Monday, February 1, 2010

Jorge Coutinho: Deus ignora o "porque sim"



Destinado a "um razoável número de crentes que crê 'porque sim', tal como boa parte dos descrentes não crê 'porque não', o professor Jorge Coutinho acaba de lançar um livro racionalmente apaixonante para aqueles que gostam de seguir os "Caminhos da razão no horizonte de Deus", encontrando aí "as razões de crer".

Com a chancela editorial de "Tenacitas", de Coimbra, o livro foi apresentado no recente Congresso Internacional sobre o Presbítero, em Braga, e tem uma capa que reproduz "Seara numa tarde de Verão" pintado por Marc Chagall, em 1942.

Este livro assume-se como um acto de "ousadia", onde "sem complexos" porque a "metafísica não se evita por negação, só por renúncia", até porque o autor é o primeiro a saber que a "faculdade de 'ver' Deus é, não propriamente a razão, mas o coração".

Este professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica (Braga) — na foto em cima à esquerda — dirige-se àqueles que não se contentam com "razões de superfície" porque o ser humano é um animal racional e "tem, por isso, uma necessidade natural de razões para justificar as suas atitudes". A crença e a descrença, sem razões, constituem atitudes "pré.racionais" ou infantis, dai que "o homem e a mulher intelectualmente adultos carecem de razões de crer, como de razões para descrer".

Situado o plano deste livro, a exposição de Jorge Coutinho inclui duas partes, a primeira das quais aborda a situação actual da religião e do problema de Deus, de modo a justificar a reflexão seguinte em que o autor não "a pretensão, nem podemos ter, de dizer o indizível de Deus na dizível palavra humana".

No balbuciar das palavras humanas, Jorge Coutinho tenta encaminhar o leitor no horizonte de um Deus "vivo e verdadeiro" que longe de ser "um rival ou de constituir uma alienação para o homem, só pode ser, antes, o sentido absoluto do seu existir, a verdadeira plenitude de que ele carece, aquele, afinal, por quem o seu coração bate mais fundo e forte".

Por outras palavras, nos caminhos da razão, o autor procura ajudar o leitor a encontrar Deus não como infinita ilusão teológica, mas o Ser necessário sem o qual tudo - o mundo, a verdade, o valor, o sentido, a ética, a pedagogia, o direito, o bem e o mal, o próprio ser — carece de sentido ou de consistência".

A MORTE DE DEUS?

Este livro de Jorge Coutinho, conhecido dos bracarenses por ser também o presidente da Comissão das Solenidades da Semana Santa e Arcediago do Cabido da Sé, surge num tempo em que "o niilismo proclama, a par com a morte de Deus, também a morte da razão e da verdade, da metafísica e da filosofia".

É um tempo em que, por causa dessas proclamações, "ser religioso soa a ser obscurantista, retrógrado e anti-moderno" baseadas em "provas" da inexistência de Deus como as "provas" de Auschwitz mas também do Gulag, as duas guerras mundiais e os atentados de 11 de Setembro perpetrados in nomine Dei. É por isso, reafirma o autor, que é oportuno "continuar a fazer hoje de Deus um problema do pensamento" até porque a morte de Deus é apresentada como "epopeia da humana libertação da sua tutela".

Quanto mais não seja "porque Deus continua a dar que pensar" e, nesta perspectiva, o autor adverte os seus leitores que encontrarão neste livro um "discurso aberto, embora crítico e orientado: aberto, justamente porque procurará ter em conta tanto as razões a favor como as contrárias; crítico, porque procurará dar a cada um o que se julgar nela ser razoável; e orientado, porque terá na sua mira evidenciar, quanto possível, a prevalência das razões a favor de Deus sobre as suas contrárias".


ENSINO
E SABEDORIA

João Duque, Director adjunto da Faculdade de teologia de Braga, no prefácio, destaca que este livro é uma "releitura perfeitamente contemporânea dos temas tradicionais da teologia filosófica magistralmente desenvolvida por S. Tomás de Aquino" num tempo em que "Deus enfrenta novos desafios" e qualquer crente pretenda pensar a sua fé nestas 250 páginas enriquecidas com vasta bibiliografia.

Jorge Coutinho, natural de Viana do Castelo, tem uma vida dedicada ao ensino e à Juventude e é licenciado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1965) e em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra (1974), tendo-se doutorado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Braga da UCP (1995).

Professor associado da Faculdade de Teologia de Braga, leccionou, como convidado, na Faculdade de Filosofia, disciplinas como História da Filosofia Medieval, Filosofia do Conhecimento, Fenomenologia e Hermenêutica da Religião, enquanto dava assistência religiosa no Colégio dos Órfãos de S. Caetano.

É director da revista Theologia, da Faculdade de Teologia-Braga e coordenador do Departamento de Filosofia da mesma faculdade em plano nacional. Antes deste livro, publicou outras obras como "Os caminhos de Deus nos caminhos dos Homens", "Introdução ao Mistério da Salvação", "O Pensamento de Teixeira de Pascoaes, Estudo Hermenêutico e Crítico" e "Filosofia do Conhecimento".

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