Saturday, April 23, 2011

Os rostos da República de A a Z: Afonso Costa (03)


Em Abril de 1907, João Franco instala a ditadura que dá novo fôlego aos republicanos, numa altura em que Afonso Costa está doente “depois de tantas asneiras, doenças, operações, melhores, enfim me chapei” (cf. Correspondência política...p. 210).

Afonso Costa volta a ser notícia em 28 de Janeiro do ano seguinte quando é preso por envolvimento num golpe revolucionário, juntamente com outros republicanos e progressistas. Três dias depois, o rei assinava a expulsão ou deportação para as colónias por crimes contra os interesses do Estado.

O decreto é “revogado” pelo regicídio no dia seguinte. Um atentado à bala, por republicanos fanáticos, mata o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe. Cinco dias depois, com a monarquia moribunda, Afonso Costa sai da cadeia com muito trabalho pela frente.

Estava disposto a tudo, inclusivamente um duelo com o Conde de Penha Garcia, d onde sai ferido num braço, mas aureolado de coragem e audácia, apesar do duelo estar proibido desde 1886, exprimindo a forma “apaixonada como Costa vivia o debate politico” e em defesa da honra ofendida.

Era “sempre o primeiro, no parlamento, no tribunal e ao soco” — escreveu José de Castro, futuro ministro da República.
Na companhia de Bernardino Machado (na foto), mais distinto, sóbrio e conciliador, procuram adaptar o PRP (Partido Republicano Português) ao reinado de D. Manuel II que tentava renegar a politica do pai sem estender a mão aos republicanos. Os partidos monárquicos não ajudavam à tarefa do jovem rei, devido à sua desagregação responsável pela instabilidade governativa que favorecia os ventos revolucionários.

Costa era o parlamentar que os republicanos precisavam e em 1909, a destruição por dentro, da monarquia correia sobre rodas, ao mesmo tempo que se robustecia o movimento republicano que, em 1910 possuía 130 comissões concelhias, 12 comissões distritais e estava implantado em 238 paróquias.

Os jornais apoiavam as novas ideias estimuladas pela Carbonária Portuguesa que se infiltra no exército e na Armada, apesar da falta de consenso entre os altos dirigentes do PRP.

Afonso Costa começa a inclinar-se para a via revolucionária, afastando-se de Bernardino Machado e aproximando-se da Carbonária que precisava das armas que Bernardino Machado (financeiro do PRP) se recusava a comprar.

Bernardino é destituído das finanças do PRP e a Carbonária consegue as primeiras 600 espingardas e pistolas, na Primavera de 1910.

Um escândalo sexual em Beja, com o bispo, o caso de corrupção Hinton dão a Afonso Costa os temas que inflamam discursos contra a Monarquia e seus apoiantes. Todavia, a revolução não andava com a vertigem que Costa desejava, por causa do desinteresse dos oficiais militares. Cândido dos Reis pressiona Costa a abandonar a aventura revolucionária, com perigo de intervenção estrangeira (inglesa) de apoio à monarquia, mas a Carbonária não desiste.

Afonso Costa vê-se atirado para a via moderada através de uma maior representação dos republicanos no Parlamento num momento em que fica “assustado” com inchaço na laringe.

Regressado de França, curado, Afonso Costa vive intensamente a contagem decrescente da Monarquia, defendendo a integridade física do rei.

Com a revolução em curso, Costa distribui as pastas do Governo provisório, fincando com a da Justiça, entrega os Negócios Estrangeiros a Bernardino Machado e retira o Interior à Maçonaria. Torna-se indiscutível a capacidade de se impor no meio da indefinição dos revolucionários que pegaram em armas sem ter ministros para o Governo. A Revolução do 5 de Outubro não foi obra de Afonso Costa, porque a sua concretizara-se dois dias antes do soar do canhão militar.

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