Friday, May 29, 2009

Canto d'Aqui: bodas de prata oferecem ouro no Teatro Circo



O Teatro Circo enche-se esta noite para aplaudir — e aclamar — os vinte e cinco anos de canções do grupo de música popular tradicional "Canto d'Aqui", que oferece aos bracarenses um espectáculo memorável, com algumas melodias reforçadas pelo Ensemble da orquestra do Distrito de Braga e as vozes afinadas do Coro da Associação de Pais da Escola Calouste Gulbenkian. É o que se pode classificar como um espectáculo de ouro para umas bodas de prata, perpetuado na gravação de um DVD — revelou ao Correio do Minho, Jaime Torres um dos três fundadores.

O ingresso custa dez euros e o espectáculo — com noventa minutos, a começar às 21,45 horas — é apresentado por Camilo Silva, um "compagnon de route" da cultura tradicional e do teatro amador bracarenses.

É uma festa que consagra a dedicação de um punhado de bracarenses pela música do povo, sobrevivendo ainda, entre os fundadores, Jaime Torres, Domingos Oliveira e Sameiro Dias. A estes uniram-se mais amantes da música mantendo hoje um grupo com uma dezena de elementos que fazem da música uma paixão nos tempos livres das suas profissões como professores, arquitectos, engenheiros e outras.

O espectáculo será preenchido em grande parte com oito das 17 canções do novo CD — que reproduz na capa o famoso e antiquíssimo mapa da cidade de Braga — mas acolhe cinco canções do CD anterior, "Cantigas d'Aqui", bem como dois temas da música popular mirandesa pelo grupo Galandum Galandaina.

A cereja de ouro a coroar o bolo das bodas de prata é a participação da orquestra de Câmara do Distrito de Braga — Ensemble — e do Coro da Associação de Pais da escola Calouste Gulbenkian, protagonizando a presença de oitenta elementos em palco para um momento que promete "arrepiar" os espectadores que aderiram em força a este espectáculo.

"QUEM OUVE COMPRA"

Quanto ao novo CD, o grupo Canto d'Aqui, aproveitou para re-gravar a canção popular da Póvoa de Lanhoso "Ana Mariana" e o tema do açoriano Luís Alberto Bettencourt "Chamateia", com a participação da Orquestra de Braga e o Coro da Associação de Pais da Escola Calouste Gulbekian, que conferem ás novas versões outra grandiosidade e expressividade, apesar de já serem duas versões fantásticas.

Para Jaime Torres, passados 25 anos, o grupo mantém-se fiel aos lemas da sua criação, como sejam a aposta na recolha, promoção e divulgação da música tradicional, embora o novo disco inclua três temas de autor, como já acontecia no CD "Cantigas d'Aqui", com a "Chamateia". Outro dos temas é "Boi do mar" sobre a luta dos baleeiros, um tema feito para a série "Xailes negros" que foi exibida há alguns anos pela RTP-Açores e RTP 1.

O terceiro tema de autor, acrescenta Jaime Torres, é uma oferta do etnógrafo e prof. José Machado, intitulada "O Minho" que se afigura como uma evocação do Minho e do vinho verde. As restantes composições deste novo CD "25 anos de cantigas" passam pelo Alentejo com a "Amora madura" entoada como os corais alentejanos, Minho, Trás-os-Montes, etc.

A qualidade do trabalho do "Canto d'Aqui" é assegurada por quem ouve. O problema está em chegar ao ouvido das pessoas pois quando "elas ouvem, compram o CD. O problema é fazê-lo ouvir" — alerta Jaime Torres, dando o exemplo de uma experiência feota no verão do ano passado e lamentando-se do facto de terem nascido em Braga e não em Lisboa, o que impede que as rádios nacionais e locais "passem" o disco.



Com o novo disco, o grupo Canto d'Aqui continua a "valorizar a beleza sonora da nossa música tradicional e a reabilitar a beleza das nossas tradições" — assegura Jaime Torres, confiante no sucesso das novas orquestrações de Filipe Cunha que constituem uma "mais-valia" dada a sua formação e dedicação ao ensino da música.

O grupo Canto d'Aqui possui em si mesmo uma riqueza que vem do talento de cada um dos dez elementos, desde o Luís Veloso, 'magister' da Tuna e fundador do grupo de Música Popular da Universidade do Minho e do Coro de Pais da Gulbenkian, até ao Miguel Oliveira que está a fazer furor como vocalista dos "Sinal" .

Depois, os arranjos estão entregues a quem sabe: o Filipe Cunha, dos Tramadix e Raízes do Minho, que é músico na Banda de Lanhelas e exímio instrumentista em Clarinete, bandolim, flauta transversal e adufe. A arquitecta Catarina Araújo, além da percussão, contribui com o seu talento para a confecção da capa do novo CD.

Do Coral Porta Nova vem o tocador de viola braguesa e cavaquinho, Carlos Moutinho. Os restantes são os fundadores deste grupo que, com o estímulo de Jaime Torres, continua a animar os nossos palcos, como acontece já no dia 7 de Junho, na FNAC do Braga Parque, 11 de Junho na festa de S. António na freguesia da Sé, e 22 de Junho, na Velha-a-Branca.

No final de Agosto, o Canto d'Aqui participa no Festival de Música Tradicional de Braga, na Avenida Central, para além de outros espectáculos já agendados, para além de um convite declinado para cantar em França, por indisponibilidade profissional e pessoal dos elementos do grupo.

Ao longo destes 25 anos, o Canto d'Aqui foi escola para outros grupos que apareceram a cantar muitos dos temas deste grupo de Braga que começou quando se realizou o II Encontro de Teatro Amador de Braga, em Gualtar, a partir do grupo de canto para teatro do Grupo Experimental de Teatro Amador (GETA), em 1978.

A aterragem da Companhia de Teatro Cena coincide com a agonia a desaparecimento do teatro de amadores em Braga, mas as solicitações ao grupo de canto continuaram, ao ponto de os seus elementos sentirem a necessidade da emancipação, com seis ou sete elementos.

O grupo consolida-se em 2003 com a edição do primeiro disco "Cantigas d'Aqui" merecedor de segunda edição porque nenhum tema começa ou acaba da mesma maneira, em que todos cantam e não é um disco monótono — diz Jaime Torres, explicando o seu sucesso.

Depois surge o ano 2005, "inesquecível" pela digressão ao ceará, no Brasil, a convite da Universidade Federal daquele Estado — na celebração dos seus 30 anos — surpreendendo tudo e todos com os sons e as melodias da música portuguesa num país onde muitos pensam que Portugal é fado e ranchos folclóricos. O grupo bracarense mostra-se ao Brasil através de programas televisivos como a TV Cabloca, TV Bom Dia Ceará e TV Globo e de um espectáculo no teatro José Alencar, com mais de cem anos.

São estes momentos que "nos permitem continuar a remar contra a maré" — reafirma Jaime Torres, explicando que o grupo de socorre das recolhas feitas por José Alberto Sardinha e Michel Giacometti bem como do Cancioneiro de Gonçalo Sampaio.

Canto d'Aqui
um a um...


Todos os elementos do "Canto d'Aqui" emprestam a sua voz nos espectáculos mas cada um dos dez elementos tem a sua especialidade em termos instrumentais. Deixamos de seguida as suas formações ou profissões e instrumentos que mais usam.

Carlos Moutinho — funcionário público, cavaquinho, viola braguesa;

Catarina Araújo — arquitecta, percussão;

Domingos Oliveira — professor de físico-química, bandolim;

Filipe Cunha — Professor de música (Licenciado em Relações Internacionais) clarinete, flauta transversal e adufe;

Jaime Torres — comerciante, viola;

José Manuel Ribeiro — Capataz, cavaquinho e viola braguesa;

Júlio Dias — funcionário público, concertina e acodeão e viola braguesa;

Luís Veloso — engenheiro civil, viola baixo;

Miguel Oliveira — professor de Português-Inglês voz e viola;

Sameiro Dias — professora primária, percussão.

Giovani Goulart — produtor.

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