Thursday, January 24, 2008

Uma questão de ética e confiança

Há dois ou três anos atrás, uma empresa da Galiza enviou a uma empresa bracarense a quem fornecia serviços um fax a comunicar que, por força da baixa de preço de algumas matérias primas no mercado, a próxima factura mensal traduziria a diminuição do custo.

A administração da empresa bracarense ficou admirada, por um lado, e bem impressionada, por outro. Admirada, porque, por aqui, esta postura era impossível. Impressionada, porque uma empresa assim, mesmo estrangeira, merece toda a confiança.

Já passaram vários anos, e em Portugal, esta ética nos negócios continua a ser impossível. É por isso que, muitas vezes, a qualidade das nossas empresas deixa muito a desejar e a única responsabilidade é apenas de empresários sem escrúpulos.

O que se está a ver agora nos ginásios e outros locais de prática de actividade física é inacreditável, depois do Governo, através do orçamento de estado, ter decretado que o IVA, nestes casos, descia dos 21 para os cinco por cento.

Não adianta nada vir agora o vice-presidente da Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal desculpar-se ao dizer que "a descida de preços pode não ser automática com a entrada em vigor da descida de IVA", mas que em breve "o mercado se auto-regulará".

Este tema da diminuição do preço dos ginásios, no seguimento do abaixamento da taxa de IVA de 21 para 5 por cento, não era notícia se não tivesse originado queixas por parte dos utentes, uma vez que os ginásios mantiveram, e em certos casos aumentaram, os valores das mensalidades em Janeiro.

Com esta descida de 16 pontos no IVA, o Governo quer estimular objectivamente a prática da actividade física entre a população.

Não baixar a factura mensal em 16 pontos percentuais já é uma obscenidade. Mas, que podemos dizer daqueles que aumentaram, mostrando total falta de respeito pelos seus utentes?


O comportamento de muitos empresários do sector mostra que o Governo não pode fazer tudo para mudar este país para melhor, se cada um de nós não fizer a sua parte, se os empresários não cumprirem os seus deveres.

Como estamos longe da ética empresarial de outros países, a começar pela vizinha Galiza. Muitos empresários portugueses não merecem mesmo nenhuma confiança.

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