Thursday, September 29, 2011

Os rostos da República de A a Z: Sidónio Pais (2)



Estamos perante um caminhense inteligente, a nível científico, como matemático e professor, e a nível pessoal através do modo como soube e pôde aproveitar as ocasiões para ser homem de acção, prático e pragmático, capaz de momentos de fúria temperados com estados de “infinita doçura”.

São estes contrastes que seduzem boa parte dos cidadãos que pareciam acreditar neste novo político: afinal, ele não estava comprometido com a I Guerra Mundial (como Afonso Costa) e tinha as mãos limpas (sem erros de sete anos de governo dos republicanos).

Era a esperança dos portugueses num tempo de crise económica, social e política, com graves carências, descontentamento, agitação social enquanto a Igreja Católica resistia à sujeição republicana, ajudada pelo “milagre” de Fátima, em 1917. Os ingredientes q.b. para a Revolução sidonista estavam… à mão de semear.

É essa carreira política – que dura um ano – que vamos palmilhar na próxima crónica, recordando os passos dados em Coimbra, a iniciação maçónica e a eleição como deputado pelos Republicanos, com um intervalo como representante diplomático de Portugal na Alemanha, ante da eclosão da I Guerra Mundial que envolve os seus conterrâneos e os germânicos e o faz regressar a Lisboa.

Estava criado o clima de expectativa, faltava um paladino e algumas das primeiras medidas de Sidónio agradaram ao mundo católico, ao anular, no dia de Consoada de 1917 a pena de interdição de residência aos padres e aos bispos. O novo poder dava um sinal claro de querer a paz com s católicos mas não é isto o suficiente para explicar fenómeno Sidónio em toda a sua extensão.

O poder encena-se, é criado e a sua aura castrense leva-o a vestir de novo a farda, mesmo que nunca tenha participado em campanhas militares nem sujado as botas na lama das trincheiras da Flandres. Assume a postura marcial, contra os “vermelhos” dos Sovietes que organizam protestos operários.

À bravura associa a bondade nas famosas sopas dos pobres e visita os bairros pobres, debruçando-se sobre os doentes, chegando próximo do povo, assumindo o papel de pai e protector. Tudo fazia sentido numa conjuntura de guerra. Foi esta a imagem que se popularizou mas ele tinha quem o odiasse também, porque após o golpe sidonista, as prisões enchem-se de homens do partido Afonsista, enquanto a “rua” unionista perseguia a claque “democrática”, através de grupos de trauliteiros que se queixavam agora da “formiga preta” que dá origem à primeira polícia politica para vigiar os inimigos políticos e sociais (sindicalistas).

Os sidonistas faziam-no em nome da regeneração dos costumes corrompidos pelos democráticos que levaram o sistema a um impasse, sem alternância, para reconciliar a família portuguesa.

As preocupações centrais de Sidónio estavam na ordem pública e na questão politica: o parlamentarismo falira e restava tentar a “Ideia nova”, o presidencialismo, cujas pontos foram lançadas ao longo de 1918.

A figura carismática, aliada à introdução do sufrágio universal, o seu assassínio a 14 de Dezembro de 1918, acabam com esta experiência politica e fazem o pais mergulhar num clima de grande instabilidade política que conduz ao restauro da Monarquia, a Norte, em Janeiro.

O povo republicano pega nas armas para defender a República mas o pais divide-se entre Norte e Sul até às eleições de Maio, com a vitória dos “democráticos”. A morte consagrou Sidónio mas não significou o seu fim: transfigurou-o, como figura indelével na memoria e na História, porque foi amado e odiado, de santo passou a tirano e louco déspota.

Que papel cabe ao Presidente-Rei na História de Portugal?
N.B.: Na foto a Casa onde nasceu Sidónio Pais, em Caminha.

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