Monday, September 29, 2008

Costa Lopes: Trovadores, Camilo e IMA perdem um amigo




Os trovadores medievais, os estudos camilianos e a filosofia perderam um dos seus maiores amigos e divulgadores: o professor doutor António da Costa Lopes, que faleceu Domingo no Lar Conde de Agrolongo.

Chegava ao fim da peregrinação de um padre, de um homem, de um professor, de um investigador, de um amante das artes do teatro e da música que nunca se deixou mergulhar nos “vulcões da lama”.

A poucos dias de completar 80 anos — que celebrava no dia 23 de Outubro — este barcelense doutorado em Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma, na década de 50, deixou a sua marca indelével em milhares de alunos que passaram pelos Seminários de Braga e pela Universidade Católica Portuguesa (Instituto Superior de Teologia e Faculdade de Filosofia de Braga), através das suas aulas de Teoria do Conhecimento.

Apaixonado pela música, pela literatura portuguesa e pela Filosofia, o prof. António da Costa Lopes deixa o seu nome indelevelmente ligado ao Instituto Monsenhor Airosa de que foi director durante trinta anos (1969-1999). Ali foi enriquecendo o seu espólio bibliográfico nas áreas da música, da literatura medieval e camiliana, bem como na dinamização do ensino das artes às jovens que aquela Instituição acolhia, através do teatro e da música.

O Minho perde um grande pedagogo da juventude feminina e um dos maiores investigadores da poesia trovadoresca, especialmente dos cantores e poetas medievais nascidos no Minho, especialmente na sua terra (Barcelos) e em Famalicão.

Esta foi uma as suas predilecções ao longo de toda a sua vida, especialmente desde que descobriu a possibilidade que confirmou a naturalidade de João de Guilhade.

A Gil Vicente, Soren Kierkegaard, o polaco Emile Meyerson (o seu filósfo preferido), o pessimista António Feijó e o monismo de Leibniz uniu a sua afeição pela vida e obra de Camilo Castelo Branco.

Esta foi fomentada pela presença de Ana Plácido, no fim do século XIX — nas instalações que hoje são ocupadas pelo Instituto Mons. Airosa, permitiu a publicação de edições críticas de alguns inéditos camilianos sem se deixar contaminar “pela gangrena das materialidades e a subversão dos sentimentos nobres”.

Pela sua sabedoria e competência, foi escolhido para o cabido da Sé de Braga em 1967 onde teve e seu cargo a tarefa de revisão dos livros litúrgicos da diocese de Braga.

Pode dizer-se, com o mesmo rigor que ele cultivava escrupulosamente nos textos que publicou, que morreu embrenhado nos seus livros e nos seus escritos que, como poucos, fizeram a ponte cultural entre o Minho e a Galiza onde passava longas temporadas a investigar as raízes da poesia medieval galaico-portuguesa.

Braga deve sentir-se agradecida e manifestar esta gratidão a este barcelense que dignificou a sua produção cultural, enquanto a Igreja se pode sentir feliz por o ter tido dentro de si como requintado servidor.

Lá onde está, de certeza junto de Deus, padre Costa Lopes, não leva a mal que revele aqui um segredo: já temos saudades daquelas garrafas de licor da Galiza com que nos prendava. Fazia isso com toda a amizade, quando nos encontrávamos para dar mais um inédito para publicar no Correio do Minho e lembrarmos as aulas de Teoria do Conhecimento e os espectáculos musicais do Instituto Monsenhor Airosa.

Da nossa parte, fomos felizes enquanto nos enriqueceu com os seus livros e artigos. Dentro de dias, vamos publicar no Correio do Minho o último que nos trouxe. Foi o seu abraço camiliano a dizer-nos “até já”.

1 comment:

rosa miranda barreiro said...

conheci pessoalmente o DR Costa Lopes fui sua aluna no IMA. Foi um director extrordinário, uma alma generosa, foi uma grande perda mas a vida continua e fica o seu testemunho exemplar de vida
Lá onde certamente está que peça a DEUS por nós