Saturday, May 12, 2012

Os rostos da República e A a Z: Bernardino Machado (06)


Ferido até ao íntimo da alma, Bernardino Machado nunca se deixa abater, mantendo uma serenidade irritante, nunca deixando de lutar, através de encontros com políticos ingleses e franceses e através de entrevistas a jornais.

Em Maio de 1918 sofre um rude golpe, quando Londres e paris reconhecem o governo de Sidónio Pais. Novo golpe o atinge quando a sua filha Maria, morre de pneumonia, em Outubro.

O assassinato de Sidónio, em Dezembro, dá-lhe a esperança de breve regresso à sua Pátria e reintegração no cargo a que nunca renunciara, mas a desilusão causada pelos republicanos foi atroz.
Desiludido, Bernardino Machado renuncia ao mandato presidencial, a 18 de Fevereiro de 1919.

O parlamento conforta-lhe a alma quando considera nulo o acto sidonista da sua destituição violenta. 

A Constituição não permitia que Bernardino sucedesse a si próprio e ele não pôde candidatar-se às presidenciais de 1919, abrindo a porta à eleição de António José de Almeida, que permite o seu regresso a Portugal.

Era o único que restava da falange dos velhos republicanos e era tempo para descansar e escrever as suas memórias e aguardar a morte serenamente. Mas não era conjugável com Bernardino Machado. Agora era o seu amor próprio que exigia ser reparado, germinando assim a sua recandidatura em 1923.

Combatendo o sidonismo, reincarnação do Portugal absolutista, autocrático, reaccionário de D. Miguel, de Costa Cabral, de João franco e Pimenta de Castro.

Neste panorama triste, Bernardino representava um passado de glória, reluzindo num Senado, para o qual foi eleito em 1919, no meio de uma obscuridade confrangedora. 

É chamado por António José de Almeida para chefiar o Governo, em 1921, tentando uma “concentração das esquerdas” mas sobrepuseram-se ódios e partidarismos exacerbados mas apenas fica nas história por ter levantado o túmulo ao Soldado desconhecido. 

Acusado de querer derrubar o Presidente da República, a 21 de Maio sucumbiu para dar lugar a um Governo das Direitas. Desiludido não quis dividir mais os republicanos e rejeita ser senador e deputado até que acontece a noite sangrenta, a 19 de Outubro. Bernardino recusa candidatar-se.

Em 1923, as esquerdas preferiram Teixeira Gomes que já fora seu candidato a Presidente em 1919 mas Bernardino não se conformou com esta “profunda ingratidão” dos seus pares... até que a Direita de Cunha leal lhe oferece apoio a uma candidatura.

Bernardino Machado aceita mas não consegue ser eleito. Nesta nova desilusão, Bernardino perde a sua serenidade e elegância, contra Afonso Costa.

O presidente eleito pediu a demissão de um cargo para o qual não estava preparado e os democráticos não tiveram repugnância em propor Bernardino para o complemento do mandato.

A 11 de Dezembro de 1925, o idoso homem de Estado via-se empossado novamente no cargo de Presidente da República, de que fora esbulhado oito anos antes.

Mas estava escrito que nunca terminaria um mandato... após seis meses de crise social, política e económica em que o parlamento se tornou uma “assembleia de batuque e de chicana permanentes”.

Nos bastidores, as direitas, monárquicos e fascistas conspiravam e provocavam a desordem e o descrédito do bota-abaixo que incitava o exército a tomar o poder.

Bernardino machado não dormia e esperava o começo das férias parlamentares de Junho de 1926 para tratar de substituir o Governo mas não sabia que a conspiração estava tão desenvolvida e ramificada nem que pudesse eclodir tão depressa, com o Marechal Gomes da costa, a partir de Braga.

Veio o 28 de Maio e Bernardino chama ao Governo o general Cabeçadas, renunciando e transferindo para eles as funções presidenciais.

Bernardino não quis pactuar coma ditadura nem com ditadores. Quis ele próprio ir-se embora, sem ser escorraçado. Quem o pode condenar, depois das acusações dos democráticos, em 1917?

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