Wednesday, December 3, 2008

Terras de Bouro: "Um poema é uma flor..."


Ser poeta é ser maior, uma vez que não se limita à imitação (mimesis) mas é autor da criação (Poiesis): esta foi a ideia máxima que marcou a apresentação do livro "Um poema, uma flor", sábado no auditório municipal de Terras de Bouro.
Costa Guimarães falava na sessão de apresentação da obra mais recente de João Luís Dias, escritor e presidente do Clube de Autores Galaico-Minhotos (Calidum), que encheu aquela sala com pessoas, poemas, sabores e canções, ao longo de duas horas.

O jornalista bracarense lembrou Teixeira de Pascoaes para quem a poesia é a "mais profunda e etérea manifestação da nossa alma" e o que "dá o sentido mais perfeito e harmónico da vida".

No seu entender, a poesia aperfeiçoa o ser humano, aproximando-o do "antropos" e, enraizando-se nos conceitos gregos (poiesis e mimesis), o jornalista Costa Guimarães partilhou a dimensão do poeta ao longo das várias épocas e civilizações, como alguém que cria a linguagem e o objecto que entusiasma e inspira, ao ponto de possuir o sentido do divino, como defendia Platão.

Se na Bíblia, o poeta era equiparado a profeta, a voz de Deus, no sentido profético e de ser aquele que fala em nome dEle, no hinduísmo, a poesia integrava a contemplação do sábio.

A ideia de uma ser humano privilegiado pelo talento é comprovada ao longo dos tempos na Europa com a protecção que reis e príncipes prestavam aos poetas e trovadores, até aos tempos em que Rimbaud promoveu a quebra desta mordomias assumindo a poesia como confissão, contestação e denúncia que não vive de temas como o amor, a morte, a saudade e o mar.

Costa Guimarães destacou a parceria entre o fundador e presidente do Calidum — Clube de Autores Minhoto/Galaicos — com Sun Lam, de Pequim, directora do Instituto Confúcio, da Universidade do Minho, autora das fotografias a cores que enriquecem o livro com 35 poemas.

Além dos olhares de Sun Lam, plasmados em fotos de flores, o livro de poemas é também um conjunto de "olhares" que soletram "cada palavra rasgada à garganta" para desfazer no leitor "o glaciar de silêncio"

Com 110 páginas, a mais recente obra deste funcionário do Instituto de Registos e Notariado, tem prefácio do músico e cantor Pedro Barroso que lhe chama "o poeta da montanha" que descreve com "mãos talhadas de cetim" neste livro em que "cada poema é uma flor e cada flor é um poema" — como definiu o próprio autor.

Citando Pablo Neruda, Costa Guimarães disse que este livro — com poemas e fotos de flores — corporiza a poesia como uma "acção passageira ou solene em que entram em doses medidas a solidão e a solidariedade, o sentimento e a acção, a intimidade da própria pessoa, a intimidade do homem e a revelação secreta da natureza".

O jornalista encerrou a sua apresentação convidando todos os presentes a recitarem em coro um dos 35 poemas de "Um poema, um flor" porque a poesia não vive de adeptos, precisa de amantes.

No final, João Luís Dias agradeceu a presença do presidente do município terrabourense, António Ferreira Afonso, e do alcaide de Lobios, José Lamela, e com patrocínio da empresa bracarense Arlindo Correia & Filhos.

O presidente da Câmara de Terras de Bouro destacou a dupla faceta de João Luís Dias, enquanto escritor que revela todo o talento na poesia deste livro e enquanto editor e promotor da divulgação de autores minhotos e galegos, através do Calidum.
João Luís Dias publicou há 20 anos "Ecos do silêncio", "Sonho em hora de ponta" (1992) e reuniu crónicas em "Antes que o tinteiro entorne" (2003.

O grupo da Calidum encerrou esta tarde cultural com a interpretação de canções de Pedro Barroso e de poemas de João Luís Dias, musicados por Manuel Afonso, nas vozes de Bárbara Passos, Luís Pinho e Nuno Queirós.

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