Palavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.
Tuesday, November 24, 2009
Franceses em Braga há 200 anos (24)
Quando procuramos marcas deixadas pelo rasto da presença francesa em terras minhotas, não faltam elementos que atestam a sua presença e malfeitorias.
Damos apenas alguns exemplos alusivos a estas invasões que trouxeram até Portugal os ideais da Revolução francesa, contrariados a ferro e fogo pela resistência rural. É o caso do escudo de vermelho do brasão de S. Pedro d’Este, uma freguesia de Braga, que simboliza o sangue derramado por 23 habitantes desta aldeia , que perderam a vida a 20 de Março de 1809, no episódio da Batalha do Carvalho d’ Este, aquando da segunda invasão francesa.
Pela negativa, os franceses também deixaram muitas marcas da sua presença, a começar pelo santuário de N.ª Sr.ª de Porto de Ave, em Taíde – Póvoa de Lanhoso.
Neste santuário, se é possível contemplar os belos azulejos que revestem a igreja também vemos os órgãos de tubos, danificados nas invasões francesas.
Mais acima, foi recuperada recentemente uma tradição na freguesia de São João da Cova, Vieira do Minho, renascia a capela do Bom Jesus da Paz, erguida para assinalar a assinatura do Tratado de Paz entre Portugal e Castela, em 1668. Também por esta altura foi erguida, junto à capela uma casa de arquitectura céltica, hoje casa-museu.
O passar do tempo, no entanto, foi tirando força à tradição e os monumentos ligados às festividades foram degradando-se. Há anos a população de São João da Cova encetou a recuperação da capela, bem como a casa céltica, transformada numa casa-museu onde se guarda o espólio que restou da altura da edificação e que se salvou das invasões francesas.
Caminhando para Trás-os-Montes, temos os vinhos dos mortos, a tradição data, efectivamente, do tempo das invasões francesas. Foi durante a 2.ª Invasão Francesa (1809) e em face do avanço das tropas comandadas pelo General Soult, que na sua passagem tudo saqueavam, pilhavam e destruíam, que a população de Boticas, decidiu esconder, enterrando, o que tinha de mais valioso. O vinho foi enterrado no chão das adegas, no saibro, debaixo das pipas e dos lagares.
Mais tarde, ao desenterrarem o vinho, julgaram-no estragado. Porém, descobriram com agrado que estava muito mais saboroso, pois tinha adquirido propriedades novas. Era um vinho com uma graduação de 10.º/11.º, palhete, apaladado, e com algum gás natural, que lhe adveio da circunstância de se ter produzido uma fermentação no escuro a temperatura constante.
O Vinho dos Mortos é, por isso, o símbolo de uma guerra de subsistência, não só material e económica, mas também e essencialmente moral. É o exemplo da resistência do Povo de Boticas, “obrigado” a usar das mais inimagináveis formas de preservar o seu património.Certificado o Vinho dos Mortos de Boticas.
O enterro das garrafas ocorre no mês de abril, e a venda inicia-se em junho, apenas em quatro locais de Boticas.
Na próxima crónica falaremos sobre as festas de S. Sebastião, santo a que os nortenhos dedicam particular devoção por causa... dos franceses.
Na gruvura, da CM de Boticas, o Repositório do Vinho dos mortos
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