Monday, September 17, 2012

Os rostos da República: Manuel Cerejeira (05)


Nesta altura, o Cardeal Cerejeira tentava reivindicar mais para a Igreja, manifestando preocupação pela ausência do projecto de isenção de impostos para as residências paroquiais e episcopais, bem como dos dias feriados.

No ano de 1938, o ministro da Educação Nacional convida o cardeal a visitar o acampamento nacional da Mocidade Portuguesa (MP) mas ele declinou o convite argumentando que ficara dolorosamente surpreendido com idêntico convite feito à Juventude hitleriana, o que era “ofensivo e perigoso para a consciência católica portuguesa” bem como “pouco digno da altivez nacional, sabido o inferior conceito que os alemães têm de nós, filhos (segundo eles) de uma raça inferior e negróide” (cf. Geraldes Freire, in Resistência católica, já citada).

A mesma ideia sobre a MP repassa num discurso proferido no final desse ano ao clero de Lisboa, um ano depois de condenar o comunismo, o que motivou protestos do embaixador alemão em Lisboa. Cerejeira limitava-se a citar “Mit brennender Sorge” do Papa Pio XI, contra os excessos do regime hitleriano, preocupado com o facto dos regimes totalitários sufocarem a Acção Católica.

Para Cerejeira era certo que o nazismo queria limitar a religião aos templos e substituir a “concepção cristã pela Weltanschauung racista” erigida em nova religião da Nação.

Recusando a tutela eclesiástica do Estado e a tutela política da Igreja, com a morte de Pio XI e a eleição de Pacelli (Pio XII) desenvolve esforços para acelerar a concordata com Portugal, "essa nação tão gloriosa que tanto fez pela dilatação da fé, nação nobre, que está renascendo”.

Em 1 de Setembro desse ano de 1939, começava a II Guerra Mundial, com a invasão da Polónia pela Alemanha e Salazar proclamava a neutralidade. Cerejeira avisava que “alguém no seu louco orgulho (Hitler) de resolver pela força as questões dos homens, acaba de lançar fogo ao mundo” e uns dias mais tarde, era Mussolini o alvo das críticas de Manuel Cerejeira.

Lamentavelmente, Cerejeira não deixou de apoiar outros regimes autoritários e fascizantes porque eram amigos do catolicismo. Vejam-se os casos de Pétain e de Salazar.

Enquanto a guerra alastrava, o Estado assinava com a Santa Sé a Concordata e o Acordo Missionário que não deixaram Salazar satisfeito porque o Vaticano cedeu nas indemnizações à Igreja dos bens expropriados no fim da monarquia.

Foi tão difícil o acordo por causa das questões do casamento e do divórcio que o cardeal Ciriacci, núncio em Lisboa, definiu Cerejeira como “encarnação viva do demónio”.

O mesmo se passou com o reconhecimento das tarefas da Acção católica mas aqui acabou por não haver acordo, por intransigência de Salazar. A Igreja recuperava os templos e seminários que lhe tinham sido retirados mas os paços episcopais não ficaram isentos de impostos, como desejava Cerejeira.

Numa visita a Moçambique para a inauguração da Catedral de Lourenço Marques (Maputo) , em 1944, deixa escapar uma leve alusão à futura independência das colónias.

Em 1945, com a paz assinada, Cerejeira agradece a Salazar pela “defesa de Portugal do flagelo da guerra” e tratava-o como “um eleito, quase um ungido de Deus” mas de seguida alertava-o para “a urgência de distribuir víveres necessários ao sustento do povo, em vez de os deixar a apodrecer nos celeiros”.

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