Tuesday, January 3, 2012

Os rostos da República de A a Z: Sidónio Pais (9)



Numa altura em que o poder é encenado, o chefe recriado e as imagens publicitadas, o “Sidónio das Sopas”, a partir de Abril de 1918, inaugura 31 cozinhas económicas, vedadas àqueles que se “metem na política, que fazem greves e que perturbam a ordem”.

Quase todos os Domingos, acompanhado de presidentes de Junta e por vezes do pároco, Sidónio desdobrava-se em inaugurações. Ao som de banda, com tudo engalanado e as senhoras rodavam-no. Depois de ter provado a sopa, chegava o discurso do chefe que não se esquecia d povo, que deixava “ remanso das secretarias e vinha até junto das pessoas para ouvir as suas queixas e auscultar-lhes o coração”.

O povo estava com ele e sob a figura de Sidónio podia acolher-se todos os pobres de Portugal. Assim se constrói a imagem de um chefe “sensível à pobreza, à desventura do povo” que era “caridoso, governava com o coração” (cf. Discurso proferido no Rossio, a 14 de Maio de 1918).

Em Outubro, o presidente desperta para uma nova causa: a assistência às vitimas da febre pneumônica numa nova e “bendita cruzada”, em que as crianças não são esquecidas. Para estas, organizavam-se festas e davam-se brinquedos, vestuário e calçado.

Por muito vos amar”, escrevia-se nos pratos de arroz doce servido numa destas festas. Fechava-se o círculo do Presidente que governava com o coração, aberto aos doentes, aos pobres, aos esquecidos e aos velhos.

Era a caridadezinha no seu esplendor que os republicanos substituíram pela solidariedade, pela reforma do Estado e por verdadeiras transformações sociais que Sidónio Esqueceu.

Outra das imagens bem conseguida foi a de “conquistador, charmeur, amoroso e amorável” devido ao seu “olhar magnético e vivo” com “andar galhardo, firme e marcial” que fazia as delícias e arrebatava as mulheres num “histerismo lascivo” (cf. ALBUQUERQUE, António, Sidónio na lenda, revista Lúmen, Lisboa, 1922).

A admiração era tamanha que as “senhoras da sociedade descalçaram as mãos brancas e trabalharam por amor a Sidónio”, apesar deste nunca lhes ter reconhecido capacidade política. O voto estava continuava reservado aos sexo masculino apesar de, em Julho de 1918, ter permitido à mulher portuguesa o desempenho de várias funções públicas e abrir à mulher a pratica da advocacia, ajudante de notário e conservadora.

Mais do que qualquer outro Governo, o Sidonismo investiu na aliança com o Exército, com inúmeras paradas militares e usando o cenário bélico para reforçar a autoridade.

Sidónio usava a “capa militar sobre os ombros e um cobertor obre os joelhos”, tinha uma vida austera, começando a trabalhar às 8 horas e só terminando às 3 horas da madrugada, apos fumar uns quatro maços de cigarros Baunilhas. Sedutor, nunca recebeu ou dormiu com uma mulher em Belém. Passava assim a imagem de um homem que mal descansa, abnegado e dedicado à Pátria.

Numa população mal alojada, com péssimas condições de higiene e salubridade e mal nutrida, não é de estranhar que grassassem as doenças como febre tifóide e a varíola.

Em 1918, Portugal é assolado pela celebre pneumônica que sucede à tifóide (em 1917), matando 40 milhões de pessoas em todo o mundo e cem mil em Portugal. Sidónio Pais, ainda a refazer Portugal dos efeitos devastadores da Guerra que privara os portugueses de produtos essenciais, tinha agora de levantar um pais dizimado pela doença e multiplicava-se em visitas a hospitais.

A esperança de vida dos portugueses desce para menos de 36 anos mas a imagem de pai-presidente reforçava-se num país onde a maioria da população é analfabeta e em que a imagem é fundamental.


A fotografia e o bilhete postal assumiram um papel primeiro na divulgação desta imagem presidencial pouco republicana. As imagens de Sidónio são de consumo apetecível e alimentam um invulgar fenômeno de popularidade que alimenta invejas contra o inegável carisma do presidente.

OBS.: Reproduzimos a primeira Página da Ilustração Católica que dá conta da grande recepção de Sidónio Pais, em Braga.

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