Tuesday, September 8, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (19)


Quando se encontrava no cativeiro na ilha de Santa Helena, Napoleão, nas suas memórias, escreveu que "a Guerra peninsular perdeu-me. Destruiu a minha moralidade, complicou os meus embaraços e abriu uma escola para os soldados ingleses".

Anteriormente, falamos de três valentes portugueses que dominaram as segunda invasão de Soult que quis tomar Portugal entrando pelo Minho, em direcção ao Porto: Freire de Andrade, assassinado em Braga, Silveira de Brito, grande responsável pela derrota de Soult e o eng. Vilas Boas.

O trabalho sobre a Invasão francesa que devastou as terras de Lanhoso, antes da batalha de Braga, e na retirada, até Misarela, ficava incompleto se não falássemos de três estrangeiros: o marechal Soult, o tenente-general irlandês Wellesley e o seu compatriota Beresford que comandou os portugueses por terras de Lanhoso e Braga.

Se é certo que os militares franceses não contavam com a força da resistência do povo, também é verdade que a Inglaterra enviou para Portugal um punhado de oficiais, alguns dos quais perderam a vida aqui, que ajudaram a libertar o país e se cobriram de glória em todas as campanhas levadas a cabo no Minho e no resto do país.

“O DUQUE DE FERRO”

Acima de todos, brilha com grande luminosidade o duque de Wellington, hoje considerado como um dos maiores chefes militares de sempre. Ele foi o chefe que soube conduzir, em condições muito difíceis e em completo isolamento, sempre doloroso, os exércitos aliados ao triunfo.
É a ele que Napoleão dedica as palavras com que iniciamos esta crónica.
O tenente-general Artur Wellesley, nasceu em Dublin, a 1 de Maio de 1769.

Depois de estudar em França, iniciou a sua carreira militar com a batalha da Flandres e foi ferido na Índia, onde se tornou um militar exímio e um organizador ponderado e eficiente.

PORTUGAL TALISMÃ

Em 1808 já se opusera com glória a Junot, nas batalhas da Roliça e Vimeiro. Volta a Portugal, um ano depois, para expulsar Soult da cidade do Porto, através de uma manobra bem concebida e bem coordenada com o comandante do exército português Beresford.

No ano seguinte é ele quem obriga Massena a deixar Portugal, derrotando-o no Buçaco. Vencidos os franceses em Portugal, em três anos consecutivos, Wellesley persegue os franceses em território espanhol, ao ponto das Cortes espanholas o nomearem Generalíssimo.

Em 1813 perseguiu as tropas de Napoleão até ao território gaulês, chegando à cidade de Toulouse.

Com a destituição de Napoleão, regressa a Londres onde é triunfalmente recebido e agraciado com o título de Duque de Wellington, mas faltava-lhe vencer o próprio Napoleão e esse triunfo aconteceu na última e decisiva batalha de Waterloo, sendo nomeado comandante supremo das forças de ocupação de França.

Os documentos que nos deixou mostram-nos um chefe militar sóbrio, perseverante, intransigente na disciplina e prudente nas decisões, características que lhe valeram o cognome de "Duque de Ferro".

De facto, ele não captava a simpatia dos seus soldados que, na manhã de uma batalha diziam que "a presença da sua figura imponente valia por muitos homens". Os soldados respeitavam-no mais do que o amavam, por causa dos insultos que dirigia às vezes aos súbditos.

Centralizador, sem dar iniciativa aos seus subordinados, Wellesley era brilhante na táctica e eficaz na estratégia contrariando a afirmação de Napoleão segundo a qual "a sorte fez mais por ele do que ele fez pela sorte".

DUPLA COM BERESFORD

Sabia fazer retiradas quando lhe parecia peri-goso não o fazer (como em Talavera ou Madrid), por-que gostava de atacar com eficácia (como na Roliça e Vimieiro) e ser arrasador como foi em Vitória aproveitando as falhas do adversário, como sucedeu em Salamanca.

A perseguição a Soult no fim da segunda invasão — pelo Minho — até aos Pirinéus revelam-nos um general confiante e determinado até à aniquilação total do inimigo em fuga e a sua rendição.

Adepto incondicional da formação em linha, Wellesley teve no Marechal Beresford um dos seus mais eloquentes colaboradores, apesar da derrota em Braga, na Serra do Carvalho.

Sobre este irlandês, William Beresford, escreveremos na próxima crónica.

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