Nesta altura, o
Cardeal Cerejeira tentava reivindicar mais para a Igreja, manifestando
preocupação pela ausência do projecto de isenção de impostos para as
residências paroquiais e episcopais, bem como dos dias feriados.
No ano de 1938, o
ministro da Educação Nacional convida o cardeal a visitar o acampamento
nacional da Mocidade Portuguesa (MP) mas ele declinou o convite argumentando
que ficara dolorosamente surpreendido com idêntico convite feito à Juventude
hitleriana, o que era “ofensivo e perigoso para a consciência católica
portuguesa” bem como “pouco digno da altivez nacional, sabido o inferior
conceito que os alemães têm de nós, filhos (segundo eles) de uma raça inferior
e negróide” (cf. Geraldes Freire, in Resistência católica, já citada).
A mesma ideia sobre a
MP repassa num discurso proferido no final desse ano ao clero de Lisboa, um ano
depois de condenar o comunismo, o que motivou protestos do embaixador alemão em
Lisboa. Cerejeira limitava-se a citar “Mit brennender Sorge” do Papa Pio XI,
contra os excessos do regime hitleriano, preocupado com o facto dos regimes
totalitários sufocarem a Acção Católica.
Para Cerejeira era
certo que o nazismo queria limitar a religião aos templos e substituir a “concepção
cristã pela Weltanschauung racista” erigida em nova religião da Nação.
Recusando a tutela
eclesiástica do Estado e a tutela política da Igreja, com a morte de Pio XI e a
eleição de Pacelli (Pio XII) desenvolve esforços para acelerar a concordata com
Portugal, "essa nação tão gloriosa que tanto fez pela dilatação da fé, nação
nobre, que está renascendo”.
Em 1 de Setembro
desse ano de 1939, começava a II Guerra Mundial, com a invasão da Polónia pela
Alemanha e Salazar proclamava a neutralidade. Cerejeira avisava que “alguém no
seu louco orgulho (Hitler) de resolver pela força as questões dos homens, acaba
de lançar fogo ao mundo” e uns dias mais tarde, era Mussolini o alvo das
críticas de Manuel Cerejeira.
Lamentavelmente,
Cerejeira não deixou de apoiar outros regimes autoritários e fascizantes porque
eram amigos do catolicismo. Vejam-se os casos de Pétain e de Salazar.
Enquanto a guerra
alastrava, o Estado assinava com a Santa Sé a Concordata e o Acordo Missionário
que não deixaram Salazar satisfeito porque o Vaticano cedeu nas indemnizações à
Igreja dos bens expropriados no fim da monarquia.
Foi tão difícil o
acordo por causa das questões do casamento e do divórcio que o cardeal
Ciriacci, núncio em Lisboa, definiu Cerejeira como “encarnação viva do demónio”.
O mesmo se passou com
o reconhecimento das tarefas da Acção católica mas aqui acabou por não haver
acordo, por intransigência de Salazar. A Igreja recuperava os templos e
seminários que lhe tinham sido retirados mas os paços episcopais não ficaram isentos
de impostos, como desejava Cerejeira.
Numa visita a
Moçambique para a inauguração da Catedral de Lourenço Marques (Maputo) , em
1944, deixa escapar uma leve alusão à futura independência das colónias.
Em 1945, com a paz
assinada, Cerejeira agradece a Salazar pela “defesa de Portugal do flagelo da
guerra” e tratava-o como “um eleito, quase um ungido de Deus” mas de seguida
alertava-o para “a urgência de distribuir víveres necessários ao sustento do
povo, em vez de os deixar a apodrecer nos celeiros”.
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