteriores, a consrtar santos e caiar igrejas, a reparar uns muros e caminhos vicinais, enquanto os municípios do interior limitavam a sua acção a resolver o expediente, impossibilitados de lançar investimentos mais avultados.

Os velhos hábitos depressa se apoderaram dos novos representantes da República, como acontecia com o Governo Civil, que continuavam a ir receber o arcebispo quando ele regressava de uma viagem à sua terrinha, onde lhe beijavam o anel.
A falência do Estado reduziu as Juntas e as Câmaras Municipais a quase nada em termos de competências e depressa a esperança do 5 de Outubro de 1910 deu lugar à desilusão crescente, por várias razões.Apesar de lhes ter concedido a possibilidade do divórcio, a I República esqueceu as mulheres e travou uma guerra suicida contra o movimento operário que precipitou a sua queda — além da entrada de Portugal na I Guerra.

A sua queda anunciada na década seguinte, foi provocada pela incapacidade de mexer com o desenvolvimento económico e social do país, pela insensibilidade face à miséria dos operários e porque não soube democratizar o Estado.

A República tentou sobreviver como os velhos monárquicos e cometeu o erro de travar uma guerra contra o seu alicerce, o movimento operário enquanto lançava o país na I Guerra Mundial, “a mais sofisticada e a mais avançada na forma de matar gente que a Humanidade até então tinha travado”.

A guerra e várias epidemias (tifo e febre pneumónica) aliadas à subalimentação mataram os pobres e os que viviam em priores condições e geraram ódio e cansaço da República.

Ou seja, os grandes problemas que tinham estado na origem do avanço republicano contra a monarquia não foram solucionados, fazendo aparecer uma direita nova para dar cabo da República. É certo que os republicanos resistiram à ditadura implantada em 1926 — cerca de vinte mil pessoas foram deportadas ou presas— sobre os escombros da República.

Da República, ficou o Hino Nacional, a moeda Escudo (símbolos da identidade nacional), a separação entre Estado e Igreja, casamento civil, registo civil,” e as Universidades de Lisboa e Porto.

A República não foi muito generosa com as mulheres e nem sequer lhes deu o direito de voto. Desconfiados, os republicanos tinham medo do voto das mulheres cuja cabeça era feita pelos padres nas sacristia contra os republicanos.

Apesar disso, a República trouxe para as mulheres o direito ao divórcio, os direitos patrimoniais dentro do casamento, acabou com os filhos ilegítimos ou bastardos sem direitos, para além de estimular um lugar destacado no ensino, mercê da dinamização da escolaridade obrigatória de quatro anos.

A I República foi implantada em 1910, quando 78% dos portugueses eram analfabetos e surgiam as primeiras associações operárias com a industrialização e o aparecimento dos serviços que trouxeram para as grandes cidades de Lisboa, Porto e Braga uma nova massa política militante que não se revia nos partidos do Rotativismo que manteve a Monarquia ao longo de toda a segunda metade do século XIX.

Wednesday, October 6, 2010

Cem anos de República no Minho (16)




Que teve de fazer, em 1892, o ministro Dias Ferreira, quando a dívida pública absorvia metade das receitas do país? — perguntávamos na crónica anterior. Cortou 12,5% nos salários dos funcionários, aumentou 15% os impostos, enquanto a moeda é desvalorizada (deixando de ser comparada com o ouro) acompanhada de inflação galopante que atingia os mais pobres. Mais de 12 mil portugueses emigravam nessa altura para o Brasil, em cada ano.

Não imaginávamos a flagrante actualidade, cem anos depois, com as medidas duras de combate ao défice actual. Nós, portugueses, nunca mais aprendemos, mesmo passados cem anos do desaparecimento de um regime que governara Portugal desde a Cidade Berço.

Eram os últimos anos de estertor de uma monarquia que praticava acrobacia e equilibrismo como regime rotativo dos partidos Regeneradores e Progressistas, indiferente aos protestos do povo enquanto nos partidos o ideal republicano (Ramalho Ortigão) se confundia com socialismo (Antro de Quental).

Os acontecimentos de 1892 agravaram o pessimismo do povo e a profunda descrença nos governantes até ao dia 1 de Fevereiro de 1908, numa “tarde linda, azul, morna, diáfana” em que mataram o Rei D. Carlos e o príncipe Filipe, herdeiro do trono. O outro infante D. Manuel II é proclamado rei, aos 18 anos. Em Outubro, os republicanos ganharam em Lisboa e “num pais como Portugal, onde o peso da capital resumia toda a Nação, isso queria dizer o fim das instituições monárquicas”. No dia 5, o o rei fugia com toda a família “para não mais voltarem” — escreve, com amargura, Oliveira Marques.

Tudo começara, num caminho sem regresso, a 31 de Janeiro de 1891, no Porto, onde participaram alguns bracarenses, nessa luta encarniçada entre republicanos e a guarda municipal “com o fim de proclamar a República” (cf. Ménici Malheiro, in Braga Contemporânea, pp. 73 e ss.).

Sobre o sangue derramado, o povo começa a perceber o que é a República — o governo do povo e pelo Povo — para acabar com “o luxo dos nobres, a avidez da Igreja, a estupidez de mistura com a ignorância mais crassa do burguês e dos filhos de algo, legando aos conventos, na intenção de alcançarem o céu, todos os seus bens” (...) que fez de Portugal “um pais moribundo” em que “só a igreja medrava, à medida que aumentava o número de enjeitados”.

Em Braga, o Partido Socialista contribuiu poderosamente para que "saísse do seu entorpecimento asqueroso, nostálgico e reaccionário em que não só a cidade como todo o distrito vinham arrastando-se de há séculos”.

Em 1889 estala em Braga a primeira greve, “da classe dos chapeleiros, que tinha por objectivo o aumento dos salários” mas é o fracasso que leva à criação de um Monte Pio e de uma Associação de classe “que teve de sustentar por vezes temerosas lutas com o patronato”.

Foram estes trabalhadores que criaram a Associação Fúnebre Familiar Bracarense que chegou a contar com cinco mil associados (para tratar do enterro dos filiados). A força da luta dos chapeleiros dá origem à criação da Liga das Artes Gráficas e de uma Cooperativa de Consumo — “Libertadora bracarense” —. Nesse tempo, já nomes como Manuel Monteiro e Simões de Almeida agitavam as consciências bracarenses numa cidade “onde não havia canto que não cheirasse a sacristia, a cacete miguelista” e “inúmeros parentes dos porcos de Epicuro”.

Em 1906 são eles quem funda o Centro Operário Socialista para responder a prepotências do patronato como aconteceu com o Sousa — da Tipografia Henriquina — despedido só por saudar uma excursão de gráficos portuenses que viera a Braga. Eram momentos de glória e heroísmo dos trabalhadores e intelectuais socialistas (seguidores de Antero de Quental e Ramalho Ortigão) que se traduzem num congresso Galaico-Português realizado em Braga, a criação da Associação das Quatro Artes da Construção Civil e a Cooperativa, onde pontificava o militante socialista Azevedo Gnecco — um dos mais talentosos membros do partido.

Os minhotos não podem ignorar o talento e intervenção de homens como Custodio Pinto que acolhia em sua casa, na Avenida Central, um núcleo valoroso e culto de liberais e livre-pensadores como Bento de Oliveira, Ulisses Taxa, Vieira Marques, Henrique Martins.

Com a queda de Hintze Ribeiro, em 1906. A quem sucedeu João Franco foram suspensas todas as Câmaras Municipais, suspensos muitos jornais e foram desprezadas as liberdades e dos direitos dos cidadãos acicatando a propaganda republicana através de António José de Almeida, Bernardino Machado, Afonso Costa, João Chagas que seduz os bracarenses.

Em 1905, Braga realiza o primeiro comício republicano, na rua da Cruz de Pedra, onde estiveram muitos anos os Serviços Municipalizados, onde falaram Eduardo Abreu, Manuel Monteiro e Sousa Fernandes. No ano seguinte, em Maio, disputaram-se as eleições municipais a que se candidatavam os republicanos pela primeira vez com João Freitas, Manuel Monteiro, Custodio Pinto, Domingos Palha, Alberto Guimarães e Bento de Oliveira, entre outros.

Eram tempos difíceis para quem era republicano, cujo centro funcionava na actual Praça do Município, onde todas as noites afluíam militantes “sempre vigiados pela polícia e pelos suínos de vista baixa e coleira” mas isso não os impediu de celebrarem o centenário de Alexandre Herculano (28 de Março de 1910) e que “um estandarte republicano se via nas ruas de Braga” empunhado por Ménici Malheiro. Dois anos antes, várias provocações reaccionárias (Campo das Hortas, Campo de Sant’Ana e Bom Jesus) acabaram por não resultar em actos violentos, devido à sensatez dos comandantes das guardas.

Manuel Monteiro, Domingos Pereira, Justino Cruz, Bento Oliveira, Simões de Almeida, Manuel Castro foram os obreiros da democratização de Braga. Quando a República é proclamada, Manuel Monteiro foi nomeado Governador Civil de Braga e Domingos Pereira administrador do concelho.

A República foi proclamada em Braga no dia 7 de Outubro, primeiro na varanda do Governo Civil e depois na Câmara Municipal de Braga. A chegada do novo regime foi saudada à noite com “um numeroso cortejo” a partir da Arcada.

Gonçalo Sampaio
cientista de renome
internacional.


Pelo ideais republicanos combatia na Póvoa de Lanhoso o Gonçalo António da Silva Ferreira Sampaio, nascido em S. Gens de Calvos, Póvoa de Lanhoso, em 29 de Março de 1865 e falecido no Porto, em 1937.

Dedicou-se ao estudo científico das algas, cormófitos, e espermatófitas, além de se ter entretido também a classificar Musgos, Líquenes e outros.

Outra das suas prioridades era a Música, especialmente o canto coral, a dança e a música popular, depois procedeu ao levantamento dos cantares populares do Minho, de que se compõe o Cancioneiro Minhoto (ou de Gonçalo Sampaio).

Gonçalo Sampaio também sofreu muito por ser exigente consigo e desejava ver os outros também com uma vida melhor e um país mais desenvolvido onde estava presente uma verdadeira Trilogia: Liberdade, Fraternidade e Igualdade.

Gonçalo Sampaio irritava-se pelo terrível atraso em que a Nação Portuguesa esperneava, mas não dava à luz coisa que se visse.

Surge então o sistema republicano, ao qual Gonçalo Sampaio aderiu aproveitou bem os ideais democráticos trazidos pelos Republicanos, mas cedo ficou desiludido.