
Quando procuramos marcas deixadas pelo rasto da presença francesa em terras minhotas, não faltam elementos que atestam a sua presença e malfeitorias.
Damos apenas alguns exemplos alusivos a estas invasões que trouxeram até Portugal os ideais da Revolução francesa, contrariados a ferro e fogo pela resistência rural. É o caso do escudo de vermelho do brasão de S. Pedro d’Este, uma freguesia de Braga, que simboliza o sangue derramado por 23 habitantes desta aldeia , que perderam a vida a 20 de Março de 1809, no episódio da Batalha do Carvalho d’ Este, aquando da segunda invasão francesa.
Pela negativa, os franceses também deixaram muitas marcas da sua presença, a começar pelo santuário de N.ª Sr.ª de Porto de Ave, em Taíde – Póvoa de Lanhoso.
Neste santuário, se é possível contemplar os belos azulejos que revestem a igreja também vemos os órgãos de tubos, danificados nas invasões francesas.
Mais acima, foi recuperada recentemente uma tradição na freguesia de São João da Cova, Vieira do Minho, renascia a capela do Bom Jesus da Paz, erguida para assinalar a assinatura do Tratado de Paz entre Portugal e Castela, em 1668. Também por esta altura foi erguida, junto à capela uma casa de arquitectura céltica, hoje casa-museu.
O passar do tempo, no entanto, foi tirando força à tradição e os monumentos ligados às festividades foram degradando-se. Há anos a população de São João da Cova encetou a recuperação da capela, bem como a casa céltica, transformada numa casa-museu onde se guarda o espólio que restou da altura da edificação e que se salvou das invasões francesas.
Caminhando para Trás-os-Montes, temos os vinhos dos mortos, a tradição data, efectivamente, do tempo das invasões francesas. Foi durante a 2.ª Invasão Francesa (1809) e em face do avanço das tropas comandadas pelo General Soult, que na sua passagem tudo saqueavam, pilhavam e destruíam, que a população de Boticas, decidiu esconder, enterrando, o que tinha de mais valioso. O vinho foi enterrado no chão das adegas, no saibro, debaixo das pipas e dos lagares.
Mais tarde, ao desenterrarem o vinho, julgaram-no estragado. Porém, descobriram com agrado que estava muito mais saboroso, pois tinha adquirido propriedades novas. Era um vinho com uma graduação de 10.º/11.º, palhete, apaladado, e com algum gás natural, que lhe adveio da circunstância de se ter produzido uma fermentação no escuro a temperatura constante.
O Vinho dos Mortos é, por isso, o símbolo de uma guerra de subsistência, não só material e económica, mas também e essencialmente moral. É o exemplo da resistência do Povo de Boticas, “obrigado” a usar das mais inimagináveis formas de preservar o seu património.Certificado o Vinho dos Mortos de Boticas.
O enterro das garrafas ocorre no mês de abril, e a venda inicia-se em junho, apenas em quatro locais de Boticas.
Na próxima crónica falaremos sobre as festas de S. Sebastião, santo a que os nortenhos dedicam particular devoção por causa... dos franceses.
Na gruvura, da CM de Boticas, o Repositório do Vinho dos mortos
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