Wednesday, October 6, 2010

Cem anos de República no Minho (16)




Que teve de fazer, em 1892, o ministro Dias Ferreira, quando a dívida pública absorvia metade das receitas do país? — perguntávamos na crónica anterior. Cortou 12,5% nos salários dos funcionários, aumentou 15% os impostos, enquanto a moeda é desvalorizada (deixando de ser comparada com o ouro) acompanhada de inflação galopante que atingia os mais pobres. Mais de 12 mil portugueses emigravam nessa altura para o Brasil, em cada ano.

Não imaginávamos a flagrante actualidade, cem anos depois, com as medidas duras de combate ao défice actual. Nós, portugueses, nunca mais aprendemos, mesmo passados cem anos do desaparecimento de um regime que governara Portugal desde a Cidade Berço.

Eram os últimos anos de estertor de uma monarquia que praticava acrobacia e equilibrismo como regime rotativo dos partidos Regeneradores e Progressistas, indiferente aos protestos do povo enquanto nos partidos o ideal republicano (Ramalho Ortigão) se confundia com socialismo (Antro de Quental).

Os acontecimentos de 1892 agravaram o pessimismo do povo e a profunda descrença nos governantes até ao dia 1 de Fevereiro de 1908, numa “tarde linda, azul, morna, diáfana” em que mataram o Rei D. Carlos e o príncipe Filipe, herdeiro do trono. O outro infante D. Manuel II é proclamado rei, aos 18 anos. Em Outubro, os republicanos ganharam em Lisboa e “num pais como Portugal, onde o peso da capital resumia toda a Nação, isso queria dizer o fim das instituições monárquicas”. No dia 5, o o rei fugia com toda a família “para não mais voltarem” — escreve, com amargura, Oliveira Marques.

Tudo começara, num caminho sem regresso, a 31 de Janeiro de 1891, no Porto, onde participaram alguns bracarenses, nessa luta encarniçada entre republicanos e a guarda municipal “com o fim de proclamar a República” (cf. Ménici Malheiro, in Braga Contemporânea, pp. 73 e ss.).

Sobre o sangue derramado, o povo começa a perceber o que é a República — o governo do povo e pelo Povo — para acabar com “o luxo dos nobres, a avidez da Igreja, a estupidez de mistura com a ignorância mais crassa do burguês e dos filhos de algo, legando aos conventos, na intenção de alcançarem o céu, todos os seus bens” (...) que fez de Portugal “um pais moribundo” em que “só a igreja medrava, à medida que aumentava o número de enjeitados”.

Em Braga, o Partido Socialista contribuiu poderosamente para que "saísse do seu entorpecimento asqueroso, nostálgico e reaccionário em que não só a cidade como todo o distrito vinham arrastando-se de há séculos”.

Em 1889 estala em Braga a primeira greve, “da classe dos chapeleiros, que tinha por objectivo o aumento dos salários” mas é o fracasso que leva à criação de um Monte Pio e de uma Associação de classe “que teve de sustentar por vezes temerosas lutas com o patronato”.

Foram estes trabalhadores que criaram a Associação Fúnebre Familiar Bracarense que chegou a contar com cinco mil associados (para tratar do enterro dos filiados). A força da luta dos chapeleiros dá origem à criação da Liga das Artes Gráficas e de uma Cooperativa de Consumo — “Libertadora bracarense” —. Nesse tempo, já nomes como Manuel Monteiro e Simões de Almeida agitavam as consciências bracarenses numa cidade “onde não havia canto que não cheirasse a sacristia, a cacete miguelista” e “inúmeros parentes dos porcos de Epicuro”.

Em 1906 são eles quem funda o Centro Operário Socialista para responder a prepotências do patronato como aconteceu com o Sousa — da Tipografia Henriquina — despedido só por saudar uma excursão de gráficos portuenses que viera a Braga. Eram momentos de glória e heroísmo dos trabalhadores e intelectuais socialistas (seguidores de Antero de Quental e Ramalho Ortigão) que se traduzem num congresso Galaico-Português realizado em Braga, a criação da Associação das Quatro Artes da Construção Civil e a Cooperativa, onde pontificava o militante socialista Azevedo Gnecco — um dos mais talentosos membros do partido.

Os minhotos não podem ignorar o talento e intervenção de homens como Custodio Pinto que acolhia em sua casa, na Avenida Central, um núcleo valoroso e culto de liberais e livre-pensadores como Bento de Oliveira, Ulisses Taxa, Vieira Marques, Henrique Martins.

Com a queda de Hintze Ribeiro, em 1906. A quem sucedeu João Franco foram suspensas todas as Câmaras Municipais, suspensos muitos jornais e foram desprezadas as liberdades e dos direitos dos cidadãos acicatando a propaganda republicana através de António José de Almeida, Bernardino Machado, Afonso Costa, João Chagas que seduz os bracarenses.

Em 1905, Braga realiza o primeiro comício republicano, na rua da Cruz de Pedra, onde estiveram muitos anos os Serviços Municipalizados, onde falaram Eduardo Abreu, Manuel Monteiro e Sousa Fernandes. No ano seguinte, em Maio, disputaram-se as eleições municipais a que se candidatavam os republicanos pela primeira vez com João Freitas, Manuel Monteiro, Custodio Pinto, Domingos Palha, Alberto Guimarães e Bento de Oliveira, entre outros.

Eram tempos difíceis para quem era republicano, cujo centro funcionava na actual Praça do Município, onde todas as noites afluíam militantes “sempre vigiados pela polícia e pelos suínos de vista baixa e coleira” mas isso não os impediu de celebrarem o centenário de Alexandre Herculano (28 de Março de 1910) e que “um estandarte republicano se via nas ruas de Braga” empunhado por Ménici Malheiro. Dois anos antes, várias provocações reaccionárias (Campo das Hortas, Campo de Sant’Ana e Bom Jesus) acabaram por não resultar em actos violentos, devido à sensatez dos comandantes das guardas.

Manuel Monteiro, Domingos Pereira, Justino Cruz, Bento Oliveira, Simões de Almeida, Manuel Castro foram os obreiros da democratização de Braga. Quando a República é proclamada, Manuel Monteiro foi nomeado Governador Civil de Braga e Domingos Pereira administrador do concelho.

A República foi proclamada em Braga no dia 7 de Outubro, primeiro na varanda do Governo Civil e depois na Câmara Municipal de Braga. A chegada do novo regime foi saudada à noite com “um numeroso cortejo” a partir da Arcada.

Gonçalo Sampaio
cientista de renome
internacional.


Pelo ideais republicanos combatia na Póvoa de Lanhoso o Gonçalo António da Silva Ferreira Sampaio, nascido em S. Gens de Calvos, Póvoa de Lanhoso, em 29 de Março de 1865 e falecido no Porto, em 1937.

Dedicou-se ao estudo científico das algas, cormófitos, e espermatófitas, além de se ter entretido também a classificar Musgos, Líquenes e outros.

Outra das suas prioridades era a Música, especialmente o canto coral, a dança e a música popular, depois procedeu ao levantamento dos cantares populares do Minho, de que se compõe o Cancioneiro Minhoto (ou de Gonçalo Sampaio).

Gonçalo Sampaio também sofreu muito por ser exigente consigo e desejava ver os outros também com uma vida melhor e um país mais desenvolvido onde estava presente uma verdadeira Trilogia: Liberdade, Fraternidade e Igualdade.

Gonçalo Sampaio irritava-se pelo terrível atraso em que a Nação Portuguesa esperneava, mas não dava à luz coisa que se visse.

Surge então o sistema republicano, ao qual Gonçalo Sampaio aderiu aproveitou bem os ideais democráticos trazidos pelos Republicanos, mas cedo ficou desiludido.

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