Wednesday, January 5, 2011

Cem anos de República no Minho (22)



Anteriormente abordávamos os primeiros conflitos da República com a Igreja, a partir do Natal de há 100 anos.
Foi precisamente no dia 24 de Dezembro que o episcopado português elaborou uma carta pastoral fortemente crítica com a acção do Governo provisário.

A Pastoral acabou por ser censurada e proibida a sua leitura nas Igrejas. Os párocos de Adaúfe e Cunha, Tadim, Caniçada e Salamonde – pelo menos – ficaram detidos alguns dias em Braga.

A situação agravou-se em Maio, quando se celebravam 25 anos da Consagração de Braga ao Coração de Jesus. No dia 16, de manhã, as bandas de música percorrem a cidade mas foram silenciadas à tarde e os foguetes ficaram em terra. A cidade viveu manifestações republicanas que semeram o vandalismoem instituições e imóveis religiosos.

A hostilidade entre Governo e Igreja subia de tom com o exílio imposto a vários bispos, enquanto em Braga se procedia ao arrolamento e confisco dos bens eclesiásticos de 200 misericórdias e irmandades.

O arcebispo de Braga, D. Manuel Cunha, será depois suspenso pelo Governo e exilado para fora do território da Diocese por dois anos. Só em 1915, Braga volta a ter Arcebispo, com D. Manuel Vieira de Matos, que já tinha sido detido também.

Na crónica anterior lembramos o protesto dos padres da Diocese que se recusaram a fazer a visita Pascal, numa altura em que se consolidava o poder do partido Republicano em Braga, onde apenas tinha pequena oposição de uma lista próxima do operariado.

A dispersão dos grandes dirigentes bracarenses republicanos para Lisboa e para o Governo, enfraquece o partido em Braga e surgem novas agremiações políticas (Evolucionista, Unionista, etc.) e alguns manifestam-se claramente envolvidos na rebelião monárauica de Outubro de 1913.

Estamos a um ano da I Guerra Mundial, que envolve Portugal desde Março de 1916, multipliando-se em Braga as manifestações a favor da entrada de Portugal no conflito, ao mesmo tempo que grassava a escassez de bens alimentares no Minho.

Os assaltos a cereais, por exemplo sucediam-se um pouco por todo o lado (cf. Commercio do Minho, 13 de Abril de 1916, sobre assalto em Cabreiros e greve dos panificadores de Braga por falta de milho e trigo). A venda de pãe passa a ser racionada, o povo protesta, a GNR agride e é agredida por populares arrebanhados aio toque a rebate dos sinos das igrejas, um pouco por todo o lado.

A greves dos padeiros alastram a outras classes, como calçado, serviços, contra o desemprego, a fome que potencia doenças, como a tuberculose, mas o Governo mantém firmeza no combate contra a Igreja.

Em Braga, é proibida em 1916 a Peregrinação ao Sameiro e no ano seguinte é proibida a Procissão de Passos, enquanto na frente de batalha os nossos soldados pediam padres capelães para lhes darem apoio espiritual.

A necessidade de acalmar a população, leva o Governo de Afonso Costa, em 1917, a impor a censura e nomear militares para dirigir os jornais de Braga.

O minhoto Sidónio Pais, nascido em Caminha, toma o poder derrubando Afonso Costa e tenta uma acção de charme em Braga, nos primeiros dias de 1918. Melhores dias parecem chegar e os católicos vêem em algumas alterações sinoistas, com a ajuda dos escritos do bracarense Justino Cruz.

No entanto, os graves problemas económicos mantinham-se, apesar de uma lei mais violenta contra os açambarcadores: “azeite não há; açúcar não há, arroz não há… há quase mês e meio” em Braga (cf. Commercio do Minho, 1 de Setembro 1918.

Com o fim da guerra, Sidónio é baleado e renasce de novo a esperança…com a implantação da Monarquia do Norte, no Porto e em Braga (19 de Janeiro) que apenas se mantém até 13 de Fevereiro de 1919, gerando novo alvoroço nas vilas do Minho.

Em Braga, a crise económica arrasta-se ao interior do Minho e com ela a impopularidade dos governos, a uma média de escassos meses, enquanto o povo já a passar fome é castigado com novos impostos e alta de preços. Viana vendia um cento de sardinhas a 120 reis e eram compradas em Braga a 1200 reis.

Os comerciantes engoradavam com esta crise e havia comerciantes de Braga que retinham o peixe recebido de Viana num armazém junto à estação dos Caminhos de Ferro para depois o venderem a preço de ouro…