O jornal espanhol “El mundo” publicava no início desta semana um excelente artigo de José Manuel Durão Barroso, recém reeleito para a presidência da Comissão Européia. Porque o tema tem sido silenciado na campanha eleitoral portuguesa, atrevo-me a citar aqui alguns dos parágrafos mais emblemáticos.
As mudanças climáticas estão a produzir-se mais rapidamente do que esperávamos há dois ou três anos atrás. Daí que os dirigentes mundiais, europeus e portugueses não possam continuar a assobiar para o ar como se nada significassem para si.
Estamos perante o desfio mais importante para a actual geração de políticos do mundo e reina um estranho silêncio em Portugal, desde a direita à esquerda.
A Cimeira de Copenhaga está a suscitar justificadas inquietações e tudo aponta para um buraco sem saída, face ao adivinhado afrontamento entre os países desenvolvidos e as nações em vias de desenvolvimento.
No entender de Durão Barroso, a nossa geração e a dos nossos filhos não pode tolerar “um resultado desastroso”.
Os líderes mundiais são desafiados a “contemplar o abismo que se abre sob os seus pés” e incitados a fazer alguma coisa para avançar as negociações porque o momento “não é de jogar póquer, mas de colocar os trunfos sobre a mesa e os trunfos devem chegar ao limite das suas possibilidades políticas”.
Em primeiro lugar, os paises mais desenvolvidos devem tornar claros os seus planos para reduzir as emissões de Dióxido de Carbono (CO2) a médio prazo, alem de darem provas concretas da sua liderança.
Só assim é possível reduzir em 80 por cento as emissões de CO2 até ao ano 2050. Deste modo, possuem autoridade moral para exigirem aos paises em vias de desenvolvimento uma redução entre os 25 e 40% até ao ano 2020.
São necessários cem mil milhões de euros para uma resposta eficaz à destruição da camada de Ozono que protege e permite a existência de vida na Terra. Uma parte é financiada pelos países mais avançados e outra parte deve ser obtida com o mercado do Carbono.
A parte que toca à Europa, nos cálculos de Durão Barroso, ascende a quinze mil milhões de euros.
Se fracassar a cimeira de Copenhaga, dentro de dois meses e meio, Durão Barroso afirma que os dirigentes mundiais estão a escrever a carta de suicídio maior e mais global da história.
E a opção é simples mas dramática. Simples porque só há acordo com dinheiro, mas sem acção não há dinheiro. Dramática porque o mundo está a sair de uma enorme depressão financeira mas pode cair numa dramática agonia mortal se nada fizer pelo ar que respiramos.
Mas nada disto parece inquietar os portugueses e muito menos os seus políticos em campanha eleitoral.
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