O
Jovem entra na universidade alguns dias apos a revolução de
Outubro, começando por se matricular em Letras mas depressa se muda
para Direito, aproveitando-se de algumas facilidades concedias pelos
republicanos para completar cadeiras mais depressa que o normal.
Recuperava tempo perdido de forma merecida a avaliar pelos prémios
que recebe por decisão unânime de jurados catedráticos.
A
luta ideológica em Coimbra é intensa e não deixa ninguém
indiferente, fazendo com que Salazar alinhe pelo seu campo de sempre,
o conservador, através da militância no Centro Académico da
Democracia Cristã.
Ao lado dele está o famalicense Manuel Gonçalves
Cerejeira, um ano mais velho. A emotividade de Cerejeira mistura-se
com a serenidade de Salazar e à exuberância daquele este responde
com discrição e se Manuel é discreto, o António é impenetrável.
Encaixam-se em tudo o resto, tornando-se companheiros de combate e
amigos íntimos.
Cerejeira
dirige o “Imparcial”, um aguerrido jornal de combate contra o
anticlericalismo republicano, mas Salazar prefere não se misturar
nessa dicotomia república/monarquia, escrevendo dezenas de artigos
para o jornal sobre o ensino e questões universitárias.
As
elevadas notas de Salazar – entre o18 e o 19 – fazem sensação
em Coimbra e a fama atrai muitas atenções femininas que o
acompanham nas férias de Verão, para desespero de Felismina, em
perda de terreno, porque ele lhes “correspondia com bastante
satisfação”.
Para
reforçar a sua magra mesada, dava explicações e entre as
explicandas encontra-se Júlia Perestrello, filha da sua madrinha, a
frequentar um colégio de freiras.
Doutrinador
respeitado nas fileiras do catolicismo militante, Salazar compõem em
1912 a tetralogia dos seus sagrados valores: “Deus, Pátria,
Liberdade e Família”.
Um ano depois, em Braga, aborda a relação
entre democracia e Igreja, esquecendo a Liberdade que celebrara
antes. “Deve mandar quem sabe e quem pode”, dentro da livre opção
da sociedade civil pelo sistema político que considere mais
apropriado porque “não nos é possível, em nome do Evangelho,
aclamar a Monarquia ou detestar a República”. Alexis de
Tocqueville ou Charles Maurras não fariam melhor discurso para o
combate nacionalista contra o cosmopolitismo republicano.
O
ano de 1914 marca a viragem definitiva na vida de António Salazar,
com um feito notável na nota final da licenciatura de “muito bom,
com distinção e dezanove valores”.
O
sucesso escolar não o livra da recorrente depressão que o obriga a
refugiar-se no seu quarto sem ver a luz do dia, até aceitar o
conselho do amigo Manuel Cerejeira para se recolher num convento, com
ele.
Inicia-se
então uma fulgurante carreira académica como professor de Ciências
económicas e financeiras, tornando-se figura influente do partido do
Centro Católico Português (CCP), fundado em 1917, de modo a
permitir aos católicos uma intervenção política.
Está a chegar o
sidonismo…
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