Palavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.
Thursday, December 3, 2009
Franceses em Braga há 200 anos (25)
Na crónica anterior falamos sobre algumas tradições originadas pela persença dos soldados de Napoleão no nosso território, mas os sinais das suas pegadas são ainda mais fortes quando falámos das nossas festas, de que é exemplo cimeiro a Festa de S. Sebastião.
O santo a que os portugueses rezam para os proteger da fome, da peste e da guerra ganhou mais relevo na vida das nossas comunidades, reavivando festas que estavam a cair em desuso ou a enfraquecer.
As Invasões Francesas constituíram assim o primeiro abalo do quadro político-eclesiástico anterior, interrompendo os funcionamentos habituais das dioceses e paróquias e perturbando gravemente a vida religiosa e claustral, bem como as práticas devotas da população.
Dos dois abalos que se seguiram e que do ideário “francês” foram algo subsidiários – o liberalismo vintista e o de 1834 – resultaria em meados do século XIX a consolidação dum quadro eclesiástico marcadamente estatal, que condicionou muito a vitalidade religiosa do catolicismo português, com alguma semelhanças com o que aconteceu em França depois da concordata napo-leónica de 1802.
Desde 1806 era arcebispo de Braga D. José da Costa Torres, já idoso. Na segunda invasão, em 1809, ordenou que o clero regular e secular tomasse armas, mas teve de abandonar a cidade de Braga quando os franceses a ocuparam. Saiu ele e grande parte da população, incluindo eclesiásticos, religiosos e religiosas. Faleceria em 1813.
D. Manuel Clemente, no seu livro “Igreja e sociedade portuguesa do liberalismo à República”, dá-nos imensos exemplos dos comportamentos que as Invasões francesas despertaram nos cristãos e nos clérigos.
Assim, um dos exemplos, aponta para o tempo em que o povo ouviu contar que “vinham aí os franceses”, fizeram uma promessa ao seu padroeiro, São Sebastião: Se o Santo fizesse o milagre de os poupar à invasão, todos os anos, no dia do Santo, far-se-ia uma refeição para dar de comer a todas as pessoas que aparecessem na freguesia. Assim, a 20 de Janeiro dia de São Sebastião, é estendida uma mesa ao longo de toda a aldeia, desde o Largo da Igreja Matriz, coberta de panos de linho (tecido nos teares artesanais), com malgas de madeira (algumas ainda originais), onde é servido a todos que nos visitam nesse dia, gratuitamente, broa de milho e centeio, arroz branco e carne de porco cozinhada em grandes potes de ferro.
A mesa é feita de tábuas sobre tijolos e chega a ter mais de um quilómetro de comprimento.
Esta tradição festiva tem o seu maior fulgor numa aldeia recôndita de Cabeceiras de Basto: a festa das Papas de Samão, em honra do Mártir S. Sebastião, “Que nos livre, da fome, peste e guerra….”
Esta festa, celebra-se, ano sim ano não no lugar do Samão. Porque nos anos par, realiza-se no lugar de Gondiães, na mesma Freguesia. A festa, é em honra do Mártir S. Sebastião, mas as tradições são diferentes. No Samão, nos anos ímpar como já foi dito, há missa cantada e sermão na Igreja Paroquial do lugar, caso esteja mau tempo. Segue-se a Procissão, até à casa do santo, ali os alimentos — pão, carne de porco, vinho e papas — são benzidos pelo pároco.
Os alimentos são depois levados em três carros de bois para o campo, chamado campo das «Papas» ou campo de S. Sebastião. Ninguém se lembra do início desta festividade prometida pelos nossos antepassados a S. Sebastião. Todavia, por pralelismo com outras localidades, não é absurdo pensar que este costume medieval tenha sido reavivado com as invasões francesas, uma vez que os soldados trouxeram muita fome e destruição às terras do Minho.
Um lugar que tem boas estradas e onde se pode visitar a Igreja Paroquial que tem por padroeira Nª Sª dos Remédios, local onde anualmente se realiza a 8 de Setembro, uma importante romaria.
Carregavam-se os carros de bois de broas e de malgas com as papas para, mais tarde, transportar para o lameiro onde seria servida a refeição. Na lareira fumegante ainda, dois enormes potes de ferro tinham servido para cozer as papas (farinha de milho cozida com a água de cozer as carnes) e os pedaços de gordura entremeada que serão servidos mais tarde.
Tarefa de que os homens se encarregaram desde o dia anterior, com noitada bem regada e conversada. Ao lado, no armazém e alinhadas em prateleiras que rodeiam o compartimento, as broas – o pão que será benzido. Centenas de broas de pão centeio que as mulheres foram cozendo no forno desde a segunda-feira anterior.
Aguardava-se a procissão. Aí, o padre da freguesia e o pregador incumbiram-se de benzer o pão, as carnes e as papas.
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