
Depois de recordarmos alguns dos passos históricos que estiveram na origem da segunda invasão francesa em Fevereiro de 1809 —por terras de Vieira e da Póvoa de Lanhoso em direcção ao Porto — falemos hoje dos acontecimentos que precipitaram a primeira invasão francesa e da preparação dos portugueses para enfrentarem a agressão.
Depois da batalha do Rossilhão, ficou clara a necessidade de uma reorganização profunda da defesa de Portugal, cujo aparelho militar era incapaz de sustentar a política diplomática da alegada neutralidade que pretendia seguir e as ameaças de Napoleão.
A redução das despesas apontou para a primeira grande reforma, com o desaparecimento de todas as praças do interior, mantendo apenas as de Valença, Monção, Chaves, Miranda, Almeida, Monsanto, Marvão, Campo Maior, Estremoz, Mértola, Alcoutim e Castro Marim. Quanto a fortificações marítimas, no Norte do País, apenas se mantiveram as de Vila do Conde, Esposende, Viana e Forte da Ínsula. Assim, à data da entrada das tropas francesas em Portugal, em 1807, Portugal tinha uma força militar da ordem dos 43 mil homens, mais uns 40 mil das milícias e uns 30 mil de ordenanças (no papel). Na realidade, a maior parte das unidades de linha não tinha sequer metade dos efectivos, as milícias não tinham recebido instrução e as ordenanças (homens entre os 17 e 40 anos que recebiam treino aos domingos) constituíam mais um estorvo que uma mais valia para a defesa do território.
Quando é assinado o Tratado de Fontainebleau — que entregava o território do Minho ao rei da Etrúria para que este cedesse o seu reino a uma filha do Rei Carlos IV de Espanha —, já Napoelão tinha decidido invadir Portugal, através das tropas concentradas em Baiona.
Era uma tropa destreinada que foi preparada e equipada, com cuidado especial sob a liderança do general Andoche Junot, antigo governador de Paris e ex-embaixador de França em Lisboa. Estas tropas marcham para Salamanca e Ciudad Rodrigo em 17 de Outubro, mas são fustigadas pela intempérie e a falta de apoio espanhol que chegavam mesmo ao assassínio de soldados franceses. Em Salamanca, Junot recebe ordens para invadir Portugal pela margem direita do Tejo e não através do vale do Mondego, como inicialmente estava previsto.
No dia 30 de Outubro, Napoleão declarava guerra a Inglaterra que, em Lisboa, ajudava na fuga da família real portuguesa, através da esquadra do almirante Smith. Os franceses decretavam a extinção da Casa de Bragança em Portugal e os portugueses tinham já clara noção de que a França ia invadir o país sem forças para se defender e sem timoneiro (em fuga).
A marcha — de 50 km diários por "caminhos maus e vias praticamente impraticáveis" — começou a tornar-se difícil para os soldados no limite da resistência e famintos, com calçado deteriorado, a ter de enfrentar tempestades de neve e chuva quase contínuas que impediam de secar o fardamento. A degradação da marcha chegou ao ponto de as peças de artilharia serem puxadas por juntas de bois porque não havia alimentos para os cavalos, levando Junot a proclamar que vinha para libertar os portugueses do domínio inglês e que o seu exército, tão bem disciplinado como valoroso, ia ter, por sua honra, um bom comportamento.
No entanto, ameaça todos o que não recebessem os seus soldados de braços abertos — facultassem tudo o que eles precisavam para se alimentar — num país que se encontrava em plena reorganização do seu exército. Face à fragilidade defensiva portuguesa, o rei D. João embarca para o Brasil, pedindo que as tropas francesas não fossem hostilizadas.
Assim as tropas entraram em Castelo Branco sem qualquer resistência e seguiram a Abrantes e nem a posição estratégica de Ponsul foi usada pelos portugueses... pelo que a chegada dos franceses foi uma surpresa apesar da lentidão das tropas gaulesas.
O bispo da Castelo Branco recebeu os franceses de braços abertos, aponto de alojar Junot no seu Paço, em troca de ser nomeado governador da cidade pelos franceses, obrigando os albicastrenses a assegurar a "susbsistência das tropas", bem como a oferta de animais para "os serviços de transporte militar" na caminhada até Lisboa.
Depois de Abrantes (24 de Novembro) e a tomada de Tomar, as tropas de Junot seguiram até Santarém, Carregado, Alverca em direcção à capital, onde chegaram no dia 30 de Novembro de 1807, três dias depois do embarque da Família real para o Brasil.
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