tag:blogger.com,1999:blog-10975021334005737392024-03-05T00:31:14.641-08:00Braga agoraPalavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.comBlogger325125tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-40033087410095184072014-06-20T06:48:00.000-07:002014-06-20T06:56:49.679-07:00Lanhoso e San Joan de Rey: novos forais venturosos (08)<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDfe5KonXPqb7kcg9Z3zJ-6enI9S-VLUybKhwbggo-Hvx9KVTCUuxEeFqihZ2Kw0CwNaekvkoP_nGBlVXV64OEnKg0NUJnifuUjANHAKhgOKiPb-_oQ5n8fNV05siDzTa_azx9Sw2kS2E5/s1600/Vieira+do+Minho.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDfe5KonXPqb7kcg9Z3zJ-6enI9S-VLUybKhwbggo-Hvx9KVTCUuxEeFqihZ2Kw0CwNaekvkoP_nGBlVXV64OEnKg0NUJnifuUjANHAKhgOKiPb-_oQ5n8fNV05siDzTa_azx9Sw2kS2E5/s1600/Vieira+do+Minho.jpeg" height="320" width="206" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Que comiam os nossos antepassados no século XVI? é uma curiosidade que alguns historiadores nos satisfazem com alguns dos seus trabalhos. </span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">De facto, a leitura dos forais concedidos por D. Manuel I, permite-nos obter informações preciosas sobre géneros alimentares transaccionáveis e sobre alguns objectos de uso corrente que, directa ou indirectamente, se relacionam com a alimentação. </span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">Se estavam à espera de receitas, temos de procurar em outros arquivos ou documentos — como pode ser <i>O livro de cozinha da Infanta Dona Maria</i> — porque os forais praticamente não nos dizem nada sobre o modo de confecção dos alimentos. José Pedro de Lima-Reis, em <i>Algumas notas para a história da alimentação em Portugal</i>, editado por Campo das Letras, Lisboa, 2008, é um desses autores.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br />Também o historiador minhoto José Marques, através da sua obra <i>Os Forais de Barcelos</i>, editada pela Câmara Municipal de Barcelos, em 1998, cnstitui um precioso auxiliar para cnhecermos a alimentação minhota nas centúrias de quinhentos e seiscentos. </span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br />Como vimos em crónicas anteriores, nos forais, determinava-se o pesado imposto ou portagem que os estranhos aos concelhos deviam pagar ou não pelos produtos que traziam ou levavam para vender. Essas listas — que constituem ao núcleo central dos Forais — proporcionam a descoberta de uma quantidade apreciável de pequenos detalhes sobre a alimentação humana. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br />Desde logo encontramos geralmente o pagamento de portagem para “<b>todo o trigo, centeio, cevada, milho painço, aveia e de farinha de cada um deles e assim de cal ou de sal ou de vinho ou vinagre e linhaça e de qualquer fruta verde entrando melões e hortaliça e assim de pescado ou marisco</b>”. </span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br />Destacam-se os todos os cereais quepodiam ser transformados em farinha e, assim, utilizados quer no fabrico de pão de espécie ou de mistura, na confecção de papas e encorpar outros petiscos.<br />Note-se que o melão, provavelmente muito diferente em tamanho e sabor do que aquele que hoje consumimos e, provavelmente, muito mais próximo do pepino, não parece fazer parte da fruta, embora, tal como as hortaliças não des-criminadas, constitua um bem alimentar de uso comum naquela época.</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"><br />Leiamos agora o foral de Barcelos que é é muito mais esclarecedor e estabelece uma barreira indiscutível entre fruta verde e o que se lhe segue: “<b>E da carga maior de laranjas, cidras, peras, cerejas, uvas verdes e figos e por toda outra fruta verde meio real por carga maior e outro tanto de alhos secos, cebolas e melões e hortaliça</b>”.</span><br />
<span style="font-size: large;"><br />Quanto à laranja convem esclarecer que devia ser a variante azeda dado que Vasco da Gama apenas chegara da sua viagem há pouco mais de dez anos o que não dava tempo à disseminação do plantio da variedade doce e sua comercialização. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br />Três reais era o valor da portagem para uma carga maior (a cavalo) de toda a "<b>fruta seca, castanhas e nozes verdes e secas e ameixas passadas, amêndoas, pinhões por britar. Avelãs, bolotas, lentilhas e de todos os outros legumes secos, cebolas secas e alhos porque os verdes pagam com a fruta verde um real</b>”. </span><br />
<span style="font-size: large;"><br />As castanhas e as bolotas podiam ser moídas, transformadas em farinha e utilizadas no fabrico de uma espécie de pão de recurso para os mais pobres quando os cereais escasseavam mas podiam ser cozidas ou assadas. </span><br />
<br />
<span style="font-size: large;">De facto, a leitura dos forais
concedidos por D. Manuel I, permite-nos obter informações preciosas sobre
géneros alimentares transaccionáveis e sobre alguns objectos de uso corrente
que, directa ou indirectamente, se relacionam com a alimentação. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Falemos hoje das lentilhas e outras
leguminosas secas que se consumiam guisadas ou cozidas com hortaliças em caldos
mais ou menos espessos. Uvas passas, ameixas secas, avelãs, amêndoas, nozes e
pinhões também faziam parte dos hábitos alimentares destes tempos que
quinhentos. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Os peixes e os mariscos não merecem especial destaque excepto para os lados de
Barcelos onde encontramos em lugar de destaque a lagosta, lampreia e enguias ou
eirós que merecem o apreço constante da nobreza e do clero através dos tempos,
embora o povo a elas tivesse acesso porque não lhe estava vedado pescar “<b>à
cana, à linha ou à mão</b>”, nem por isso pagava “<b>direito algum</b>”. mas mesmo aí, é
pesada a carga fiscal imposta ao povo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Sobre o “<b>pescado de água doce</b>”, dá-se nota das trutas e
bordalos, espécies pouco citadas nos outros forais. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">A fritura, depois do peixe passado por farinha ou farinha e
ovo era um processo comum para o seu preparo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">No que à carne diz respeito parece subentender-se a
transacção de vitelos para consumo e de vitelas para criação, e ainda, porco,
carneiro e “<b>todo o outro gado miúdo</b>”, como a cabra, bode, ove-lha, cervo,
corço, gamo, cordeiros, borregos, cabritos, porcos, porcas e leitões, com o
subtítulo marginal de gados, e coelhos, lebres, perdizes, patos, adens (patos
bravos), pombos, galinhas e todas as outras aves e caça. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Se da carne que se comprar no talho não se paga imposto, o mesmo não acontecia com o toucinho e presunto inteiros que pagavam um
ceitil, excepto no caso de se encontrarem já encetados. A carne, depois de se
ter abatido e desmanchado o animal, podia, tal como hoje, ser comprada no talho
em porções e que as variedades seca ou fumada participavam nas ementas e eram
de utilização corrente. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Não se pagava portagem do "<b>pão cozido, queijadas, biscoito,
farelos, nem de ovos, nem de leite, nem de coisas dele que sejam sem sal</b>”. Por
outro lado, pagavam “<b>oito reais por carga maior de azeite, cera, mel, sebo,
unto, queijos secos, manteiga salgada, pez, resina, breu, sabão e alcatrão</b>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">As gorduras usadas na confecção dos alimentos eram a
manteiga, unto e azeite; os ovos, os produtos lácteos, nomeadamente o queijo
seco, e o mel que com maior ou menor frequência integravam a alimentação da
época. As queijadas, conhecidas pelo menos desde 1220, dado que aparecem,
nestes forais e em muitos outros, assinaladas entre pão e biscoito, poderiam
ser massa de trigo com leite ou natas e constituiriam um antepassado possível
do nosso bico de pato. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">O sabão, como a vassoira, são os únicos instrumentos de limpeza susceptíveis de utilização
no asseio de uma cozinha, embora possamos juntar os panos para limpeza de trens
e louças que poderiam encontrar-se entre “<b>os panos de lã, linho, seda e
algodão, de qualquer sorte que fossem, assim delgados como grossos</b>”, e que
estavam à disposição dos compradores.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="color: magenta;">
<span style="font-size: x-large;">As especiarias</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Especiaria designa os aromatizantes usados para temperar as
comidas. Ficamos a saber que se pagava portagem “<b>por pimenta ou canela e toda
especiaria e por rui barbo e todas as coisas de botica e por açúcar e por todas
as conservas dele ou de mel e por vidro e coisas dele que não tenham barro e
por estoraque (bálsamo de aroma) e por todos os perfumes ou cheiros ou águas
estiladas</b>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Em quinhentos compravam-se recipientes de vidro, conservas em
açúcar e mel, além de variadas ervas aromáticas, pimenta e canela. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Sobre os utensílios utilizados à mesa ou na cozinha os
forais aludem a “<b>carga maior de qualquer telha ou tigela e outra obra e louça
de barro ainda que seja vidrada e do reino e de fora dele que pagavam</b>” três
reais, e outro tanto “<b>por carga de todas as arcas e de toda a louça e obra de
pau lavrada e por lavrar</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">Curiosamente, a louça de barro vem designada por
“<b>telha e malga</b>”. Tigela e malga difeririam no acabamento que lhes era dado e
provavelmente na forma e dimensão. Da louça de pau fica-mos a saber de gamelas,
das “<b>mós de mão para pão ou mostarda</b>”, a transformação de cereais em farinha e
para obtenção de mostarda em pó para tempero dos alimentos. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">O funcho, ou
erva-doce, usava-se como aromatizante para temperar pratos de peixe. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;">O funcho
gigante,de onde se obtinham varas para açoite e, dada a sua flexibilidade, para
fazer deles “<b>empreita</b>”, nomeadamente, “<b>alcofas, esteiras, seirões (seyroeis),
açafates, cordas</b>” e outros
recipientes de cestaria. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-16303958089008460762014-06-20T06:42:00.002-07:002014-06-20T06:42:52.420-07:00Lanhoso e San Joan de Rey: novos forais venturosos (7)<div style="color: black;">
<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}@font-face {
font-family: "Verdana";
}@font-face {
font-family: "TimesNewRomanPSMT";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; </style><style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}@font-face {
font-family: "Verdana";
}@font-face {
font-family: "TimesNewRomanPSMT";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
</div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">São também
isentos da portagem um conjunto de cidades e vilas como Guimarães, <span> </span>Braga, Barcelos, Prado, Ponte de Lima,
Viana do Lima, Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença, Monção, Castro
Laboreiro, Montalegre, a Norte.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Para gozarem
de liberdade, os privilegiados mostram o documento que faz prova da isenção de
portagem. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Acrescem os
imensos direitos reais tinham sido doados à Igreja e Sé, pela Rainha D. Teresa,
a começar pela Sé de Braga.<span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A partir do
século XII, assiste-se um pouco por toda a Europa, um destino diferente para os
excedentes de produção dos senhorios. Havia, nos centros maiores, mercados
diários - no estilo das «praças» de hoje -, mercados semanais, e mercados
reunidos mais espaçadamente, de tantos em tantos meses ou só uma vez por ano, como
escreve Oliveira Marques. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Chegados ao
século XVI, este sistema de mercados locais mantem-se. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">No foral do
Porto, a açougagem seria paga à igreja. Entendia-se que de cada banco, onde se
vendia o peixe, pagar-se-iam 10 reais. As pessoas que quisessem matar
animais para vender carne na cidade só o podiam fazer no açougue do castelo que
pertencia à igreja, porque, caso contrário, incorreriam na perda das carnes
para a igreja. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Em
Guimarães, este direito castigava os carniceiros e </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">qualquer
outra pessoa que no referido local cortassem carne (de cada boi ou vaca onze
ceitis). Relativamente ao pescado, em Guimarães, apenas se devia pagar por todas as
cargas de peixe que chegassem para vender na praça onze ceitis. Outro direito
cobrado seria relativo aos bancos da praça, que "<b>sam del Rey e da villa segundo estam
demarcados huns dos outros amtiJgamente e por tamto mandamos que logo a a
presentaçam deste foral ho senhorio per seus offiçiaens com os da villa apartem
e de marquem logo
cada huns os seus de maneira que nam possam mais sobrisso aver demanda nem
embaraço200. Para além do que já foi dito, fica claro que este direito é<span> </span>pago só pela
utilização do banco para venda e não sobre os produtos que aí se vendam</b>".<span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Em
Guimarães, foral modelo do Minho, existe a brancagem sobre a venda do pão: as
padeiras pagavam, por cada amassadura de pão, dois ceitis. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;"><span> </span>Por exemplo, no foral de Lanhoso, os
moradores mostraram que eram agravados por Jorge Anes de Braga, que lhes
cobrava um valor (não especificado), pelos bancos da feira no contexto da
romaria de S. Sebastião do Este, o que constituía um prejuízo, pois
consideravam-se livres de aí comprar e vender sem pagarem os assentos,
excetuando<span> </span>quando o referido Jorge
Anes tivesse lá as suas novidades (cf. DIAS, Luís Fernando de Carvalho - <i>Forais
Manuelinos do Reino de Portugal e do Algarve</i>, conforme o exemplar do Arquivo
Nacional da Torre do Tombo de Lisboa... p. 48). </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Não falámos
sequer dos direitos e tributos referentes à actividade piscatorial nos concelho
litorais mas vejamos alguns exemplos do pso que se abatia sobre os pescadores.
No foral de Vila do Conde, a dízima velha era pertença do Mosteiro de Santa
Clara, porém se o peixe não chegasse às dez unidades não seriam cobradas
quaisquer dízimas. No que diz respeito ao foral de Viana de Foz do Lima, na
dízima velha que era paga à igreja, o rei devia de ter uma terça parte do valor
desta. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Uma leitura rápida dos forais mostra que os beneficiários dos tributos
eram o rei, a igreja, os senhorios laicos ou eclesiásticos a quem o rei outrora
fizera doação, e em raros casos reverteriam a<span> </span>favor do concelho (ex. Valença) </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Em Vila de
Conde seria cobrado de “<b>qual quer barca da villa que hy trouxer pescado fresquo
Se trouxer quatro peixes e dy pera çima pagara hum escolhendo o senhorio do
navyo o primeiro</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">No foral de
Barcelos havia<span> </span>outro imposto a
cobrar: estacadas.
As estacadas eram colocadas no Rio Cávado para a apanha da lampreia. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Deste modo,
e quando o rio permitisse, eram colocadas em janeiro e mantinham-se até à
Páscoa, e fora deste tempo, os pescadores eram livres de pescar lampreia sem
esta estar sujeita a qualquer tributo. Esta obra estaria ao encargo dos
pescadores, dando-se indicações no foral sobre o modo como deveria ser feita.
Assim, o senhorio daria apenas os materiais usados para a construção da
estacada (madeira, estacas, malhos, tanchas, bem como
candeeiros para sua iluminação). De todas as lampreias pescadas levava então o
senhorio três partes e o pescador uma. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O olhar
régio que os forais manuelinos traduzem, especificamente no Entre Douro e
Minho, em grande <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixqIhWGJeM6Ps67eNJdC46G9R6tVsJq3-Y3pAkMRIElt7uaubI73xVoWRN_4oNPpTPBwifjbdl4Fb_25nXzn6Ak7S19ZtXxtKRBW0GwLXEun6InWUTYb7JPQqIMJu-1MA9b4LUUrbaKNne/s1600/30.mf.p04.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixqIhWGJeM6Ps67eNJdC46G9R6tVsJq3-Y3pAkMRIElt7uaubI73xVoWRN_4oNPpTPBwifjbdl4Fb_25nXzn6Ak7S19ZtXxtKRBW0GwLXEun6InWUTYb7JPQqIMJu-1MA9b4LUUrbaKNne/s1600/30.mf.p04.jpg" height="320" width="304" /></a></div>
medida estes
estão maioritariamente voltados para encargos fiscais e económicos, de resto
como anteriormente referimos. A ter em conta do exposto, fica sem dúvida, a
importância do direito de "portagem", que traduz significativamente
todo o controlo régio sobre a transação dos produtos e o seu comércio. A área
fiscal tem um peso a ter em conta, sobretudo no que diz respeito a áreas com
potencial produtivo, ao gado e ao comércio.<span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-36488367013600053312014-06-20T06:37:00.001-07:002014-06-20T06:37:37.080-07:00Lanhoso e San Joan de Rey: novos forais venturosos (6)<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Nos mais de
60 forais que D. Manuel outorgou na região de entre Douro e Minho,
consagram-se<span> </span>um conjunto de
direitos a pagar ao rei. Daí que muitos investigadores reduzam os forais quase
a uma reforma fiscal e a recolha de registos das propriedades régias e dos que
se reportavam aos bens incluídos na esfera senhorial. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">No entano,
os forais são importantes no que se refere à Justiça, em que a primeira pena
comum a toda é a pena do foral. A pena é aplicada a quem se opuser ao foral. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Como pena
pessoal, sofre o degredo para fora da cidade durante um ano. Como pena
jurisdictional perde ofícios associados aos respetivos direitos. E, em
terceiro, se alguém cobrar acima do valor estipulado, por cada trinta reais
paga um real a quem cobrou o excesso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Depois existem
as penas de arma em conjunto com a pena de sangue, ou seja, condenação, multa
ou coima àqueles que espancam, ferem ou matam alguém (por acções e injuries). </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Da pena de
arma ficavam isentos o moço com idade igual ou inferior a 15 anos, a mulher de
qualquer idade; aqueles que ao castigar a sua mulher e os seus filhos, escravos
e criados provocassem sangue, os que sem armas ferissem alguém, os que em
legítima defesa, ou os que ajudavam a apartar quem se envolvesse em lutas,
usando armas e escravo que faça sangue à pedrada ou à paulada.<span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;"><span> </span>Depois temos direitos só existentes no
Minho, como é o direito de coima pela injustiça, injúria ou afronta cometida. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O direito da
pensão cobrada aos tabeliães que servem nas diferentes localidades é outro foro
com grande expressão na documentação do Entre Douro e Minho. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Os forais
novos permitem-nos conhecer economia minhota de quinhentos, uma vez que as
principais cláusulas dizem respeito a terrenos maninhos, a gado e a produtos em
circulação, muito rentáveis para os cofres reais.<span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">É o caso do
gado do vento, sem dono ou pastor, que vagueava pelos montes e maninhos.
Sabe-se que este gado era apregoado durante um ano e se nesse período
aparecesse o dono, este era-lhe entregue. A pessoa que encontrasse este gado
tinha dez dias para o declarar, pagando multa se não o fizesse. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A
fiscalidade prestava grande atenção ao maninho, deserto, inculto, baldio ou sem
dono porque<span> </span>eram indevidamente
apropriados pelos senhores para uma maior produtividade. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">No foral de
Lanhoso, os maninhos que eram dos reguengos seriam do senhorio e seriam dados quando
vagassem sem herdeiro, pelo foro que tanto o foral como a sentença respetiva
definiam. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">(cf. DIAS,
Luís Fernando de Carvalho - <i>Forais Manuelinos do Reino de Portugal e do
Algarve</i>, conforme o exemplar do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Lisboa...
p. 48). </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O montado é
outro direito com expressão nos forais de Lanhoso e<span> </span>de S. João de Rei, bem como outras terras vizinhas como
Terra de Bouro, Monte Longo, Ribeira de Soaz, Terra de Entre Homem e Cávado,
Terra de Vieira, Celorico de Basto — só para falar de vizinhos – contemplam
este direito.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Ao direito
de montado estavam sujeitos os donos de gado bovino e ovino cujos animais
aproveitavam terrenos para pastar, de domínio senhorial. <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiZib77Q8R8NaPqv0xsYQcSusOjFEnaIGRWMOfyXosw1q3UCRO1S4aCUL7IKYFE3PdEntugCiJgsBYD2wMaIi23_xB2-F66igw1Ml8XDLDq4Akak1kkYn9Q9BOgP940buamAFNqukTYGb0/s1600/04mf.p04.foto01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiZib77Q8R8NaPqv0xsYQcSusOjFEnaIGRWMOfyXosw1q3UCRO1S4aCUL7IKYFE3PdEntugCiJgsBYD2wMaIi23_xB2-F66igw1Ml8XDLDq4Akak1kkYn9Q9BOgP940buamAFNqukTYGb0/s1600/04mf.p04.foto01.jpg" height="222" width="320" /></a></div>
Este tributo
era pago em espécie. Em Castro Laboreiro, os gados do reino, não estavam
sujeitos a qualquer tipo de montado. Na terra de Bouro, os montados são dos
moradores da terra e pore les explorados como quiserem. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A circulação
dos produtos e a sua transação geravam grandes rendimentos para a Coroa.
Porquê? Na Idade Média não existia a livre passagem. Pagava portagem, imposto
indireto sobre a compra e venda de mercadorias. Era o eficaz controlo real
sobre a produtividade e a sua comercialização. Semelhante ao<span> </span>actual IVA, a carga maior corresponde à
levada por cavalos, a menor à carga dos burros, às costas é metade da carga
menor. Era mencionado o valor a cobrar pela carga maior, a dos burros custa
metade, e às costas custa metade da anterior. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">É notória a
quantidade de produtos sob apertado controlo </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Alfandegário.
Incluem bens alimentares (como peixe, cereais, vinho, azeite fruta, entre
outros), têxteis (couros, panos, linho), instrumentos domésticos (desde
tijelas, vassouras, panelas), ferro, especiarias, bem como o gado vivo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A avidez
real poupava de imposto o pão cozido, queijadas, biscoito, farelos, ovos, leite
ou qualquer produto derivado deste que não leve sal, prata lavrada, pão do
moinho, canas, vides, palhas, vassouras, pedra, barro, erva, carne vendida a
olho, pano fiado ou por fiar, panos e jóias que se emprestavam para celebração
de um casamento. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Isentos
estavam os moradores da vila que herdavam bens móveis ou frutos proporcionados
por bens de raiz e aqueles que no dia do seu casamento tivessem recebido
prendas. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Também não
pagavam portagem os bens que circulavam entre a vila e o seu termo,
transportados ao serviço do rei, os farnéis dos peregrinos e<span> </span>respectivos animais de transporte e o
gado à procura de pasto. <span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">As
mercadorias que viessem de fora não podiam ser </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">descarregadas,
sem primeiro avisar o oficial da portagem. Se este indivíduo não estivesse em
sua casa, uma testemunha conhecida de ambas as partes, verificava as
mercadorias e as bestas que as carregam. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Em princípio
a taxa cobrada era de um por cento, mas existem outras portagens, como a do
vinho,<span> </span>era pago em espécie, assim,
de cada carro carregado ficariam seis canadas. Se este fosse carregado no dorso
de animais, pagaria duas canadas por besta cavalar ou muar e pela carga menor
canada e meia. As cargas das nozes e castanhas (seis reais); Sal (um real), por
exemplo. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Os forays
mostram também como o povo e os comerciantes eram fustigados com impostos, em
contraponto com um conjunto de privilegiados no que toca ao
pagamento da portagem. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O capítulo
sobre os privilegiados – na maioria dos forais —isenta as pessoas eclesiásticas
de todas as igrejas e</span><span style="font-size: large;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Times New Roman";"> mosteiros, homens ou
mulheres, que fazem voto de profissão</span></span></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-16007550005256942342014-06-20T06:33:00.003-07:002014-06-20T06:33:58.065-07:00Lanhoso e San Joan de Rey: novos forais venturosos (5)<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}@font-face {
font-family: "TimesNewRomanPSMT";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A carta de
foral assemelha-se a um acordo, entre, por um </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">lado, a
autoridade que a outorga e que aí exerce alguma forma de jurisdição, e, por
outro, a comunidade de habitantes aí instalada, o que faz dela um documento
estável e valioso. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O foral
carateriza-se por determinados elementos essenciais. É uma carta testemunhada
pelas partes envolvidas, que estabelece os princípios funcionais de uma
determinada povoação; é orientadora e sistematizadora de condutos sociais e
institucionais; é norma aceite por uma população de um aglomerado social.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Aplica-se em
determinados limites territoriais, refere-se às relações pessoais e
económico-sociais internas dos moradores entre si, e da entidade outorgante com
estes.<span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O conteúdo
de cada foral não é, em muitos casos, original, na medida em que estes
documentos se inscrevem em modelos que inspiram a sua orientação. Na maioria
das vezes, o mesmo texto-matriz é usado em mais do que um foral, consoante a
zona a que se reporta. Esta situação aconteceria devido às afinidades que
existiriam entre os diferentes núcleos concelhios. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Os forais
são documentos muito antigos no reino de Portugal, estando já documentados
desde a fase do Condado Portucalense e em alguns casos, até mesmo
anteriormente, desde o reinado de Fernando Magno, em meados do séc. XI, tendo
em conta que se conhecem exemplares outorgados a localidades que se situam no
atual território português. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Os primeiros forais concedidos tiveram como
principais objetivos o fomento do
povoamento das terras conquistadas aos Mouros, mas também, nas terras que já
haviam sido tomadas, a definição de direitos e deveres dos habitantes de uma
terra para com a entidade outorgante, assim como, a determinação de alguns
aspetos do direito local. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">D. Manuel
foi um rei centralizador, inovador, e reformador, de acordo com as palavras do
seu mais recente biógrafo. Aquando da sua morte deixa um reino diferente
daquele que conhecera durante a sua vida. Procedeu a inúmeras reformas, tanto
no plano interno como no externo, sem, com tal, pôr em causa a sua casa e os
seus súbditos. Não se limitou simplesmente a receber uma enorme herança, como
foi também um continuador ativo das políticas que foram desencadeadas pelos
seus </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">antecessores.
Como foi já referido, há nas suas políticas um caráter reformista, assim como
inovador. Algumas das intervenções por si efetuadas são de uma grande
profundidade, subsistindo algumas delas com fortes traços até aos nossos dias.
Como refere José Manuel Garcia, (...) estamos perante um dirigente que levou a
cabo um ambicioso e vasto conjunto de reformas, bem revelador da sua
preocupação em criar um Estado moderno, com uma gestão eficaz que pudesse
assegurar o progresso possível nas condições de vida das suas gentes, como
destaca o estudo de Diogo Freitas do Amaral (in <i>D. Manuel I e a Construção do
Estado Moderno em Portugal</i>. Lisboa, Edições Tenacitas, 2003, p. 13. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Na linha de
pensamento deste autor, assiste-se no reinado de D. Manuel I, a passagem de um
Estado medieval, para um Estado dito Moderno, tendo na figura do monarca o seu
protagonista. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A cronologia
do período em análise é compreendida entre os anos de 1511 (foral da Vila de
Ponte de Lima) e 1520 (foral da Terra de Celorico de Basto), correspondendo à
data do primeiro e último foral a ser outorgado para a região do Entre Douro e
Minho. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O proémio do
foral novo da cidade de Lisboa, redigido por Damião de Góis, é o exemplo maior
das motivações e objetivos que D. Manuel definira para a reforma destes
documentos e seu respetivo enquadramento: </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;"><span> </span>"(...) <b>que vendo nós quomo offiçio
do Rei não he outra cousa senão Reger bem e governar seus subditos em Justiça,
e Igualdade ha qual não he somente dar ha cada hum ho que seu for mas aJnda não
leixar acquirir nem levar nem tomar ha ninguem senão ho que a cada direitamente
pertençe e visto Isso mesmo quomo ho Rei he obrigado por ho carrego que tem nas
cousas em que sabe seus vassalos Reçeberem aggravos e males lhes tolher, e
tirar posto que pollos dapnificados requerido não seja querendo nós satisfazer
no que a nós for poçível com ho que somos obrigados vindo a nossa noticia que
asim na nossa çidade de lisboa quomo em muitos lugares de nosso Regnos, e
senhorios por serem hos foraes que tinham de mui longos tempos e hos</b></span><b><span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;"> nomes das
moedas, e jntrinsico valor dellas se nom conheciam, e por asim nom poderem ser
entendidos asim por muitos delles estarem em latim, e outros em lingoagem
antiga, e desacustumada se levava e pagava por eles ho que </span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;"><b>verdadeiramente
se não devia pagar, e querendo todo Remediar quomo com toda clareza e verdade
se faça</b> (...)". </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Deste
trabalho, podemos reter que os 63 forais no entre Douro e Minho revelam que, em
cerca de um terço das localidades, há informação sobre a cobrança legítima de
direitos senhoriais. Por outro lado, e com menor expressão, são registados os
direitos concelhios propriamente ditos. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Esta
situação, embora possa causar fortes interrogações, pode explicar-se tendo em
conta sobretudo duas questões. A primeira delas, a tardia cronologia de
concessão destes documentos, altura em que o funcionamento governativo, de
pendor administrativo e fiscal, dos municípios já se encontrava internamente
assumido e regulamentado, em simultâneo, por diretivas legislativas constantes
nas ordenações do reino. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A sublinhar a relevância desta circunstância, não podemos
menosprezar a aceitação in loco de normas de conduta comunitárias, muitas
vezes, reconhecidas por práticas
consuetudinárias. Por sua vez, a segunda explicação reside na entidade que
outorga o foral, ou seja, o monarca. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Neste sentido, importava, acima de tudo,
explicitar a propriedade e os direitos que a coroa possuía nos diferentes
locais, bem como clarificar os direitos senhoriais. Como já sublinhou Maria
Helena da Cruz Coelho, os senhorios seriam de muito mais difícil controlo do
que os próprios municípios, onde a atuação de diferentes oficiais régios (como
corregedores e juízes de fora) ajudariam a garantir a tutela do monarca. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-71248206442163543342014-06-20T06:31:00.000-07:002014-06-20T06:31:15.667-07:00Lanhoso e San Joan de Rey: novos forais venturosos (4)<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXgAACjtsTawoiogX_D4DdTVQlCvFi3JLUD4pkwqnyjYWkgG_u5hyphenhyphenGDtDsejaJr04VIIHR1D9MZjuftNA_ur-BSxbZNGMylc8xofEaiVhyphenhyphen1QcG0Gock8nULuRU1E5LOuIJCafL9I82DqmW/s1600/D.+Manuel+Foral.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhXgAACjtsTawoiogX_D4DdTVQlCvFi3JLUD4pkwqnyjYWkgG_u5hyphenhyphenGDtDsejaJr04VIIHR1D9MZjuftNA_ur-BSxbZNGMylc8xofEaiVhyphenhyphen1QcG0Gock8nULuRU1E5LOuIJCafL9I82DqmW/s1600/D.+Manuel+Foral.jpeg" height="320" width="227" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A partir de
determinada altura, em meados do século XV, os antigos forais, muitos deles
datados dos tempos dos reis Dom Afonso Henriques, Dom Afonso III e Dom Dinis,
estavam sujeitos a interpretações erradas e falsificações grosseiras. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Um dos casos era o concelho
Povoa de Lanhoso que, em 1292, recebe o foral que institui o concelho.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Esta Carta de Foral
"<b>conduziu ao desejado povoamento e desenvolvimento sócio-económico</b>"
das terras de Lanhoso, o que se confere pela própria Carta de Feira que o
concelho detém já em 1416.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Por imperativos sociais,
económicos e jurídicos, foi necessário adequar o texto dos forais antigos, o
conjunto das leis que pretendiam regular não apenas as suas atividades, como a
respectiva proteção, a moralização de costumes e as novas necessidades ou
realidades fiscais, que no caso de Lanhoso tinha já 220 anos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Há 500 anos, surgiram então
os Forais Novos de Póvoa de Lanhoso, pela mão de D. Manuel I,<span> </span>para conseguir a "<b>renovação
legal</b>" daquela comunidade, reafirmando direitos e deveres, reconhecendo-se
benefícios e obrigações, valorizando propriedade e propriedades, vincando-se
costumes e tradições.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">A carta de foral que originou
o Concelho de Lanhoso (pensa-se que o nome seria Terras de Lanhoso), foi
ortografo em 25 de Setembro de 1292, na cidade de Coimbra por el-rei D. Dinis.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Em traços muito gerais, um
foral, fornece uma autonomia à terra que ele pretende beneficiar e as pessoas
que lá fazem a sua vida.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Na Carta de Foral estão
explicadas claramente os benefícios que a população podem usufruir, as
obrigações, as garantias, não só para as pessoas que vivessem naquele tempo,
mas para as gerações futuras, que lá viessem viver. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">As garantias sobre bens e
propriedades privadas, estão também definidos no documento. São também
referidos os crimes, e quais os castigos, que devem ser aplicados a esses
mesmos crimes.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Tendo as Terras de Lanhoso
recebido o Foral em 1292, com o passar dos anos existiu uma evolução e
naturalmente o foral de 1292 foi ficando algo desactualizado.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="color: red;">
<span style="font-size: x-large;"><span style="font-family: Times;">Porquê </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="color: red;">
<span style="font-size: x-large;"><span style="font-family: Times;">um
novo </span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="color: red;">
<span style="font-size: x-large;"><span style="font-family: Times;">Foral?</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Muitas das
interpretações erradas e abusos apontados pelo povo, derivavam das naturais
dificuldades de leitura, pois esses forais estavam escritos em latim ou
português bárbaro.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Outros
estavam em mau estado de conservação, outros por desuso de palavras e formas,
escritos com caracteres paleográficos de difícil leitura contribuíam para que
houvesse uma má interpretação do texto em si. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A maioria
esmagadora dos utentes e beneficiários dos forais já não conseguia ler de
boa-fé o que lá estava escrito em forma redonda de lei, nem estipular a
cobrança dos direitos e portagens numa guerra sem fim.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Os povos
insurgiam-se contra os abusos, voluntários ou involuntários, cometidos à sombra
dos velhíssimos forais. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Devido aos
sucessivos requerimentos e queixumes das populações, Dom Manuel I, como monarca
inovador e reformador, resolveu proceder à reforma dos forais, por ser «<b>couza
muy proveitosa</b>». </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Nessa ocasião o monarca afiançava:</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;"> «... <b>que
vendo nós quomo offiçio do Rei não he outra cousa senão Reger bem e governar
seus subditos em Justiça, e Igualdade ha qual não he somente dar ha cada hum ho
que seu for mas aJnda não leixar acquirir nem levar nem tomar ha ninguem senão
ho que a cada direitamente pertençe e visto Isso mesmo quomo ho Rei he obrigado
por ho carrego que tem nas cousas em que sabe seus vassalos</b>».</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">No
território do actual concelho da Póvoa de Lanhoso existia então outra unidade
administrativa: o concelho de S. João de Rey.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Os primeiros documentos
falam-nos do concelho de S. João de rey em meados do séc. XI: as Inquirições de
1053.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">O chamado Foral Velho, de
1228, é o mais importante e antigo diploma referente a esta freguesia. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">D. Afonso Henriques inscreveu
a localidade no domínio do Mosteiro de Santa Maria do Bouro, e D. Manuel
concedeu-lhe novo foral com data de 25 de Fevereiro de 1514. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Em 1706, este concelho de São
João de Rei, integrado na Comarca de Guimarães, tinha um juiz, dois vereadores,
um procurador por eleição trienal do povo, almotacéis, quatro tabeliães e
outros oficiais. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">O Almotacé é um oficial
municipal responsável pela fiscalização de pesos e medidas e da taxação dos
preços dos alimentos. Era também encarregado da regulação da distribuição dos
alimentos em tempos de maior escassez. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-29230122851429181272014-06-20T06:28:00.001-07:002014-06-20T06:28:30.647-07:00Lanhoso e San Joan de Rey: novos forais venturosos (3)<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ8wmTXVMPmELD__rqLZcST6saID121uww1T8Gqu7VvXvhRTGzdt2l2DZlLW01Bcdgub4NpTH8A1EfTKz2QJUjDBWqPBFiNQd62eUkGhfVQY7dK7cVS7T-up3uGYj8mBReUyYcfIpB2xeU/s1600/21.mf.p04.foto01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ8wmTXVMPmELD__rqLZcST6saID121uww1T8Gqu7VvXvhRTGzdt2l2DZlLW01Bcdgub4NpTH8A1EfTKz2QJUjDBWqPBFiNQd62eUkGhfVQY7dK7cVS7T-up3uGYj8mBReUyYcfIpB2xeU/s1600/21.mf.p04.foto01.jpg" height="320" width="290" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Entre as
reformas profundas desenvolvidas pelo rei D. Manuel I, o Venturoso, a que
arrancou primeiro foi a dos forais, uma vez que antes de Maio de 1496, já tinha
constituído uma comissão encarregue desta tarefa gigantesca.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A Comissão
integrava o chanceler-mor, um desembargador e Fernão de Pina, filho do cronista
–mor do Reino.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Trata-se de
um empreendimento de grande fôlego que se prolongou por todo o reinado
manuelino com o objectivo de modernizar e uniformizar a administração local. O
rei queria uniformizar o sistema de pesos e medidas, dada a existência de
vários sistemas que só confundiam o povo e proporcionavam actos obscuros de
prepotentes dos senhores e funcionários do Reino.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A tarefa
começava por consultar os documentos que regulavam a vida dos municípios desde
a sua criação pelos antigos reis, desde a fundação do Condado Portucalense.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Fernão de
Pina visitou a maioria das localidades, para ouvir os povos e realizar
inquéritos. Até 1520 foram reformados 589 forais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A
morosidade do processo incomodava o rei que via nesta reforma um reforço do seu
poder. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A pressa do rei fez com que estes forais novo se transformassem quase
“<b>exclusivamente em pautas alfandegárias, perdendo<span> </span>carácter político e difereciador que é a base do poder
local</b>” (cf. MARTINS, Manuela de Oliveira e MATA, Joel Ferreira, “<b>Os Forais
Manuelinos</b>”, <i>Revista de Ciências Históricas</i></span><span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">, Porto, Univ. Portucalense,<span> </span>1989, vol. IV).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Há
precisamente 500 anos, todas as novas ordenações eram publicadas em cinco
volumes que deixaram o rei insatisfeito. O processo prosseguiu até 1521, com
nova publicação global.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Uma das
maiores conquistas destas novas ordenações resulta do apego do rei D. Manuel à
Língua Portuguesa que se afirmava nesta época dos Descobrimentos. Elas acabam
por contribuir para “<b>eliminar o Latim da vida quotidiana, ainda que continuasse
a ser a língua de comunicação da elite europeia, nas universidades</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">No
seguimento da edição dos novos forais, D. Manuel escreveu a muitas cidades e
vilas do reino aconselhando-as a criar Misericórdias. O apelo foi bem sucedido
e no seu reinado foram criadas mais 69<span>
</span>e apenas Trás os Montes e as Beiras não tinham estas Irmandades quando o
rei faleceu. Revolucionava-se assim a assistência aos doentes e aos pobres do Reino,
em tempos de grandes epidemias.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Como referios
já, os forais manuelinos, ou “<i>forais novos</i>”, perderam o seu pendor legislativo,
jurídico e administrativo e passaram a resumir-se a meras cartas de
fiscalidade, fixando tributos e impostos a pagar ao Rei ou aos Senhorios por
parte das populações. Todos eles incluíam uma tabela de “<i>portagens</i>” a pagar em
cada concelho.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Integrados
na política reformadora de centralização do poder e de modernização do reino
levada a cabo por D. Manuel, estes diplomas convertem-se em indicadores e guias
da tributação municipal, deixando de ser instrumentos de garantia das
liberdades das populações, como haviam sido nos primeiros séculos da
nacionalidade. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">De todos os
forais foram feitos três exemplares: um para os arquivos da Torre do Tombo,
outro para a Câmara do respectivo concelho e outro para o senhor da terra.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Salvo
honrosa excepções, um Foral constava de cinco folhas e dez páginas, é um
documento “normalizado”, que se podia<span>
</span>aplicar a outro qualquer concelho. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Muitas das
determinações nele constantes, estão, ipsis verbis, em documentos congéneres de
povoações vizinhas. Poucas são as informações concretas que nos permitem
identificar pessoas e lugares, ou caracterizar a economia e a sociedade da
época. Sabe-se, todavia, que o Senhor das terras de Monte Longo na altura era
Pero da Cunha e que já seu pai detivera neste território o senhorio dos
direitos reais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Apesar
disso, como sublinha o Francisco Ribeiro da Silva (Universidade do Porto), “<b>os
forais constituem uma fonte importante para o conhecimento do passado dos concelhos,
mesmo que aparentemente sejam breves e simples</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">A carta de
foral era um diploma régio de direito público, usada para cimentar a autonomia
municipal, baseada nos foros e costumes de cada terra, a qual era concedida de
maneira espontânea pelo soberano ou, então, a pedido dos moradores, embora os
bispos, ordens religiosas, ordens militares e senhores feudais também tivessem
a mesma prerrogativa. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O rei, com
a sua autoridade legítima, outorgava, assim, um documento destinado a regular a
vida colectiva, económica, fiscal, social e judicial duma povoação, passando a
ser a lei orgânica dessa comunidade de homens bons e livres.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-50256932685803991802014-06-20T06:25:00.001-07:002014-06-20T06:25:51.921-07:00Lanhoso e San Joan de Rey: novos forais venturosos (2)<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVvdNfLr-NYDzDOmh8a5C9eJVbztHkwmgTeo-svUttqJqABIKADjSsIJ_96jNY0omGcnEqifelaOucJQZXwyZwjRc_h45H-S2Bw9ke2xyx_vt7CeK3NZaQlxqTZgh_9EkjJ2p0Y-dQ5wCX/s1600/07mf.p04.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVvdNfLr-NYDzDOmh8a5C9eJVbztHkwmgTeo-svUttqJqABIKADjSsIJ_96jNY0omGcnEqifelaOucJQZXwyZwjRc_h45H-S2Bw9ke2xyx_vt7CeK3NZaQlxqTZgh_9EkjJ2p0Y-dQ5wCX/s1600/07mf.p04.jpg" height="320" width="258" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Com Dom
Manuel começa o segundo fôlego da dinastia de Avis, marcada pelo controlo da
nobreza cujos apetites de riqueza e poder eram insaciáveis.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Ele opôs-se
ferozmente à união da s casas de Viseu e de Bragança, mesmo contra os seus
familiares, como era o seu tio D. Fernando. No seu reinado apenas criou uma
casa titular, o condado de Borba.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Recomposta
a nobreza titular, através da restauração do ducado de Bragança e o condado de
Faro, sediado em Odemira, o rei iniciou uma política de apaziguamento do
território.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Entretanto,
sucediam-se os sucessos marítimos com a descoberta do Caminho Marítimo para a
Índia e do Brasil.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Era tempo
do monarca olhar para dentro. D, Manuel começa a viajar pelo pais, tendo
visitado localidades que nunca tinham recebido o Rei de Portugal, como fora o
caso de Valença do Minho, em 1483.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Damião de
Góis, (cf. <i>Crónica do Felicíssimo rei D. Manuel</i>, Universidade de Coimbra, 1949
a 1955), escreve que o soberano, “<b>em algumas vilas. mandou fazer justiça
rigorosa de pessoas em que até aquele tempo não se pudera fazer execução, pela
muita valia e parentesco que tinham naqueles lugares</b>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O rei dava mostras do
seu poder pessoal, aparecendo nas localidades de forma anónima e discreta,
durante uma viagem até Compostela.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O reinado
de D. Manuel caracterizou-se por intensa actividade, ao ponto de Góis afirmar
que o rei, às sextas-feras “<b>ia sempre ouvir os presos e ser presente ao dar das
sentenças, e isto sem nunca faltar</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O rei
realizava frequentemente audiências públicas em que receba "<b>todos os que lhe
queriam falar</b>”, acompanhado sempre de um escrivão e um vedor da Fazenda.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Acresce que
o monarca trocava correspondência com centenas de súbditos do reino e há provas
de que o rei “<b>acompanhava de perto os assuntos, que lia de facto as cartas que
lhe eram endereçadas e que intervinha, as mais das vezes, na redacção das
respostas</b>” (cf. COSTA, João Paulo Oliveira,<i> D. Manuel I</i>, ed. Círculo de
Leitores, Lisboa, 2005, pp. 100-144).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O rei era
um mouro de trabalho e Damião de Góis refere-se a ele como um homem “<b>de tão
pouco sono que por mui tarde que se lançasse, se alevantava sempre antes do sol
saído se o não estorvava alguma má disposição</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Entre 1505
e 1509, D. Manuel fez a maior viagem pelo país, quando Lisboa era duramente
fustigada pela peste, com ponto de partida em Almeirim. O rei respondia à
criticas do povo de sedentarização da Corte. A única região que D. Manuel não
terá visitado foi Trás-os-Montes.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">No Minho
esteve durante o ano de 1502, aquando da viagem que fez a Santiago, fazendo com
que o rei conhecesse bem o país e o que o povo pensava.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">É este
conhecimento que torna D. Manuel I um agente redistribuidor da riqueza,
administrador da justiça e defensor dos seus súbditos, ao assegurar a
convivência harmoniosa entre eles.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Nesse
sentido promoveu a elaboração de novos tombos e cadastros e a reforma das
instituições feudais e assume-se como um príncipe do Renascimento. Ele não
queria ser apenas o rei da especiarias que se consumia em beatarias e em
sumptuosidades.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Por isso,
desencadeia um longo e laborioso trabalho de normalização administrativa dos
forais, grande parte deles desactualizados e desrespeitados, para reformular
instituições concelhias de apoio à saúde e combate à pobreza.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Devido aos
sucessivos queixumes das populações, nas Cortes, Dom Manuel I, monarca inovador
e reformador, procede à reforma dos forais, por ser «<b>couza muy proveitosa</b>». </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Para D.
Manuel I, o ofício do Rei “<b>não he outra cousa senão Reger bem e governar seus
subditos em Justiça, e Igualdade</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Para ele,
os conceitos de Justiça e Igualdade – tão actuais que são, não é? —<span> </span>“<b>não he somente dar ha cada hum ho que
seu for mas ajnda não leixar acquirir nem levar nem tomar ha ninguem senão ho
que a cada direitamente pertence</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Ao mesmo
tempo que reforçava o seu poder, D. Manuel assumia-se como “<b>governante justo
que procurava assegurar a harmonia social e a prosperidade económica, enquanto
promovia o alargamento da cristandade</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Aliás, há
historiadores (como Fernando Baptista Pereira) que traçam os limites da sua
ambição: “<b>ser um rei-sacerdote, justo e bom, espelho e Salomão, verdadeiro
Preste João do Ocidente</b>” como incansável construtor de “<b>paços, igrejas e
mosteiros</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">Também não
se pode afirmar que os forais novos tenham pouca importância neste reinado. D.
Manuel, logo que foi entronizado rei, enviou corregedores por todo o país com
alçada até à morte, demonstrando assim a sua intenção de “<b>colocar todos os
súbditos sob a alçada da Justiça, a que não escapavam os próprios magistrados</b>”
até porque “<b>os que achou culpados mandou castigar</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Times; font-size: 18pt;">O rei pretendia
que a Corte tivesse uma imagem tão real quanto possível do reino, com
realização de tombos de todas as capelas, confrarias e Igrejas, atribuindo-lhes
responsabilidades no tratamento de doentes, reforçando as Misericórdias lanças
por D. Leonor. Exemplo desse esforço é a promoção da construção do Hospital em
Braga, em 1508, realizada pelo arcebispo de Braga, que incorporava as rendas
das gafarias, dízimos das igrejas e bens das confrarias (como assegura MARQUES,
A. H., in <i>Nova História de Portugal</i>, Vol. V. Lisboa, Ed. Presença, 1998, pp.
442-443).</span></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-1168249221490750202014-06-20T06:20:00.001-07:002014-06-20T06:20:39.009-07:00Lanhoso e San Joan de Rey: novos forais venturosos (1)<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib-RuYW-4K-0wn8MXymPCRVf9XpDXEwJbQvvqtwEqEROkjt4gNhFzcjENQnQWyeOfkLEsEfHMmxziX0zHFC7PQDsF29zv0ydgp8hIUBZabkFLHdY5Mx8Kx6gilyJZcys7-r5J35SJRuYHO/s1600/02mf.p04.foto01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEib-RuYW-4K-0wn8MXymPCRVf9XpDXEwJbQvvqtwEqEROkjt4gNhFzcjENQnQWyeOfkLEsEfHMmxziX0zHFC7PQDsF29zv0ydgp8hIUBZabkFLHdY5Mx8Kx6gilyJZcys7-r5J35SJRuYHO/s1600/02mf.p04.foto01.jpg" height="320" width="284" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">No passado 4 de Janeiro
passaram 500 anos da renovação da Carta de Foral do Concelho de Lanhoso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Também o antigo concelho de
São João de Rei (25 de Novembro), este já extinto e integrado no concelho de
Lanhoso (a 31 de Dezembro de 1853). Estes acontecimentos inspiram-nos a recordar alguns factos e pessoas que marcaram a história
das terras da Maria da Fonte.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Não nos fixaremos apenas no
passado mas quando o fazemos, será sempre com o objectivo de<span> </span>contribuirmos para amar mais e melhor
esta terra, porque ninguém ama aquilo que não conhece. Georg Sand defendia que
“<b>não é com os livros que se deve ensinar, é com a memória e com a razão</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Os novos forais manifestam o
respeito de Dom Manuel I de Portugal (nascido a 31 de Maio de 1469 e falecido
em Lisboa, 13 de Dezembro de 1521) por estas terras dominadas pelo Castelo de
Lanhoso, até então. Já idêntica homenagem tinha sido feita por D. Dinis, em
1292, ao fundar este concelho.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">O 14.º Rei de Portugal,
cognominado O Venturoso, pelos factos felizes que o levaram ao trono e pelos
que ele protagonizou, proporcionou a esta terra momentos afortunados para quem
hoje dá vida e trabalha ou viaja na Póvoa de Lanhoso. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">D. Manuel I ascendeu ao trono
em 1495 e prosseguiu as explorações marítimas portuguesas iniciadas pelos seus
antecessores, o que levou à descoberta do caminho marítimo para a Índia, do
Brasil e das ambicionadas "<i>ilhas das especiarias</i>", as Molucas,
determinantes para a expansão do império português. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">No seu reinado, apesar da sua
resistência inicial, cumprindo as cláusulas do seu casamento com Dona Maria de
Aragão, autoriza a instalação da inquisição em Portugal. Com a prosperidade
resultante do comércio de especiarias, realiza numerosas obras cujo estilo
arquitectónico ficou conhecido como manuelino.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Um dos marcos do seu reinado
são os Forais Novos de Dom Manuel e na Região do Minho começaram a ser
assinados em 1511 (Ponte de Lima concedido a 11 de Junho de 1511) e encerram
com o privilégio dado a Celorico de Basto (29 de Março de 1520). </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Contudo, a reforma dos forais
decorreu entre os anos de 1497 e 1522, abarcando as comarcas provinciais:
Dantre Douro e Minho (Entre-Douro-e-Minho), Trallos Montes ou d’Alem Douro
(Trás-os-Montes), Beira, Estremadura, Dantre Tejo e Odiana (Entre
Tejo-e-Odiana) e Algarves.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Uma carta de foral, é um
documento concedido, pelo rei, ou por senhorios leigos ou eclesiásticos, e
contem regras para as populações que dele vão usufruir, que disciplinam as
relações dos seus habitantes.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Em 2014, passam 500 anos da
renovação das cartas de foral do Concelho de Lanhoso (04 de janeiro) e do
antigo concelho de São João de Rei (25 de dezembro), este já extinto e
integrado no município de Lanhoso a 31 de dezembro de 1853. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">É uma celebração
dupla, a qual permite ao Município dizer que a Póvoa de Lanhoso vai viver todo
este ano sob o signo do século XVI, com iniciativas programadas para todos os
meses.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">É um belo propósito
municipal: a partir de reformas que aconteceram no século XVI, preparar o
futuro no presente que é hoje.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">A carta de foral era um
diploma régio de direito público, que cimentava a autonomia municipal, baseada
nos foros e costumes de cada terra.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Carta era concedida de
maneira espontânea pelo soberano ou, então, a pedido dos moradores, embora os
bispos, ordens religiosas, ordens militares e senhores feudais também tivessem
a mesma prerrogativa. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">O rei, com a sua autoridade
legítima, entregava a uma terra um documento destinado a regular a vida
colectiva, económica, fiscal, social e judicial, passando a ser uma
Constituição dessa comunidade de homens bons e livres.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">No século XVI, os povos
insurgiam-se contra os abusos, voluntários ou involuntários, cometidos à sombra
dos velhíssimos forais. Recordemos que o concelho de Póvoa de Lanhoso fora
criado por foral de D. Dinis, em 25 de setembro de 1292.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Devido aos sucessivos
queixumes das populações, nas Cortes de Coimbra (1472), Évora (1481) e de
Montemor-o-Novo (1495), Dom Manuel I, monarca inovador e reformador, procede à
reforma dos forais, por ser «<b>couza muy proveitosa</b>». </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Para D. Manuel I, o ofício do
Rei “<b>não he outra cousa senão Reger bem e governar seus subditos em Justiça, e
Igualdade</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Para ele, os conceitos de
Justiça e Igualdade – tão actuais que são, não é? —<span> </span>“<b>não he somente dar ha cada hum ho que seu for mas ajnda não
leixar acquirir nem levar nem tomar ha ninguem senão ho que a cada direitamente
pertence</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">A propósito de vizinhanças,
no antigo concelho de Monte Longo (actual Fafe), o único foral foi outorgado
pelo Rei D. Manuel I em 5 de Novembro de 1513. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">No caso de Monte Longo, que
já existia desde pelo menos o século XI, o foral não criou o concelho, ao
contrário da Povoa de Lanhoso, em 1292. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">O respeito pelo passado é o
traço que distingue a instrução da barbárie; as tribos nómadas não possuem nem
história, nem nobreza, afirmava Alexander Puschkin, considerado o maior poeta
russo e pai da literatura daquele grande país. É para isso que estaremos aqui.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Quem está em festa?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Neste ano de 2014, outras
terras minhotas celebram meio milénio dos Novos Forais. São os casos de </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Souto Rebordoes, em Ponte de
Lima; </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Terras de Entre Homem e
Cavado (Amares); </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Terra de Penela, Vila
Verde;<span> </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Cabeceiras de Basto; </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Lalim e Vila Chã (Vila
Verde); </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Terra de Soajo (Arcos de
Valdevez); </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Couto de Vadim (Cabeceiras de
Basto); </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Terras de Bouro; </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Couto do Mosteiro de Bouro
(Terras de Bouro); </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Terra de Rossas (Vieira do
Minho); </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">S. João de Rei (Povoa de
Lanhoso, a 25 de Novembro) </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">e Terra de Vieira (do Minho);
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-63935456831780101792014-06-20T04:34:00.002-07:002014-06-20T04:34:43.670-07:00Almada Negreiros: profeta do moderno (fim)<div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}@font-face {
font-family: "Verdana";
}@font-face {
font-family: "Monaco";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }p { margin-right: 0cm; margin-bottom: 5.95pt; margin-left: 0cm; font-size: 10pt; font-family: Times; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
</div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Almada
Negreiros é um dos resultados mais felizes da colonização portuguesa, nascido
na Roça da Saudade (que outro nome havia de ser), na Ilha de S. Tomé, em pleno
equador, a 7 de Abril de 1893 – há 120 anos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsObvmRYTos5OHeXxc70YHhQJOeQi9YoMGjqyIscqUGtMjyixrTihfE8BalzjkJCjCE1nPQvigRobgbd457rfmKbtt6Khl3TtQTfavnyE9vMEpg21HG8Q1-aj094fdK1mOviDLowza5V00/s1600/AL49B0~1.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsObvmRYTos5OHeXxc70YHhQJOeQi9YoMGjqyIscqUGtMjyixrTihfE8BalzjkJCjCE1nPQvigRobgbd457rfmKbtt6Khl3TtQTfavnyE9vMEpg21HG8Q1-aj094fdK1mOviDLowza5V00/s1600/AL49B0~1.JPG" height="320" width="257" /></a></div>
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">A mãe era
uma santomense de 20 anos, Elvira Sobral, filha de um fazendeiro português e de
uma mestiça. O pai, António Lobo de Almada Negreiros, de Aljustrel, no
Alentejo, era jornalista, ensaísta e poeta que exercia<span> </span>cargo de administrador do concelho de
S. Tomé, que abrangia toda a ilha. José é o primeiro filho de ambos e foi
baptizado na ilha segundo o ritual católico. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Almada Negreiros nasce rodeado de
familiares com histórias fora do comum, a começar pelo avô materno, dono da
famosa Roça da Saudade, na parte alta da ilha e uma das mais ricas em café,
cacau e madeiras. O seu contributo para o desenvlvimento da ilha leva o rei D.
Luís a atribuir-lhe a comenda de mérito agrícola.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">A vocação
intelectual de Almada Negreiros vem do pai, jornalista em Ourique, funcionário
dos Correios e director de um diário em</span><span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"> </span><span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Lisboa
até ser nomeado Governador de S. Tomé, onde conhece Elvira e com ela se casa. O
pai de Almada é um dos organizadores<span>
</span>do Pavilhão das Colónias na Exposição Unversal de Paris, em 1900. A ele
se deve a primeira monografia dos costumes de S. Tomé.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">A harmonia
familiar é quebrada em 1896 quando a mãe Elvira morre no parto de uma menina. A</span><span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"> </span><span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">perda
da mulher é devastadora para o pai de Almada Negreiros que se refugia no
trabalho, viaja para Paris e deixa os filhos (José e o irmão mais novo) no Colégio
Jesuíta de Campolide em Lisboa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">José
aprende a viver com os seus próprios meios e manifesta incontrolável inclinação
para a escrita e para o desenho, fazendo caricaturas de professores e alunos.
Os padres reconhecem tanto o seu talento como as suas travessuras
extrovertidas. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Adora desporto e adora correr pelos longos corredores do
colégio, desafiando as proibições internas, ao ponto do director o repreender:
“<b>tenho trezentos e sessenta alunos e todos têm os olhos na cara, porque é que
só tu tens a cara nos olhos</b>?”</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Já naquela
altura, o rosto de José já é dominado por um olhar intenso e penetrante, saído
de olhos salientes e esbugalhados, como esgazeados que não deixam nenhum
interlocutor indiferente.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-22436247949741715632014-06-20T04:30:00.002-07:002014-06-20T04:31:41.889-07:00Almada Negreiros: profeta do moderno (02)<div style="font-family: "Trebuchet MS",sans-serif;">
<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}@font-face {
font-family: "Verdana";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }p { margin-right: 0cm; margin-bottom: 5.95pt; margin-left: 0cm; font-size: 10pt; font-family: Times; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
</div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">É verdade que é mais reconhecido
hoje pelas artes plásticas mas o grande triunfo de Almada Negreiros é o ter
conseguido extrair da sua época o seu estilo enquanto outros se limitaram a
tentar impor um estilo à sua época. Quantas vezes sucumbiram nessa caminhada
sisífica camusiana enquanto ele seguia o paradigma do renascimento.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">É no seguimento, sem ficar preso a
Leonardo da Vinci, que Almada Negreiros não abandona o rigor racionalista mas
dá largas à expressividade emotiva e poética na pluralidade de centros de
interesse e formas múltiplas.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Sendo vanguardista, Almada
Negreiros vai aos clássicos buscar os seus modelos, sejam gregos ou italianos
de Quatrocentos, para buscar a comunhão dos futuristas como Picasso ou Matisse.</span><span lang="EN-US"></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Na literatura, é em Almada
Negreiros que encontramos os sinais que anunciam a literatura surrealista com A
engomadeira, quase uma década antes do manifesto de Breton, com um texto
corrido sem pontuação, em Os saltimbancos anunciam a chegada de Jaymes Joice e
do seu Ulisses.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">No Teatro, Almada bebe em
Pirandello della Miranda mas antecipa as peças de Ionescu e de Beckett.</span><span lang="EN-US"></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Chega por hoje, para notarmos que
estamos perante um dos maiores criadores de sempre da cultura portuguesa?
Apesar de ser recebido de mãos abertas na Espanha e em França, ele optou sempre
por regressar a Portugal e aqui se fixar, em detrimento do sucesso que
granjeara além fronteiras.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirTIb6QIffpdbgIfNW9F5B0ThRHGNm7-v41oc20BqvBrikSNbIbLwSBmeFOII8kIF4VKPCXBACejzVVnpJhiGWh1DrCm0Ea3gLZhbRcFMVfASrOdbT6qfPMwME5X8_293C8lw8uVz4sjfp/s1600/almada-portalegre-coa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEirTIb6QIffpdbgIfNW9F5B0ThRHGNm7-v41oc20BqvBrikSNbIbLwSBmeFOII8kIF4VKPCXBACejzVVnpJhiGWh1DrCm0Ea3gLZhbRcFMVfASrOdbT6qfPMwME5X8_293C8lw8uVz4sjfp/s1600/almada-portalegre-coa.jpg" height="313" width="320" /></a></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">O seu país foi a sua missão porque
“<b>é preciso criar a pátria portuguesa no século XX</b>”, conforme repetiu tantas
vezes.</span><span lang="EN-US"></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">O seu país nunca se mostrou – nem
mesmo hoje – preparado para um criador da sua envergadura. Uns chamavam-lhe
demente, devido à extravagância das suas atitudes na juventude.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Em Manifesto Anti-Dantas e por
extenso foi violento nos seus ataques aos mandarins culturais, esse “<b>coio
d’indigentes, d’indignos, de cegos</b>” ou essa “<b>resma de charlatães e de vendidos</b>”
que “<b>só pode parir abaixo de zero</b>”. Essa violência valeu-lhe o isolamento, sem
críticas, sem divulgação, editores e público.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Acresce que o patriotismo de
Negreiros não se encaixava nos conceitos da monarquia, da República e do Estado
Novo. Para ele um povo completo é aquele que “<b>reúna no seu máximo todas as
qualidades e todos os defeitos. Coragem, portugueses, só vos faltam as
qualidades</b>” – escreveu no Ultimatum futurista.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Quando o Estado novo lhe
encomendou os frescos para as novas gares marítimas, Almada deixou de fora as
cenas do passado glorioso e escolheu tradições populares e o sofrimento da
gente miúda. </span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">O autodidactismo percebe-se na “<i>Histoire de Portugal par coeur</i>”
que parece um olhar ingénuo de uma criança. A ingenuidade e a infância eram
temas caros a Almada Negreiros. A primeira representa um estado de pureza em
que é possível a vida do poeta que se considerava um “<b>menino d’olhos de
gigante</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Renascer, reencontrar-se,
desaprender, reaver a ignorância, reaver a ingenuidade, recuperar a inocência,
aprender outra vez são ideias presentes nos textos de Almada, a começar em
“<i>Nome de guerra</i>”, uma obra fulcral da literatura nacional de novecentos.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Almada tentou mostrar sempre a
eterna candura de um incendiário inconsciente de o ser que “<b>larga a cidade
masturbadora, febril, / rabo decepado de lagartixa/ labirinto cego de
toupeiras, / raça de ignóbeis míopes, tísicos, tarados, / anémicos, cancerosos
e arseniados</b>” (cf. <i>Cena de Ódio</i>).</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Surpreender,
chocar e contrapor, com ironia no sorriso e a malícia do olhar era tão natural
como respirar para Almada Negreiros, a começar com o seu “<i>Manifesto
anti-Dantas</i>”. Esta sua divisa contra o conformismo que era personificado por
Júlio Dantas acaba por ser assimilada por todos os portugueses ao longo do
século passado, sempre que alguma polémica surgia.</span><span lang="EN-US" style="font-size: 10pt;"></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=1097502133400573739" name="_GoBack"></a><span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">É
com esse “<b>morra! Pim</b>” que Almada Negreiros foge a qualquer tentativa de
classificação – sempre redutora de um génio – seja ela de saudosista,
simbolista. Futurista, interseccionista, sensacionista, cubista,
expressionista, abstraccionista ou… nada disso e tudo isso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">A sua
personalidade versátil levou-o em busca de novas formas de expressão como as
múltiplas personalidades do seu Fernando Pessoa, com quem colaborou na
“<i>Orpheu</i>”, ao lado de Mário de Sá-Carneiro ou Amadeu de Santa-Rita.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">A sua
obsessão final foi a tentativa de unificar toda a produção artística, a partir
de parâmetros egípcios, gregos, bizantinos e florentinos que apontavam para a
eternidade e imutabilidade da arte, visível na análise aos painéis de S.
Vicente de Fora. Apogeu da pintura portuguesa do século XV, sob assinatura de
Nuno Gonçalves.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Ao
contrário de Pessoa, Almada Negreiros conhece a consagração popular em vida a
tal ponto que mesmo que os portugueses continuem sem conhecer a obra, a alma da
Almada foi por todos amada. Perdão, é por todos amada.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Ninguém
como ele sabia que “<b>nascer é vir a este mundo, não é ainda chegar a ser</b>” – como
escreveu em 1935 - até porque “<b>um cordão umbilical não se falsifica. Ou há ou
não há</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Almada
Negreiros é um dos resultados mais felizes da colonização portuguesa, nascido
na Roça da Saudade (que outro nome havia de ser), na Ilha de S. Tomé, em pleno
equador, a 7 de Abril de 1893 – há 120 anos.</span><span lang="EN-US" style="font-size: 10pt;"></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-88576423415003078252013-12-02T03:08:00.001-08:002013-12-02T03:08:48.002-08:00Almada Negreiros: profeta do moderno (1)<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2NJlbjr9LIWDms2BHjbGAPDi39fvVCAXOWqn-wazjBRPMBHW9lMUQcqreHUlIyHgFe7lZeg1hgKYGs2UMfYnpEnuhcOEV5C45kzAfBIo5M6WiIhPdlo8bOsQfQgw-i2g4LWc5X13ZxmIn/s1600/almada_negreiros_fam%25C3%25ADlia.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2NJlbjr9LIWDms2BHjbGAPDi39fvVCAXOWqn-wazjBRPMBHW9lMUQcqreHUlIyHgFe7lZeg1hgKYGs2UMfYnpEnuhcOEV5C45kzAfBIo5M6WiIhPdlo8bOsQfQgw-i2g4LWc5X13ZxmIn/s320/almada_negreiros_fam%25C3%25ADlia.JPG" width="257" /></a></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Aproveitamos este título de
Joaquim Vieira para iniciar uma série de crónicas sobre aquele artista que é
inseparável e fez o retrato mais famoso do autor de <i>Mensagem</i>. Almada Negreiros
e Fernando Pessoa constituem os arautos maiores dessa essência de ser moderno:
ser elegante não é uma maneira de vestir mas sim uma “maneira de ser”.</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><a href="" name="_GoBack"></a></span><span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Almada Negreiros foi o
homem das sete artes, desde pintor, desenhador, poeta, romancista a dramaturgo,
caricaturista, humorista, actor, panfletário, polemista, bailarino, coreógrafo,
cenógrafo, figurinista, vitralista, ilustrador, gráfico, ensaísta e filósofo
(cf. ARMERO, Gonzalo, in <i>Todo Almada</i>, ed. Contexto, Lisboa, 1994).</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Em todas estas áreas José Almada
Negreiros – descobertas e divulgadas por Fernando Pessoa – Almada Negreiros deu
corpo à inovação que jorrava de um talento fulgurante na literatura, na poesia
e nas artes plásticas.</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O seu trabalho incessante ao longo
de décadas transforma-o no único artista português alguma vez associado às rupturas
estéticas operadas no século XX.</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Se uns – com inegável valor –
tentaram com intervenções pontuais trazer a modernidade para Portugal, de
Almada Negreiros se diz, com toda a razão, que ele quis levar Portugal inteiro
para a modernidade, essas tal nova “<b>maneira de ser</b>”.</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Se este reconhecimento torna
Almada Negreiros num português extraordinário, que diremos quando descobrimos
que ele foi um autodidacta que nunca frequentou um curso superior em belas
artes ou qualquer outra universidade?</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Tudo nasce de um comprometimento
pessoal de Almada Negreiros na sua juventude, um gesto improvável num Portugal
dominado pelo conformismo e pelo academismo.</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">A vanguarda – liderada por Almada
Negreiros – era constituída por um grupo cujos membros se contavam elos dedos
das duas mãos, para não sermos muito “mãos-de-vaca” avarentas, porque grande
parte deles viviam fora do torrão natal.</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">O artista que assinava com um ”d”
com haste maior que a palavra Almada teve, por isso, de recorrer ao escândalo,
ao sensacionalismo, à provocação e à transgressão, ao contrário do seu amigo
Fernando Pessoa, seu companheiro de aventura tímido, reservado e introspectivo.
</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Se Fernando pessoa parecia
agradecer o facto de ninguém reparar na sua existência, Almada Negreiros
necessitava do contrário para respirar, distinguindo-se claramente de outros
cúmplices como Mário de Sá-Carneiro, Amadeu de Souza Cardoso ou Guilherme de
Santa Rita, agentes da ruptura estrangeirados que não beneficiaram do dom da
longevidade.</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">É pois num ambiente solitário e pioneira
que Almada desenvolve o seu trabalho num mundo adverso, ao longo de quase toda
a vida iniciada em S. Tomé a 7 de Abril de 1893.</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Nada o fez vacilar nesse percurso
escolhido e assumido até final. Incapaz de se fixar numa só área da criação,
Almada Negreiros vivia vertiginosamente num vai e vem entre as artes e as
letras, ainda mais diversificado que o francês Jean Cocteau.</span></span><span lang="EN-US"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">Construiu uma obra
multidisciplinar sem se preocupar com a coesão ou coerência mas apostado na
construção de muitas pontes entre elas.</span></span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;">
<!--StartFragment-->
</span></span></div>
<span class="Apple-style-span" style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif;"><div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">É verdade que é mais reconhecido
hoje pelas artes plásticas mas o grande triunfo de Almada Negreiros é o ter
conseguido extrair da sua época o seu estilo enquanto outros se limitaram a
tentar impor um estilo à sua época. Quantas vezes sucumbiram nessa caminhada
sisífica camusiana enquanto ele seguia o paradigma do renascimento.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">É no seguimento, sem ficar preso a
Leonardo da Vinci, que Almada Negreiros não abandona o rigor racionalista mas
dá largas à expressividade emotiva e poética na pluralidade de centros de
interesse e formas múltiplas.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Sendo vanguardista, Almada
Negreiros vai aos clássicos buscar os seus modelos, sejam gregos ou italianos
de Quatrocentos, para buscar a comunhão dos futuristas como Picasso ou Matisse.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Na literatura, é em Almada
Negreiros que encontramos os sinais que anunciam a literatura surrealista com <i>A
engomadeira</i>, quase uma década antes do manifesto de Breton, com um texto
corrido sem pontuação, em <i>Os saltimbancos</i> anunciam a chegada de Jaymes Joice e
do seu <i>Ulisses</i>.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">No Teatro, Almada bebe em
Pirandello della Miranda mas antecipa as peças de Ionescu e de Beckett.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Chega por hoje, para notarmos que
estamos perante um dos maiores criadores de sempre da cultura portuguesa?
Apesar de ser recebido de mãos abertas na Espanha e em França, ele optou sempre
por regressar a Portugal e aqui se fixar, em detrimento do sucesso que
granjeara além fronteiras.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">O seu país foi a sua missão porque
“<b>é preciso criar a pátria portuguesa no século XX</b>”, conforme repetiu tantas
vezes.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">O seu país nunca se mostrou – nem
mesmo hoje – preparado para um criador da sua envergadura. Uns chamavam-lhe
demente, devido à extravagância das suas atitudes na juventude.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Em Manifesto Anti-Dantas e por
extenso foi violento nos seus ataques aos mandarins culturais, esse “<b>coio
d’indigentes, d’indignos, de cegos</b>” ou essa “<b>resma de charlatães e de vendidos</b>”
que “<b>só pode parir abaixo de zero</b>”. Essa violência valeu-lhe o isolamento, sem
críticas, sem divulgação, editores e público.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Acresce que o patriotismo de
Negreiros não se encaixava nos conceitos da monarquia, da República e do Estado
Novo. Para ele um povo completo é aquele que “<b>reúna no seu máximo todas as
qualidades e todos os defeitos. Coragem, portugueses, só vos faltam as
qualidades</b>” – escreveu no Ultimatum futurista.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Quando o Estado novo lhe
encomendou os frescos para as novas gares marítimas, Almada deixou de fora as
cenas do passado glorioso e escolheu tradições populares e o sofrimento da
gente miúda. O autodidactismo percebe-se na “<i>Histoire de Portugal par coeur</i>”
que parece um olhar ingénuo de uma criança. A ingenuidade e a infância eram
temas caros a Almada Negreiros. A primeira representa um estado de pureza em
que é possível a vida do poeta que se considerava um “menino d’olhos de
gigante”.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Renascer, reencontrar-se,
desaprender, reaver a ignorância, reaver a ingenuidade, recuperar a inocência,
aprender outra vez são ideias presentes nos textos de Almada, a começar em
“<i>Nome de guerra</i>”, uma obra fulcral da literatura nacional de novecentos.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Almada tentou mostrar sempre a
eterna candura de um incendiário inconsciente de o ser que </span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">“<b>larga a cidade
masturbadora, febril, </b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><b>rabo decepado de lagartixa</b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><b>labirinto cego de
toupeiras,</b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><b>raça de ignóbeis míopes, tísicos, tarados, </b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><b>anémicos, cancerosos
e arseniados</b>” (cf. <i>Cena de Ódio</i>).<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Surpreender,
chocar e contrapor, com ironia no sorriso e a malícia do olhar era tão natural
como respirar para Almada Negreiros, a começar com o seu “<i>Manifesto
anti-Dantas</i>”. Esta sua divisa contra o conformismo que era personificado por
Júlio Dantas acaba por ser assimilada por todos os portugueses ao longo do
século passado, sempre que alguma polémica surgia.</span><span lang="EN-US" style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<a href="" name="_GoBack"></a><span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">É
com esse “<b>morra! Pim</b>” que Almada Negreiros foge a qualquer tentativa de
classificação – sempre redutora de um génio – seja ela de saudosista,
simbolista. Futurista, interseccionista, sensacionista, cubista,
expressionista, abstraccionista ou… nada disso e tudo isso.</span><span lang="EN-US" style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">A sua
personalidade versátil levou-o em busca de novas formas de expressão como as
múltiplas personalidades do seu Fernando Pessoa, com quem colaborou na
“<i>Orpheu</i>”, ao lado de Mário de Sá-Carneiro ou Amadeu de Santa-Rita.</span><span lang="EN-US" style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">A sua
obsessão final foi a tentativa de unificar toda a produção artística, a partir
de parâmetros egípcios, gregos, bizantinos e florentinos que apontavam para a
eternidade e imutabilidade da arte, visível na análise aos painéis de S.
Vicente de Fora. Apogeu da pintura portuguesa do século XV, sob assinatura de
Nuno Gonçalves.</span><span lang="EN-US" style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Ao
contrário de Pessoa, Almada Negreiros conhece a consagração popular em vida a
tal ponto que mesmo que os portugueses continuem sem conhecer a obra, a alma da
Almada foi por todos amada. Perdão, é por todos amada.</span><span lang="EN-US" style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Ninguém
como ele sabia que “<b>nascer é vir a este mundo, não é ainda chegar a ser</b>” – como
escreveu em 1935 - até porque “<b>um cordão umbilical não se falsifica. Ou há ou
não há</b>”.</span><span lang="EN-US" style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18pt;">Almada
Negreiros é um dos resultados mais felizes da colonização portuguesa, nascido
na Roça da Saudade (que outro nome havia de ser), na Ilha de S. Tomé, em pleno Equador, a 7 de Abril de 1893 – há 120 anos.</span><span lang="EN-US" style="font-family: Times; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="mso-margin-top-alt: auto;">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
</span><br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-40494749890062774932013-12-02T02:56:00.000-08:002013-12-02T02:56:19.962-08:00Os rostos da República de A a Z (18)<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX950V-5rsYNsAryx5G6OR8bhjoOudRGvCyI2fx-IctwQjBeYgqri5t_7-ugv8j15ci2GauPg4hI5FIVWA2GHz87XF2Up4TmwxD1DP7sGLcqb269ROLzt2eMHz1MpXf2ezTuPNiys3K2ZO/s1600/001.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhX950V-5rsYNsAryx5G6OR8bhjoOudRGvCyI2fx-IctwQjBeYgqri5t_7-ugv8j15ci2GauPg4hI5FIVWA2GHz87XF2Up4TmwxD1DP7sGLcqb269ROLzt2eMHz1MpXf2ezTuPNiys3K2ZO/s320/001.jpg" width="246" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 26.0pt;">“Não sei o que trará o
amanhã”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 24px;">Nesse ano, António Ferro, seu
camarada do <i>Orpheu</i> e seu editor é nomeado para a direcção do Secretariado da
Propaganda Nacional. Este democrata fervoroso na sua juventude, escritor e
jornalista era um apologista das letras e das artes do</span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 24px;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 24px;">Estado Novo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span class="Apple-style-span" style="font-size: 24px;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Um ano antes, publicara no
Diário de Notícias cinco entrevistas a Salazar e um artigo intitulado “<i>Política
do espírito</i>”, inspirado em Paul Valéry, em que defendia o "<b>desenvolvimento premeditado,
consciente, da Arte e da
Literatura</b>” como necessário ao “<b>prestígio exterior da nação</b>” e ao seu
“<b>prestígio interior, à sua razão de existir</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Uma das suas primeiras
iniciativas para fomentar a criação literária e o trabalho intelectual foi a
instituição de prémios para livros em cinco áreas: história, ensaio,
jornalismo, romance e poesia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Há mais de vinte anos,
concluído, Pessoa tinha um livro d versos a que deu o nome Portugal. Em
Setembro de 1034 preenchia os requisitos para se candidatar ao prémio Antero de
Quental (“<b>inspiração bem portuguesa e um alto sentido de exaltação
nacionalista</b>”). </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Os amigos incentivaram Fernando Pessoa a concorrer e o próprio
António ferro adiantou dinheiro para a publicação que à última hora viu<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>titulo alterado para Mensagem. Posto à
venda em Dezembro, não tinha dimensão para o Prémio Antero de Quental mas
venceu a segunda categoria (um poema). António Ferro, tendo em conta a simples
questão do número de páginas multiplicou por cinco o valor do prémio (mil
escudos), o mesmo valor da primeira categoria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A reacção a Mensagem foi
globalmente positiva, ao ponto de Um jornal ter escrito: “<b>a riqueza poética
deste livro é tanta que, ainda que o seu autor nunca mais escrevesse um verso,
o seu nome ficaria para sempre
ligado à mais rica poesia portuguesa</b>” ( in <i>Diabo</i>, 27 de Janeiro de 1935).
Outros acusaram Pessoa de ser “<b>excessivamente intelectual, falho de emoção e
sensibilidade</b>” sendo os seus poemas apenas “<b>telegramas</b>” de "<b>um notável poeta
(...) que raros decifrarão</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Quando publicou <i>Mensagem</i>,
Fernando Pessoa não tinha perdido inteiramente a esperança no governo de
Salazar. Aceitava o Estado corporativista por “<b>disciplina</b>” e concedia-lhe o
benefício da dúvida que acabaram de vez em Fevereiro do ano seguinte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Em Janeiro de 1935, Pessoa
indignara-se com um decreto que extinguia as “<b>associações secretas</b>” e no mês
seguinte publica um artigo a defender a Maçonaria. Segue-se uma avalancha de
artigos que caluniavam os Maçons e censuravam Pessoa por os defender. A lei
acabou por ser aprovada a 5 de Abril sem um único voto contra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Mais determinante para o
desencanto de Pessoa em relação ao regime foi<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o discurso de Oliveira Salazar na entrega dos prêmios do
SPN, um dos quais galardoava<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><i>Mensagem</i>. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Fernando Pessoa não assistiu à cerimónia e ficou espantado ao
ler nos jornais no dia seguinte a recomendação de Salazar: “<b>as produções
criativas e intelectuais dos escritores deveriam não só respeitar certas
limitações mas também seguir algumas directrizes impostas pelos princípios
morais e patrióticos do estado Novo</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">“<b>Nada me pesaria que
invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente</b>”, é
a frase que ele acrescenta em “<i>Livro do Desassossego</i>” à afirmação “<b>A minha
pátria é a língua portuguesa</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Foi isso que aconteceu. Fernando
Pessoa sentiu-se incomodado, ultrajado pelo facto de a sua língua ter sido
atacada, invadida, controlada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Conclui-se agora que a idéia
força de <i>Mensagem</i> centrava-se num Portugal não como estado político mas sim
como "<b>nação constituída por seres livres, unidos por uma língua, uma cultura e
uma história notável</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A ideologia patriótica de
Pessoa era aberta e universalista, ideia que muitos nacionalistas na conseguiam
entender de quem defendia a Maçonaria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Face ao discurso de Salazar,
Pessoa deixa de escrever porque “<b>ficamos sabendo, todos nós que escrevemos, que
estava substituída a regra restritiva</b>" da Censura, “<b>não se pode dizer isto ou
aquilo</b>”, pela regra soviética do poder, “<b>tem que se dizer aquilo ou isto</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Ele tinha razão. Entregara
poemas para a revista <i>Sudoeste</i> (dirigida por Almada Negreiros) e três deles
foram omitidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">
<!--StartFragment-->
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A última metade do século XX
não confirma o pedido de Pessoa à namorada Ofélia para nunca dizer a ninguém
que era poeta (“<b>quando muito, escrevo versos</b>”). A omnipresença do poeta levou
muitos a dizer que “<b>tanto Pessoa já enjoa</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Era o cumprimento da
paráfrase de Álvaro de Campos: “<b>cada vez mais perto do mito, cada vez menos
perto de mim</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Pessoa sentia-se cansado:
“<b>tenho estado velho por causa do Estado Novo</b>”. É verdade que as crises
hepáticas devidas ao consumo excessivo de álcool massacravam-no, ao ponto de
concluir um poema, em meados de Novembro de 1935, assim: “<b>dá-me mais vinho,
porque a vida é nada” </b>porque <b>“há doenças piores que as doenças” </b>e<b> “há tanta
coisa que, sem existir, /Existe, existe demoradamente, /E demoradamente é
nossa, é nós...</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Oito dias depois sofre mais
uma crise que não consegue vencer. Foi em 27 de Novembro, aniversário da irmã,
que estava com a família na casa do Estoril.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Estranhando a ausência de
Fernando para o jantar comemorativo, o cunhado procurou-m no dia seguinte. Pessoa
é internado no dia 29, no Hospital de S. Luís dos Franceses, onde é assistido
pelo primo , e escreve as suas últimas palavras: “<b>Não sei o que trará o
amanhã</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">O amanhã trouxe-lhe a morte,
devida a uma pancreatite aguda. No funeral estiveram umas 50 pessoas. Aberta a
herança, o defunto deixava uma arca de madeira, com milhares de textos
originais e inéditos, dactilografados ou manuscritos em cadernos, agendas,
papel dos cafés, folhas volantes, facturas e pedaços de papel rasgado... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">No Jazigo da sua avó
Dionísia, o Grande Poeta ficou a aguardar que as suas obras fossem devidamente
publicadas e que o tempo passasse, trazendo uma próxima geração de leitores
entendesse o seu génio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A fragmentação da sua obra e
o seu viver, no desencantado pós-guerra, acaba por encontrar uma receptividade
e compreensão impossíveis em vida de Fernando Pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">João Gaspar Simões é um dos
responsáveis ao escrever uma biografia pessoana de 700 páginas, em 1950,
contribuindo para o catapultar para o patamar de grande glória das letras
portuguesas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Mas este autor não chegou a
compreender totalmente o poeta, especialmente os heterónimos que são hoje a
poesia mais rica e original.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Se quase todos consideram <i>Ode
Marítima</i> a obra maior, outros consideram de pouco<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>calor a poesia heteronímica (como José Régio).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Não fora polémica que Pessoa
não pressentisse quando revelava a Adolfo Casais Monteiro, em 1935, a intenção
de deixar para segundo plano os escritos de Caeiro, Campos, Reis, etc. por
recear “<b>nenhuma venda de livros desse género e tipo</b>”, apesar de reconhecer:
“<b>pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo
Reis toda a minha disciplina mental, vestida da musica que lhe é própria, pus
em Álvaro de campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida</b>” em contraponto
a um Fernando Pessoa ”<b>impuro e simples</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Casais Monteiro faz a
primeira edição póstuma da obra poética de Fernando Pessoa, uma recolha com cem
poemas e Gaspar Simões continua o trabalho de publicação das obras dos
heterónimos nos anos entre 1944 a 1952, que, juntamente com A Mensagem, formam
o primeiro núcleo substancial da poesia pessoana ao dispor do grade público.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Apenas em 1960 Maria Aliete
Galhoz organiza a primeira grande edição de Pessoa publicada no... Brasil, que
serviu de “<b>bíblia</b>” a uma grande geração de leitores de Pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A divulgação da prosa
pessoana é mais lenta e atravessa as décadas de 60 e 70 do século passado. Só
em 1974 surge uma mudança cósmica no universo criativo de Pessoa com a
publicação do <i>Livro do Desassossego</i>, traduzido em várias línguas. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">É um livro
que Pessoa deixou como um amontoado de fragmentos (mais de 500), sem qualquer
ordem ou fio organizativo que desencadeou uma febre colectiva sobre tudo o que
era pessoano, lançando aquele que “<b>não era nada, nunca serei nada</b>” para a
celebridade póstuma em que tinha apostado toda a vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Eduardo Lourenço e Richard
Zenith (nosso companheiro nestas crónicas) fazem com que Pessoa se afirme, “<b>no
crepúsculo do milénio, como o emblema da nossa perda de certezas sobre o ‘eu’ e
sobre tudo o mais"</b>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Teresa Rita Lopes, em 1977,
dá a pancada final na tarefa e mostrar toda a obra de Fernando Pessoa e facetas
pouco conhecidas do poeta levando a toda a Europa uma curiosidade sem
precedentes sobre a Língua Portuguesa celebrada com o prémio Nobel de José
Saramago.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">De facto,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>consumava-se o <i>Livro do Desassossego</i>:
“<b>Eu, longe dos caminhos de mim próprio, cego da visão da vida que amo (...),
cheguei por fim, também, ao extremo vazio da coisas, à borda intransponível do limite dos entes, à porta sem lugar do abismo abstracto do mundo</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Hoje, Fernando Pessoa é
publicado em todos os continentes, em 40 línguas, desde o norueguês ao
vietnamita, do afrikaans ao urdu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
<br />
<!--EndFragment-->
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-48568119922266251562013-12-02T02:46:00.000-08:002013-12-02T02:57:24.269-08:00Os rostos da República de A a Z (17)<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOWHbNpWXDX8Mj5ediHjPCXRuuvzoAjVWysJ1jyV10jLTa26v_GLNQnTJNJ68ePz-pkw-nn848623Vo1vRtGqnNvaM2tfzN271tI59zYZzBk56YwT3o-mVS5hEPwDzH411UR9FiOfpkVvM/s1600/pessoa+final+texto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOWHbNpWXDX8Mj5ediHjPCXRuuvzoAjVWysJ1jyV10jLTa26v_GLNQnTJNJ68ePz-pkw-nn848623Vo1vRtGqnNvaM2tfzN271tI59zYZzBk56YwT3o-mVS5hEPwDzH411UR9FiOfpkVvM/s320/pessoa+final+texto.jpg" width="238" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">“Nunca dei crença <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">àquilo em que acreditei”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Fernando Pessoa criava o novo
império, ao lado dos grandes impérios grego, romano ou cristão: Portugal,
através da língua e da cultura, e sobretudo da sua literatura, dominaria o
resto da Europa. Um império de poetas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Foi em 1923 que Fernando
Pessoa se referiu pela primeira vez ao Quinto Império mas a doutrina vinha já
de 1912, quando Fernando Pessoa profetizou uma “<i>Renascença portuguesa</i>” que iria
nortear toda<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>a cultura europeia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Nessa nova ordem cultural, o
catolicismo era sepultado pelo "<b>paganismo superior</b>” que incluirá todos os deus
e todos os credos e a política devia deixar de existir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Possuído pela necessidade de
sanear a República, ao eliminar todos os vestígios da velha monarquia, varria
todos os seus símbolos e rituais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">É em Janeiro de 1928 – pouco
antes da entrada de António Oliveira Salazar para o governo, como ministro das
Finanças — que Fernando pessoa entende a ditadura militar como um “<b>intervalo</b>”
necessário para o caminho de “<b>salvação e renascimento</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Aguardando a “<b>hora que se
prometera</b>” – que há-de concluir <i>A Mensagem</i> (“<b>É a hora!</b>”) — , Fernando Pessoa
assume que a existência dele próprio é o primeiro sinal de que o Quinto Império
está a chegar, a seguir ao “<b>Estado de transição</b>” ditatorial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">O Quinto<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>império apenas chegará com a “<b>segunda
vinda de Dom Sebastião</b>” — ocorrida em 1888, a darmos crédito às profecias de
Bandarra. Nesse Quinto Império de poetas, Pessoa era o Super-Camões, arauto de
uma “<i>Nova renascença</i>” destinada a fazer com que Portugal irradiasse nova luz
para todo o mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Sentindo tudo de todas as
maneiras e aceitando todos os deus e credos, Fernando Pessoa conferia a si
mesmo uma universalidade inédita e transformava-se, só por si, em toda a
geração literária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Fernando Pessoa advertia não
ser defensor da ditadura – tolerada como medida temporária — até evoluir para a
negação completa desta doutrina, dedicando a Salazar um “<b>desprezo
irreprimível</b>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Afinal, em 1931, havia de escrever: “<b>nunca dei crença àquilo em
que acreditei</b>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Um ano antes, escrevera: “<b>Merda! Sou lúcido</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Em 1928 cria o último
heterónimo, Barão de Teive, e de todas as máscaras inventadas por Fernando
Pessoa, esta era a mais transparente e a mais inquietante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">O barão, desanimado por não
conseguir escrever nada de jeito, queima as prosas no fogão e resolve
suicidar-se. Mas, antes de dar este último passo, tenta explicar-se em “<i>A
educação do estóico</i>” sobre a “<b>impossibilidade de fazer arte superior</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">O barão, além da frustração
literária, era sexualmente frustrado, sendo tão tímido com as mulheres que
ficava impotente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Teive reunia várias condições
que o seu criador cobiçava mas as suas obras não saíam como ele sonhava e
irritava-se com a tibieza da sua vontade, com a sua castidade e com a sua
lucidez, que o leva a matar-se num gesto de orgulho.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br />
Pessoa era mais complicado que o Barão de Teive. Sofria das mesmas frustrações
mas não lhe escasseava a fantasia a escrita, o que lhe tirava o gosto do amor e
das pequenas glórias mundanas com que os outros homens se iludem. A sua
esperança residia na celebridade após a morte. Há que acelerar essa hora,
organizando as obras, faze-las bem acabadas, o que não era o seu forte. Tinha
medo de as acabar. Continuava inquieto, à procura, mas era urgente para
Fernando Pessoa encontrar algo... um sentido, um bom caminho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Mas ele continua sem saber se </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">“<b>deitando dados</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>Se chega a qualquer conclusão. </b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>Mas também não sei</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>Se vivendo
como o comum dos homens</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>Se atinge qualquer coisa</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">
<!--StartFragment-->
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">No começo de 1929, Fernando
Pessoa está a escrever <i>O Livro do Desassossego</i>, obra que estivera a cargo de
Vicente Guedes, antes de entrar em demência,uns dez anos antes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Bernardo Soares já existia no
universo pessoano mas como autor de contos. Agora pessoa assume a biografia de
Vicente Guedes, que trabalhava num escritório e era um diarista muito lúcido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A expressão dos seus
desassossegos era diferente, menos abstracta e impessoal, era sentido na pele,
nos factos mais corriqueiros do dia-a-dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Bernardo Soares era, segundo
Pessoa, meio heterónimo, uma mutilação da sua personalidade, ou seja, um
instrumento do qual Pessoa se servia para se auto-exprimir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Álvaro de Campos, na sua
<i>Tabacaria</i>, escrita em 1928, já não se distinguia também do seu criador.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Neste momento da vida, a
saudade do passado e de tudo o que não vivera intensifica-se em Fernando
Pessoa, perdão, Bernardo Soares. Volta-se para locais de infância como Durban
ou Pedrouços e desperta, de novo, as afectividades, ao ponto de querer reatar
com Ofélia Queiros, no Outono de 1929, numa tentativa mal sucedida. Para ele
era impensável casar mas Ofélia insistia em cartas que se trocaram até Janeiro
de 1930.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">O último poema de Álvaro de
Campos que considera as cartas de amor menos ridículas do que as pessoas que
nunca as escreveram é uma alusão a estas cartas para Ofélia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">É por esta altura que Pessoa
ressuscita Alberto Caeiro para escrever os seis poemas de <i>Pastor Amoroso</i> a
cantar a paixão por uma jovem loura e com dentes que “<b>são limpos como as pedras
de um rio</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Contraditoriamente, Bernardo
Soares defende a castidade no Livro do Desassossego num momento e depois admite
que as relações amorosas são um “<b>complexo barulho que faço aos ouvidos da minha
inteligência, quase para não perceber que, no fundo, não há senão a minha
timidez, a minha incompetência para a vida</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">O <i>Desassosseg</i>o afectivo
aliava-se a uma forçada procura espiritual através de escritos sobre Cabala,
alquimia e ordens iniciáticas (Rosa Cruz, Maçonaria e Templários), tradições
esotéricas e a religião em geral e magia negra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A simulação do suicídio de
Crowley, um editor inglês, mostra que Pessoa não se importava de dedicar tempo
e energia a uma burla, ao ponto de elaborar uma novela policial sobre este
desaparecimento que nunca aconteceu mas teve amplo eco nos jornais, dada a
conivência do jornalista amigo Augusto Ferreira Gomes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Pessoa acreditava em tudo,
sem ter fé em nada. Estava aberto a tudo, absorvia tudo e servia-se de tudo
para depois fazer o seu caminho, sem se submeter a nenhum credo ou dogma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Pessoa preferiu não viver
como o “<b>comum dos homens</b>”, passou a vida inteira na procura da verdade, quando
não a inventava na sua escrita mas nunca chegou a uma certeza, a não ser que a
sua certeza fosse esta:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">“<b>Tenho o corrimão da escada
absolutamente seguro,<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>Seguro com a mão —<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>O corrimão que não me
pertence<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>E apoiado ao qual ascendo...<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>Sim... ascendo...<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>Ascendo até isto:<o:p></o:p></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><b>Não sei se os astros mandam
neste mundo...</b>”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">No início de 1933, Pessoa
parecia mais velho do que os seus 44 anos. Não a-guentava a solidão, mais
pesada com a passagem dos anos em que não se preocupara em ser ou não feliz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Isto reflecte-se na sua
po-esia e chega a ser pungente no <i>Livro do Desassossego</i>, numa altura em que
contnuava a escrever cartas comerciais em francês e inglês ou dava explicações
desta última língua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Bebia mais, fumava muito e
estava cansado e concorre pela primeira vez a um posto de trabalho, no Museu
Biblioteca de Cascais. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Não foi escolhido por falta de perfil e carácter
adequados, apesar do extenso curriculum que apresentou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
<br />
<!--EndFragment-->
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-41014594880497160032013-12-02T02:39:00.000-08:002013-12-02T02:39:38.334-08:00Os rostos da República de A a Z (16)<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisEIAxEOARvlD3vlsJu_8pnS3bJbtWYndgux4ae7JuB5mqE6qLCjQXXBS9CP88IbFfoUvlR4UZ5rNmgp_Xud8TgRC7slZizNLtLL8jO41RBNZ-q4lsjmDiNK7kCqyrNgi-Sx7BGv4KX0-X/s1600/89204193.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisEIAxEOARvlD3vlsJu_8pnS3bJbtWYndgux4ae7JuB5mqE6qLCjQXXBS9CP88IbFfoUvlR4UZ5rNmgp_Xud8TgRC7slZizNLtLL8jO41RBNZ-q4lsjmDiNK7kCqyrNgi-Sx7BGv4KX0-X/s320/89204193.jpg" width="245" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A produção poética de Pessoa
diminui na década de vinte devido às suas actividades empresarias e desperta
com a revista Contemporânea onde revela ser mais multifacetado do que alguém
podia imaginar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Dos 23 poemas ali publicados,
incluem-se doze que foram mais tarde a segunda parte de <i>Mensagem</i> e eram
assinados por Álvaro de Campos. É a primeira aparição do heterônimo como poeta
desde o <i>Orpheu</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Foi também nesta revista e no
primeiro dos seus 13 números que Pessoa publicou o <i>Banqueiro Anarquista</i>, uma
espécie de dialogo socrático que era muito caro ao autor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Fernando Pessoa era muito
céptico em relação às ideologias anarquista, socialista e comunista chegando
mesmo a escrever que esta revolução ia “<b>atrasar dezenas de anos a realização da
sociedade livre</b>”, previsão que depois se revela acertada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A mais importante revelação
literária de Pessoa foi, nessa época, Albero Caeiro e Ricardo Reis. É
misterioso que os tenha mantido em segredo durante tantos anos, uma vez que a
maior parte da poesia de Caeiro foi publicada em 1916.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Aguardou certamente um
contexto adequado para o revelar e foi ele quem criou esse contexto com a
revista <i>Athena</i>, Revista de Arte, com os cinco números publicados entre 1924 e
1925.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Foi uma revista à Pessoa em
que ele desenvolveu a sua campanha pela elevação da cultura portuguesa. Era uma
ilustração perfeita da Nova Renascença promulgada por Fernando Pessoa doze anos
antes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">É neste ambiente sóbrio, mas
clássico, e ao mesmo tempo moderno, português e universal, que Pessoa deu a
conhecer Reis e Caeiro, com ampla selecção de poemas de<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>cada um deles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">O renascimento neogrego que
estes dois heterónimos deviam prefigurar baseava-se no neopaganismo, um sistema
filosófico e religioso inscrito na sua poesia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">O fenómeno dos heterónimos
reflecte a convicção de Fernando Pessoa de que nem no apertado âmbito do eu
existe a unidade. Fernando Pessoa rejeitava a visão da unidade última e divina
promovida pelo cristianismo e outras religiões monoteístas. Isso não significa
que ele não desejasse a unidade. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Na heteronomia do seu eu fragmentado, o poeta
tentou, paradoxalmente, construir um pequeno mas completo universo de partes
interligadas que formassem um todo coerente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">
<!--StartFragment-->
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A morte da mãe coincide com o
quinto e último numero da revista Athena e ninguém tinha reparado nos poemas do
mestre triunfal, Alberto Caeiro... Não saiu qualquer critica ou referencia nos
jornais. Fernando Pessoa estava mais só do que nunca, humana e literariamente
falando. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Em 31 de Agosto de 1925 escreve a um amigo a dizer que sofria de
“<b>loucura psicasténica</b>” e perguntava<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>que tinha de fazer para requerer o seu próprio internamento num
manicómio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">O seu velho receio de
enlouquecer ressuscitava e o medo revela o grau de abatimento emocional em que
caiu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Nesse Outono dedica-se a
escrever muitos artigos sobre o comercio e gestão de empresas na <i>Revista de
Comércio e Contabilidade</i>, dedicando-se à história, teoria do comercio e
numerosos preceitos e sugestões para o bom funcionamento de uma empresa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Pessoa manifesta então o seu
desprezo pelo capitalismo, mostrando-se grande defensor do comercio livre e
opondo-se a qualquer proteccionismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">A carreira literária de
Pessoa parecia estar em ponto morto, quando nasceu a revista Presença, primeiro
órgão a reconhecer o seu estatuto de poeta cimeiro do modernismo em Portugal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Foram responsáveis por este
regorgitar pessoano José Régio, João Gaspar Simões e Adolfo Casais Monteiro.
Logo no terceiro numero de Presença, José Régio (na foto) escreve: “<b>Fernando Pessoa tem
estofo de mestre e é o mais rico em direcções dos nossos chamados modernistas</b>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">No numero seguinte, Fernando Pessoa dá começou a uma longa colaboração que
inclui alguns dos seus mais belos poemas: Aniversário, parte de <i>O guardador de
rebanhos</i> e <i>Tabacaria</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Ainda não era a “<b>larga
celebridade</b>” que Pessoa desejava como “<b>sinónimo psíquico da liberdade</b>” mas o
poeta esperava isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Entre 1919 e 1931 escreve
dezenas de trechos para um ensaio em inglês <i>Erostratus</i> (homenagem ao grego que
destruiu o templo de Diana) e argumenta que o "<b>verdadeiro génio, por representar
um avanço qualitativo sobre os seus contemporâneos, nunca será devidamente
reconhecido pela sua própria geração</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Explicava-se o escasso renome
alcançado por Pessoa em vida, sinal de que podia vir a ser reconhecido pela
futura história da literatura universal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Pessoa era um megalómano –
natural num criador artístico que pretende ser usurpador da função divina —
desde tenra idade. No entanto, os seus anseios de glória associavam-se ao sonho
de um Portugal glorioso e triunfal. Ele queria ser um grande escritor,
suplantar Luís de Camões, para engrandecer a cultura portuguesa e coloca-la ao
nível da inglesa e da francesa. Sendo Portugal um pais pequeno nunca podia
distinguir-se como potencia militar ou económica e tinha de se impor como força
interior, pelo espírito, pela cultura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">É a função redentora da
cultura, com Pessoa no leme de salvador das letras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Assim, quando o Marechal
Manuel Gomes da Costa inicia em Braga a revolta militar, tem o apoio de Pessoa,
cansado, como a maioria dos portugueses, de tanta instabilidade política e
desordem social.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Pela mesma razão que foi sidonista, Pessoa apoiou a revolta
contra a república parlamentar, que nada representava de novo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Fazer tabua rasa do sistema
para criar algo diferente e melhor em que a cultura era a força governativa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Era o novo império, ao lado
dos grandes impérios grego, romano ou cristão: Portugal, através da língua e da
cultura, e sobretudo da sua literatura, dominaria o resto da Europa. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.0pt;">Um império
de poetas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-14297148061762068082013-12-02T02:30:00.000-08:002013-12-02T02:30:55.227-08:00Os rostos da República de A a Z (15)<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPKglHusCE9GWvckNXI1Htdj_yx6HRWTN9Un5ALZoWZ4ZFmyc4X6eV6Pv3OnyGGyTht8T9V4UwZtErTjzdlklIeMYtG4BLCQwYtjp8QUR9JtzAwGua5WLlnfSZ7YTr5A43pr8Ck3tD8ICF/s1600/sodoma+divinisada.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPKglHusCE9GWvckNXI1Htdj_yx6HRWTN9Un5ALZoWZ4ZFmyc4X6eV6Pv3OnyGGyTht8T9V4UwZtErTjzdlklIeMYtG4BLCQwYtjp8QUR9JtzAwGua5WLlnfSZ7YTr5A43pr8Ck3tD8ICF/s320/sodoma+divinisada.jpg" width="232" /></a></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Em 1922, publica uma edição aumentada de <i>Canções</i> de
António Botto, um livro de versos que celebrizava a beleza masculina. Para
promover o livro publica um artigo “<b>António Botto e o ideal de estética em
Portugal</b>”. O monárquico Álvaro Maia responde-lhe com “<i>Literatura de Sodoma: o
sr. Fernando Pessoa e o ideal estético em Portugal</i>”. Raul Leal contrapõe com
“<i>Sodoma divinizada</i>” e surge uma Liga de Acção de Estudantes de Lisboa contra a
“<b>literatura de Sodoma</b>”. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">O livro de Botto e o artigo de Leal são apreendidos
pelo governdor civil de Lisboa enquanto é distribuído um manifesto contra “<b>a
inversão da inteligência, da moral e da sensibilidade</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Pessoa responde, numa folha assinada por Álvaro de
Campos: “<b>Ó meninos, estudem, divirtam-se e calem-se</b>”. Enceta depois um combate
escrito pela liberdade de expressão que contrasta com o seu sidonismo anterior.
Pessoa, após o assassínio de Sidónio Pais, glorificou-o com o poema “<i>À memoria
do Presidente-Rei Sidónio Pais</i>”, em 1920, prenúncio do regresso do Desejado D.
Sebastião. </span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">É a primeira manifestação de sebastianismo. Baseado nas profecias do
sapateiro de Trancoso (séc. XVI), Pessoa quer afirmar-se como Salvador da
literatura de Portugal, o super-Camões, ao mesmo tempo que desejava um
super-homem politico, um grande estadista, que pudesse salvar o país do caos em
que este se afundara.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Apesar do gosto pelo escândalo, Pessoa já não era
visto como um jovem irrequieto, desejoso de dar nas vistas. Tornara-se um homem
respeitado, recatado e de hábitos certos,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>admitindo, em 1920, a possibilidadde de se casar com Ofélia Queirós, a
quem declara um “<b>amor extremo</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">No entanto, nas cartas trocadas entre ambos, Fernando
Pessoa falava-lhe de assuntos corriqueiros. Costumavam passear a pé mas
Fernando nunca quis ir a casa dela e conhecer os seus familiares. A relação
ficou numa caixa, num compartimento, isolada do resto da vida de Pessoa, apesar
de ter tido grande importância para ele. </span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Guardou as muitas cartas e postais de
Ofélia. Ele queria amá-la mas faltava-lhe o essencial: a entrega. Quando o
namoro acabou, ele sentiu-se “<b>aliviado e sem vocação</b>" para “<b>outras afeições</b>”. <o:p></o:p></span></div>
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Com o país em crise, por sete
mudanças de governo em 1920, inúmeras greves e manifestações, a vida de Pessoa
entra numa fase de estabilidade. </span><br />
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span>
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Vive na casa de Ourique até ao fim da vida,
com pequenas viagens ao Alentejo ou ao Estoril, para visitar a sobrinha, filha
do irmão Luís, nascida em 1931.<o:p></o:p></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span>
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Abandonada a ideia de emigrar para
Londres, Fernando Pessoa convenceu-se a ficar em Lisboa para consolidar a sua
obra e pros-seguir a sua missão “<b>civilizador</b>a”.<o:p></o:p></span><br />
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span>
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Ele fazia questão de afirmar que
“<b>o imperialismo dos gramáticos dura
mais e vai mais fundo que o dos generais</b>” e interiorizava que “<b>a única
compensação moral que devo à literatura é a glória futura de ter escrito as
minhas obras presentes</b>”, numa década em que a produção de Pessoa diminuía.<o:p></o:p></span><br />
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-54845371852700667812013-07-30T04:01:00.000-07:002013-07-30T04:01:11.516-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (14)<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2vWnbGEWZfK2ggIibel4ftvmHiArAMWgNWb3Ut0Fw-n6zTeam5w2ROQOgnCIex6_mLnlRlt2yJunDfsIH3OUxM25O1PYTFWQpXseu0cxxUDgMEGS04AeC-OmPoeHjPi2jktDFS7qIHnwT/s1600/fernando-pessoa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2vWnbGEWZfK2ggIibel4ftvmHiArAMWgNWb3Ut0Fw-n6zTeam5w2ROQOgnCIex6_mLnlRlt2yJunDfsIH3OUxM25O1PYTFWQpXseu0cxxUDgMEGS04AeC-OmPoeHjPi2jktDFS7qIHnwT/s320/fernando-pessoa.jpg" width="235" /></a></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">O conselho de Henry More apontava para uma mulher
desvirginadora no seu caminho, bastando que ele não tivesse medo e há
descrições bastante pormenorizadas de mulheres que deviam resolver o “problema”
de Pessoa, ao ponto de se apontarem três filhos de três mães diferentes.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Pessoa acreditava nesta previsões do seu alter ego Henry More? Ou eram apenas as suas aventuras astrais que substituíam o amor terrestre
para amortecerem uma relação carnal?</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Seja o que for, Pessoa continua a escrever até 1930,
por entre um ou outro conselho para Pessoa “<b>acasalar</b>”. Estes despertares
coincidiram com um acordar espiritual que fazem crescer “<b>aversão às mulheres</b>”
ao ponto de se consideram artisticamente incompleto por não ser completo
sexualmente.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Afinal, Pessoa vivia assustado pela solidão para não
ser o tal Deus suspenso do vazio e começa a interessar-se pela grandes
religiões como forma d encontrar a ligação da sua vida aos outros seres
humanos.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Daí a té se deixar seduzir pela Cabala, Rosa Cruz ou a
Maçonaria foi um pequenino passo, numa fase de grande incerteza e
vulnerabilidade intelectual, de alguém pedido que se agarra ao que houve para
agarrar.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Passara a grande explosão de Alberto Caeiro e o poeta
vivia sozinho, em quartos alugados, confrontando-se consigo mesmo.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Devorando jornais, Pessoa assistia ao descalabro do
mundo, com a I Guerra Mundial, em que defendeu a posição alemã, antes de Portugal
ter entrado no conflito.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Pessoa era uma personalidade profundamente abalada. À
guerra junta-se a trombose que atinge a mãe e ele sentia-se rodeado pela
ausência, morte e precariedade. Só o mundo espiritual e religioso lhe davam
algum conforto através do contacto com o “mestre” Henry More.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">É nesta fase que Pessoas se aborrece com a mediunidade
como um menino larga os seus brinquedos, mas é provável que tenha acreditado
tanto nela como nos seus heterónimos ou na astrologia.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Pessoa assume-se como a criança que brinca com
amigos imaginários – os seus heterónimos – porque fingir para uma criança não é
muito diferente de acreditar. Não fosse o poeta um fingidor e não o fosse mais
ainda quando perde o dom de acreditar naquilo que ele próprio gerou.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Encomendou horóscopos astrólogos ingleses ou era
cliente que queria ser fornecedor? Elaborava horóscopos para desconhecidos ou
procurava fontes de receitas alternativas? Há mistérios pessoanos que
permanecem indecifráveis.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">
<!--StartFragment-->
</span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Nestas distracções da mediundade que “<b>provoca um
desequilíbrio mental, nálogo ao produzido pelo alcoolismo</b>”, Pessoa comete um
dos seus grandes erros: não se aperceber que o destino ia decapitar o “<b>esfinge
gordo</b>”, o seu maior amigo, Mário de Sá-Carneiro.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Explica também que chegados aos 30 anos, Fernando
Pessoa não tivesse publicado ainda nenhum livro, ao contrário de tantos amigos
menos talentosos? Era um projecto que adiava desde 1913 e anunciava aos amigos
mas “<b>nada saía</b>” mesmo que o jornal <i>A Capital</i> considerasse a <i>Ode Marítima</i> como a
“<b>trapalhada mais extraordinária</b>” mas “<b>se torna forçoso reconhecer que há nela
qualquer coisa de superior ao resto e que o seu auto tem talento apesar da sua
maluqueira</b>”?</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Pessoa nunca se empenhou seriamente em que lhe
publicassem os livros por culpa sua: a sua exigência de perfeição absoluta
tornava difícil esse acto. Ele não queria ser mais um daqueles que frequentam
cafés, publicam uns versos e se tornam mais ou menos conhecidos e morrem
depois.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Publicar-se era para Fernando Pessoa uma “<b>ignóbil
necessidade</b>”. Daí que apenas o tenha feito em 1918, com Antinous e 35 sonnets.
A edição comprovou o seu receio: ninguém leu. Era na Inglaterra que ele
esperava ter êxito e abordara já várias editoras sem sucesso ou sequer uma
resposta.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Na Inglaterra, um jornal avalia <i>Antinous e 35 sonnets</i>
e coloca em causa a qualidade do inglês do poeta e o escasso interesse “<b>pelo
valor do que os poemas têm para dizer</b>”. Outro jornal acusava-o de “<b>excessivo
artifício shakespeariano</b>”.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">O mesmo destino têm os mil exemplares de “<i>English
poems</i>”, inspirados em modelos gregos. Sobraram-lhe 900 exemplares. A sua aposta
– ou tentativa de emigrar – londrina falhava completamente. Nesta altura da
vida, Pessoa não sabia o que fazer: ficar ou sair de Lisboa para Londres,
deixar de escrever e criar uma empresa import-export. As ideias fervilhavam à
mesma velocidade que fracassavam no terreno. É no meio desta convulsão pessoal,
literária e económica que Fernando Pessoa desencadeia uma polémica de grandes
proporções.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Em 1922, publica uma edição aumentada de <i>Canções</i> de
António Botto, um livro de versos que celebrizava a beleza masculina. Para
promover o livro publica um artigo “<i>António Botto e o ideal de estética em
Portugal</i>”. O monárquico Álvaro Maia responde-lhe com “<i>Literatura de Sodoma: o
sr. Fernando Pessoa e o ideal estético em Portugal</i>”. Raul Leal contrapõe com
“<i>Sodoma divinizada</i>” e surge uma Liga de Acção de Estudantes de Lisboa contra a
“<b>literatura de Sodoma</b>”. </span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">O livro de Botto e o artigo de Leal são apreendidos
pelo governdor civil de Lisboa enquanto é distribuído um manifesto contra “<i>a
inversão da inteligência, da moral e da sensibilidade</i>”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Pessoa responde, numa folha assinada por Álvaro de
Campos: “<b>Ó meninos, estudem, divirtam-se e calem-se</b>”. Enceta depois um combate
escrito pela liberdade de expressão que contrasta com o seu sidonismo anterior. </span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Pessoa, após o assassínio de Sidónio Pais, glorificou-o com o poema “<i>À memoria
do Presidente-Rei Sidónio Pais</i>”, em 1920, prenúncio do regresso do Desejado D.
Sebastião. É a primeira manifestação de sebastianismo. Baseado nas profecias do
sapateiro de Trancoso (séc. XVI), Pessoa quer afirmar-se como Salvador da
literatura de Portugal, o super-Camões, ao mesmo tempo que desejava um
super-homem politico, um grande estadista, que pudesse salvar o país do caos em
que este se afundara.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Apesar do gosto pelo escândalo, Pessoa já não era
visto como um jovem irrequieto, desejoso de dar nas vistas. Tornara-se um homem
respeitado, recatado e de hábitos certos,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>admitindo, em 1920, a possibilidadde de se casar com Ofélia Queirós, a
quem declara um “<b>amor extremo</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">No entanto, nas cartas trocadas entre ambos, Fernando
Pessoa falava-lhe de assuntos corriqueiros. Costumavam passear a pé mas
Fernando nunca quis ir a casa dela e conhecer os seus familiares. A relação
ficou numa caixa, num compartimento, isolada do resto da vida de Pessoa, apesar
de ter tido grande importância para ele. Guardou as muitas cartas e postais de
Ofélia. </span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 18.0pt;">Ele queria amá-la mas faltava-lhe o essencial: a entrega. Quando o namoro
acabou, ele sentiu-se “<b>aliviado e sem vocação para outras afeições</b>”. </span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
<br />
<!--EndFragment-->
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-24649417815519828432013-07-30T03:45:00.000-07:002013-07-30T03:45:02.574-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (13)<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdLD5nhmRXNmR-QxXO-cqpyaH-GyejG-bM2ou-y1009x_px4KzP-5KDrwFlzZRuRPzFUBQOT-AgSf4K42Lr9DgD7O8UwtYob-qb9dX-bi-bZTw88h8BPbKVYKe8BIRr16WGnzg143Lg0N-/s1600/Aquele+Outro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdLD5nhmRXNmR-QxXO-cqpyaH-GyejG-bM2ou-y1009x_px4KzP-5KDrwFlzZRuRPzFUBQOT-AgSf4K42Lr9DgD7O8UwtYob-qb9dX-bi-bZTw88h8BPbKVYKe8BIRr16WGnzg143Lg0N-/s320/Aquele+Outro.jpg" width="262" /></a></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Pode
ter perpassado a ideia, nas últimas crónicas, que Fernando Pessoa passou
pela miséria, mas a verdade é que nunca esteve à beira dela,
apesar de todos os percalços.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">No
entanto, é verdade que Fernando Pessoa foi afligido, durante toda a
sua vida adulta, a começar na adolescência, por crises de
depressão, devidas ao seu exacerbado sentimento de solidão.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Já
em criança sentia necessidade de se isolar dos outros e mais tarde
reconhece que apenas Mário de Sá-Carneiro era “<b>o maior e mais
íntimo amigo</b>”.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Em
que consistia essa intimidade, na troca de poemas para serem
comentados reciprocamente.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Estranhamente
nunca se tratam por tu, mas falam das suas angústias, receios e
depressões, mas quase sempre num tom literário, elevado, com
recurso a metáforas, imagens requintadas e recurso a passagens das
suas obras.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Sá-Carneiro
queixava-se mais vezes da falta de dinheiro e pedia a Pessoa para ir
pedir ou cobrar dívidas a amigos em Lisboa.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Quando
Sá- Carneiro caminhava para o suicídio, Fernando pessoa escreve-lhe
que “<b>há barcos para muitos portos, mas nenhum para a vida não
doer, nem há desembarque onde se esqueça. Tudo isto aconteceu há
muito tempo mas a minha mágoa é muito antiga</b>”.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Sá-Carneiro
era o mais inseguro dos dois, com receio de ofender ou incomodar o
outro mas sempre aflito quando as cartas de Pessoa tardavam a chegar.
Pessoa tinha uma irresistível capacidade para se distanciar das suas
emoções, algo impessoais, como se fosse um observador de si
próprio… até ao dia em que o seu amigo Mário se entregou numa
aventura sem retorno com uma “<b>personagem feminina</b>”.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Pessoa
reagiu com ciúmes face à prostituta Helena ou estava a reagir ao
afastamento definitivo – o suicídio de Mário, a 26 de Abril de
1916?</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Pessoa
entendia o sexo como “<b>elementos de obscenidade</b>” que eram um
“<b>estorvo a certos processos mentais superiores</b>” mas estava ainda
vivo, como demonstra numa carta publicada em 1915, embora com uma
orientação pouco clara.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Em
Agosto desse ano escreve <i>Antinous</i>, em que o imperador canta a sua dor
e o seu amor perante o cadáver do jovem amante, que morrera afogado
no Nilo. É o mais belo poema de amor que Fernando escreveu, com
muito desejo sublimado, com a expressão repetida “<b>Ai de mim!</b>”
perante uma rapariga a quem fez olhinhos mas não teve atrevimento
para mais.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">O
jovem poeta estava confuso e baralhado. Queria relacionar-se com
mulheres (entre 1914 e 1920) ou colocar-se em causa sexualmente
devido à sua timidez com as mulheres? Em parte, era assim, como
demonstra uma carta que escreve a João Gaspar Simões. Nessa carte,
Pessoa reconhece ter duas sexualidades à parida, representadas pelos
poemas <i>Epithalamium</i> e <i>Antinous</i>.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Em
1916 ainda confessa ser virgem, enquanto Mário de Sá-Carneiro se
desenvencilhava desse problema com uma prostituta, em Paris. Na gravura, o seu poema <i>Aquele outro</i>.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Um
dia, um dos seus heterónimos, Henry More, avisa-o a 28 de Junho de
1916: “<b>não deves continuar a manter a castidade. És tão misógino
que te encontrarás moralmente impotente e, dessa forma, não
produzirás nenhuma obra completa na literatura</b>”.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Esta
inquietação sexual coincide com o despertar espiritual de Fernando
Pessoa, entre 1915 e 1918: “<b>um génio inteiramente só, por mais
genial que seja, é tão carente de sentido como um Deus suspenso no
vazio</b>”.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<a href="" name="_GoBack"></a><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><span style="font-size: large;">Fernando
Pessoa necessitava de ligar a sua vida com outros seres humanos, no
plano afectivo, ou seres superiores, no plano espiritual. A
verdadeira busca começa agora para ao autor de “<i>A Mensagem</i>”.</span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-64557506304696573042013-07-30T03:37:00.001-07:002013-07-30T03:37:54.213-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (12)<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUSZFwbCnNexEQ_aJbPP4jp0i-1eQCCBUKSjudyXxiaMTtYNDmfR2o40LGPWkJKfHazEJUAG-Kk1rbxoeqfPtWd7jlyU37_dfrJ0WpTVe1a9r5Fodvr_h8wD1Nz9O1Xr7h7bQmfDskxJL8/s1600/Caeiro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUSZFwbCnNexEQ_aJbPP4jp0i-1eQCCBUKSjudyXxiaMTtYNDmfR2o40LGPWkJKfHazEJUAG-Kk1rbxoeqfPtWd7jlyU37_dfrJ0WpTVe1a9r5Fodvr_h8wD1Nz9O1Xr7h7bQmfDskxJL8/s320/Caeiro.jpg" width="230" /></a></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">A ‘heterocracia’ de Fernando Pessoa chegou ao ponto de
criar um Thomas Crosse, suposto tradutor e crítico inglês, criado depois para
distinguir Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro Campos, chegando ao ponto de planear, em 1916, uma Antologia dos poetas
sensacionistas portugueses.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">O Thomas Crosse não “cumpriu” essa tarefa e apenas
escreveu parte do prefácio dessa obra.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Pessoa ou Thomas Crosse chegou a traduzir para inglês
alguns versos de um poema de Alberto Caeiro, dois poemas inteiros de Álvaro
Campos e o início da <i>Ode Marítima</i>.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">O ano de 1914 marca também uma viragem na poesia do
ortónimo Fernando Pessoa (outro que “vivia” com a tia Anica) ou seja o
verdadeiro Pessoa que, ao conhecer Alberto Caeiro, “<b>teve naquele momento a sua
libertação</b>" ao dar a conhecer qualquer coisa diferente nos seus poemas que têm
datas posteriores a 8 de Março de 1914.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Que confusão, dirá o leitor. A esta observação
camiliana, devemos lembrar que pessoa encarnava outras pessoas, com nomes
diferentes, mas que eram a mesma pessoa que escreveu </span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">“<b>Ó sino da minha aldeia, </b></span><span lang="EN-US"><b><o:p></o:p></b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><b>Já lenta na tarde calma,</b></span><span lang="EN-US"><b><o:p></o:p></b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><b>Cada tua badalada</b></span><span lang="EN-US"><b><o:p></o:p></b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US"><b> </b></span><span class="Apple-style-span" style="font-size: 21px;"><b>Soa dentro da minha alma</b>”</span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Ou então:</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US">“</span><span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><b>A cada tua pancada,</b></span><span lang="EN-US"><b><o:p></o:p></b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><b>Vibrante no céu aberto,</b></span><span lang="EN-US"><b><o:p></o:p></b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><b>Sinto mais longe o passado,</b></span><span lang="EN-US"><b><o:p></o:p></b></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><b>Sinto a saudade mais perto</b>”.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">É uma verdadeira ficção em torno de si próprio que
Pessoa urde ao longo deste período de desdobramento dos seus “eu”, numa
caminhada de despersonalização – e de desresponsabilização? – porque todos eles
estavam artisticamente vivos, com vida própria, verdadeira e responsabilidade
nenhuma.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Mas é neste ano de 1914 que desponta uma Primavera
triunfal, a explosão de Pessoa como um grande escritor que resulta de uma
mistura da escola inglesa, os estudos de Latim e das literaturas clássicas, os
românticos e simbolistas franceses em que ele mergulhara oito anos antes.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">O rastilho foi um poeta americano – Walt Whitman — , a
chave que abriu Pessoa para ‘<i>O Canto de Mim mesmo</i>’ que é um hino ao cosmo
inteiro e galvaniza Pessoa a libertar-se dos heterónimos de forma progressiva,
sem que deixe de os criar, como António Mora (continuador de Caeiro) ou Rafael
Baldai (astrónomo de barbas longas que filosofava no seu Tratado de Negação).</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Também temos os irmãos de Thomas Crosse (I. I. Crosse
ou A. A. Crosse) que assinava ensaios a favor de Alberto Caeiro (I. I.) ou
concorria a prémios literários (A. A.). Estes heterónimos comentavam entre si
as obras dos anteriores Ricardo Reis e Álvaro de Campos, críticos um do outro e
envolvendo-se numa discussão acalorada que respeitava a grandeza incondicional
do mestre Caeiro… Devem ter sido divinais estes anos para Fernando Pessoa no
diálogo com os seus outros “eu” (alter ego).</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">O único conhecedor destas multifacetadas personagens
era Mário de Sá-Carneiro e daí que se entenda que tenha definido Pessoa como
“<b>Homem-Nação – o Prometeu que dentro do seu mundo interior de génio arrastaria
toda uma nacionalidade: uma raça e uma civilização</b>”.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Pessoa gerou a sua própria civilização sem sair de
casa e nutria a esperança de impor esta civilização - dos heterónimos – no
mundo real.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Álvaro de Campos assinava cartas para os jornais e
dava entrevistas. Há dezenas de páginas elogiosas que Pessoa queria publicar em
jornais portugueses e estrangeiros para Lançar Caeiro, enquanto Frederico Reis
escreveu um longo folheto sobre a escola de lisboa que era constituída por
Caeiro, Reis e campos e se opunha a Teixeira de Pascoais e aos saudosistas do
Porto. Sozinho, desdobrando-se em muitos autores, Pessoa estava pronto a
transformar a literatura nacional.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Era uma ambição desmesurada. Sejamos simpáticos: era
uma forte desejo de afirmação pessoal ou o maior monumento conhecido ao
narcisismo na Europa, pelo menos.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Uns dividem para reinar, Fernando Pessoa “<b>dividia-se
para reinar</b>” e afirma-o ousadamente em<i> Ultimatum</i> pela pena de Álvaro de Campos,
onde condena a época de então por “<b>incapacidade de criar grandes valores</b>” e
luta pela “<b>abolição do dogma da personalidade</b>” quando afirma que nenhum artista
deve ter “<b>só uma personalidade</b>” uma vez que o maior artista é aquele que “<b>menos
se define, escreve em mais géneros com mais contradições e dissemelhanças</b>”.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Em 5 de Junho, o poeta fingidor escreve à mãe: “<b>os
meus amigos dizem-me que eu serei um dos maiores poetas contemporâneos</b>”. É uma
altura de inquietude que procura o regaço da mãe e o reconhecimento público que
receava e o levava a refugiar-se nos “<i>Hetero</i>”.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-46263350023967553532013-07-30T03:30:00.000-07:002013-07-30T03:30:30.637-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (11)<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjduwlLgiBhg70BZhCcswjl5zFwdgSjFL6RjPw-pOo2RRGhS5HkP7izmTJxN2vV1zvqbGfCIFiz79KUigC3_8_OGxi7dAaWfILVGuyIYC41vN1-zzxVhh3nO49wf6fGVUQ5GdpfVmVVZXUI/s1600/Orpheu1915.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjduwlLgiBhg70BZhCcswjl5zFwdgSjFL6RjPw-pOo2RRGhS5HkP7izmTJxN2vV1zvqbGfCIFiz79KUigC3_8_OGxi7dAaWfILVGuyIYC41vN1-zzxVhh3nO49wf6fGVUQ5GdpfVmVVZXUI/s320/Orpheu1915.jpg" width="209" /></a></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">O maior artista, escreve Campos (perdão, Pessoa) terá
múltiplas personalidades (quinze ou vinte), exactamente como Fernando Pessoa
(um poeta fingidor) que tinha dias “<b>monotamente agradáveis</b>” em que se consolava
“<b>com o pensamento astrológico de que não podia acontecer nada realmente grave</b>”.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Mesmo que acabasse o dia “<b>sem jantar porque não tinha
dinheiro</b>” nada se comparava à “<b>mistura de megalomania e ideias religiosas (que
de modo algum atacaram a lucidez)</b>”…porque a astrologia era uma das razões mais
úteis para ocupar o seu tempo de leituras. Fernando Pessoa chegou mesmo a fazer
o horóscopo de Álvaro de Campos e de Ricardo Reis.</span><span lang="EN-US"><o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<a href="" name="_GoBack"></a><span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Nesse mesmo ano, Fernando Pessoa escreve
uma frase que deixa o mundo português escandalizado: “<b>o desdobramento do eu é
um fenómeno em grande número de casos de masturbação</b>” só possível explicar por
um adulto que “<b>nunca fui senão uma criança que brincava</b>” – conforme palavras
postas na boca de Alberto Caeiro, a 7 de Novembro de 1915. </span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Melhor dito,
Fernando Pessoa foi um bebé crescido num corpo adulto que jogava xadrez onde as
peças eram personagens criadas por si.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Em JUnho de 1914, no momento do parto de Álvaro de
Campos e de Ricardo Reis, Fernando Pessoa escreve à mãe, em Pretória, onde
afirma: “<b>os meus amigos dizem-me que eu serei um dos maiores poetas
contemporâneos</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Apesar disso, Pessoa sentia-se inquieto, apesar de
consciente do seu génio invulgar que ansiava pelo reconhecimento público que
receava.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Sentia que o rumo da sua vida estava a mudar, o que
era terrivel para quem entendia que “<b>mudar é uma morte parcial; morre qualquer
coisa de nós” bem como “mudar é mau, é sempre mudar para pior</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Pessoa falava muito das saudades de infância e estas
aumentaram com a idade, em reacção à morte que lentamente se aproximava dele,
dele como de toda a gente.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Pessoa tinha um medo de crescer. Podia viver para a
celeridade póstuma mas não se sentia preparado para a vida que o comum dos
homens leva “<b>casado, fútil, quotidiano e tributável</b>”.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Não era um homem de família, que justificava com as
suas ambições literárias e por ter um lugar seguro na família que o trouxera ao
mundo. Contudo, essa família desmoronara-se com o correr dos anos, passando
então a viver sozinho, numa série de quartos alugados todos eles entre os
bairros da Estfânia e dos Anjos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Os apuros económicos – sem apoio familiar — não eram
novidade mas começaram a ser maiores, manifestando-se especialmente na década
de 1910. Para poder dedicar mais tempo à sua escrita, Pessoa recusava trabalhos
com horário fixo numa altura em que todos os amigos e familiares lhe tinham
emprestado dinheiro, às vezes montantes elevados.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Acrescem a estas dificuldades, a aflição durante toda
a sua vida adulta por crises de depressão, derivadas do seu exacerbado
sentimento de solidão, neceesidade sentida desde a infância. “<b>Um amigo íntimo é
um dos meus ideais, um dos meus sonhos, mas um amigo íntimo é algo que nunca
terei</b>” – confessava Fernando Pessoa, em 1917, profetizando está dolorosa
estranha forma de vida.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Numa carta escrita à mãe, em 1914, Fernando Pessoa
referia-se a Mário de Sá-Carneiro como o “<b>meu maior e mais íntimo amigo</b>”
traduzida em mais de 200 cartas e postais desta e quase nenhuma de Fernando
Pessoa. Era uma amizade literária<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>de troca de poemas e de textos ou a pedir a Pessoa que visitassem amigos
lisboetas que lhe deviam dinheiro.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Raramente Fernando Pessoa era banal nas poucas cartas
que restam para Sá-Carneiro que se revelava o mais inseguro dos dois e
neceesitava da aprovação de Pessoa para se libertar das suas depressões em que
“<b>me dói a vida aos poucos, a goles, por interstícios. Tudo isto está impresso
em tipo muito pequeno num livro com a brochura a descozer-se</b>”. </span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;"><br /></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16.0pt;">Antecipava-se um
momento dramático para Fernando Pessoa: a morte do seu amigo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-72777790283274461302013-07-30T03:23:00.000-07:002013-07-30T03:23:25.990-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (10)<!--StartFragment-->
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyj6locKqSAVEUOsDsfnFy6E6NGfXosb4HUQaqhUqzlnGyDDFc7w-t7jwlvRmwWcVk1SLlWzaVzR8KhACrDQ_uDh_e6F8XXMSfietw3bj8HW4Z2m8b_DVSLEFzQGHmq1pPAFSYVqtiuHUP/s1600/orpheu.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyj6locKqSAVEUOsDsfnFy6E6NGfXosb4HUQaqhUqzlnGyDDFc7w-t7jwlvRmwWcVk1SLlWzaVzR8KhACrDQ_uDh_e6F8XXMSfietw3bj8HW4Z2m8b_DVSLEFzQGHmq1pPAFSYVqtiuHUP/s320/orpheu.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Quem era Alberto Caeiro?
O autor de “<i>O Guardador de
Rebanhos</i>”, heterónimo de Fernando Pessoa, “nasceu” a 16 de Abril de 1889, numa
homenagem a melhor amigo de Pessoa: Mário de Sá-Carneiro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O nome Caeiro é Carneiro sem
a carne, dado a um "<b>pastor cujas ovelhas foram espiritualizadas em pensamentos</b>”
até porque “<b>A minha alma é como um pastor</b>” e “<b>o Rebanho é os meus pensamentos</b>”.
O seu amigo do zodíaco era Sá-Carneiro. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Sá-Carneiro suicidou-se antes
de completar 26 anos e Alberto Caeiro também morreu jovem, com 26 anos, de
tuberculose (a doença que inquietava Pessoa desde a infância, por razões
familiares).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Pessoa escreveu sobre ambos
“<b>Morre jovem o que os Deuses amam</b>”. Pessoa concebeu Alberto Caeiro como o poeta
da Natureza, além de ser um vanguardista multifacetado, cuja “morte” prematura
leva Pessoa a transferir as ambições futuristas para Álvaro de Campos., como um
rebento de Alberto Caeiro, a partir de 1914. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
A relação entre os dois
heterónimos reflecte-se nos nomes (Alberto e Álvaro), com semelhança fonética,
alem de Álvaro vir dos campos onde Alberto guardava os seus rebanhos
imaginários.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Álvaro de Campos nasce em
Tavira, em 1890, estuda engenharia naval em Glasgow, viaja pelo Oriente, viveu
alguns anos em Inglaterra, onde cortejava rapazes e raparigas por igual, até se
fixar em Lisboa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Dos seu s primeiros poemas, o
destaque vi para a Ode Triunfal que celebra as máquinas e a idade moderna com
fôlego exuberante.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Com o passar os anos, os
poemas de Álvaro tornam-s mais curtos e melancólicos “<i>Na passagem das horas</i>”...<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
“<b>Sentir tudo de todas as
maneiras,<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Viver tudo de todos os lados,<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Ser a mesma cousa de todos os
modos possíveis, ao mesmo tempo,<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Realizar em si toda a
humanidade de todos os momentos<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>Num só momento difuso,
profuso, completo e longínquo</b>".<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O que hoje podemos escrever
sobre Álvaro e Alberto foi impossível até 1924. Se é verdade que Álvaro teve
projecto mediática imediata, só neste ano se conheceram o Alberto e o Ricardo
Reis.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Campos assinava cartas para
jornais, dava entrevistas e entrava em polémicas, opondo-se muitas vezes às
teses do seu criador (Pessoa). Álvaro Campos era tão “real” que intervinha na
vida diária do seu criador, substituindo-o em alguns encontros com Ofélia
Queiros que não gostava nada do engenheiro nem em pessoa (ou melhor, “em
Pessoa” nem nas cartas que dele recebia (cf. ZANITH, Richard, <i>op.cit</i>. pp.
99-108).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Os directores da Presença
(Gaspar Simões e José Régio) ficaram desgostosos quando foram ao café Montanha,
em Junho de 1930, na expectativa de conhecer o seu mais ilustre colaborador e quem
apareceu não foi Pessoa mas o engenheiro Álvaro de Campos. Mera brincadeira ou
mecanismo de defesa de Pessoa inseguro perante pessoas desconhecidas? Álvaro de
Campos existia para alem das páginas por si escritas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Vamos ao terceiro heterônimo:
Ricardo Reis, que surge uns dia apos Campos, na personagem de medico que Pessoa
define como “<b>Horácio grego que escreve em português</b>”.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Reis era especialista em odes
métricas sem rima sobre a futilidade da vida e a necessidade de aceitar o
destino, muito contrários, à partida, ao espírito inovador do Álvaro e do
Alberto. </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No entanto, este “<b>portuense nascido</b>” em 1887, denotava atenção ao
renascimento italiano que revalorizava o legado cultural da antiguidade. Como o
apelido sugere é monárquico e tem de exilar-se no Brasil, deixando-nos milhares
de papeis com poemas e textos soltos.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O intersecccionismo é um
movimento literário de vanguarda criado por Fernando Pessoa e que se
caracteriza pela inclusão alternada no poema de vários níveis simultâneos de
realidade: a interior e a exterior, a objectiva e a subjectiva, o sonho e a
realidade, o presente e o passado, o eu e o outro (cf. GUIMARÃES, Fernando - <i>O
Modernismo Português e a sua Poética</i> , Lello, Porto, 1999, pp.71-72).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O poema "<i>Chuva
Oblíqua</i>", de Fernando Pessoa (in "<i>Orpheu</i>" n.º 2, 1915), é o
exemplo mais significativo deste novo processo, porque nele se cruzam a
paisagem presente e ausente, o actual e o pretérito, o real e o onírico: <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
"<b>Ilumina-se a Igreja por
dentro da chuva deste dia <o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b>E cada vela que se acende é a
chuva a bater na vidraça...</b>"<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
No entanto, os três
heterônimos são a expressão do “sensacionismo”, um movimento nascido do
interseccionismo, que Pessoa define: “<b>Caeiro tem uma disciplina: as coisas
devem ser sentidas tais como são. Para Ricardo Reis, as coisas devem ser sentidas, não só como são, mas de
modo a integrarem-se num certo ideal de medida e regra clássicas. Em Álvaro de
Campos, as coisas devem ser simplesmente sentidas</b>”. </div>
<div class="MsoNormal">
Este último é quem melhor
exprime o sensacionismo mas cabe a Caeiro chefiar o movimento... em 1916.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O sensacionismo deriva de
três movimentos: do simbolismo francês, do panteísmo transcendental português e
"<b>da baralhada de coisas sem sentido e contraditórias de que o futurismo, o
cubismo e outros quejandos são expressões ocasionais, embora, para sermos
exactos, descendamos mais do seu espírito do que da sua letra</b>" (cf.
PESSOA, Fernando - <i>Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação</i>, Lisboa, Ática, pp.
134-138). </div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Para este movimento, a única realidade em arte é a "<b>consciência da
sensação</b>" e baseia-se em três princípios artísticos: 1) o da sensação, 2)
o da sugestão, 3) o da construção" (id. ibid., pp.134-138).<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<!--EndFragment-->
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-18473186481600269472013-05-14T04:50:00.000-07:002013-05-14T04:50:19.812-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (09)<span style="font-size: 16pt;">Quem era Alberto Caeiro?
O<span> </span>autor de “<i>O Guardador de
Rebanhos</i>”, heterônimo de Fernando Pessoa, “<i>nasceu</i>” a 16 de Abril de 1889, numa
homenagem a melhor amigo de Pessoa: Mário de Sá-Carneiro.</span><br />
<span style="font-size: 16pt;"> </span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">O nome Caeiro é Carneiro sem
a carne, dado a um "<b>pastor cujas ovelhas foram espiritualizadas em pensamentos</b>”
até porque “<b>A minha alma é como um pastor” </b>e<b> “o Rebanho é os meus pensamentos</b>”.
O seu amigo do zodíaco ea Carneiro. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Sá-Carneiro suicidou-se antes
de completar 26 anos e Alberto Caeiro também morreu jovem, com 26 anos, de
tuberculose (a doença que inquietava Pessoa desde a infância, por razões
familiares).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Pessoa escreveu sobre ambos
“<b>Morre jovem o que os Deuses amam</b>”. Pessoa concebeu Alberto Caeiro como o poeta
da Natureza, além de ser um vanguardista multifacetado, cuja “<i>morte</i>” prematura
leva Pessoa a transferir as ambições futuristas para Álvaro de Campos, como um
rebento de Alberto Caeiro, a partir de 1914. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;"> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXQHzTPta3SQdyRFmOo08oGeG_MfL93x-KX4D5o_n2HCa0BqpZEdFB5dM5lKU6pzBS4CJtrZPsnfbF_pYR7D0XErYri7UtYktWjtshCf89VYpwzeGsz-amPWV-j6epcjPDAKonkmKg0sIN/s1600/guardadorderebanhos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXQHzTPta3SQdyRFmOo08oGeG_MfL93x-KX4D5o_n2HCa0BqpZEdFB5dM5lKU6pzBS4CJtrZPsnfbF_pYR7D0XErYri7UtYktWjtshCf89VYpwzeGsz-amPWV-j6epcjPDAKonkmKg0sIN/s320/guardadorderebanhos.jpg" width="320" /></a></div>
</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">A relação entre os dois
heterônimos reflecte-se nos nomes (Alberto e Álvaro), com semelhança fonética,
alem de Álvaro vir dos campos onde Alberto guardava os seus rebanhos
imaginários.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Álvaro de Campos nasce em
Tavira, em 1890, estuda engenharia naval em Glasgow, viaja pelo Oriente, viveu
alguns anos em Inglaterra, onde cortejava rapazes e raparigas por igual, até se
fixar em Lisboa.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Dos seu s primeiros poemas, o
destaque vi para a Ode Triunfal que celebra as máquinas e a idade moderna com
fôlego exuberante.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Com o passar os anos, os
poemas de Álvaro tornam-se mais curtos e melancólicos “<i>Na passagem das horas</i>”...</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: 16pt;">Sentir tudo de todas as
maneiras,</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: 16pt;">Viver tudo de todos os lados,</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: 16pt;">Ser a mesma cousa de todos os
modos possíveis, ao mesmo tempo,</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: 16pt;">Realizar em si toda a
humanidade de todos os momentos</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;"><b>Num só momento difuso,
profuso, completo e longínquo</b>.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">O que hoje podemos escrever
sobre Álvaro e Alberto foi impossível até 1924. Se é verdade que Álvaro teve
projecto mediática imediata, só neste ano se conheceram o Alberto e o Ricardo
Reis.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Campos assinava cartas para
jornais, dava entrevistas e entrava em polémicas, opondo-se muitas vezes às
teses do seu criador (Pessoa). Álvaro Campos era tão “<i>real</i>” que intervinha na
vida diária do seu criador, substituindo-o em alguns encontros com Ofélia
Queiros que não gostava nada do engenheiro nem em pessoa (ou melhor, “<i>em
Pessoa</i>” nem nas cartas que dele recebia (cf. ZANITH, Richard, <i>op.cit</i>. pp.
99-108).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Os directores da Presença
(Gaspar Simões e José Régio) ficaram desgostosos quando foram ao café Montanha,
em Junho de 1930, na expectativa de conhecer o seu mais ilustre colaborador e quem
apareceu não foi Pessoa mas o engenheiro Álvaro de Campos. Mera brincadeira ou
mecanismo de defesa de Pessoa inseguro perante pessoas desconhecidas? </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Álvaro de
Campos existia para alem das páginas por si escritas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Vamos ao terceiro heterônimo:
Ricardo Reis, que surge uns dias após Campos, na personagem de medico que Pessoa
define como “<b>Horácio grego que escreve em português</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Reis era especialista em odes
métricas sem rima sobre a futilidade da vida e a necessidade de aceitar o
destino, muito contrários, à partida, ao espírito inovador do Álvaro e do
Alberto. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">No entanto, este “<i>portuense nascido</i>” em 1887, denotava atenção ao
renascimento italiano que revalorizava o legado cultural da antiguidade. Como o
apelido sugere é monárquico e tem de exilar-se no Brasil, deixando-nos milhares
de papeis com poemas e textos soltos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">O intersecccionismo é um
movimento literário de vanguarda criado por Fernando Pessoa e que se
caracteriza pela <b>"inclusão alternada no poema de vários níveis simultâneos de
realidade: a interior e a exterior, a objectiva e a subjectiva, o sonho e a
realidade, o presente e o passado, o eu e o outro</b>" (cf. GUIMARÃES, Fernando - O
Modernismo Português e a sua Poética , Lello, Porto, 1999, pp.71-72).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">O poema "<i>Chuva
Oblíqua</i>", de Fernando Pessoa (in "<i>Orpheu</i>" n.º 2, 1915), é o
exemplo mais significativo deste novo processo, porque nele se cruzam a
paisagem presente e ausente, o actual e o pretérito, o real e o onírico: </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: 16pt;">Ilumina-se a Igreja por
dentro da chuva deste dia </span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: 16pt;">E cada vela que se acende é a
chuva a bater na vidraça...</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">No entanto, os três
heterônimos são a expressão do “<i>sensacionismo</i>”, um movimento nascido do
interseccionismo, que Pessoa define: “<b>Caeiro tem uma disciplina: as coisas
devem ser sentidas tais como são. Para Ricardo Reis, as coisas devem<span> </span>ser sentidas, não só como são, mas de
modo a integrarem-se num certo ideal de medida e regra clássicas</b>. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;"><b>Em Álvaro de
Campos, as coisas devem ser simplesmente sentidas</b>”. Este último é quem melhor
exprime o sensacionismo mas cabe a Caeiro chefiar o movimento...em 1916.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">O sensacionismo deriva de
três movimentos: do simbolismo francês, do panteísmo transcendental português e
"<b>da baralhada de coisas sem sentido e contraditórias de que o futurismo, o
cubismo e outros quejandos são expressões ocasionais, embora, para sermos
exactos, descendamos mais do seu espírito do que da sua letra</b>" (cf.
PESSOA, Fernando - <i>Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação</i>, Lisboa, Ática, pp.
134-138). </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;">Para este movimento, a única realidade em "<b>arte é a consciência da
sensação</b>" e baseia-se em três princípios artísticos: 1) o da sensação, 2)
o da sugestão, 3) o da construção" (id. <i>ibid</i>., pp.134-138).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16pt;"><i>Nota</i>: quadro "Guardador de rebanhos", de Ricardo Alves </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-4482395531703990622013-05-14T04:40:00.003-07:002013-05-14T04:40:52.154-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (08)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_6SqGEAq91iiulkCnS8otkBWMx7nhKraM7sW7x77Rh97qOguR4PIcOrrTvYnm7rwnKQhYvnAj4Ic0C2WF33qoPDG4GTGp8X_xnOQYVjamzmem5BQM39BuuzdIMf1lfi0h4Uk5XvkUXtzK/s1600/clown-horse-salamandra-1912.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_6SqGEAq91iiulkCnS8otkBWMx7nhKraM7sW7x77Rh97qOguR4PIcOrrTvYnm7rwnKQhYvnAj4Ic0C2WF33qoPDG4GTGp8X_xnOQYVjamzmem5BQM39BuuzdIMf1lfi0h4Uk5XvkUXtzK/s320/clown-horse-salamandra-1912.jpg" width="320" /></a></div>
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Com as ideias de Álvaro de Campos surgem as
primeiras tensões dentro do grupo que se agravaram por dificuldades económicas
que extinguiram o Orpheu. </span><br />
<br />
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">O suicídio de Sá-Carneiro, no ano seguinte, contribui
para unir o grupo mas o génio de Fernando Pessoa já estava imparável, na
renovação da literatura portuguesa, através de várias revistas como <i>Centauro</i>,
<i>Exílio</i>, <i>Portugal Futurista</i>. Esta acabou por ser apreendida pela polícia antes
de ser distribuída por razões políticas ou morais.</span><br />
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;"> </span>
<br />
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Apesar das contrariedades,
Fernando Pessoa procurava levar o projecto de Orpheu para a frente e anuncia a
saída do número 3, em 1916, com colaborações que incluíam “<b>dois poemas ingleses
meus, muito indecentes</b>”, versos de Pessanha e poemas inéditos de Sá-Carneiro, A
cena do ódio de Almada Negreiros e quatro <i>hors-textes</i> “<b>do mais célebre pintor
avançado português, Amadeo de Sousa-Cardozo</b>” (quadro acima).</span><br />
<br />
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Todavia, a revista apenas consegue estar pronta em
Julho do ano seguinte mas “<b>entrará então, misteriosamente, numa dormência
prolongada</b>” (cf. ZENITH, Richard, <i>op. cit</i>. pp. 88 a 98).</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">No entanto, é difícil sobrestimar o papel desempenhado
pela revista Orpheu na introdução do modernismo em Portugal, quanto mais não
seja por ter conseguido romper com a ideia fixa de que convinha seguir modelos
e padrões consagrados lá fora. </span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Orpheu era um grito a clamar por renovação que –
diga-se – seguiu um caminho praticamente paralelo ao modernismo inglês, tendo
ocupado um lugar de relevo no panorama português.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Enquanto os companheiros de Orpheu procuravam
revolucionar as letras portuguesas, uma nova ideia fermentava no espírito de
Fernando Pessoa. Em quatro meses, no ano de 1914, surgiam três heterónimos
propriamente ditos de Pessoa e, dois anos depois, cada um deles tinha uma obra
merecedora de figurar em qualquer Olimpo da poesia universal.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">A revolução pessoana era, afinal, mais profunda,
genuína e surpreendente do que a outra revolução, visível, que levara à criação
de Orpheu.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Fernando pessoa nunca questionou a grandeza de Alberto
Caeiro, Álvaro de Campos ou de Ricardo Reis, mas duvidava, da sinceridade e do
valor de movimentos como o paulismo, o interseccionismo e o futurismo.</span><span lang="EN-US"></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">A sua revista Europa acabou por sair rebaptizada de
Orpheu e mudeou decisivamente o rumo da literatura portuguesa.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Para Pessoa, introduzir o modernismo não era um feito
extraordinário. Agora, "<b>ser-se um poeta absolutamente genial era, e será sempre,
um feito impossível de realizar por vontade e esforço humanos. Ser vários
poetas absolutamente geniais, então, era de uma absoluto ineditismo</b>” (ZANITH,
Richard, in op. cit. Pp. 99- 107).</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Agora se sabe, através da análise dos manuscritos
pessoanos, que a história do dia triunfal de 8 de Março de 1914, quando Alberto
Caeiro “<i>apareceu</i>” em Fernando Pessoa que ele escreveu, como se um jacto fosse,
numa “<b>espécie de êxtase</b>”, mais de 30 poemas de “<i>O Guardador de Rebanhos</i>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">É a obra poética mais sublime de Pessoa que escreveu
metade dos seus 49 poemas em duas semanas daquele prodigioso mês de Março. </span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Alberto Caeiro, o primeiro alicerce do célebre tripé de heterónimos a surgir,
era um poeta do campo, sem estudos, mas reconhecido pelos outros como “<b>mestre
que pregava a percepção directa das coisas, sem filosofias</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Para Caeiro, </span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;"><b>O essencial é saber ver;</b></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Saber ver sem
estar a pensar;</span></b></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Saber ver quando se vê; </span></b></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">E nem pensar quando se vê </span></b></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;"><b>Nem ver
quando se pensa.</b></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Caeiro era o “<b>único poeta da natureza</b>” que dela fazia
“<b>pura filosofia</b>” nascida num “<b>instante de nirvana poético, uma impossibilidade
consubstanciada em versos transparentes, belos e precisos como o cristal</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">O próprio Pessoa ficou “<b>deslumbrado</b>” quando escreve a
um amigo: “<b>se há parte da minha obra que tenha um ‘cunho de sinceridade’, essa
parte é… a obra de Caeiro</b>” que excede o que o “<b>eu racionalmente podia gerar
dentro de mim</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Quem era Alberto Caeiro? Daremos a resposta a seguir.</span><span lang="EN-US"></span></div>
<br />
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-83062119057413412152013-05-14T04:34:00.000-07:002013-05-14T04:34:23.017-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (07)<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }p { margin-right: 0cm; margin-bottom: 5.95pt; margin-left: 0cm; font-size: 10pt; font-family: Times; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi51hh-RCFE9grUpfrK64jT1yjPZ-hCUN6vISQiEQqpGm2rfM49MKjMmga_J1CIqc04Q0z_Nw3m1__s3eCIhYltU0b_izanb-sl-_yh2t4Ywm4E5qZhPhYiL_gfeimIaMn29jPV1feKrAeE/s1600/antologiapoeticamario.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi51hh-RCFE9grUpfrK64jT1yjPZ-hCUN6vISQiEQqpGm2rfM49MKjMmga_J1CIqc04Q0z_Nw3m1__s3eCIhYltU0b_izanb-sl-_yh2t4Ywm4E5qZhPhYiL_gfeimIaMn29jPV1feKrAeE/s320/antologiapoeticamario.jpg" width="222" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Só em 1912, Fernando Pessoa faz a sua estreia como escritor com um
ensaio “<i>A nova poesia portuguesa</i></span><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">”, e explica que Portugal está
no limiar de uma época gloriosa da sua literatura, na qual apareceria o “<i>Grande
poeta</i></span><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">”, que "<b>remeteria para segundo plano a figura de Camões</b></span><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Quem era o grande poeta? Era Pessoa… </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Ele sentiu que o seu génio criador estava prestes a dar fruto. Fernando
Pessoa continuava a produzir poesia em inglês, com o heterónimo Alexander
Search, até 1910, enquanto em seu nome próprio escrevia em português.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Lendo os simbolistas Mallarmé, Verlaine, Rimbaud e muita poesia
nacional, Fernando Pessoa faz a transição entre a Monarquia e a República em
contacto com Teixeira de Pscoaes e o quase inédito Camilo Pessanha.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Fernando Pessoa está seguro de que, “<b>andando pensa-se melhor que
sentado</b></span><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">”, quando escrevia a Mário de Sá-Carneiro que “<b>o que é preciso é ter
um pouco de Europa na Alma</b></span><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">De facto, entre os 24 e os 29 anos, Fernando Pessoa vive num rodopio de
movimento, emoção, criatividade e contactos pessoais que se afasta do
estereotipo do poeta recolhido no seu quarto, afastado dos outros seres
humanos, a ler livros e a escrever coisas para a “<b>famosa arca que só nós
iríamos apreciar</b></span><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">A vida pública de Pessoa girava em torno da literatura e esta estimulava
aquela, levando-o a frequentar cafés lisboetas e reunr-se com jornalistas e
escritores como Augusto Gil ou Camilo Pessanha, discutindo as novidades
editoriais, mostrando o que escrevia e ouvindo os poemas deles.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">A chegada da República gerara grandes exectativas. Apesar do caos
reinante logo nos primeiros anos e de um “<b>ódio especial por Afonso Costa</b></span><span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">”, Pessoa
acreditava que era dentro da República que se faria o renascimento cultural de
Portugal.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">A lealdade de Fernando Pessoa à República estava aí para continuar,
através do seu punho, há precisamente cem anos, quando Pessoa vive momentos de
grande frenesim na sua produção, começando a afirmar toda a sua genialidade.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">No ano de 1913, a política não podia deixar de ser um tema muito
debatido nas tertúlias frequentadas por Fernando Pessoa, que se prolongavam
horas e horas na elaboração de manifestos a defender a República, contra
os monárquicos, mas opondo-se aos “<b>afonsistas</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Nesse núcleo de poetas, citados na crónica anterior, nascia a revista
<i>Águia</i> que acolhe “<i>Na floresta do alheamento</i>”, prosa poética do “<i>Livro do
Desassossego</i>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">O ano 1913 é de facto o ponto de partida na revelação do génio pessoano,
sem que haja grande rebuliço nas letras portuguesas de então.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Pessoa não punha em causa a ultra-racionalidade mas inclinava-se mais
para o Intersecccionismo, uma espécie de cubismo aplcado à literatura.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Tal era o esforço de inovação literária que Pessoa e os seus discípulos
estavam sós, sem terem quem os acolhesse no meio literário português, o que
explica os fracassos editoriais.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">No começo de 1913, Fernando Pessoa tenta lançar uma nova revista
<i>Lusitânia</i> que se debruçasse sobre os problemas políticos da República e o
lugar que ela ocupava (escasso) na cena internacional. Projectada por Pessoa
com Sá-Carneiro a secretário, a revista contava com colaborações de José
Almada Negreiros, Cobeira, João Correia de Oliveira (irmão do poeta minhoto
António e muito amigo de Pessoa) e Camilo Pessanha, “<b>um grande poeta inédito</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Alguns meses depois, o nome da revista mudava para <i>Europa</i> correspondendo
ao duplo desejo de Pessoa trazer a modernidade europeia para Portugal e
promover a cultura portuguesa no Velho Continente. Os amigos Sá Carneiro e
Santa-Rita Pintor traziam a Pessoa as tendências mo-dernas da Europa e da
A-mérica do Sul, como o cubismo (Picasso) e modernismo (Max Jacob e
Apolinaire).</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="color: magenta;">
<span style="font-size: large;"><span lang="EN-US">O escândalo Orpheu</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">A<i> Lusitânia</i> nunca chegou a sair porque entretanto Montalvor sugeriu o
nome de Orpheu, cujo editor foi António Ferro, e o primeiro número surge
só em Março de 1915, sendo recebida como uma “<b>maluqueira literária</b>” de uns
“<b>alienistas</b>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Pessoa ficou satisfeito porque “<b>somos o assunto do dia em Lisboa.
O escândalo é enorme. Somos apontados na rua e toda a gente fala no Orpheu</b>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">O segundo número saiu três meses depois e a imprensa voltou a destacar
este grupo de “<b>doidos</b>”. Apareciam vários poemas de Álvaro de Campos, o
heterónimo mais exuberante de Pessoa e o primeiro a ser revelado publicamente.
Com as ideias de Álvaro de Campos surgem as primeiras tensões dentro do grupo
que se agravaram por dificuldades económicas que extinguiram o Orpheu. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">O
suicídio de Sá-Carneiro, no ano seguinte, contribui para unir o grupo mas o
génio de Fernando Pessoa já estava imparável, na renovação da literatura
portuguesa, através de várias revistas como Centauro, Exílio, Portugal
Futurista. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Esta acabou por ser apreendida pela polícia antes de ser distribuída
por razões políticas ou morais.</span></div>
<br />
<br />
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-size: large;">
<span lang="EN-US"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-56905626908105334702013-05-14T04:23:00.000-07:002013-05-14T04:23:11.114-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (06)<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }p { margin-right: 0cm; margin-bottom: 5.95pt; margin-left: 0cm; font-size: 10pt; font-family: Times; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpKXCUjzYYALukE0pXv9BOUEL0MPgUp9Pb8DRABYLCGJNiaodd82BajKjD11Qe2MtgTM53h0B56pBB9Kc3Q0pBHnVKTRAHaGT6q7FnAv-C9GG6b-cw5wXQjcIXquT2coCXiRV7TpG8Nwb-/s1600/mahatma-gandhi-hd-wallpapers.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="280" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpKXCUjzYYALukE0pXv9BOUEL0MPgUp9Pb8DRABYLCGJNiaodd82BajKjD11Qe2MtgTM53h0B56pBB9Kc3Q0pBHnVKTRAHaGT6q7FnAv-C9GG6b-cw5wXQjcIXquT2coCXiRV7TpG8Nwb-/s320/mahatma-gandhi-hd-wallpapers.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Se nada de África perdurou
na memória daquela irrequieta e simpática criança que era Fernando Pessoa. Há
sempre uma excepção, para além do Luar. Mohandas Gandhi, futuro herói da
independência da Índia.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Um juíz mandou-o tirar o turbante, em Durban, a seguir
foi expulso de um comboio por querer sentar-se na primeira classe, para a qual
comprara o devido bilhete, factos que o levam a encetar uma luta contra o
racismo perpetrado sobre os emigrantes indianos.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Quatro mil brancos, com os seus criados negros
tentaram, anos mais tarde, linchar Gandhi. Não se sabe que efeito tiveram estes
gestos em Fernando pessoa mas manda a verdade escrever que, anos mais tarde, o
autor de “<i>A Mensagem</i>” tenta um ensaio sobre a figura do resistente pacífico
indiano, “<b>a única figura verdadeiramente grande que há hoje no mundo</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Porquê? Porque, “<b>em certa medida, não pertence ao
mundo e o nega</b>”. Porque “<b>ele não pode ser ridículo porque não pode ser medido
pelas normas dos que o pretendem ridicularizar</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Porque “<b>o seu alto exemplo, inaproveitável pela nossa
fraqueza, enxovalha a nossa ambiguidade</b>” afirmando-se como “<b>herói sem armas, dá
ferrugem aos nossos numerosos gládios, espingardas e peças</b>” e “<b>paira acima da
nossa bebedeira de conseguimentos</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Fernando Pessoa regressa a Lisboa em Setembro de 1905,
onde começa a assistir às primeiras aulas do Curso Superior de Letras (que em
1911 é integrado na Universidade de Lisboa), sendo encaminhado para uma
carreira diplomática, acrescentando filosofia às cadeiras de letras e de
história. É na disciplina de Filosofia que se empenha mais.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">O seu melhor amigo de curso foi Armando Teixeira
Rebello, que também vivera a infância na África do Sul porque a maior parte dos
seu colegas eram “<b>convencionais</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">De pressa se sentiu desiludido porque se uns eram
convencionais, outros estavam “<b>profundamente escravizados como qualquer outro
escravo</b>”. “<b>Já não tenho esperança em qualquer amizade aqui: procurarei ir-me
embora e o mais depressa possível</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">São extractos do seu diário, assinado por Charles
Robert Anon, através de um carimbo. Os trabalhos escolares são redigidos em
excelente português mas os poemas eram escritos em inglês nesta etapa da vida,
imitando Cesário Verde w outros simbolistas.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Enquanto decorria o curso, sem entusiasmo, passava
longos tempos na Biblioteca Nacional lendo Aristóteles e Kant, as religiões do
mundo, psicologia e Charles Darwin, bem como autores clássicos franceses e
ingleses.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Pessoa escrevia poemas e reflexões e amava Portugal
cada vez mais e preocupava-se com os eu futuro político, aponto de elaborar um
trabalho a justificar o regicídio português D. Carlos, perante o resto do
mundo, em 1908.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">O Sentimento patriótico de Pessoa foi exacerbado pela
sua aversão à chamada ditadura de João Franco, apoiada por D. Carlos. O desejo
de escrever em português e abandonar o pseudónimo Anon nasce com o desejo de
militar contra a monarquia e é suscitado pela leitura de Folhas Caídas, de
Almeida Garrett.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Com 19 anos, após vários heterónimos, Pessoa já via
claramente o seu caminho: a escrita posta ao serviço da literatura, da
humanidade, do país e da sua glória pessoal ou não tivesse ele escrito que
“<b>sempre foi um grande poeta pequenino, inda mamava e já fazia versos à ama, o
maroto</b>”. </span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Em 1909, adulto e com dinheiro da herança nas mãos,
Pessoa vai a Portalegre comprar uma tipografia para trazer para Lisboa para
publicar algumas obras suas com heterónimos. O sonho foi de pouca duração e a
tipografia praticamente não chegou a existir.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Restava a Pessoa ser correspondente estrangeiro de
casas comerciais, cobrando um tanto por carta e trabalhar no horário que lhe
convinha, Em 1911 começa a fazer traduções literárias do inglês e do espanhol
mas nunca foi a solução para os seus gastos.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Literariamente a carreira avançava mas sem
reconhecimento porque nada publicara em seu nome… concebia nesta altura duas
das suas mais importantes obras <i>Mensagem</i> e <i>Fausto</i>. O título original da
primeira era <i>Portugal</i>. O <i>Fausto</i> ocupou o escritor até à sua morte. Ficou para a
posteridade, como o <i>Livro do Desassossego</i>, como um grandioso monumento de
fragmentos.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Só em 1912, Fernando Pessoa faz a sua estreia como
escritor com um ensaio “<i>A nova poesia portuguesa</i>”, publicado na revista Águia,
dirigida por Teixeira de Pascoaes. Explica que Portugal está no limiar de uma
época gloriosa da sua literatura, na qual apareceria o “<i>Grande poeta</i>”, que
<b>"remeteria para segundo plano a figura de Camões</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Quem era o grande poeta? </span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Era Pessoa… sem nada que lhe
pudesse valer a fama porque “<b>o prazer da fama futura é um prazer presente – a
fama é que é futura. Eu, que na vida transitória não sou nada, posso gozar a
visão do futuro a ler esta página (</b>do <i>Livro do Desassossego</i><b>) pois efectivamente
a escrevo; posso orgulhar-me, como de um filho, da fama que terei, porque, ao
menos, tenho com que a ter</b>”.</span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span lang="EN-US" style="font-size: 16pt;">Ele sentiu que o seu génio criador estava prestes a
dar fruto.</span><span lang="EN-US"></span></div>
<div style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1097502133400573739.post-5707764159962524672013-05-14T04:16:00.001-07:002013-05-14T04:16:18.861-07:00Os rostos da República: Fernando Pessoa (05)<style>@font-face {
font-family: "Times New Roman";
}p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal { margin: 0cm 0cm 0.0001pt; font-size: 12pt; font-family: "Times New Roman"; }table.MsoNormalTable { font-size: 10pt; font-family: "Times New Roman"; }div.Section1 { page: Section1; }</style>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4eARrg0EBJd-S0omywqXIdqngyNS36O-LuEPSvkZUWc5SNuq5JJPhleg_a1UDA63h33TBxB8LgchML5bzWxS1d-dQqMCqnrsqvklEAvYFnN8XII_pK1A6EVq8udP4i3FPr2I32r0PXP1r/s1600/Durban_TownHall.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4eARrg0EBJd-S0omywqXIdqngyNS36O-LuEPSvkZUWc5SNuq5JJPhleg_a1UDA63h33TBxB8LgchML5bzWxS1d-dQqMCqnrsqvklEAvYFnN8XII_pK1A6EVq8udP4i3FPr2I32r0PXP1r/s320/Durban_TownHall.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">A mãe acabou por levar
Fernando para Durban, (na foto, o edifício da Town Hall) na África do Sul, em Janeiro de 1896. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">O poeta tem oito
anos de idade. São estes sete anos e pouco de vida que impedem Fernando Pessoa
de ser um poeta inglês, devido à sua grande ligação afectiva a Portugal.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">De facto, durante as décadas
de vida que passou em Lisboa como adulto, Fernando Pessoa quase nunca se
referiu aos nove anos que esteve na África do Sul, a não ser para justificar
porque dominava também a língua de Shakespeare.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Doía-lhe recordar aqueles
anos ou sentiu-se em Durban alheio, um peixe fora de água? Ou ressentia-se do
novo ambiente familiar?</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Talvez tudo isso, mas a
experiência pessoana em África foi essencialmente livresca, até porque se sabe
muito pouco dos primeiros anos, onde estudou num colégio de freiras irlandesas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Muito menos se sabe se
mantinha fervor religioso, porque aos 17 anos já se declarava anti-católico até
ao fim da vida. Apesar de admitir um “<b>espírito religioso</b>" com a consciência da
“<b>terrível importância da vida, essa consciência que nos impossibilita de fazer
arte meramente pela arte</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Pessoa chega mesmo a falar da
“<b>terrível e religiosa missão que todo o homem génio recebe de Deus</b>” e assim se
entende que, para ele, a obra literária devia servir a Humanidade e também Deus
ou o Destino.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Nem mesmo as belezas naturais
de Durban parecem ter causado grande impressão em Pessoa, porque nunca lhes faz
alusão.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">No entanto, esta estadia<span> </span>possibilitou que absorvesse a língua e
cultura inglesas como uma esponja que “<b>secava</b>” os livros que lia e estudava,
através de um ritmo escolar estonteante. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Em 1899, destaca-se como aluno em
francês e inglês ao colocar-se em 48.º lugar entre 673 candidatos à School High
Certificate, de 15 anos, quando ele tinha treze.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Foi esta diferença de idades
que dificultou a sua integração social. Acanhado quanto baste, Pessoa não
cultivava amizades e preferia divertir-se com jogos solitários ou a ler
romances de mistério e aventura, com primazia para Charles Dickens.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Em 1901 surgem umas férias
prolongadas do pai adoptivo em Portugal, permitindo viagens a Fernando, de
Lisboa a Tavira e Ilha Terceira,onde permanece cm uma tia Anica, irmã da mãe.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">É este ano de férias em
Portugal que salva Pessoa para a literatura portuguesa, com os primeiros
poemas, entre eles, “<i>Quando ela passa</i>”. Este poema demonstra que os primeros
alicerces da sua produção poética em português estavam bem assentes.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">No regresso a Durban, é
matriculado numa escola de contabilidade que só funcionava à noite, pelo que
Pessoa tinha os dias livres para se dedicar à sua paixão antiga – a leitura – e
à nova – a escrita.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Pessoa não acaba as suas
obras porque o seu espírito transbordava como um vulcão de nova s idéias e
projectos que os distraíam dos que estavam em curso.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Era já um perfeccionista na
escrita porque a vida lhe parecia irremediavelmente imperfeita, ao ponto de
considerar que “<b>só uma obra pequena podia atingir a perfeição</b>”. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">É assim que é
na poesia que Fernando Pessoa consegue completar as obras iniciadas.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Em 1903 o seu ensaio de
inglês, na admissão à Univesidade do Cabo, recebe o prémio Queen Vitória
Memorial Prize. Estamos na véspera do seu primeiro alter-ego (heterónimo),
Charles Robert Anon, que prefigurava a o irreverente Álvaro de Campos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">É em Durban que se alimenta a
grande admiração por Mahatma Gandhi que, ali, iniciou a sua caminhada
anti-imperialismo britânico. Winston Churchill, correspondente de guerra,
esteve ali preso pelos bóeres, quando Pessoa tinha 11 anos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Embora anglófilo, Pessoa não
sentia qualquer lealdade patriótica para com a Inglaterra e o seu império. Para
isso contribuíram as leituras de Shakespeare, Milton, Lord Byron, Alexander
Pope, Thomas Carlyle e Edgar Allan Poe.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Em 1905 embarca para Lisboa
definitivamente, deixando África e Durban em pleno esquecimento em toda a sua
obra, a não ser dois meses antes de morrer, ao ouvir<span> </span>“<i>Un soir à Lima</i>”, música que sua mãe tocava ao piano, em
Durban.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Esta musica </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">“<b>lembra-me da
nossa sala, quente</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;"><b>Da África ampla onde o luar está</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;"><b>Lá fora vasto e indiferente” </b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">e conclui com uma alusão a<b> </b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;"><b>“todo o luar de toda a África inundar</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;"><b>A paisagem e
o meu sonho</b>”.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18pt;">Fernando Pessoa, em 47 anos
de vida, ficou muitas vezes à janela, pouco participante do que acontecia em
redor mas intimamente presente, gravando tudo o que via e sentia no fundo
indelével da memória, ou da alma.</span></div>
Braga Agorahttp://www.blogger.com/profile/08563230476357363838noreply@blogger.com0