Palavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.
Tuesday, January 3, 2012
Os rostos da República de A a Z: Sidónio Pais (11)
Após a morte de Sidónio Pais, aos 45 anos, com tiros de uma pistola belga, o encantamento com a sua figura continuava, criando raízes e dando frutos, ao longo dos anos, cujas sementes germinam apenas oito anos depois, com o golpe de 28 de Maio que saiu de Braga.
A imagem do presidente amigo dos pobres e das crianças assumiu proporções míticas e lendárias, ímpares na história de Portugal, conferindo-lhe a santidade da “rotunda até à eternidade” numa jornada “cruciante e dolorosa” prolongada pela imprensa, mesmo a humorista e sarcástica.
Um dos cultivadores da mitologia sidonista foi Fernando pessoa, com o poema “À memória do Presidente-Rei Sidónio Pais”, especialmente quando inventa esta quadra:
“Quem ele foi sabe-o a Sorte
Sabe-o o Mistério e a sua lei.
A vida fê-lo herói, e a Morte
O sagrou Rei”.
Os seus herdeiros políticos , de forma espontânea ou ingénua, ou trabalhada e burilada, ao sabor dos tempos e das necessidades, levaram-no de uma sala escura dos Jerónimos para a honra rara do panteão nacional, num percurso carregado de raro simbolismo.
Impressionante é a persistência da memória de Sidónio, especialmente através da consagração desencadeada pelo estado Novo, na sua fase inicial, assinalando a proximidade entre António (Salazar) e Sidónio (Pais).
Em 1919, após a derrota dos monárquicos em Monsanto e a Norte, o poder republicano começa a afirmar-se sem sidonistas que são afastados dos poderes do Estado criando assim a “nova República velha” que não poupa a figura de Sidónio.
Os herdeiros de Afonso Costa, homens do Partido Democrático, começam por não tolerar que os Jerónimos acolhessem o túmulo de “um traidor”, um “vendido à Alemanha”, um “inimigo da pátria”.
Por isso, em Dezembro são impedidas cerimónias que assinalassem o primeiro aniversário da morte do “presidente-Rei”, e Alfredo de Sá Cardoso chega a impedir a celebração de uma simples missa de sufrágio, ao afirmar que desmontou uma “perturbação da ordem” preparada para o dia 14 de Dezembro.
Celebrar o regime de Sidónio era um “crime contra a honra da pátria” porque a “Nova República” esquecera os deveres internacionais e militares no seio dos aliados, para além de tentar “aniquilar a Marinha e o esforço de guerra”.
A obra legislativa foi definida como “desordenada e incongruente” e a situação financeira desastrosa, para além da perseguição aos velhos republicanos.
No entanto, os indefectíveis sidonistas preservaram a sua memória, nos aniversários do assassínio, com romagens ao túmulo e restauro do bodos aos pobres, entre os quais se destacava Gomes Freire.
Não era só a saudade. Os seus seguidores queriam perpetuar os princípios associados à República Nova, que justificaram algumas ditaduras entre as duas grandes guerras, como Mussolini e Rivera.
Entre o fogo cruzada daqueles que o odiaram e daqueles que o Amaram, a figura de Sidónio manteve-se no topo da discussão política.
Não admira que durante o estado Novo, a figura do Presidente bondosos e amigo dos pobres seja apontada como “um obreiro” da Revolução de 1926, que deu ligar à ditadura militar e ao regime salazarista.
O Estado Novo retribuía considerando-o “um dos poucos que se aproveitavam da confusão" que foi a primeira República ou Velha.
Em 1935, Oliveira Salazar sente a necessidade de perpetuar Sidónio Pais, com um arco triunfal (?), mas antes são colocados os restos mortais na sala do capítulo, um local mais nobre, em 1953, ao lado de Óscar Carmona. Vilas e cidades davam-lhe o seu nome a avenidas e as artes inspiravam-se na sua vida e obra.
Em 1966, termina esta peregrinação dos restos mortais de Sidónio – o que só aumenta o seu prestígio – com a trasladação para o Panteão Nacional, por “sentida homenagem do Governo de Salazar” (cf. Diário das Sessões da Assembleia Nacional, 14 de Dezembro de 1966).
Com a chegada de Marcelo Caetano ao poder, em 1968, a figura de Sidónio é esquecida e torna-se mesmo algo "incómoda” e a sua visão constitucional apenas volta a ser recordada no debate da Constituinte, em 1975, ao temperar-se o poder do Parlamento com uma maior intervenção do inquilino de Belém.
Mas ainda hoje, continuam as romagens ao túmulo do “presidente-rei”.
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