Veio o 28 de Maio e
Bernardino chama ao Governo o general Cabeçadas, renunciando e transferindo
para eles as funções presidenciais.
Bernardino não quis
pactuar com a ditadura nem com ditadores. Quis ele próprio ir-se embora, sem
ser escorraçado. Quem o pode condenar, depois das acusações dos democráticos,
em 1917?
Em Lisboa, na sua
casa, assistiu à queda sucessiva de Cabeçadas e de Gomes da Costa e ao assalto
do poder pelos grupos anti-republicanos dos Carmonas e dos Sineis de Cordes e
retoma o combate, com os resistentes à Ditadura, com “A política e o poder
militar”, primeiro de uma longa série de opúsculos que iniciava a conspiração
até ser forçado a abandonar o país em 1927.
Dez anos depois, a
situação repetia-se e Bernardino machado partia para Vigo num país que não era
o lugar indicado para um ex-presidente democrático.
Em Julho, busca asilo
em França, onde reside até 1932.
Aos 76 anos, aquele
homem era considerado um perigo para a segurança dos ditadores, iniciando o
período mais amargo e duro da sua vida.
As sucessivas
amnistias – para branquear o regime ditatorial – excluíam-no sempre, para o
forçar a calar-se, a abandonar o combate, a domá-lo servindo-se da sua idade
mas não o conseguiram.
Ele e Afonso Costa
representam até 1932 a difícil unidade da Oposição à Ditadura, através de panfletos
virulentos e certeiros. Dirigiu-se várias vezes aos chefes de Estado, à
Sociedade das Nações protestando contra o reconhecimento da Ditadura.
O ódio dos ditadores era
tanto que chegaram a prender-lhe os filhos e outros familiares e aplicando-lhes
multas exorbitantes de 200 contos.
Estabilizada a
República em Espanha, Bernardino aproxima-se da Pátria e fixa-se em L a
Guardiã, frente a Caminha, a dois passos do seu rio Minho, de onde se vê
Portugal.
O ancião de 80 anos,
esperando a morte a todo o momento, sentia-se mais perto da Pátria que nunca
quis abandonar, na esperança de visitar clandestinamente familiares, amigos e
pisar a sua terra de infância.
Bernardino Machado
não afrouxou o seu combate e valeram nesta altura as influências de Afonso
Costa junto dos irmãos mações espanhóis para evitar o internamento forçado de
Bernardino... que foi obrigado a sair da fronteira e fixar-se na Corunha, em
1935, e Madrid, onde eclode a Guerra civil.
Novo elã anima
Bernardino com a resistência republicana e democrática espanhola, antevendo o contágio
a Portugal. Mas era necessário sair de Madrid, cidade cerca pelas hostes
franquistas, pelo que aos 85 anos se vê forçado a abandonar a casa e viajar para Valência e daí para
França, em Outubro, a conselho de Afonso Costa.
O seu combate prossegue mas de
modo mais frouxo, com a morte de Afonso Costa, em Maio de 1937, um duro golpe
para o ancião.
Com o eclodir da II
Guerra Mundial redige um manifesto e Salazar responde com a amnistia que o
inclui em Maio de 1940.
Paris caía em Junho,
convencendo Bernardino a viajar para Portugal, numa epopeia que Jaime Cortesão
narra de forma inesquecível.
É a hora da grande angústia com a queda de França,
numa fuga de comboio em terceira classe, apinhada, incómoda, que traz um ancião
que encarnava um século de história e voltava à Pátria após treze anos de
exílio.
Era o momento da
traição que a Pátria lhe preparara: ao chegar à fronteira de Vilar Formoso, é
detido e levado para uns infectos cárceres em Lisboa.
Depois de um violento
telegrama enviado a Salazar, este desterra-o para uma residência a norte do rio
Douro.
A 29 de Junho parte
para Paredes de Coura, onde tinha casa e bens e é entre o Porto e Coura que viver
os últimos quatro anos de vida, vivendo a dor de perder a companhia da mulher,
momentos antes da alegria da entrada dos Estados Unidos e da União Soviética na
II Guerra Mundial e das primeiras grandes vitórias dos aliados.
Em Meados de Abril de
1944 é internado num Hospital do Porto, vindo a falecer no penúltimo dia desse
mês, rejeitando qualquer homenagem dos ditadores portugueses.
Era a grande e
profunda lição da sua vida: o combate à opressão sem tréguas, em todas as suas
formas, a luta permanente pela liberdade e pela democracia, assente na lei da
solidariedade humana, na prática da justiça e na dedicação com a Pátria. Mesmo
na morte, “não faltou ao Juramento que fizera como Presidente da República
portuguesa” – escreve Oliveira Marques.
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