Monday, April 19, 2010

Cem anos de República no Minho (4)



Percebemos já porque Braga e todo o Minho abraçaram a causa miguelista devido à matriz religiosa do discurso político de D. Miguel, com a sua componente messiânica, factor que aliado à prática da hegemonização política (a partir de 1828) contribuem para a resistência miguelista entre 1836 e 1846.

Em Braga, os anos vividos entre 1828 e 1834 foram de grande agitação, com a Igreja Católica a colocar-se ao lado dos absolutistas de forma escandalosa — aos olhos do nosso tempo. Braga foi uma das cidades onde o miguelismo teve maior implantação mas onde a resistência liberal foi mais sacrificada, por três razões fundamentais apontadas no parágrafo anterior.

É mais um período negro da História da Igreja em Braga e no resto do país que é reforçado com a malograda revolta do Porto, havendo conhecimento de incidentes vários no Minho, até ao eclodir da guerra civil em 1832. Este comportamento faz-nos duvidar, como então escrevemos, da sinceridade com que a Igreja se envolveu na resistência às invasões francesas, em que muitos párocos deram a vida pela pátria vítimas de uma manipulação cujos segredos são desvendados por comportamentos futuros, como aqueles que se viveram em Braga entre 1828 e 1834.

Nesse tempo, escreve A. Minici Malheiro, Braga não era mais que "uma cidadela medieval, onde a vilanagem de roupeta e sandálias campeava como senhores feudais sobre bandos de imbecis imundos, fanatizados, narcotizados, como Endemiões condenados ao sono eterno, especialmente após a deportação dos valentões para a Índia".

A nível nacional, emergia outra grande figura: Mouzinho da Silveira. É ele quem planta os alicerces de um Portugal moderno e começa a destruir um a um os fundamentos do estado feudal em que Portugal ainda vivia, através da sua reforma administrativa. Como sempre, as reformas encontram fortes resistências, neste caso seculares dos nobres e do clero.
Existem testemunhos que nos falam dos momentos dramáticos vividos no Minho, com a chegada ao Poder de D. Pedro, a extradição de D. Miguel e o reinado de D. Maria II, com a revolução liberal de 1836.

Braga foi visitada por D. Pedro poucos dias antes da sua morte, a 31 de Julho de 1834, seguindo-se alguns anos marcados pela violência na Cidade dos Arcebispos, a começar pela morte com vinte facadas de um pedreiro, nos Cinco Sentidos do Bom Jesus. D. Miguel tinha sido expatriado, mas os seus seguidores mantinham aqui e ali muita influência.

As armas iam proliferando nas mãos de pessoas indevidas e começa a nascer a promiscuidade entre as mulheres de Braga e os soldados estacionados nesta cidade. Em Setembro de de 1835, "foram todas as mulheres chamadas putas, à mostra no Hospital de S. Marcos por causa da tropa estar toda afectada pela sífilis".

Os confrontos entre constitucionalistas e realistas traduziam-se em "cacetada a torto e a direito", enquanto os bracarenses assistiam a desmandos dos soldados, como se registou em Tenões, onde os soldados tentaram furtar galinhas e o povo afastou-os depois de pancadaria.

Em 1836, Braga recebia solenemente a visita do Príncipe D. Fernando, com Te Deum na Sé, recepção na Casa dos Biscaínhos e viagem até ao Bom Jesus, numa altura em que chegavam a Braga, vindos pela estrada do carvalho, carros carregados de feridos, da revolta em terras galegas.

Só Em Outubro de 1836, se assumia a Carta Constitucional de 1826 e a polícia de Braga era desarmada e substituída pela Guarda Nacional, ao mesmo tempo que a resist~encia miguelista ainda se fazia sentir, com acçõ~es esporádicas, concentrando 400 homens e padres no Campo do Alívio, em Vila Verde.

As desordens eram frequentes traduzidas em fugas de presos (40 de uma vez em Braga no último dia de 1836) e assaltos enquanto os soldados eram comprados pelos senhores adeptos de uma facção (Mijados) ou de outra (Chamorros). As populações andavam inquietas com sequestros, roubos, mortes, fecho de igrejas, marcados aqui e ali pelo toque de sinos a rebate.

Em 1838, apesar deste clima de insegurança e confrontos e prisões arbitrárias, Braga não deixou de festejar o S. João, com muito fogo de ar e preso no Monte de S. João da Ponte (Picoto), com amazonas pelas ruas e festa na capela do Santo. Houve cinco carros alegóricos de murta e luminárias na rua das Águas (actual Avenida da Liberdade), com carvalhos, laranjas e azeite".

Algumas semanas depois, o povo de Braga levanta-se contra um imposto (Fintas) lançado sobre o rendimento de cada cidadão para aplicar numa obra pública, como melhoramento de fontes, construção de pontes ou para a guerra. A revolta terminou com a intervenção do Governo da Rainha D. Maria II. D. A guerra civil continua a fazer sangrar este país, trinta anos depois das invasões francesas...

Os miguelistas, no estrangeiro, não perdoavam aos liberais a perda do Brasil,, os graves problemas económicos do reinado de D. Pedro, que encontravam o terreno fértil da guerra civil no descontentamento e desilusão geral dos rurais e dos soldados enquanto os liberais se fragmentavam.

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