Almada Negreiros é a
ponte simples que utilizamos para começar a falar dos quatro maiores
poetas portugueses do século XX: Fernando António Nogueira Pessoa,
nascido em Lisboa, a 13 de Junho de 1888, mais conhecido como
Fernando Pessoa.
Os quatro maiores poetas
portugueses são um, afinal? Sim e só é estranho este sim para quem
não conheça este fenómeno literário, mais insólito ainda se
soubermos que Fernando Pessoa apenas publicou um livro de versos em
português: Mensagem, com 44 poemas, em 1934.
Pessoa, já na sepultura
surpreendeu o mundo não só por ter deixado muita poesia inédita
mas também por ser o criador de vários poetas desconhecidos, e
ainda de vários prosadores.
Os três nomes de poetas,
juntamente com o nome que recebeu no baptismo, formam um quarteto
assombroso que transformou a literatura portuguesa, europeia e mesmo
mundial. Álvaro de Campos, foi revelado em 1915, Ricardo Reis
aparece nove anos depois e, por último, Alberto Caeiro, no ano
seguinte, em 1925.
É considerado um dos
maiores poetas da Língua Portuguesa, e da Literatura Universal,
muitas vezes comparado com Luís de Camões. O crítico literário
Harold Bloom considerou a sua obra um "legado da língua
portuguesa ao mundo".
Por ter sido educado na
África do Sul, para onde foi aos seis anos em virtude do casamento
de sua mãe, Pessoa aprendeu perfeitamente o inglês, língua em que
escreveu poesia e prosa desde a adolescência.
Das quatro obras que
publicou em vida, três são na língua inglesa. Fernando Pessoa
traduziu várias obras inglesas para português e obras portuguesas
(nomeadamente de António Botto e Almada Negreiros) para inglês.
Ao longo da vida trabalhou
em várias firmas comerciais de Lisboa como correspondente de língua
inglesa e francesa.
Foi também empresário,
editor, crítico literário, jornalista, comentador político,
tradutor, inventor, astrólogo e publicitário, ao mesmo tempo que
produzia a sua obra literária em verso e em prosa.
Como poeta, desdobrou-se
em múltiplas personalidades conhecidas como heterónimos, objecto da
maior parte dos estudos sobre sua vida e sua obra. Centro irradiador
da heteronímia, auto-denominou-se um "drama em gente".
“Se depois de eu
morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais
simples.
Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha
morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus”
(cf. Alberto
Caeiro; Poemas Inconjuntos; in Atena nº 5 de Fevereiro de 1925.
A 13 de Junho de 1888 nasce em Lisboa Fernando
Pessoa, numa família da pequena aristocracia, pelos lados paterno e
materno; o pai, Joaquim de Seabra Pessoa (38 anos), de
Lisboa, era funcionário público do Ministério da Justiça e
crítico musical do «Diário de Notícias». A mãe, D. Maria
Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa (26 anos), era dos Açores
(da Ilha Terceira). Viviam com eles a avó Dionísia, doente mental,
e duas criadas velhas, Joana e Emília.
Fernando António foi
baptizado em 21 de Julho na Basílica dos Mártires, ao Chiado, tendo
por padrinhos a Tia Anica Luísa Pinheiro Nogueira, tia materna, e o
General Chaby. A escolha do nome homenageia Santo António: a família
reclamava uma ligação genealógica com Fernando de Bulhões, nome
de baptismo de Santo António, festejado em Lisboa a 13 de Junho, dia
em que Fernando Pessoa nasceu.
As suas infância e
adolescência foram marcadas por factos que o influenciariam
posteriormente. Às cinco horas da manhã de 24 de Julho de 1893, o
pai morreu, com 43 anos, vítima de tuberculose.
Fernando tinha
apenas cinco anos. O irmão Jorge faleceu no ano seguinte, sem
completar um ano. A mãe vê-se obrigada a leiloar parte da mobília
e muda-se para uma casa mais modesta.
Foi neste período que surgiu o
primeiro heterónimo de Fernando Pessoa, Chevalier de Pas, facto
relatado pelo próprio a Adolfo Casais Monteiro, numa carta de 1935,
em que fala sobre a origem dos heterónimos.
Ainda no mesmo ano,
escreve o primeiro poema, um verso curto com a infantil epígrafe de
À Minha Querida Mamã. A mãe casa-se pela segunda vez em 1895 por
procuração, na Igreja de São Mamede, com o comandante João Miguel
Rosa, cônsul de Portugal em Durban (África do Sul).
Em África,
onde passa a maior parte da juventude e recebe educação inglesa,
Pessoa demonstra desde cedo talento para a literatura.
Faz a instrução primária
na escola de freiras irlandesas da West Street, onde fez a primeira
comunhão, e percorre em dois anos o equivalente a quatro.
Em 1899 ingressa no Liceu
de Durban, onde permanece três anos e será um dos primeiros alunos
da turma e cria o pseudónimo Alexander Search, através do qual
envia cartas a si mesmo.
No ano de 1901, escreve os primeiros poemas
em inglês. Na mesma altura, morre a irmã Madalena Henriqueta, de
dois anos. Em 1901 parte com a família para Portugal, para um ano de
férias. No navio em que viajam, o paquete König, vem o corpo da
irmã.
Na capital portuguesa,
nasce João Maria, quarto filho do segundo casamento da mãe de
Pessoa. Viaja com a família à Ilha Terceira, nos Açores, onde vive
a família materna.
Mantém contacto com a
literatura inglesa através de autores como Shakespeare, Edgar Allan
Poe, John Milton, Lord Byron, John Keats, Percy Shelley, Alfred
Tennyson, entre outros.
O Inglês teve grande destaque na sua vida,
trabalhando com o idioma quando, mais tarde, se torna correspondente
comercial em Lisboa, além de o utilizar em alguns dos seus textos e
traduzir trabalhos de poetas ingleses, como O Corvo e Annabel Lee de
Edgar Allan Poe.
Com excepção de Mensagem, os únicos livros
publicados em vida são os das colectâneas dos seus poemas ingleses:
Antinous e 35 Sonnets e English Poems I - II e III, editados em
Lisboa, em 1918 e 1921.
Fernando Pessoa permanece
em Lisboa, enquanto todos — mãe, padrasto, irmãos e criada
Paciência — regressam a Durban. Volta sozinho para a África e
matricula-se na Durban Commercial School, escola comercial de ensino
nocturno, e de dia estuda as disciplinas humanísticas para entrar na
universidade.
Em 1903, candidata-se à Universidade do Cabo da Boa
Esperança. Na prova de exame de admissão e tira a melhor nota entre
os 899 candidatos no ensaio de estilo inglês. Recebe o Queen
Victoria Memorial Prize («Prémio Rainha Vitória»).
Deixando a família em
Durban, regressa definitivamente à capital portuguesa, sozinho, em
1905. Passa a viver com a avó Dionísia e as duas tias.
Continua a produção de
poemas em inglês e, em 1906, matricula-se no Curso Superior de
Letras (actual Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), que
abandona sem sequer completar o primeiro ano. Interessa-se pela obra
de Cesário Verde e pelos sermões do Padre António Vieira.
Em Agosto de 1907, morre a
sua avó Dionísia, deixando-lhe uma pequena herança, com a qual
monta uma pequena tipografia, «Empreza Ibis — Typographica e
Editora — Officinas a Vapor», que vai à falência.
A partir de
1908, dedica-se à tradução de correspondência comercial, uma
ocupação a que poderíamos dar o nome de "correspondente
estrangeiro". Nessa actividade trabalha a vida toda, tendo uma
modesta vida pública.
Inicia a sua actividade de
ensaísta e crítico literário com o artigo «A Nova Poesia
Portuguesa Sociologicamente Considerada», a que se seguiriam
«Reincidindo…» e «A Nova Poesia Portuguesa no Seu Aspecto
Psicológico» publicados em 1912 pela revista A Águia, órgão da
Renascença Portuguesa.
Frequenta a tertúlia literária que se
formou em torno do seu tio adoptivo, o poeta, general aposentado
Henrique Rosa, no Café A Brasileira, no Largo do Chiado em Lisboa.
Mais tarde, já nos anos vinte, o seu café foi o Martinho da Arcada,
na Praça do Comércio, onde escrevia e se encontrava com amigos e
escritores.
Em 1915 participou na
revista literária Orpheu, a qual lançou o movimento modernista em
Portugal, causando algum escândalo e muita controvérsia. Esta
revista publicou apenas dois números, nos quais Pessoa publicou em
seu nome, bem como com o heterónimo Álvaro de Campos. No segundo
número da Orpheu, Pessoa assume a direcção da revista, juntamente
com Mário de Sá-Carneiro.
Em Outubro de 1924,
juntamente com o artista plástico Ruy Vaz, Fernando Pessoa lançou a
revista Athena, na qual fixou o «drama em gente» dos seus
heterónimos, publicando poesias de Ricardo Reis, Álvaro de Campos e
Alberto Caeiro, bem como do ortónimo Fernando Pessoa.
Morreu no dia 30 de
Novembro, com 47 anos de idade. Na véspera escreve em inglês: "I
know not what tomorrow will bring" ("Não sei o que o
amanhã trará").
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