O namoro – como sempre, não? – beneficia o desempenho académico de Salazar.
Excelente aluno nas diversas disciplinas até entrar no curso teológico em 1905, em que se distingue pela avidez da leitura, a entrega à reflexão e resistência intelectual.
Logo no primeiro ano é escolhido para uma sessão na presença do bispo de Viseu, terminando o curso de teologia com distinção e nota final e 16 valores, mas falta-lhe idade para receber as ordens maiores (diácono e presbítero). Os conterrâneos já o tratavam por “padre Salazar”, em 1908.
Vive-se já a euforia republicana, na sequência da morte de D. Carlos, e António publica os primeiros artigos a defender os valores católicos, atacando a imprensa republicana porque inimiga da religião.
Aflora um monarquismo inconfessado, antes de entrar no Seminário de Viseu como prefeito, onde devora a imensa biblioteca do cónego António barreiros, apostado em métodos de ensino mais modernos e aproveita para estudar inglês, alemão e francês.
O Papa Leão XIII, que morrera há pouco, ajuda-o a preparar-se para novos desafios lançados pela Rerum Novarum sobre a questão social. A encíclica condena a luta de classes, os ataques à propriedade privada, o socialismo e comunismo como elementos destruidores da célula sagrada que é a família mas taca também o liberalismo puro como desfavorável aos fracos e desprotegidos.
Defende a intervenção do Estado para proteger os trabalhadores e estimula a concertação entre patrões e operários para solucionar as questões salariais e condições de trabalho.
Excluindo a greve, está aí todo o programa inspirador do corporativismo que influencia a Europa Latina.
Em outras encíclicas, Leão XIII condenara a maçonaria como incompatível com os cristianismo, estabelece o conceito de democracia cristã que ele faz evoluir para a necessidade de uma sociedade com um chefe supremo, entre o poder religioso e o político, num sistema de relações bem ordenado.
Mas há algo que não agrada a Salazar: os portugueses. Estes querem “trabalhar o menos possível sob a tutela do estado que lhe garanta o suficiente à vida, eis o sonho, o belíssimo sonho do preguiçoso português”.
Disse-o com todas as letras em Dezembro de 1909, em Viseu. Salazar sente-se agora mais longe do sonho sacerdotal e inicia a sua carreira académica que a mãe parece favorecer.
Nas férias de verão de 1910, Felismina, apesar da exasperada inconstância sentimental do António, seduz o namorado com o prestígio local de que ele goza como “rapaz extraordinário e nas famílias onde havia meninas, pensava-se nele com certo interesse”.
Salazar decide não tomar as ordens maiores e rumar a Coimbra para ingressar na Universidade, quando deflagra a Revolução republicana, com 21 anos.
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