Palavras sobre bracarenses que fazem, porque há gente fantástica, não há? Há, a começar por ti.
Saturday, October 18, 2008
Manuel Valença: bracarense, missionário e notável compositor
Hoje, 19 de Outubro, a Igreja Católica celebra o Dia Mundial das Missões, uma data ímpar da igreja portuguesa e bracarense que possui entre os seus crentes alguns dos mais notáveis missionários. Um deles é o padre Manuel Valença, nascido em S. Vítor há 92 anos.
Filho de comerciante e uma artesã de bordados, na Senhora-a-Branca, em Braga, Manuel Valença é um compositor com centenas de peças musicais para coro, orquestra aclamadas um pouco por todo o mundo (especialmente África e América do Norte) e simples cânticos que o nosso povo entoa nas suas festas sem saber quem é o autor.
Nascido em1917, foi baptizado na igreja de S. Vítor, fez a escola primária poucos anos porque o pai “me ensinou quase tudo antes de ir para a escola primária, No primeiro dia estive a ser interrogado pela professora e no dia seguinte fui para a terceira classe porque estava preparado para isso. Em seguida, o meu padrinho, que era franciscano e era o síndico desta Casa de Montariol, sugeriu que eu viesse para aqui.. Era para ir para Espanha, onde tínhamos um colégio, em Tuy, mas nesse ano mudamos para aqui. As aulas começaram mais tarde, porque este edifício não existia. Nós vivíamos na Igreja que tinha sido uma cavalariça das tropas que se estabeleceram aqui. Iamos comer lá abaixo a outra casa onde está um a tipografia. Fazíamos isto duas vezes por dia. Estudávamos no coro e tínhamos ali as aulas. Os professores eram muito competentes e amigos. Quando entramos éramos 50 mas doze anos , após a Filosofia e a Teologia, depois ficamos doze. Os outros abandonaram, cada um com as suas razões".
Depois, o nosso anfitrião, que nos recebe na esplendorosa biblioteca de Montariol, vai para Espanha, onde estuda durante três anos em que o país vizinho vivia em Guerra Civil. Eram tempos de enorme dificuldade: “alguém vinha a Portugal buscar alimentos para nós sobrevivermos no outro lado e sustentar o colégio de S. António de Tuy” — recorda o padre Manuel Valença.
Quanto à música, o padre Manuel Valença teve um bom professor de piano até aos dez nos, “depois estudei por mim, todos os dias, enquanto os meus colegas brincavam, os exercícios do Czerny, etc”.
Depois de concluída a licenciatura de Teologia em Varatojo, esteve no Porto, durante um ano, e “fui chamado pra ensinar em Montariol. Comecei ensinar literatura e quando o professor de inglês saiu comecei a dar lições de inglês durante sete anos. Isso preparou-me para o resto da vida. Quando fui para as missões, 16 anos depois, veio a independência de Moçambique e resolvi sair para a África do Sul onde estive três anos. Em Pretória havia musicologias na Universidade e recebi grau de doutor. O inglês ajudou-me muito".
A MÚSICA
COMO INSTRUMENTO
DE EVANGELIZAÇÃO
Sobre a sua ida para Moçambique, onde esteve 16 anos em missão, perto de Maputo, Polana, Manuel Valença foi substituir um colega que passou para outro colégio. Esteve 16 anos a ensinar no Colégio António Enes e dedicava-se à evangelização através... da música. “Elevar a cultura das pessoas. Começamos com concertos de órgão, depois criamos um grupo coral aberto a todos e ainda agora estive a ouvir uma gravação dos primeiros concertos. Isso deu brado e começamos a ter uma orquestra do Rádio Clube. Fizemos concertos de Haendel para orquestra e órgão com mais de três mil pessoas as assistir.”
Construída uma Igreja e um fantástico centro pastoral, chega a independência e o regime não via com bons olhos a presença da Igreja Católica. O padre Manuel Valença opta por seguir para África do Sul, dando um concerto numa igreja protestante de Joanesburgo e na Catedral Católica, por três vezes. "Fui convidado para dar aulas na British University com lições sobre a música portuguesa, especialmente o cravista Carlos Seixas. Orquestrei umas peças de Carlos Seixas e esse concerto foi realizado na Universidade de Joanesburgo, com enorme sucesso registado nos jornais".
A música, em Lourenço Marques, atraiu muitas crianças e atrás delas os pais e milhares de pessoas. “O primeiro concerto que nós fizemos, tinha três mil pessoas. É uma coisa tremenda a força da música” — lembra.
Quanto ao seu talento musical, Manuel Valença explica: “a minha mãe cantava e ensinou-me a cantar. Tinha bom ouvido. Aqui, um professor pôs-me a tocar uma peça a quatro mãos com um colega... saí-me bem. Tudo começou por aí, depois estudei nos conservatórios de Porto e Lisboa" (oito anos).
Uma das suas centenas de obras que não esquece... é a “Missa Totta Pulchra, para coro a 3 vozes e orquestra. Foi cantada no Rádio Clube de Lourenço Marques por uma escola de africanos que estudavam para professores das missões. Fui ensaiá-los e apresentamos essa obra e ainda a tenho gravada”.
Infelizmente, Manuel Valença tem poucos registos das suas obras musicais e o que existe está em fita magnética ou vinil.
Johan Sebastião Bach — porque “há músicas que nos tocam mais”, adverte —, Chopin, Mendelssohn e Beethoven são os seus compositores preferidos.
Quando lhe perguntamos pelas suas obras — ele não sabe quantas são — a mais importante foi “uma composição sobre temas do Carlos Seixas para quarteto de cordas e orquestra de câmara”.
No Verão, procura passar férias nos Estados Unidos, aproveitando para maravilhar os americanos com os seus concertos ao ar livre e em igrejas.
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