Em
1918 ele encontra-se entre o grupo de professores que saúdam Sidónio
Pais, na sua visita presidencial a Coimbra, aventando-se a hipótese
de ser ministeriável.
Coincide com o início de uma relação
platónica com Glória Castanheira, pianista célebre de Coimbra, mas
esta acaba por sofrer também com a tibieza de António. Os colegas
acusam-nos de basear a sua atracção pelas mulheres apenas no
espírito.
Mas
o pior acontece quando é acusado de proselitismo monárquico e acaba
suspenso da docência, mas Salazar defende-se de forma arrasadora e o
juiz reintegra-o ao fim de um mês por nada se haver provado contra
ele.
Fala-se
então na sua candidatura pelo Centro Católico Português por Viana
do Castelo, mas acaba por ser apontado para representar Guimarães,
contra sua vontade.
Provedor
da Misericórdia de Coimbra, António Salazar regressa a nova
depressão, porque a sua ida para Lisboa era uma “revolução na
minha vida, nos meus hábitos e (…) tira-me o relativo sossego do
meu viver apagado e a distracção dos meus livros. Começo a sentir
que não hei-de ser nada – nem professor, nem deputado, nem
provedor da Misericórdia – nada a não ser uma pessoa cuja vontade
se violentou”.
Numa
carta à pianista, escreve: “não sinto entusiasmo por nada. Estou
morto”. Despede-se de Lisboa nas férias de Verão e em 19 de
Outubro de 1921 acontece a “Noite sangrenta” que põe fim à
experiência parlamentar de Salazar.
A
sua reputação como ideólogo do CCP afirma-se em Abril de 1922
quando define como prioridade dos católicos “conquistar no regímen
actual as liberdades fundamentais da Igreja” em detrimento da
Monarquia ou da República.
Aos
33 anos, Salazar não é um desconhecido, mas um académico
respeitado e apontado como detentor da solução para a bancarrota
nacional. Sem pressa, o lente de Coimbra dedica-se a palestras para
os círculos católicos, como Braga, no Congresso Eucarístico de
1924, e a escrever artigos para jornais refugiando-se no Vimieiro,
onde a mãe precisa dos seus cuidados.
Continua
a namoriscar, agora com a vizinha, com quem troca cúmplices olhares
de janela para janela. É a Júlia Alves Moreno, irmão do seu amigo
Guilherme. Manuel Cerejeira reprova o comportamento e ele responde:
“que queres? Ela é que me provoca, é que toma a iniciativa, e eu
não sou frade”.
A
sua carreira política sofre um desaire ao falhar a eleição como
deputado por Arganil, em 1925, mas meio ano depois, a revolta militar
saída de Braga, em 28 de Maio de 1926, vai mudar toda a vida daquele
de quem a mãe disse à sua primeira namorada: “o meu filho é só
meu”.
Obcecada pela ordem, pela poupança e pelo controlo rigoroso
da economia doméstica, na sua casa de comes e bebes, ela constitui a
principal influência familiar sobre o seu filho António, sendo sua
conselheira e orientadora.
É por obediência a ela – Maria do
Resgate - que António segue para o Seminário de Viseu porque, nas
aldeias, “ser padre significa promoção social e fuga à endémica
miséria nacional”.
Viseu fecha-lhe o caminho do sacerdócio e abre
o caminho para outras ambições. Ele detestava ser o filho do
feitor… e por causa disso abandona o primeiro amor e acolhe-se à
sombra do amigo Manuel Cerejeira.
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