Monday, June 29, 2009

Que andamos aqui a fazer?



A Cruz Vermelha Portuguesa convidou todos os portugueses para que esta Quinta-feira, às 17h00, fazerem "um minuto de silêncio evocando todas as vítimas de conflitos e catástrofes dos últimos 150 anos".

Em Braga, foram poucos os que aderiram a esta forma simbólica e simples de celebrar o 150.º aniversário da Batalha de Solferino.

Talvez tenhamos todos ignorado que estava em marcha a da campanha mundial "O nosso mundo. A sua acção", lançada em Maio para responder aos actuais desafios humanitários — desde conflitos a efeitos das alterações climáticas, como a pobreza, migrações, violência, insegurança alimentar, falta de água para beber, entre tantos outros.

Há 150 anos, no dia 24 de Junho, deu-se a Batalha de Solferino e alguém não ficou indiferente ao sofrimento humano.
Henry Dunant reuniu as mulheres das aldeias vizinhas para socorrer os soldados feridos que jaziam por terra, sem qualquer ajuda. Eram os primeiros passos na criação da Cruz Vermelha, a maior organização humanitária do mundo, com 100 milhões de voluntários.

Com a nossa indiferença vivemos sossegadamente num mundo onde 40% da população que vive com menos de 2 euros por dia.

Com a nossa indiferença estamos a construir um planeta onde 18 milhões de pessoas — 50 mil por dia — morrem devido à pobreza.
Estamos a construir um mundo onde mil milhões de pessoas vivem em bairros pobres urbanos.

Com a nossa apatia vivemos num mundo onde quase mil milhões de pessoas no mundo têm fome. Todos os dias quase 16 mil crianças morrem devido a causas relacionadas com a fome, uma criança a cada 5 segundos.

Todos os dias tapamos os ouvidos para não ouvir os gritos de mais de mil milhões de pessoas que nos países em desenvolvimento têm um acesso inadequado à água.

Também não queremos saber se, na última década, o número de crianças que a diarreia matou é superior ao de mortos causado pelos conflitos armados desde a II Guerra Mundial.

E será que nos inquieta saber que todos os anos, a malária afecta 500 milhões de pessoas e ceifa um milhão de vidas – três mil crianças por dia?

Também não, pois não? Então, que andamos a fazer por cá?

Não nos pedem para imitar Hernry Dunant. As vinte crianças que morreram enquanto lia este texto apenas lhe pediam que fosse uma das mulheres das aldeias vizinhas que há 150 anos curaram as feridas dos soldados de Solferino. Que andamos aqui a fazer? Será que temos alguma utilidade para o planeta humano?

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