Monday, November 2, 2009

Gondoriz: na margem do rio Homem



"Entre o Homem e a Amarela — Gondoriz" pode significar o regresso de Manuel da Silva Martins à sua terra natal, que deixou ainda criança, realizando uma monografia completa sobre esta freguesia do concelho de Terras de Bouro que a Calidum editou agora.

Integrada na colecção "Cadernos de Cultura", da Câmara Municipal de Terras de Bouro que está empenhada na edição de obras do grande impulsionador da florestação da serra do Gerês e estudioso das tradições e usos dos povos serranos, Tude de Sousa, pretende dar resposta a uma lacuna pois Gondoriz era uma das freguesias cuja história mais se desconhecia e "ninguém imaginava que pudesse dar origem a um volume desta grandeza" — refere António ferreira Afonso.

Com 412 páginas, Manuel Martins — "sem pretensões a arqueólogo ou etnólogo" — assinala da melhor forma o regresso das suas lides de Lisboa à terra Natal, cujo nome germânico significa chefe de combate, estudando os seus lugares e as casas mais importantes, as capelas, as tradições, o património imaterial das lendas e crenças deste povo encarregado de defender a "porta da Amarela", desde o século XIII.

Situada na margem direita do rio Homem, Gondoriz encerra um "passado antiquíssimo de grande importância que valoriza o concelho" de Terras de Bouro e a obra de Manuel Martins faz sair esta terra do "asfixiante anonimato a que tinha sido arremessada", sem receio do erro porque se está sempre pronto a corrigí-lo, como escreve o autor no prefácio.

Esta monografia é o resultado de muitas leituras — devidamente citadas — que contribuem para dar fundamento científico ao autor que se socorre dos grandes historiadores das coisas do Minho, com destaque para Avelino Jesus da Costa, José Marques e Arlindo Cunha, para se situar no antigo Julgado de Regalados, no séc. XII, momento a partir do qual os documentos escritos são mais frequentes.

Só com a reforma de Mouzinho da Silveira, em 1836, Gondoriz integra o concelho de Terras de Bouro.
O texto é acompanhado de documentos e fotografias que credibilizam as palavras de quem prova que conhece bem a sua terra e as freguesias vizinhas, algumas delas absorvidas por Gondoriz, como Gomesende e São Cristóvão.

Gondoriz, intimamente ligada à serra Amarela, está em perda de população depois de já ter sido habitada por 660 pessoas na década de 50 do século passado, estando hoje reduzida a metade que vai conservando alguns usos e tradições seculares. Destacam-se a religiosidade, as tradições pascais, as romarias e os clamores, confrarias e ditados populares, receitas medicinais como colocar um colar de alhos ao pescoço da criança com lombrigas.

Um glossário típico de Gondoriz e documentação (fotos e biografia) diversa concluem este livro escrito por um economista e técnico superior das alfândegas e dos impostos especiais sobre o consumo, actualmente aposentado, que também foi professor em Lisboa.

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