Ferido até ao íntimo
da alma, Bernardino Machado nunca se deixa abater, mantendo uma serenidade
irritante, nunca deixando de lutar, através de encontros com políticos ingleses
e franceses e através de entrevistas a jornais.
Em Maio de 1918 sofre
um rude golpe, quando Londres e paris reconhecem o governo de Sidónio Pais.
Novo golpe o atinge quando a sua filha Maria, morre de pneumonia, em Outubro.
O assassinato de
Sidónio, em Dezembro, dá-lhe a esperança de breve regresso à sua Pátria e
reintegração no cargo a que nunca renunciara, mas a desilusão causada pelos
republicanos foi atroz.
Desiludido,
Bernardino Machado renuncia ao mandato presidencial, a 18 de Fevereiro de 1919.
O parlamento
conforta-lhe a alma quando considera nulo o acto sidonista da sua destituição
violenta.
A Constituição não permitia que Bernardino sucedesse a si próprio e
ele não pôde candidatar-se às presidenciais de 1919, abrindo a porta à eleição
de António José de Almeida, que permite o seu regresso a Portugal.
Era o único que
restava da falange dos velhos republicanos e era tempo para descansar e
escrever as suas memórias e aguardar a morte serenamente. Mas não era
conjugável com Bernardino Machado. Agora era o seu amor próprio que exigia ser
reparado, germinando assim a sua recandidatura em 1923.
Combatendo o
sidonismo, reincarnação do Portugal absolutista, autocrático, reaccionário de
D. Miguel, de Costa Cabral, de João franco e Pimenta de Castro.
Neste panorama
triste, Bernardino representava um passado de glória, reluzindo num Senado,
para o qual foi eleito em 1919, no meio de uma obscuridade confrangedora.
É
chamado por António José de Almeida para chefiar o Governo, em 1921, tentando
uma “concentração das esquerdas” mas sobrepuseram-se ódios e partidarismos
exacerbados mas apenas fica nas história por ter levantado o túmulo ao Soldado
desconhecido.
Acusado de querer derrubar o Presidente da República, a 21 de
Maio sucumbiu para dar lugar a um Governo das Direitas. Desiludido não quis
dividir mais os republicanos e rejeita ser senador e deputado até que acontece
a noite sangrenta, a 19 de Outubro. Bernardino recusa candidatar-se.
Em 1923, as esquerdas
preferiram Teixeira Gomes que já fora seu candidato a Presidente em 1919 mas
Bernardino não se conformou com esta “profunda ingratidão” dos seus pares...
até que a Direita de Cunha leal lhe oferece apoio a uma candidatura.
Bernardino Machado
aceita mas não consegue ser eleito. Nesta nova desilusão, Bernardino perde a
sua serenidade e elegância, contra Afonso Costa.
O presidente eleito
pediu a demissão de um cargo para o qual não estava preparado e os democráticos
não tiveram repugnância em propor Bernardino para o complemento do mandato.
A 11 de Dezembro de
1925, o idoso homem de Estado via-se empossado novamente no cargo de Presidente
da República, de que fora esbulhado oito anos antes.
Mas estava escrito
que nunca terminaria um mandato... após seis meses de crise social, política e
económica em que o parlamento se tornou uma “assembleia de batuque e de chicana
permanentes”.
Nos bastidores, as
direitas, monárquicos e fascistas conspiravam e provocavam a desordem e o
descrédito do bota-abaixo que incitava o exército a tomar o poder.
Bernardino machado
não dormia e esperava o começo das férias parlamentares de Junho de 1926 para
tratar de substituir o Governo mas não sabia que a conspiração estava tão
desenvolvida e ramificada nem que pudesse eclodir tão depressa, com o Marechal
Gomes da costa, a partir de Braga.
Veio o 28 de Maio e
Bernardino chama ao Governo o general Cabeçadas, renunciando e transferindo
para eles as funções presidenciais.
Bernardino não quis
pactuar coma ditadura nem com ditadores. Quis ele próprio ir-se embora, sem ser
escorraçado. Quem o pode condenar, depois das acusações dos democráticos, em
1917?
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