Saturday, September 20, 2008

D. Antonino Dias: a sorte de Portalegre e Castelo Branco


Na hora da despedida, o bispo auxiliar de Braga, D. Antonino Dias reconhece que “somos uma Igreja de muito culto e às vezes pouca cultura na Fé; o culto também é uma expressão da Fé mas penso que a grande aposta é a cultura da Fé”.

Braga fica com saudades desde servidor da Igreja que nos deixa a herança da sua lição diária de alegria serena, simplicidade e preocupação com os problemas dos seus padres. Vai ser a sorte dos fiéis e dos padres de Castelo Branco e de Portalegre.

Em jeito de balanço “muito positivo” a esta nova passagem por Braga D. Antonio Dias destaca “toda a riqueza que recebi no contacto com o sr. Arcebispo, os bispos auxiliares e sobretudo com o clero que foi sempre muito delicado, atencioso e pela forma como sensibilizavam o povo para as visitas pastorais e como o povo nos acolhiam”.

“É muito positivo aquilo que sinto” — assegura D. Antonino Dias na hora da despedida da Dioceses de Braga depois de ser nomeado bispo de Portalegre e Castelo Branco, a partir de 7 de Outubro.

“Eu corri a arquidiocese toda uma vez e já ia perto do fim da segunda ronda de visitas pastorais e causou incómodo esta mudança porque o arciprestado de Braga já tinha tudo programado e delineado a contar comigo” — recorda o novo Bispo de Portalegre e Castelo Branco, nascido em Longos Vales, Monção.

Há uma zona da arquidiocese que está em desertificação e há outra a faixa litoral que cresce (“a que me estava atribuída territorialmente”) — acrescenta o bispo auxiliar de Braga, em entrevista à rádio de Braga Antena Minho, emitida no programa “Sinais — a religião é notícia”.

Fazendo um retrato religioso da diocese de Braga, o prelado refere que “somos uma zona de muito culto e às vezes pouca cultura na Fé; o culto também é uma expressão da Fé mas penso que a grande aposta é a cultura da Fé, como defende o senhor Arcebispo e está a ser feito”.

“Uma Fé um pouco tradicional, que às vezes parece que não é uma opção radical da pessoa mas por que vem pda tradição” — é assim que D. Antonino define grande parte do comportamento religioso mas admite que as coisas estão a mudar.
Uma das marcas do seu episcopado foi uma ligação estreita com os padres, sendo um bispo muito próximo dos seus padres.

Daí que ele conheça bem as maiores inquietações dos sacerdotes: “aquilo que mais admirei foi a unidade e comunhão do clero mas aquilo que mais me preocupa é quando algum padre se afasta de viver com os outros padres, deixa de participar nas actividades com outros , deixar de fazer formação permanente, se coloca um pouco à margem. Isso não é um bom sinal e muitas vezes é um sinal de que outras coisas estão acontecer na vida do padre. Queremos muitas vezes ir ao seu encontro mas há sempre uma resistência quando se chega a determinado de viver e de estar que é difícil de contrariar. Mais tarde vão se arrepender mas...”

Para D. Antonino Dias, a solidão dos padres não é o problema porque um”padre não tem o direito de dizer que vive na solidão. O padre só está só se quiser e só sente a solidão se quiser. Esse é o perigo, o padre isolar-se dos outros e de Deus. Quem crê nunca vive só e se isso é verdade para qualquer pessoa, muito mais para um sacerdote.”

Nas suas visitas, D. Antonino Dias reconheceu situações de grande fragilidade de alguns padres pois “admirava como é que alguns senhores padres, com paróquias pequeníssimas, com pouca gente, ali passaram uma vida inteira, com uma austeridade que me surpreendia. São heróis e exercem um autêntico sacerdócio na multiplicidade dos sentidos”.

D. Antonino Dias recebe a nomeação para o alto Alentejo como surpresa pela altura em que foi nomeado, quando novo ano pastoral está em marcha e quanto ao local, porque esperava que fosse escolhida outra pessoa que conhecesse melhor Portalegre e Castelo Branco.

Na romaria de Porto d’Ave, D. Antonino Dias lançou a “ameaça da explosão de uma bomba social no distrito de Braga”: “preocupa-nos muito a situação económica das família, porque ela é geradora de instabilidade e aqui e no Alto Minho todos os dias vimos fábricas a fechar. Há pessoas que não gostem que se fale nisto mas há certas realidades que a dimensão profética da Igreja não pode ser ignorada. O que eu disse em Porto d’Ave, nem são dados meus, são da União de Sindicatos de Braga — que tem feito um grande trabalho nesse sentido — foi confirmado pelas Instituições de Solidariedade Social. Estamos prestes a que, em Braga, estoure esta bomba social. É uma situação difícil e não se prevê que esteja a desanuviar. Dá impressão que vão vir tempos mais escuros mas tem de haver esperança. Temos de reagir e agir contra a situação, para acém de agradecer àqueles que são capazes de investir para criar novos empregos e procurar a solidariedade de uns com os outros, nas paróquias temos de ser cristãos e ajudar quem precisa”.

Aos “meus parceiros, os padres”, D. Antonino deixa uma palavra de gratidão — “por tudo quanto fizeram e pela sua gentileza e delicadeza que tiveram sempre comigo, e que não desanimem” — e um convite: “Portalegre e Castelo Branco não são sítios turísticos mas passem por lá para recordarmos os momentos bons que aqui vivemos”.

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