A produção poética de Pessoa
diminui na década de vinte devido às suas actividades empresarias e desperta
com a revista Contemporânea onde revela ser mais multifacetado do que alguém
podia imaginar.
Dos 23 poemas ali publicados,
incluem-se doze que foram mais tarde a segunda parte de Mensagem e eram
assinados por Álvaro de Campos. É a primeira aparição do heterônimo como poeta
desde o Orpheu.
Foi também nesta revista e no
primeiro dos seus 13 números que Pessoa publicou o Banqueiro Anarquista, uma
espécie de dialogo socrático que era muito caro ao autor.
Fernando Pessoa era muito
céptico em relação às ideologias anarquista, socialista e comunista chegando
mesmo a escrever que esta revolução ia “atrasar dezenas de anos a realização da
sociedade livre”, previsão que depois se revela acertada.
A mais importante revelação
literária de Pessoa foi, nessa época, Albero Caeiro e Ricardo Reis. É
misterioso que os tenha mantido em segredo durante tantos anos, uma vez que a
maior parte da poesia de Caeiro foi publicada em 1916.
Aguardou certamente um
contexto adequado para o revelar e foi ele quem criou esse contexto com a
revista Athena, Revista de Arte, com os cinco números publicados entre 1924 e
1925.
Foi uma revista à Pessoa em
que ele desenvolveu a sua campanha pela elevação da cultura portuguesa. Era uma
ilustração perfeita da Nova Renascença promulgada por Fernando Pessoa doze anos
antes.
É neste ambiente sóbrio, mas
clássico, e ao mesmo tempo moderno, português e universal, que Pessoa deu a
conhecer Reis e Caeiro, com ampla selecção de poemas de cada um deles.
O renascimento neogrego que
estes dois heterónimos deviam prefigurar baseava-se no neopaganismo, um sistema
filosófico e religioso inscrito na sua poesia.
O fenómeno dos heterónimos
reflecte a convicção de Fernando Pessoa de que nem no apertado âmbito do eu
existe a unidade. Fernando Pessoa rejeitava a visão da unidade última e divina
promovida pelo cristianismo e outras religiões monoteístas. Isso não significa
que ele não desejasse a unidade.
Na heteronomia do seu eu fragmentado, o poeta
tentou, paradoxalmente, construir um pequeno mas completo universo de partes
interligadas que formassem um todo coerente.
A morte da mãe coincide com o
quinto e último numero da revista Athena e ninguém tinha reparado nos poemas do
mestre triunfal, Alberto Caeiro... Não saiu qualquer critica ou referencia nos
jornais. Fernando Pessoa estava mais só do que nunca, humana e literariamente
falando.
Em 31 de Agosto de 1925 escreve a um amigo a dizer que sofria de
“loucura psicasténica” e perguntava
que tinha de fazer para requerer o seu próprio internamento num
manicómio.
O seu velho receio de
enlouquecer ressuscitava e o medo revela o grau de abatimento emocional em que
caiu.
Nesse Outono dedica-se a
escrever muitos artigos sobre o comercio e gestão de empresas na Revista de
Comércio e Contabilidade, dedicando-se à história, teoria do comercio e
numerosos preceitos e sugestões para o bom funcionamento de uma empresa.
Pessoa manifesta então o seu
desprezo pelo capitalismo, mostrando-se grande defensor do comercio livre e
opondo-se a qualquer proteccionismo.
A carreira literária de
Pessoa parecia estar em ponto morto, quando nasceu a revista Presença, primeiro
órgão a reconhecer o seu estatuto de poeta cimeiro do modernismo em Portugal.
Foram responsáveis por este
regorgitar pessoano José Régio, João Gaspar Simões e Adolfo Casais Monteiro.
Logo no terceiro numero de Presença, José Régio (na foto) escreve: “Fernando Pessoa tem
estofo de mestre e é o mais rico em direcções dos nossos chamados modernistas”.
No numero seguinte, Fernando Pessoa dá começou a uma longa colaboração que
inclui alguns dos seus mais belos poemas: Aniversário, parte de O guardador de
rebanhos e Tabacaria.
Ainda não era a “larga
celebridade” que Pessoa desejava como “sinónimo psíquico da liberdade” mas o
poeta esperava isso.
Entre 1919 e 1931 escreve
dezenas de trechos para um ensaio em inglês Erostratus (homenagem ao grego que
destruiu o templo de Diana) e argumenta que o "verdadeiro génio, por representar
um avanço qualitativo sobre os seus contemporâneos, nunca será devidamente
reconhecido pela sua própria geração”.
Explicava-se o escasso renome
alcançado por Pessoa em vida, sinal de que podia vir a ser reconhecido pela
futura história da literatura universal.
Pessoa era um megalómano –
natural num criador artístico que pretende ser usurpador da função divina —
desde tenra idade. No entanto, os seus anseios de glória associavam-se ao sonho
de um Portugal glorioso e triunfal. Ele queria ser um grande escritor,
suplantar Luís de Camões, para engrandecer a cultura portuguesa e coloca-la ao
nível da inglesa e da francesa. Sendo Portugal um pais pequeno nunca podia
distinguir-se como potencia militar ou económica e tinha de se impor como força
interior, pelo espírito, pela cultura.
É a função redentora da
cultura, com Pessoa no leme de salvador das letras.
Assim, quando o Marechal
Manuel Gomes da Costa inicia em Braga a revolta militar, tem o apoio de Pessoa,
cansado, como a maioria dos portugueses, de tanta instabilidade política e
desordem social.
Pela mesma razão que foi sidonista, Pessoa apoiou a revolta
contra a república parlamentar, que nada representava de novo.
Fazer tabua rasa do sistema
para criar algo diferente e melhor em que a cultura era a força governativa.
Era o novo império, ao lado
dos grandes impérios grego, romano ou cristão: Portugal, através da língua e da
cultura, e sobretudo da sua literatura, dominaria o resto da Europa.
Um império
de poetas.
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