Em 1922, publica uma edição aumentada de Canções de
António Botto, um livro de versos que celebrizava a beleza masculina. Para
promover o livro publica um artigo “António Botto e o ideal de estética em
Portugal”. O monárquico Álvaro Maia responde-lhe com “Literatura de Sodoma: o
sr. Fernando Pessoa e o ideal estético em Portugal”. Raul Leal contrapõe com
“Sodoma divinizada” e surge uma Liga de Acção de Estudantes de Lisboa contra a
“literatura de Sodoma”.
O livro de Botto e o artigo de Leal são apreendidos
pelo governdor civil de Lisboa enquanto é distribuído um manifesto contra “a
inversão da inteligência, da moral e da sensibilidade”.
Pessoa responde, numa folha assinada por Álvaro de
Campos: “Ó meninos, estudem, divirtam-se e calem-se”. Enceta depois um combate
escrito pela liberdade de expressão que contrasta com o seu sidonismo anterior.
Pessoa, após o assassínio de Sidónio Pais, glorificou-o com o poema “À memoria
do Presidente-Rei Sidónio Pais”, em 1920, prenúncio do regresso do Desejado D.
Sebastião.
É a primeira manifestação de sebastianismo. Baseado nas profecias do
sapateiro de Trancoso (séc. XVI), Pessoa quer afirmar-se como Salvador da
literatura de Portugal, o super-Camões, ao mesmo tempo que desejava um
super-homem politico, um grande estadista, que pudesse salvar o país do caos em
que este se afundara.
Apesar do gosto pelo escândalo, Pessoa já não era
visto como um jovem irrequieto, desejoso de dar nas vistas. Tornara-se um homem
respeitado, recatado e de hábitos certos,
admitindo, em 1920, a possibilidadde de se casar com Ofélia Queirós, a
quem declara um “amor extremo”.
No entanto, nas cartas trocadas entre ambos, Fernando
Pessoa falava-lhe de assuntos corriqueiros. Costumavam passear a pé mas
Fernando nunca quis ir a casa dela e conhecer os seus familiares. A relação
ficou numa caixa, num compartimento, isolada do resto da vida de Pessoa, apesar
de ter tido grande importância para ele.
Guardou as muitas cartas e postais de
Ofélia. Ele queria amá-la mas faltava-lhe o essencial: a entrega. Quando o
namoro acabou, ele sentiu-se “aliviado e sem vocação" para “outras afeições”.
Com o país em crise, por sete
mudanças de governo em 1920, inúmeras greves e manifestações, a vida de Pessoa
entra numa fase de estabilidade. Vive na casa de Ourique até ao fim da vida, com pequenas viagens ao Alentejo ou ao Estoril, para visitar a sobrinha, filha do irmão Luís, nascida em 1931.
Abandonada a ideia de emigrar para Londres, Fernando Pessoa convenceu-se a ficar em Lisboa para consolidar a sua obra e pros-seguir a sua missão “civilizadora”.
Ele fazia questão de afirmar que “o imperialismo dos gramáticos dura mais e vai mais fundo que o dos generais” e interiorizava que “a única compensação moral que devo à literatura é a glória futura de ter escrito as minhas obras presentes”, numa década em que a produção de Pessoa diminuía.
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