Saturday, July 2, 2011

Os rostos da República de A a Z: Afonso Costa (07)


A guerra deu a Afonso Costa o pretexto para o apelo à unidade de todos os republicanos, em troca de uma patriótica reconciliação, em seu redor.

Dirige-se a Londres onde afirma que a “Inglaterra nos convida a dar-lhe o nosso concurso nos campos de batalha da Europa, compromete-se a fornecer-nos os fundos necessários para que ele se torne efectivo, sob forma de material, abastecimento, etc., finalmente freta-nos em condições mais vantajosas um grande número os navios que apreendemos aos alemães” — lê-se no Diário II de João Chagas (ed. Rolim, Lisboa, 1987, pp. 266-277).

Contra a maioria, a proposta minoritária da intervenção na guerra ganhava forma e vencia. É a Afonso Costa e ao Partido Democrático que Portugal deve a entrada no palco de guerra europeu e não é fácil destrinçar, ainda hoje, onde começam e acabam as motivações de ordem interna e externa que sustentam esta decisão que traduz o “interesse de Afonso Costa na afirmação externa do Estado Republicano”.

As relações com Inglaterra estavam longe de ser as melhores porque os ingleses apenas reconheceram a República um ano depois e a imagem de Portugal — devido à contratação de mão-de-obra indígena nas colónias portuguesas — era pouco melhor que má.

Mal estalou a guerra, Costa apela à unidade dos republicanos embora a maioria preferisse expedições a África contra a ambição imperialista alemã, como a própria Inglaterra sugeriu.

Os oficiais do Exército também se opunham à politica de guerra e fazem a entrega simbólica das espadas ao Presidente Arriaga — o “golpe das espadas” — e de nada valia a Afonso Costa percorrer os quartéis tentando levar o exército à obediência.

COM a limpeza dos oficiais democráticos, o PD de Costa estremeceu e convoca novo congresso em Março de 1915, mas a GNR impede a entrada no Palácio de S. Bento. Rebentava a revolução dos republicanos radicais, durante três dias, a 14 de Maio, com 200 mortos e mais de mil feridos. Afonso Costa concorda em formar novo governo para pôr ordem na casa, com reintegrações, amnistias, prisões e desterros.

Costa controlava o Estado mas o pais estava à beira de rotura financeira e crescia o mal-estar social e insiste num Governo de unidade nacional para repartir os descontentamentos.

A 30 de Dezembro, Afonso Costa recebe pedido inglês para requisitar navios mercantes alemães atracados em portos portugueses. Era o momento de obrigar a Inglaterra a cumprir o seu dever: invocar a aliança luso-britância.

Com a apreensão dos navios alemães a 23 de Fevereiro de 1916, a Alemanha declara guerra a Portugal, no dia 9 de Março.
O Partido de Costa estava isolado social e politicamente e a guerra dava-lhe a causa patriótica, de unidade no capo republicano e até dos portugueses de que Afonso Costa precisava.

De Inglaterra não chegavam os apoios financeiros, condicionados à entrada directa na guerra na Flandres. A declaração de guerra da Alemanha força Afonso Costa a formar um governo de “União Sagrada”, reunindo evolucionistas e democráticos, com Afonso Costa nas Finanças. A estrela começava a apagar-se, com a organização do Corpo Expedicionário Português (CEP), entregue ao Ministro da Guerra José Maria Norton de Matos.

Em Dezembro de 1916 conheciam-se as “más condições lá vividas pelos soldados portugueses, mal alimentados, vestidos, calçados e posicionados. O CEP passava a chamar-se Carneiros de Exportação portuguesa porque o filho mais de velho de Afonso Costa “foi para um quartel general onde o papá o vai beijar. Exibindo-se e exibindo-o” (cf. Rocha Martins ‘Príncipe Sebastião’, citado por BARROS, Júlia Leitão, in Afonso Costa, p. 114.


O pais esvaía-se na fome e na miséria, com “um estendal de bichas, levantamentos, motins, assaltos provocados por insuficiência de abastecimento público e pelo agravamento do mercado negro e açambarcamento” em que as cidades são as primeiras a ressentir-se “com carência de pão.”. Nas aldeias há motins “rurais contra a saída de géneros, assaltos a lojas, manifestações e greves”.


Crescia a discórdia dentro do Governo de “União Sagrada” e a causa intervencionista virava-se contra Afonso Costa. “Era um tiro na culatra, multiplicando-se os fogos de oposição” e Afonso Costa começa a ser contestado dentro do PD até que em Julho de 1917, uma greve da construção civil termina em verdadeira batalha campal que o obriga a declarar o Estado de Sítio.


Em Setembro são presos 40 sindicalistas e Afonso Costa apercebe-se do cerco levando o seu amigos João Pinheiro Chagas a dizer: “creio que o medo tem algum império nos actos do homem enérgico que é Afonso Costa” (cf. op.cit. p.281).

A boa estrela de Afonso Costa apagava-se enquanto crescia a popularidade do herói da rotunda, Machado dos Santos.
Sindicalistas, católicos, monárquicos, republicanos moderados uniam-se contra Afonso Costa em volta de Sidónio Pais.

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