Saturday, May 12, 2007

Braga: os rebuçados do Senhor



Se não fosse ela e uma amiga – a Maria do Céu – ambas da Sé, a tradição dos “rebuçados do Senhor” tinha desaparecido há quatro anos. Esta presença à porta das Igrejas da cidade de Braga, onde decorre o Lausperene Quaresmal, sendo identificativa para quem passa constitui uma tradição de décadas mas é um trabalho que “já não dá para o tacho”...

Há quatro anos, as velhinhas que aguentavam este costume bracarense deixaram de o fazer. No entanto, Maria João Sá Pereira, moradora na rua Dom Gualdim Pais, impediu que os “rebuçados do Senhor” deixassem de ser a presença emblemática à porta da Igreja onde se realiza o Lausperene.

Fomos encontrá-la sozinha à porta da Igreja de S. Vicente. Esta reformada da Segurança Social, mais outra senhora da Sé, a Maria do Céu Campos Ribeiro, assumiram essa responsabilidade.

“Comecei a vender porque achei que as velhinhas já não podiam. Elas deixaram de vir e nós viemos em lugar delas” – explica-nos Maria João.

“Andamos só as duas. É uma tradição bonita. Não queremos que ela acabe mas não dá grande coisa” – garante Maria João, enquanto atende mais duas clientes que acabam de sair da Igreja.

“Está a ver, vinte rebuçadinhos por um euro. O preço é quinze rebuçados por um euro mas, às vezes, quando vendemos menos, vamos dando mais alguns por conta” – explica.

Quanto à receita dos rebuçados do Senhor, Maria João diz que os “rebuçados são fáceis de fazer. Só têm um segredo que se bota para ficarem mais gostosinhos. Foi uma senhora que já morreu – a Maria da Conceição Queixeira, da Sé – que me ensinou”.

Então, como é que se fazem os rebuçados? – perguntamos.

“É fácil. Deita-se água e açúcar amarelo, com o segredo logo, e deixa-se ao lume normal pelo menos uma hora. Depois botamos tudo numa pedra e depois é partido aos bocadinhos com as mãos” – explica Maria do João, enquanto embrulha mais alguns rebuçados em papel de várias cores.

Maria João e Maria do Céu apenas não aparecem quando chove. Juntamente com os “rebuçados do Senhor” vendem outras guloseimas, como chicletes, rebuçados, etc.

Garantem que os rebuçados são feitos todos os dias para serem fresquinhos, mas apenas durante a Quaresma. Depois não vale a pena. “Tem que se pedir licença à Câmara Municipal e o que a gente tem de pagar não compensa o trabalho que temos. Por exemplo, para as procissões, a gente tem de pedir licença para três dias” – explica.

“Hoje não deu para o tacho” – conclui a Maria João, do alto dos seus 60 aos, mãe de três filhos, criados na Sé. Começou a trabalhar numa fábrica de malas e depois acabou a sua vida activa ao serviço da segurança Social.

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