O primeiro responsável
pela desagregação do regime que ele criou, deixa um país que não agrada a
ninguém porque interiorizou que devia à Providência “a graça de ser pobre” (cf.
Discurso à União Nacional, no Porto, em 1949).
O Camponês, filho de
camponeses que não pode viver ”sem respirar o cheiro da terra”, nasce quando os
pais – já com quatro filhas – não esperavam ter um filho varão, a 28 de Abril
de 1889.
Os seus pais foram um
casal camponês e beirão, típico de Portugal monárquico do último quarto do
século XIX, em suportável humildade, perto de Santa Comba Dão.
António Oliveira é
feitor de uma distinta família de proprietários rurais – os Perestrelos – com
terras e outros bens espalhados entre Viseu e Coimbra.
Os Perestrelos são
padrinhos e protectores da família, mas não aparecem ao baptizado e fazem
representar-se por um carpinteiro de Santa Comba e esposa.
Como não havia escola
primária em Vimieiro, é um funcionário municipal quem inicia as crianças nas
primeiras letras.
O pequeno António é pouco sociável, adora flores e pássaros e
desata a chorar quando algum dos pintassilgos foge da gaiola, nos tempos livres
entremeados com ajuda ao pai nas ides rurais.
Assim, desenvolve pela
mãe um carinho ilimitado e esta responde com afeição interessada na educação do
benjamim da família. Os 14 valores conseguidos no exame de quarta classe
confirmam o talento do menino que é enviado para Viseu, o Liceu mais próximo
mas longe da mãe.
É uma flor de estufa, indefesa perante as brincadeiras dos
colegas. O pároco sugere uma solução, ir para o seminário e formar um futuro
sacerdote, porque é metódico, aplicado e cumpridor.
Passa sempre com
distinção em várias disciplinas mas não descura o secreto e correspondido amor
com Felismina Oliveira, a acabar o liceu e apontada como futura professora.
Felismina dá explicações
à irmã mais velha de Salazar, Mata, também a estudar para professora, e
ficaram, um dia, na estação do comboio de Viseu, “uns instantes, de olhos nos
olhos, estáticos, talvez ávidos de nos conhecermos pessoalmente um ao outro…”
Ela e Marta visitam o
António no Seminário, muito pálido, moreno, magrinho e alto, que comia pouco.
Elas levavam-lhe “castanhas assadas e marmelada”.
Seguem-se encontros na casa
da Felismina onde a Marta estava hospedada ate quem uma carta a vai perturbar:
“A vida de um lavrador é a mais bela. Andar a trabalhar nos campos, regressar à
tarde a casa e encontrar os braços da esposa à sua espera é… é mudar esta vida
num Paraíso e vós podeis mudá-la”.
Sublinhadas as três últimas palavras,
Felismina vive uma paixão hesitante e desorientada por temer a ira divina de
andar a desorientar um futuro padre.
Nas férias, Felismina
não evitava passeios em que “segurava a minha mão na dele, enlaçava-me pela
cintura e seguíamos assim os dois como se fôssemos um par de namorados”.
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