Tuesday, February 3, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (3)


Depois de recordarmos alguns dos passos históricos que estiveram na origem da segunda invasão francesa em Fevereiro de 1809 —por terras de Vieira e da Póvoa de Lanhoso em direcção ao Porto — falemos hoje dos acontecimentos que precipitaram a primeira invasão francesa e da preparação dos portugueses para enfrentarem a agressão.

Depois da batalha do Rossilhão, ficou clara a necessidade de uma reorganização profunda da defesa de Portugal, cujo aparelho militar era incapaz de sustentar a política diplomática da alegada neutralidade que pretendia seguir e as ameaças de Napoleão.

A redução das despesas apontou para a primeira grande reforma, com o desaparecimento de todas as praças do interior, mantendo apenas as de Valença, Monção, Chaves, Miranda, Almeida, Monsanto, Marvão, Campo Maior, Estremoz, Mértola, Alcoutim e Castro Marim. Quanto a fortificações marítimas, no Norte do País, apenas se mantiveram as de Vila do Conde, Esposende, Viana e Forte da Ínsula. Assim, à data da entrada das tropas francesas em Portugal, em 1807, Portugal tinha uma força militar da ordem dos 43 mil homens, mais uns 40 mil das milícias e uns 30 mil de ordenanças (no papel). Na realidade, a maior parte das unidades de linha não tinha sequer metade dos efectivos, as milícias não tinham recebido instrução e as ordenanças (homens entre os 17 e 40 anos que recebiam treino aos domingos) constituíam mais um estorvo que uma mais valia para a defesa do território.

Quando é assinado o Tratado de Fontainebleau — que entregava o território do Minho ao rei da Etrúria para que este cedesse o seu reino a uma filha do Rei Carlos IV de Espanha —, já Napoelão tinha decidido invadir Portugal, através das tropas concentradas em Baiona.

Era uma tropa destreinada que foi preparada e equipada, com cuidado especial sob a liderança do general Andoche Junot, antigo governador de Paris e ex-embaixador de França em Lisboa. Estas tropas marcham para Salamanca e Ciudad Rodrigo em 17 de Outubro, mas são fustigadas pela intempérie e a falta de apoio espanhol que chegavam mesmo ao assassínio de soldados franceses. Em Salamanca, Junot recebe ordens para invadir Portugal pela margem direita do Tejo e não através do vale do Mondego, como inicialmente estava previsto.

No dia 30 de Outubro, Napoleão declarava guerra a Inglaterra que, em Lisboa, ajudava na fuga da família real portuguesa, através da esquadra do almirante Smith. Os franceses decretavam a extinção da Casa de Bragança em Portugal e os portugueses tinham já clara noção de que a França ia invadir o país sem forças para se defender e sem timoneiro (em fuga).

A marcha — de 50 km diários por "caminhos maus e vias praticamente impraticáveis" — começou a tornar-se difícil para os soldados no limite da resistência e famintos, com calçado deteriorado, a ter de enfrentar tempestades de neve e chuva quase contínuas que impediam de secar o fardamento. A degradação da marcha chegou ao ponto de as peças de artilharia serem puxadas por juntas de bois porque não havia alimentos para os cavalos, levando Junot a proclamar que vinha para libertar os portugueses do domínio inglês e que o seu exército, tão bem disciplinado como valoroso, ia ter, por sua honra, um bom comportamento.

No entanto, ameaça todos o que não recebessem os seus soldados de braços abertos — facultassem tudo o que eles precisavam para se alimentar — num país que se encontrava em plena reorganização do seu exército. Face à fragilidade defensiva portuguesa, o rei D. João embarca para o Brasil, pedindo que as tropas francesas não fossem hostilizadas.

Assim as tropas entraram em Castelo Branco sem qualquer resistência e seguiram a Abrantes e nem a posição estratégica de Ponsul foi usada pelos portugueses... pelo que a chegada dos franceses foi uma surpresa apesar da lentidão das tropas gaulesas.

O bispo da Castelo Branco recebeu os franceses de braços abertos, aponto de alojar Junot no seu Paço, em troca de ser nomeado governador da cidade pelos franceses, obrigando os albicastrenses a assegurar a "susbsistência das tropas", bem como a oferta de animais para "os serviços de transporte militar" na caminhada até Lisboa.

Depois de Abrantes (24 de Novembro) e a tomada de Tomar, as tropas de Junot seguiram até Santarém, Carregado, Alverca em direcção à capital, onde chegaram no dia 30 de Novembro de 1807, três dias depois do embarque da Família real para o Brasil.

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