Tuesday, October 27, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (21)


Não podemos reduzir a passagem das tropas francesas pelo Minho há 200 anos às batalhas ou aos saques e mortes causadas pelas tropas de Soult, durante a segunda invasão, nem separar esta das restantes. Os efeitos destas invasões bem se podem catalogar como um longo calvário para a Nação portuguesa.

Portugal foi o primeiro território de afrontamento entre dois grandes líderes militares europeus, antes do encontro final de Waterloo. O Minho foi também um território onde Wellington praticou - através dos seus chefes militares Wellesley ou Beresford - a política da terra queimada: 50 mil portugueses morreram de fome, durante os cinco meses de cerco de Massena nas linhas de Torres Vedras.

As invasões francesas marcaram de tal forma este país que ainda se mantêm hoje os seus efeitos. A análise demográfica aponta para a perda de dez por cento da população portuguesa, quer pela força das armas, quer pelas doenças, pela fome e frio. Foram cerca de 300 mil portugueses que morreram, um número inimaginável hoje quando somos quatro vezes mais.

A nossa agricultura e pecuária foram arrasadas, os monumentos roubados, as igrejas profanadas, cidades e vilas incendiadas, pontes e outras obras de arte destruídas, população deslocada. Atrás das linhas de Torres estiveram 600 mil portugueses!
A presença de mais de 25 mil militares de Napoleão deixou marcas no nosso Minho, muito para além da destruição e saque de edifícios do nosso património. Basta evocar o ditado "tudo como dantes, quartel em Abrantes" ou aquele que "come à grande e à francesa" ou passa a vida a "ver navios". São expressões que ficaram por cá.

Para além da nossa linguagem, as invasões francesas tiveram profundas consequências na maneira de pensar dos portugueses, especialmente o ideário político liberal e a introdução das bases administrativas de um estado moderno.

Há quem afirme que os exércitos de Soult, Junot e Massena foram os parteiros da modernidade política, organizacional e até constitucional. A monarquia portuguesa, cujo titular se refugiou no Brasil, foi "atacada" por um constitucionalismo moderado, em que a figura do rei vai perdendo terreno. A influência política foi muito mais forte que o descalabro causado pelas armas ou pelos militares.

A imposição das ideias da revolução francesa num país ainda quase feudal, deram origem a divisões profundas na família real e nas elites que derivaram para uma guerra civil de quase cem anos que só terminou em 1933 com uma nova Constituição.
Se é verdade que as invasões semearam ódios profundos do povo contra os franceses, não é menos certo que semearam novas aspirações e ideias, anseios de reivindicações sociais que desabrocharam depois. A revolta da Maria Fonte só pôde ser possível se a entendermos como consequência da invasão francesa.

Mais grave que as malfeitorias dos militares franceses e foram muitas, os ingleses que eram aliados portugueses contribuíram para a desertificação e para o ruinoso tratado comercial de 1810 que concluiu a aniquilação económica de um país, sem rei, nem roque.

Foi um país sem rei nem roque que abriu as portas a estas invasões francesas, sem ter "boas tropas e bons navios" face à ameaça de Napoleão em toda a Europa e depois da aventura desgraçada do Roussilhão que levou à perda de Olivença.

Este país sem ideias e identidade facilmente se atordoou com a dinâmica exportadora de ideologia francesa, após a subida o poder de Napoleão que transformou cada soldado num cidadão e cada cidadão num soldado. Até a amiga Inglaterra nos menorizou quando o primeiro ministro William Pitt respondeu: "O governo de sua Majestade só ajuda os Governos que, em primeiro lugar, se queiram ajudar a si próprios". Era o que Portugal não sabia fazer, ajudar-se a si próprio.

A lição que fica para a história parece não ter sido aprendida: as cúpulas erram e quem paga os erros é o povo porque a Corte fugiu, literalmente, acompanhada de dez a quinze mil nobres e burgueses, com todas as riquezas que puderam transportar.

Como foi possível isto ter acontecido? A esta e outras perguntas vamos tentar responder na próxima crónica e confirmar que mantêm uma flagrante actualidade, 200 anos depois.

Thursday, October 8, 2009

Antecipar o futuro de Braga: quem tem capacidade?




Nas últimas semanas, uma frase tem sido repetida de forma tão sistemática que constitui um insulto à inteligência de quem a ouve: a gestão de Mesquita Machado e do PS está gasta, cansada e incapaz de antecipar o futuro pois não tem respostas novas para os novos problemas.
Se fosse assim, dizem, há que dar lugar a outros com provas dadas na sua vida profissional, ta-ta-ta, etc. e tal.

Ora, quem assim se atreve a falar ou a escrever, está a esquecer-se de três pormenores.
Em primeiro, os bracarenses vivem numa cidade bimilenar e se há alguma coisa que eles têm entranhada na alma é a memória, uma preciosa ferramenta da sua inteligência.
Em segundo, o anseio íntimo dos bracarenses em viver numa cidade e concelho de Braga que sejam inovadores porque só assim conseguimos todos antecipar o futuro não lhes tolda a consciência nem embrutece a inteligência.

Em terceiro, uma alternativa credível e inteligente constrói-se por propostas positivas e não por um sistemático exercício de maledicência, como se os bracarenses fossem ceguinhos.
Os socialistas têm provas dadas na criatividade de soluções e no pioneirismo de respostas aos novos problemas. Tantas começaram em Braga e depois foram copiadas por outros municípios, mesmo sabendo que as cópias ficam sempre a dever aos originais.

Vamos dar apenas alguns exemplos que ninguém, tenha a cor partidária que tiver, pode desmentir-
São factos concretos, não artigos de economia ou probabilidades. São realidades comprovadas.

Os socialistas foram inovadores com a criação de uma empresa municipal de transportes públicos que aproximasse as populações das freguesias umas das outras e da cidade. É talvez – juntamente com a política de solos para habitação – uma das mais profundas medidas estruturantes do tecido humano de Braga. Impediu que as populações das aldeias engordassem a cidade porque, através dos transportes continuavam próximas da cidade sempre fascinante.

Foram inovadores com a compra dos primeiros autocarros a gás natural, combustível que hoje está vulgarizado por outras empresas de transportes.

Foi assim com os subsídios de sub-arrendamento de habitação e a aquisição de habitações no mercado paras as disponibilizar no arrendamento a famílias carenciadas. Braga foi o primeiro concelho a rejeitar construir bairros sociais porque os socialistas querem uma cidade para todos e sem “guetos”. Só uma década depois o Estado acabou com essa política e elogiou o modelo de Braga. Já se esqueceram?

Foi assim com o premiado trabalho desenvolvido pela Bragabrinca no enriquecimento educativo das crianças e adolescentes das minorias étnicas ou lançados na rua, envolvendo-os nos livros, nos discos e nos computadores . É mentira?

Foi assim com a criação e entrada em funcionamento das primeiras escolas Profissional e de Educação Rodoviária para ampliar os horizontes profissionais dos jovens e reforçar a educação para a segurança na estrada. Não se lembram?

Foi assim com a inovadora criação de empresas municipais de capitais maioritariamente públicos que agora são recurso de muitos outros autarcas por esse país fora. Concordam ou não?

Foi assim com a construção dos primeiros parques de estacionamento subterrâneo para aumentar a mobilidade de peões e automóveis dentro da cidade e dinamizar o comércio tradicional que agora são construídos em todas as vilas e cidades. É mentira?

Se tantas vezes foi assim, com o PS e Mesquita Machado, não há dúvidas que é esta dupla que oferece melhores garantias para que Braga seja conhecida como a cidade que antecipa o futuro.
O PS e Mesquita Machado fazem Braga antecipar o futuro, com soluções que os outros copiam porque reconhecem que são boas para as pessoas.

Quando o PS e Mesquita Machado antecipam o futuro de Braga, colocam as pessoas em primeiro lugar.

Como as colocam em primeiro lugar? Passem os olhos pelas tarifas de bens públicos (água, saneamento, lixo, transportes) de concelhos vizinhos e depois digam-nos que o PS e Mesquita Machado são incapazes de antecipar o futuro.

Wednesday, October 7, 2009

Braga é fantástico: um texto insuspeito

"Braga é fantástico" é o título de um texto de Miguel Esteves Cardoso, na revista "J" do jornal o jogo que não resisto a partilhar consigo, dada a insuspeição do seu autor.
É uma lição para alguns bracarenses que não encontram nada que lhes sirva na Cidade de Braga.

"Às vezes, fica-se com a impressão que é Braga que deveria mandar neste país. Veio do Sporting de Braga o treinador que está a salvar o Benfica. Mas, mesmo sem esse treinador, o Sporting de Braga está em primeiro lugar.


Acho que o Sporting de Braga é o único clube de que todos os portugueses gostam secretamente. Os benfiquistas acham que eles são do Benfica; os do Sporting apontam para o nome e os portistas, por muito que lhes custe, são nortenhos e não se pode ser nortenho sem gostar de Braga.

Toda a gente tem medo - e com razão - do Sporting de Braga. Há a mania de engraçar com a Académica de Coimbra ou com o Belenenses, mas são amores fáceis, que não fazem medo nem potenciam tragédias.

O Sporting de Braga não se presta a essas condescendências simpáticas. É po ser temido que o admiramos. Mais do que genica, tem brio. É uma atitude com que se nasce; não se pode ensinar nem aprender.

A primeira vez que fui a Braga já estava à espera de encontrar uma cidade grande e diferente de todas as outras. Mas fiquei siderado. Acho que Braga se dá a conhecer a quem lá entra, sem receios ou desejos de impressionar.

A primeira impressão foi a modernidade de Braga - pareceu-me Portugal, mas no futuro. E num futuro feliz. O Porto e Lisboa são mais provincianos do que Braga; tem mais complexos; tem mais manias; tem mais questiúnculas por resolver e mais coisas para provar.

Braga fez-me lembrar Milão. É verdade. Eu adoro Milão mas Milão é (mais ou menos) Italiano, enquanto Braga é descaradamente português. Havia muitas motas; muitas luzes; muita alegria; muito à-vontade.

Lisboa e Porto digladiam-se; confrontam-se; definem-se por oposição uma à outra. Braga está-se nas tintas. E Coimbra - que é outra cidade feliz de Portugal - também é muito gira, mas não tem o poderio e a prosperidade de Braga.

Em Braga, ninguém está preocupado com a afirmação de Braga em Portugal ou no mundo. Braga já era e Braga continua a ser. Sem ir a Roma, só em Braga se compreende o sentido da palavra "Augusta".

Em contrapartida, na Rua Augusta, em Lisboa, não há boa vontade que chegue para nos convencer que o adjectivo tenha proveniência romana. A Rua Augusta é "augusta" como a Avenida da Liberdade é da "liberdade" e a Avenida dos Aliados é dos "aliados", mas Braga é augusta no sentido original, conferido pelo próprio Augusto.

Em Braga, a questão de se "comer bem" ou "comer mal" não existe. Come-se. E, para se comer, não pode ser mal. Pronto. Em Lisboa, por muito bem que se conheçam os poucos bons restaurantes, está-se sempre à espera de uma desilusãozinha.

No Porto, apesar de ser difícil, ainda se consegue arranjar alguma ansiedade de se ser mal servido; de ir a um restaurante desconhecido e, por um cósmico azar, comer menos do que bem. Em Braga isso é impossível.

O problema da ansiedade não existe.
Braga tem tudo.
Passa bem sem nós.
Mas nós é que não passamos sem ela, porque os bracarenses ensinam-nos a não perder tempo a medir o comprimento das pilinhas uns dos outros ou a arranjar termómetros de portuguesismo ou de autenticidade.

É por isso que o Sporting de Braga está à frente. Não é por se chamar Sporting. Não é por ter cedido o treinador ao Benfica. O Benfica ganhou muito com isso. Mas é o Sporting de Braga que está à frente.

É por ser de Braga.

É uma coisa que, infelizmente, nem todos nós podemos ser.

Fique então apenas a gentileza de ficar aqui dito de ter pena de não ser.