Almada
Negreiros é um dos resultados mais felizes da colonização portuguesa, nascido
na Roça da Saudade (que outro nome havia de ser), na Ilha de S. Tomé, em pleno
equador, a 7 de Abril de 1893 – há 120 anos.
A mãe era
uma santomense de 20 anos, Elvira Sobral, filha de um fazendeiro português e de
uma mestiça. O pai, António Lobo de Almada Negreiros, de Aljustrel, no
Alentejo, era jornalista, ensaísta e poeta que exercia cargo de administrador do concelho de
S. Tomé, que abrangia toda a ilha. José é o primeiro filho de ambos e foi
baptizado na ilha segundo o ritual católico.
Almada Negreiros nasce rodeado de
familiares com histórias fora do comum, a começar pelo avô materno, dono da
famosa Roça da Saudade, na parte alta da ilha e uma das mais ricas em café,
cacau e madeiras. O seu contributo para o desenvlvimento da ilha leva o rei D.
Luís a atribuir-lhe a comenda de mérito agrícola.
A vocação
intelectual de Almada Negreiros vem do pai, jornalista em Ourique, funcionário
dos Correios e director de um diário em Lisboa
até ser nomeado Governador de S. Tomé, onde conhece Elvira e com ela se casa. O
pai de Almada é um dos organizadores
do Pavilhão das Colónias na Exposição Unversal de Paris, em 1900. A ele
se deve a primeira monografia dos costumes de S. Tomé.
A harmonia
familiar é quebrada em 1896 quando a mãe Elvira morre no parto de uma menina. A perda
da mulher é devastadora para o pai de Almada Negreiros que se refugia no
trabalho, viaja para Paris e deixa os filhos (José e o irmão mais novo) no Colégio
Jesuíta de Campolide em Lisboa.
José
aprende a viver com os seus próprios meios e manifesta incontrolável inclinação
para a escrita e para o desenho, fazendo caricaturas de professores e alunos.
Os padres reconhecem tanto o seu talento como as suas travessuras
extrovertidas.
Adora desporto e adora correr pelos longos corredores do
colégio, desafiando as proibições internas, ao ponto do director o repreender:
“tenho trezentos e sessenta alunos e todos têm os olhos na cara, porque é que
só tu tens a cara nos olhos?”
Já naquela
altura, o rosto de José já é dominado por um olhar intenso e penetrante, saído
de olhos salientes e esbugalhados, como esgazeados que não deixam nenhum
interlocutor indiferente.
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