Tuesday, November 17, 2009

Um dia sem vergonha... em Berlim


 O mundo europeu esteve em festa para assinalar o 20.º Aniversário da queda do Muro de Berlim, acontecimento que pôs fim à chamada Guerra Fria e alterou o xadrez político mundial.

Antes do acto simbólico, Ângela Merkel atravessou a pé, na companhia dos ex-presidentes da URSS, Mikhail Gorbatchov e da Polónia, Lech Walesa, a ponte no antigo posto fronteiriço da Bornholmer Strasse, que há 20 anos foi o primeiro “rasgão” a abrir-se no Muro.

O ponto alto das festividades é o derrube do “dominó” gigante com uma extensão de cerca de 1,5 quilómetros.

A primeira “pedra” foi derrubada por Lech Walesa, para lembrar que foi na Polónia que se começou a rasgar a chamada Cortina de ferro, após a formação do sindicato independente Solidariedade pelos operários dos estaleiros navais de Gdansk, liderados pelo então electricista Walesa.

O Muro de Berlim, também conhecido por Muro da Vergonha, começou a ser construído a 13 de Agosto de 1961 pelas autoridades comunistas da República Democrática Alemã, para travar o enorme fluxo migratório de leste-alemães para o ocidente, devido ao descontentamento da população pela falta de liberdades e penúria económica.

Desde o fim da II Guerra Mundial, em 1945, cerca de 3,5 milhões de alemães de leste rumaram a Ocidente, virando as costas às promessas igualitárias do partido comunista da RDA.

Mais de 140 pessoas tiveram um destino mais trágico e pagaram com a vida, sob as balas dos guardas da fronteira leste-alemã, as tentativas de fuga rumo ao ocidente.

Numerosos chefes de Estado e de governo dos países membros da União Europeia, nomeadamente do primeiro-ministro português, estão presentes para assinalar esta data num momento em que se erguem novos muros que dividem e escravizam as pessoas.

Os mesmos que hoje se reúnem nesta festa carregada de tanto simbolismo quanta hipocrisia seriam incapazes de se reunir na fronteira entre Israel e a Palestina.

Sim, para derrubarem o muro que os judeus estão a construir para evitar, em nome da defesa da sua integridade nacional, o direito a qualidade de vida e emprego para milhares e milhares de palestinianos que estão a ser sufocados pelos estado israelita.

Este é também um muro da vergonha que os dirigentes ocidentais não têm vergonha de silenciar.é uma “realidade trágica” que continua sem ser resolvida.

A Europa e os estados deve assumir esta vergonha como fundamental para pôr fim a muitas situações que provocam o caos na região do Médio Oriente e que têm sérias repercussões no âmbito mundial.

São numerosos episódios de violência e dos desafios da livre circulação, colocados pelo Muro de Segurança, já reprovado pelas Nações Unidas — como o foi o Muro de Berlim — que violam a liberdade de religião e de consciência aos habitantes e um acesso permanente, livre e sem obstáculos ao trabalho e aos Lugares Santos por parte dos fiéis de toda religião e nacionalidade .

Quando o fizer, forçando o estado de Israel a cumprir o Direito Internacional, podem todos derrubar o dominó gigante dos muros que ainda separam as pessoas dos seus direitos. O muro de Sharon é três vezes maior que o de Berlim e tem oito metros de altura.

Este muro (na foto) confisca parte das terras da Cisjordânia e deixa os palestinianos fechados e fragmentados em três cantões principais subdivididos em diferentes regiões incomunicáveis.

Israel já construiu 400 dos 710 quilómetros previstos da divisória, e já deixou 97 comunidades palestinianas completamente isoladas.

A barreira isola Jerusalém Oriental da Cisjordânia e deixa 360 mil palestinianos desligados de seu povo e rodeados por um muro de 181 quilómetros.

Este muro deixa a Cisjordânia sem recursos hídricos e sem as principais terras agrícolas, como o vale do Jordão, desliga as comunidades e, ainda, dificulta o acesso às escolas, universidades e inclusive aos hospitais.

Mais do que assinalar os vinte anos da queda do Muro de Berlim, em Berlim os dirigentes dos principais países do mundo vivem um dia sem vergonha. Mais um... sem falar do muro da Irlanda do Norte e do que divide Chipre (todos na Europa das liberdades e das democracias).

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