Saturday, February 28, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (5)



Já lembramos alguns dos passos históricos que estiveram na origem da segunda invasão francesa há 200 anos e constitui — após a entrada de leão por terras de Vieira e da Póvoa de Lanhoso em direcção ao Porto, em Março de 1809 — uma das maiores derrotas militares do Marechal Soult.

Na crónica passada lembramos que o levantamento do povo português estava em marcha e o desembarque inglês tornava-se uma realidade a prazo. Em Espanha surgiam os primeiros sinais de levantamento castelhano contra a ocupação pelos exércitos de Napoleão cuja presença era, falsamente, justificada com a necessidade de apoiar Junot em Lisboa.

O massacre de milhares de madrilenos no dia 2 de Maio de 1808 propaga-se a toda a Espanha e a nação castelhana levanta-se em armas, criando juntas secretas de resistência em todas as cidades, desde a Galiza até Sevilha e Andaluzia.

A humilhação do general Dupon pelo oficial espanhol Castaños, na Andaluzia, impertigou os portugueses e Junot começava a ficar isolado, em Lisboa. A revolta portuguesa começa no Porto, no dia 6 de Junho, alastrando depressa a Trás-os-Montes, Beiras, todo o Minho, colocando todo o Norte de Portugal em estado de insurreição e contamina o Algarve. Mais tarde chega ao Alentejo e a repressão francesa foi violenta, especialmente em Beja onde foram massacradas 1200 pessoas, além de toda a espécie de pilhagens e profanações, um pouco por todas as cidades.

Junot, acossado, concentra todas as forças em Lisboa e facilita o alastramento da revolta patriótica em todo o país e e a perda da comunicação com Espanha. A invasão francesa — a primeira — começa a fraquejar a com a entrada das tropas inglesas que desembarcam a 1 de Agosto, na praia de Lavos, próximo de Buarcos, na Figueira da Foz.

A batalha da Roliça é o primeiro passo da derrota e fuga dos franceses, no dia 17 de Agosto de 1808, entre Óbidos e Bombarral.

Na Roliça, a 17 de Agosto de 1808, perto de Óbidos, onde o general Laborde foi ferido, deu-se o primeiro teste contra os franceses que são derrotados em Vimieiro, quatro dias depois, sendo repelidos com perdas consideráveis: um general, muitos oficiais, cerca de 1800 homens, contra 153 mortos ingleses aliados. Com estas duas derrotas, a presença das tropas francesas torna-se insustentável e a Convenção de Sintra, a 30 de Agosto, marca o início da retirada do exército francês de Portugal carregado de objectos roubados.

Foi um acordo que salvou o exército gaulês e não foi bem entendido pelos portugueses. A Legião Lusitana enviada para França não foi contemplada no acordo para regressar a Portugal, deixando o exército português sem cabeça. Napoleão quis condenar Junot pelo fracasso mas desistiu de castigar um velho amigo.

A defesa de Portugal estava entregue aos ingleses enquanto os franceses não desistiam dos seus intentos de invadir Portugal, permitindo que, há duzentos anos, as gentes de Caminha vivessem um dia histórico na defesa das fronteiras de Portugal contra a invasão das tropas francesas comandadas por Soult. Os gauleses preparavam-se para entrar em Portugal, depois da heróica e encarmiçada resistência dos galegos.

Os franceses foram surpreendidos pelas condições climatéricas e pelo patriotismo dos portugueses de Caminha que os impediram de atravessar o rio Minho.

Todos os barcos do rio foram guardados pelos portugueses bem longe das margens do rio e os pequenos barcos confiscados pelos franceses em La Guardia foram insuficientes para atravessar o Minho que, nesse ano, devido a duas semanas de intensa chuva estava muito mais largo na barra que era varrida pela artilharia instalada o Forte da Ínsua.

Foi assim que o general Soult desistiu de invadir Portugal pelo norte, direccionando as suas tropas para Chaves, para encontrar aí nova entrada em Portugal. Os franceses deixavam para trás a forte resistência galega que se fazia sentir em Tui e se alastra depois a Vigo contra a presença dos inimigos da pátria.

Para se ter uma ideia da grandeza da invasão, as tropas de Soult reuniam 24 mil homens. Os franceses apenas conseguiram desembarcar algumas tropas no Camarido que foram rapidamente aprisionadas pelos portugueses.

Por volta das 12 horas do dia 16 de Fevereiro, os franceses tentam nova incursão em Cerveira mas as tropas protuguesas resistiram com grande eficácia.

Era assim adiada por mais alguns dias a segunda invasão francesa que pretendia passar por Braga e Porto na caminhada em direcção a Lisboa.

Saturday, February 14, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (4)



Já lembramos alguns dos passos históricos que estiveram na origem da segunda invasão francesa em Fevereiro de 1809 e constitui — após a entrada de leão por terras de Vieira e da Póvoa de Lanhoso em direcção ao Porto — uma das maiores derrotas militares do Marechal Soult.

Na crónica passada lembramos a entrada rápida das tropas francesas, até Abrantes (24 de Novembro) e a tomada de Tomar, em que as tropas de Junot seguiram até Santarém, Carregado, Alverca em direcção à capital, onde chegaram no dia 30 de Novembro de 1807, três dias depois do embarque da Família real para o Brasil.

Face à iminência da invasão de Portugal, o príncipe D. João comunica a Napoleão que vai cumprir as disposições do Bloqueio Continental e declara guerra a Inglaterra, prendendo todos os ingleses que se encontravam em Portugal. Era o sinal incluído na Convenção secreta entre Portugal e Inglaterra, assinado oito dias antes. O Embaixador Lord Strangford refugia-se na esquadra inglesa fundeada no Tejo e prepara a fuga da família real, banida por decreto de Napoleão.

Na posse desta informação que confirmava a invasão, D. João retira-se com a família e uma enorme comitiva para terras de Santa Cruz, no momento em que os franceses já se encontravam em Abrantes. O embarque da família real acontece no dia 27 de Novembro, entregando o governo do país a um grupo de pessoas da confiança do príncipe, liderados pelo Marquês de Abrantes,

Junot apercebe-se da fuga real e tenta acelerar a caminhada em direcção a Lisboa para a impedir, uma vez que a fuga era um rude golpe pois o impossibilitava de tomar refém o poder político em Portugal.

Junot, com 1500 homens em situação deplorável, chega a Lisboa na manhã de 30 de Novembro, terminando uma invasão desencadeada com grande risco se existisse em Portugal uma defesa digna desse nome.

Arranjado alojamento para mais de 12 mil homens, organizou o fornecimento de alimentos aos solados e fabrico de sapatos e cartuchos para reorganizar o corpo de polícia, enquanto fechava o porto de Lisboa para impedir novas fugas.

As outras divisões do exército francês, apoiadas por espanhóis ocupavam e instalavam-se nas cidades de Elvas, campo Maior, Alentejo e Algarve, sem qualquer resistência. Outra divisão entrou por Valença e ocupou a faixa litoral até´ao Porto.

Com o porto de Lisboa bloqueado pelos ingleses, Junot teve de servir-se da ligação com Espanha para os abastecimentos à capital, alargando a uma segunda nas margens do Mondego. Em Maio de 1808, o príncipe rasgava todos os acordos com França a quem declarava guerra e reconhecia a amizade fiel de Inglaterra que já tinha ocupado a Madeira e daí apenas sairam quando as tropas portuguesas e inglesas afastaram os franceses do Continente, em 1814.

Entretanto, Junot sonhava ser Rei de Portugal, na altura com três milhões de habitantes dominados pela alta nobreza e alto clero, proprietários de grandes áreas e detentores de altos privilégios sobre a grande massa popular resignada que vivia da agricultura e do artesanato.

A revolução industrial ainda não chegara a Portugal e os portugueses não viram com bons olhos a invasão das tropas de Junot, numa época em que os ideais, o patriotismo e os interesses pessoais se confrontavam com grande violência.
Acresce que ele impôs a Portugal uma contribuição de dois milhões de cruzados para sustentar os soldados franceses, confiscou todos os bens pertencentes a indivíduos vassalos de Inglaterra residentes em Portugal, proibiu o uso de armas de fogo, incluindo as de caça,

Junot depressa decapitou e extinguiu o exército português e as milícias e o povo ficou completamente nas mãos do invasor, enquanto os opositores ao domínio francês eram fuzilados.

A resistência do povo surpreendeu Junot que, a 26 de Junho de 1808 se interroga: " Que delírio é o vosso? Em que abismo de males quereis ficar sepultados? Depois de sete meses de perfeita harmonia, que razão vos faz pegar em armas e contra quem? (...) Vós ficai sosssegados em vossos campos".

O levantamento do povo português estava em marcha e o desembarque inglês tornava-se uma realidade a prazo. Em Espanha surgiam os primeiros sinais de levantamento castelhano contra a ocupação pelos exércitos de Napoleão cuja presença era, falsamente, justificada com a necessidade de apoiar Junot em Lisboa.

O massacre de milhares de madrilenos no dia 2 de Maio de 1808 propaga-se a toda a Espanha e a nação castelhana levanta-se em armas, criando juntas secretas de resistência em todas as cidades, desde a Galiza até Sevilha e Andaluzia. A humilhação do general Dupon pelo oficial espanhol Castaños, na Andaluzia, impertigou os portugueses e Junot começava a ficar isolado, em Lisboa.

A revolta portuguesa começa no Porto, no dia 6 de Junho, alastrando depressa a Trás-os-Montes, Beiras, todo o Minho, colocando todo o Norte de Portugal em estado de insurreição e contamina o Algarve. Mais tarde chega ao Alentejo e a repressão francesa foi violenta, especialmente em Beja onde foram massacradas 1200 pessoas, além de toda a espécie de pilhagens e profanações, um pouco por todas as cidades.

Junot, acossado, concentra todas as forças em Lisboa e facilita o alastramento da revolta patriótica em todo o país e e a perda da comunicação com Espanha. A invasão francesa — a primeira — começa a fraquejar a com a entrada das tropas inglesas que desembarcam a 1 de Agosto, na praia de Lavos, próximo de Buarcos, na Figueira da Foz.

A batalha da Roliça é o primeiro passo da derrota e fuga dos franceses, no dia 17 de Agosto de 1808, entre Óbidos e Bombarral.

Agostinho da Silva: o elogio da oposição



A terminar esta semana, neste dia treze, é uma sorte podermos evocar a vida e obra de um português, combatente da liberdade, na teoria, no ensino e com a vida.

Foi ele quem nos ensinou a não nos deixarmos levar por nenhum sentimento, excepto o do amor de entender, de ver o mais claro dentro e fora de nós; ensinou-nos também a acreditar na dúvida construtiva e daí partir para certezas que nunca deixemos de ver como provisórias, a não ser uma, a de que somos capazes de compreender tudo o que for compreensível.

Estamos a falar de Agostinho da Silva, nascido no Porto a 13 de Fevereiro de 1906 e que se destacou em Portugal e na Europa como filósofo, poeta e ensaísta em que o seu pensamento e vida afirmam a Liberdade como a mais importante qualidade do ser humano. Agostinho da Silva é um filósofo prático e empenhado através da sua vida e obra, na mudança da sociedade.

Dono de um percurso académico notável, concluiu a licenciatura em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com 20 valores. Após concluir a licenciatura, em 1929, com apenas 23 anos, defende a sua dissertação de doutoramento sobre “O Sentido Histórico das Civilizações Clássicas”.

depois de estudar na Sorbonne e no Collège de France, leciona no ensino secundário em Aveiro até 1935, altura em que é demitido do ensino oficial por se recusar a assinar a Lei Cabral que obrigava todos os funcionários públicos a declararem que não participavam em organizações secretas e subversivas. Depois de breve estadia em Espanha regressa a Portugal mas é preso pela polícia política em 1943, fugindo para a América do Sul.

Em 1947 instala-se definitivamente no Brasil, onde vive até 1969, ensinando em várias universidades e, ao lado de Jaime Cortesão, organiza a Exposição do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo. Funda várias universidades do Brasil, além de outras instituições difusoras da cultura e língua portuguesas.

Regressa a Portugal em 1969, após a doença de Salazar e a sua substituição por Marcello Caetano, e continuou a escrever e a leccionar em diversas universidades portuguesas, dirigindo o Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Técnica de Lisboa, e no papel de consultor do actual Instituto Camões.

Apaixonado pelo Espírito Santo, Agostinho da Silva é um dos principais intelectuais portugueses do século XX e deixou-nos este mandamento para nortear a vida: precisas, acima de tudo, de não te lembrares do que eu te disse; nunca penses por mim, pensa sempre por ti; fica certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensaste e decidiste do que todos os acertos, se eles não são teus.

Assim, conclui, "os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem".

Saturday, February 7, 2009

Academia Equestre lusitana

Imagens da festa final do ano lectivo da Academia Equestre Lusitana, situada em Lage, Vila Verde, frequentada por cerca de cem jovens e crianças, sob direcção de Rui Vaz.

Tuesday, February 3, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (3)


Depois de recordarmos alguns dos passos históricos que estiveram na origem da segunda invasão francesa em Fevereiro de 1809 —por terras de Vieira e da Póvoa de Lanhoso em direcção ao Porto — falemos hoje dos acontecimentos que precipitaram a primeira invasão francesa e da preparação dos portugueses para enfrentarem a agressão.

Depois da batalha do Rossilhão, ficou clara a necessidade de uma reorganização profunda da defesa de Portugal, cujo aparelho militar era incapaz de sustentar a política diplomática da alegada neutralidade que pretendia seguir e as ameaças de Napoleão.

A redução das despesas apontou para a primeira grande reforma, com o desaparecimento de todas as praças do interior, mantendo apenas as de Valença, Monção, Chaves, Miranda, Almeida, Monsanto, Marvão, Campo Maior, Estremoz, Mértola, Alcoutim e Castro Marim. Quanto a fortificações marítimas, no Norte do País, apenas se mantiveram as de Vila do Conde, Esposende, Viana e Forte da Ínsula. Assim, à data da entrada das tropas francesas em Portugal, em 1807, Portugal tinha uma força militar da ordem dos 43 mil homens, mais uns 40 mil das milícias e uns 30 mil de ordenanças (no papel). Na realidade, a maior parte das unidades de linha não tinha sequer metade dos efectivos, as milícias não tinham recebido instrução e as ordenanças (homens entre os 17 e 40 anos que recebiam treino aos domingos) constituíam mais um estorvo que uma mais valia para a defesa do território.

Quando é assinado o Tratado de Fontainebleau — que entregava o território do Minho ao rei da Etrúria para que este cedesse o seu reino a uma filha do Rei Carlos IV de Espanha —, já Napoelão tinha decidido invadir Portugal, através das tropas concentradas em Baiona.

Era uma tropa destreinada que foi preparada e equipada, com cuidado especial sob a liderança do general Andoche Junot, antigo governador de Paris e ex-embaixador de França em Lisboa. Estas tropas marcham para Salamanca e Ciudad Rodrigo em 17 de Outubro, mas são fustigadas pela intempérie e a falta de apoio espanhol que chegavam mesmo ao assassínio de soldados franceses. Em Salamanca, Junot recebe ordens para invadir Portugal pela margem direita do Tejo e não através do vale do Mondego, como inicialmente estava previsto.

No dia 30 de Outubro, Napoleão declarava guerra a Inglaterra que, em Lisboa, ajudava na fuga da família real portuguesa, através da esquadra do almirante Smith. Os franceses decretavam a extinção da Casa de Bragança em Portugal e os portugueses tinham já clara noção de que a França ia invadir o país sem forças para se defender e sem timoneiro (em fuga).

A marcha — de 50 km diários por "caminhos maus e vias praticamente impraticáveis" — começou a tornar-se difícil para os soldados no limite da resistência e famintos, com calçado deteriorado, a ter de enfrentar tempestades de neve e chuva quase contínuas que impediam de secar o fardamento. A degradação da marcha chegou ao ponto de as peças de artilharia serem puxadas por juntas de bois porque não havia alimentos para os cavalos, levando Junot a proclamar que vinha para libertar os portugueses do domínio inglês e que o seu exército, tão bem disciplinado como valoroso, ia ter, por sua honra, um bom comportamento.

No entanto, ameaça todos o que não recebessem os seus soldados de braços abertos — facultassem tudo o que eles precisavam para se alimentar — num país que se encontrava em plena reorganização do seu exército. Face à fragilidade defensiva portuguesa, o rei D. João embarca para o Brasil, pedindo que as tropas francesas não fossem hostilizadas.

Assim as tropas entraram em Castelo Branco sem qualquer resistência e seguiram a Abrantes e nem a posição estratégica de Ponsul foi usada pelos portugueses... pelo que a chegada dos franceses foi uma surpresa apesar da lentidão das tropas gaulesas.

O bispo da Castelo Branco recebeu os franceses de braços abertos, aponto de alojar Junot no seu Paço, em troca de ser nomeado governador da cidade pelos franceses, obrigando os albicastrenses a assegurar a "susbsistência das tropas", bem como a oferta de animais para "os serviços de transporte militar" na caminhada até Lisboa.

Depois de Abrantes (24 de Novembro) e a tomada de Tomar, as tropas de Junot seguiram até Santarém, Carregado, Alverca em direcção à capital, onde chegaram no dia 30 de Novembro de 1807, três dias depois do embarque da Família real para o Brasil.