Monday, May 12, 2008

Braga: como é tão fácil ver o cisco...



Uma das ideias que mais me fascina na personalidade de Cristo é o seu profundo desprezo pelos fariseus, aqueles hipócritas que estão sempre prontos a ver um cisco no olho dos outros mas não conseguem ver a trave no seus próprios olhos.

Há algum tempo, uma grande superfície comercial foi coberta de ridículo por ter levado até ao tribunal uma idosa acusada de ter levado sem pagar uma bisnaga de creme no valor de três euros.

Alguns até sugeriram que os portugueses não fizessem mais compras naquela grande superfície comercial detida por uma multinacional.
Aquela grande superfície gastou umas centenas largas de euros, no processo e em advogados, para alem do tempo que fez perder nos tribunais, por causa de três euros.

Nessa altura, alguns dos vereadores da Câmara de Braga e o seu presidente também devem ter achado ridículo o gesto da grande superfície, a acreditar que sejam dotados de bom senso.


Ou não?

Certamente não, porque uma jovem agente da Polícia Municipal de Braga acaba de ser absolvida de ter recebido indevidamente trinta euros e a queixa foi formalizada pela Câmara Municipal de Braga.

Do seu julgamento provou-se que ela, de facto, não se apropriou de dinheiro ou de qualquer outra coisa móvel.
A Câmara Municipal de Braga, alem da acusação também exigia no Tribunal uma indemnização da jovem policia municipal Também neste pedido, a Câmara Municipal de Braga foi derrotada pela Justiça.

Tudo começou a 19 de Dezembro de 2006, quando um cidadão estacionou o veículo em zona de estacionamento pago.
Como não efectuou o respectivo pagamento, a agente preencheu um auto de contra-ordenação, apondo nele o carimbo “pago”.
A Câmara Municipal — sem provas como se viu — acusa a mulher polícia de ter ficado com os trinta euros e da prática do crime de peculato.

A arguida usou do direito de não prestar declarações sobre a acusação contra si, e o julgamento acabou por mostrar antes bastante incompetência de quem dirige os alguns serviços municipais.

Mas se era isto que queriam disciplinar ou apurar, escusavam de gastar tanto dinheiro e tempo, utilizando a táctica mais velha do mundo que é a do bode expiatório para ficar tudo na mesma.

Desta vez, e desculpar-me-ão a expressão, a técnica do bode não resultou e nem precisou de abrir a boca em tribunal.
Os factos encarregaram-se de salvar o bode e responsabilizar os acusadores.

Agora, meus senhores quem vai pagar o vexame, a humilhação e os danos morais causados a esta jovem mãe, por causa de uns miseráveis trinta euros que um qualquer fariseu municipal vislumbrou como arma de arremesso para mostrar serviço ao chefe?

Se perguntássemos a qualquer um dos 170 mil bracarenses se colocavam o presidente da Câmara ou os vereadores ou os chefes de serviços municipais em tribunal por causa de 30 euros, sem provas evidentes, todos diriam não.

A isto chama-se bom senso. É o que está a faltar no topo do Município der Braga. Um amigo meu, diria, para não ir mais longe nos comentários, que se esbanja na farinha e poupa no farelo.

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