Tuesday, January 3, 2012

Os rostos da República de A a Z: Sidónio Pais (10)


A fotografia e o bilhete postal assumiram um papel primeiro na divulgação desta imagem presidencial pouco republicana. As imagens de Sidónio são de consumo apetecível e alimentam um invulgar fenômeno de popularidade que alimenta invejas contra o inegável carisma do presidente.

A fatalidade atinge Sidónio na noite de 14 de Dezembro de 1918, pouco mais de um ano apos a revolta que o elevara ao poder, escapando a um primeiro atentado no dia 6 de Dezembro.

Um jovem Júlio Baptista — só ou a mando de alguém, um mistério que perdura — enganou-se e os tiros não resultaram. Circulavam em Lisboa rumores que comparavam Sidónio a D. Carlos...morto, mas o presidente não queria acreditar ou estava ansioso pela sua morte?

Muitos tinham abandonado o regime, outros tornavam-se críticos e o partido de Sidónio era uma sombra do apoio que podia ter. A sua figura, o carisma e a popularidade mantinham o regime. Quando se calariam os aplausos? A sua morte faz desabar todo o edifício, embora Sidónio estivesse persuadido da sua “invulnerabilidade” (cf. CHAGAS, João, in Diário IV, Lisboa, Ed. Rolim, 1987.

Só que,desta vez, o braço assassino não tremeu,nem abala se recusou a partir (duas vezes), naquela noite em que Sidónio sai debelem para apanhar o comboio no Rossio, em direcção ao Porto. Do meio da multidão que o vitoriava, um revólver dispara, gerando confusão, correria, pânico e no tiroteio, inocentes perdem a vida.

Sidónio desfalece algumas horas mais tarde, com uma bala no peito que foi fatal. José Júlio Costa, ex-sargento do exército, não é morto no local e nunca se chega a perceber a motivação do crime.

O espaço entre as balas e a morte é suficiente para se criar mais um mito, sobre as suas últimas palavras inventadas pelo famoso Repórter X: “morro bem. Salvem a Pátria!”. Nunca foram proferidas mas são a peça fundamental para a construção do mito em que Fernando Pessoa teve contribuição decisiva.

Os funerais – com um luto nacional de 30 dias! – constituíram o capítulo final da “consagração que a trágica morte lhe deu”, como o grande “mártir”, o “herói”, o “amigo do povo”.

O canto de cisne do sidonismo traduz-se num longo carpir enquanto João do Canto e Castro assumia a presidência e nomeava João Tamagnini Barbosa, um delfim de Sidónio, para a chefia do Governo.

Sepultado a 21 de Dezembro, durante um funeral com tiros e confusão na Rua Augusta, onde despontava o jovem Humbertto Delgado que, com outros “meninos da Luz”, evita que o caixão seja derrubado na caminhada para os Jerónimos.

Era um funeral que contrariava o seu testamento: “que o meu enterro seja o mais modesto e económico possível para não desfalcar os meus herdeiros do pouco que lhes deixo, e porque me repugna toda a pompa ou luxo em funerais; que me sepultem em campa rasa, sem cruz, nem inscrição alguma”.

Três anos depois, o autor dos disparos era libertado, na rebelião da Noite Sangrenta de 19 de Outubro de 1921, tendo se celebrizado com a frase “a língua não foi feita para falar”. Assim, nunca se soube se o assassino era um protegido da Maçonaria ou do Partido Democrático de Afonso Costa.

No comments: