Friday, June 20, 2014

Almada Negreiros: profeta do moderno (fim)

Almada Negreiros é um dos resultados mais felizes da colonização portuguesa, nascido na Roça da Saudade (que outro nome havia de ser), na Ilha de S. Tomé, em pleno equador, a 7 de Abril de 1893 – há 120 anos.
 
A mãe era uma santomense de 20 anos, Elvira Sobral, filha de um fazendeiro português e de uma mestiça. O pai, António Lobo de Almada Negreiros, de Aljustrel, no Alentejo, era jornalista, ensaísta e poeta que exercia  cargo de administrador do concelho de S. Tomé, que abrangia toda a ilha. José é o primeiro filho de ambos e foi baptizado na ilha segundo o ritual católico. 

Almada Negreiros nasce rodeado de familiares com histórias fora do comum, a começar pelo avô materno, dono da famosa Roça da Saudade, na parte alta da ilha e uma das mais ricas em café, cacau e madeiras. O seu contributo para o desenvlvimento da ilha leva o rei D. Luís a atribuir-lhe a comenda de mérito agrícola.

A vocação intelectual de Almada Negreiros vem do pai, jornalista em Ourique, funcionário dos Correios e director de um diário emLisboa até ser nomeado Governador de S. Tomé, onde conhece Elvira e com ela se casa. O pai de Almada é um dos organizadores  do Pavilhão das Colónias na Exposição Unversal de Paris, em 1900. A ele se deve a primeira monografia dos costumes de S. Tomé.

A harmonia familiar é quebrada em 1896 quando a mãe Elvira morre no parto de uma menina. Aperda da mulher é devastadora para o pai de Almada Negreiros que se refugia no trabalho, viaja para Paris e deixa os filhos (José e o irmão mais novo) no Colégio Jesuíta de Campolide em Lisboa.

José aprende a viver com os seus próprios meios e manifesta incontrolável inclinação para a escrita e para o desenho, fazendo caricaturas de professores e alunos. Os padres reconhecem tanto o seu talento como as suas travessuras extrovertidas. 

Adora desporto e adora correr pelos longos corredores do colégio, desafiando as proibições internas, ao ponto do director o repreender: “tenho trezentos e sessenta alunos e todos têm os olhos na cara, porque é que só tu tens a cara nos olhos?”

Já naquela altura, o rosto de José já é dominado por um olhar intenso e penetrante, saído de olhos salientes e esbugalhados, como esgazeados que não deixam nenhum interlocutor indiferente.






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