Thursday, June 28, 2007

S. Joao de Braga e o Carro dos Pastores






O carro da Dança do Rei David e dos Pastores constituem dois momentos indescritíveis das festas de S. João, em Braga.
O carro do Rei da David, com tocadores e Rei, continua a ser uma responsabilidade herdada por uma família da freguesia de Palmeira, de geração em geração, desde o século XIX. Ainda hoje, essa família faz questão de manter a tradição. Trata-se de um grupo de pessoas que apenas actua no dia 24 de Junho, em Braga, e uma ou outra vez em programas televisivos. O grupo é constituído por treze pessoas, sendo um Rei, mais dois guias e dez músicos.

É o carro mais conhecido das Festas de S. João, embora o mais enternecedor seja o dos pastores, uma vez que as personagens, quatro anjos cantores, e restantes acompanhantes da dança são crianças.

Desde há 54 anos – e talvez pela última vez este ano – são ensaiados por uma senhora que aprendeu com a mestra, D. Alice Ribeiro. Estamos a falar da D. Maria Emília Timóteo Gonçalves, vizinha do Parque da Ponte, aposentada de Auxiliar de acção Educativa em Ferreiros, S. Lázaro e no Carandá.

Os ensaios começam dois meses antes porque parte dos elementos não passam de um ano para o outro, até ao dia de hoje, dia 22. Neste dia, o carro dos pastores devidamente decorado com ervas, heras e flores, faz o ensaio geral.
Trata-se de um auto em dois actos sobre a vida do Baptista e não é fácil preparar crianças de dez a 13 anos para cantarem e dançarem como deve ser.

O grupo dos quatro anjos cantores e o coro das bailarinas são acompanhados por um grupo de músicos requisitados à banda de Cabreiros, sob direcção do mestre João Brás.

A curiosidade de milhares de pessoas que rodeiam o desfile destes carros concentra-se no menino João Baptista com o seu cordeirinho. A tradição diz que ele não deve ter muito mais que três anos, deve ser loiro e cabelo encaracolado, o que “é bastante difícil de recrutar”. O seu recrutamento e escolha exige um trabalho de acompanhamento dos pais, quer para o João quer para o cordeirinho que fica à disposição dos pais do João para que se habituem um ao outro.

Por outro lado, os quatro anjos “têm de ter uma voz forte porque não há qualquer suporte electrónico. Em tempos chegou a colocar-se uma aparelhagem sonora mas isso retirava genuinidade e pureza ao auto.



No entanto, a pessoa indicada para nos falar deste Carro dos pastores é a sua ensaiadora, que foi “pastorinha, quando era criança, fui Santa Isabel primeiro e depois fui anjo”.

“A D. Alice Ribeiro era quem ensaiava e ela achou que eu tinha jeito e paciência para continuar o trabalho dela e cá estou há 54 anos a ensaiar e preparar o Carro dos pastores” – começa por nos recordar a D. Maria Emília Timóteo.

Mais à vontade lá foi abrindo a caixa dos segredos: “comecei a ensaiar com uma gravação numa cassete e ainda é assim que faço hoje”, embora nos mostre depois os papéis comas letras e um livro publicado por D. Helena Palha, há 23 anos, sobre a Dança do rei David e o Carro dos Pastores, com a sua história, letra e partituras para os diversos instrumentos.

DE FAMALICÃO
PARA BRAGA

Constituído por 14 pastores, Isabel e Zacarias, mais quatro anjos e João Baptista, o grupo começa a aprender a música mas “tenho-me visto consumida. De ano para ano, está pior. Agora é difícil arranjar rapazes. Antigamente, ofereciam-se para ir no carro. Agora é raro aparecer alguém a oferecer-se”.

O que vai valendo “é a D. Vitória, da freguesia da Sé, que veste os anjinhos, que vai sensibilizando os pais para deixar os filhos ir no Carros dos Pastores, se não pouca gente tínhamos”.

Depois a escolha do S. Joãozinho é muito difícil. Há crianças que “não dão: fogem e têm medo. Este – o deste ano – deu bem, com um chocolate e uns rebuçados lá foi indo e aprendendo...”

E quanto à sua traquinice? Maria Emília Gonçalves não concorda: “são as pessoas que puxam por ele para fazer chi-chi ou andar às cavalitas no carneirinho porque lhe acham piada.

“Sabe que quem trata do carneiro, para o lavar, dar-lhe comida, enfeitá-lo, são os familiares do menino e às vezes também são os pais que os levam para estas brincadeiras” – admite a nossa interlocutora.

Os ensaios começam em Maio, diariamente, excepto ao sábado e domingo. “Tem que ser assim porque alguns faltam muitas vezes. Este ano foi muito difícil, por causa das comunhões” – lamenta D. Maria Emília que acentua a dificuldade em arranjar anjos com voz forte.

“Eu começo a cantar com eles sem música. Depois quando eles apanham a música, colocamos a gravação e eles cantam com o som de fundo. Depois de saberem a letra e a música começa o ensaio da dança”. Estes são os principais momentos da preparação do Carro dos pastores.

Os momentos principais da exibição do Carro dos Pastores são em S. João do Souto, Avenida da Liberdade, Câmara Municipal e Pópulo.

A banda com dez ou doze músicos só aparece nesta semana dos ensaios gerais mas D. Maria Emília sossega os forasteiros: “acho que estão bem ensaiados este ano”.

Mas o que é o Carro dos Pastores e de onde veio?

Trata-se de um auto-pastoril sobre a vida de S. João Baptista que se celebrava em Landim, Famalicão, por altura do Corpo de Deus.

A melodia sobre um texto da tradição oral é da autoria de João Guedes, com arranjo do famoso Fernando José de Paiva, conhecido por ser o autor do hino de Braga.

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