Tuesday, May 14, 2013

Os rostos da República: Fernando Pessoa (07)


Só em 1912, Fernando Pessoa faz a sua estreia como escritor com um ensaio “A nova poesia portuguesa”, e explica que Portugal está no limiar de uma época gloriosa da sua literatura, na qual apareceria o “Grande poeta”, que "remeteria para segundo plano a figura de Camões”.

Quem era o grande poeta? Era Pessoa… 

Ele sentiu que o seu génio criador estava prestes a dar fruto. Fernando Pessoa continuava a produzir poesia em inglês, com o heterónimo Alexander Search, até 1910, enquanto em seu nome próprio escrevia em português.

Lendo os simbolistas Mallarmé, Verlaine, Rimbaud e muita poesia nacional, Fernando Pessoa faz a transição entre a Monarquia e a República em contacto com Teixeira de Pscoaes e o quase inédito Camilo Pessanha.

Fernando Pessoa está seguro de que, “andando pensa-se melhor que sentado”, quando escrevia a Mário de Sá-Carneiro que “o que é preciso é ter um pouco de Europa na Alma”.
 
De facto, entre os 24 e os 29 anos, Fernando Pessoa vive num rodopio de movimento, emoção, criatividade e contactos pessoais que se afasta do estereotipo do poeta recolhido no seu quarto, afastado dos outros seres humanos, a ler livros e a escrever coisas para a “famosa arca que só nós iríamos apreciar”.

A vida pública de Pessoa girava em torno da literatura e esta estimulava aquela, levando-o a frequentar cafés lisboetas e reunr-se com jornalistas e escritores como Augusto Gil ou Camilo Pessanha, discutindo as novidades editoriais, mostrando o que escrevia e ouvindo os poemas deles.

A chegada da República gerara grandes exectativas. Apesar do  caos reinante logo nos primeiros anos e de um “ódio especial por Afonso Costa”, Pessoa acreditava que era dentro da República que se faria o renascimento cultural de Portugal.

A lealdade de Fernando Pessoa à República estava aí para continuar, através do seu punho, há precisamente cem anos, quando Pessoa vive momentos de grande frenesim na sua produção, começando a afirmar toda a sua genialidade.

No ano de 1913, a política não podia deixar de ser um tema muito debatido nas tertúlias frequentadas por Fernando Pessoa, que se prolongavam horas e horas na elaboração de manifestos  a defender a República, contra os monárquicos, mas opondo-se aos “afonsistas”.

Nesse núcleo de poetas, citados na crónica anterior, nascia a revista Águia que acolhe “Na floresta do alheamento”, prosa poética do “Livro do Desassossego”. 

O ano 1913 é de facto o ponto de partida na revelação do génio pessoano, sem que haja grande rebuliço nas letras portuguesas de então.
Pessoa não punha em causa a ultra-racionalidade mas inclinava-se mais para o Intersecccionismo, uma espécie de cubismo aplcado à literatura.

Tal era o esforço de inovação literária que Pessoa e os seus discípulos estavam sós, sem terem quem os acolhesse no meio literário português, o que explica os fracassos editoriais.

No começo de 1913, Fernando Pessoa tenta lançar uma nova revista Lusitânia que se debruçasse sobre os problemas políticos da República e o lugar que ela ocupava (escasso) na cena internacional. Projectada por Pessoa com Sá-Carneiro a secretário, a revista contava com colaborações de José Almada Negreiros, Cobeira, João Correia de Oliveira (irmão do poeta minhoto António e muito amigo de Pessoa) e Camilo Pessanha, “um grande poeta inédito”.

Alguns meses depois, o nome da revista mudava para Europa correspondendo ao duplo desejo de Pessoa trazer a modernidade europeia para Portugal e promover a cultura portuguesa no Velho Continente. Os amigos Sá Carneiro e Santa-Rita Pintor traziam a Pessoa as tendências mo-dernas da Europa e da A-mérica do Sul, como o cubismo (Picasso) e modernismo (Max Jacob e Apolinaire).

O escândalo Orpheu

A Lusitânia nunca chegou a sair porque entretanto Montalvor sugeriu o nome de Orpheu, cujo  editor foi António Ferro, e o primeiro número surge só em Março de 1915, sendo recebida como uma “maluqueira literária” de uns “alienistas”. 

Pessoa ficou satisfeito porque “somos o assunto do dia em Lisboa. O escândalo é enorme. Somos apontados na rua e toda a gente fala no Orpheu”. 

O segundo número saiu três meses depois e a imprensa voltou a destacar este grupo de “doidos”. Apareciam vários poemas de Álvaro de Campos, o heterónimo mais exuberante de Pessoa e o primeiro a ser revelado publicamente. Com as ideias de Álvaro de Campos surgem as primeiras tensões dentro do grupo que se agravaram por dificuldades económicas que extinguiram o Orpheu. 

O suicídio de Sá-Carneiro, no ano seguinte, contribui para unir o grupo mas o génio de Fernando Pessoa já estava imparável, na renovação da literatura portuguesa, através de várias revistas como Centauro, Exílio, Portugal Futurista. 

Esta acabou por ser apreendida pela polícia antes de ser distribuída por razões políticas ou morais.


 

No comments: