Thursday, February 28, 2008

Eduardo Melo Peixoto: letras e sons da vida reflectidos nos "Ecos"




Certamente, o leitor já ouviu sua voz voltar de um penhasco ou contraforte, de um edifício alto ou de uma montanha íngreme, formando um eco?
Ouve-se o eco porque o som bate e volta como acontece a uma bola de borracha que batemos contra e volta de uma parede ao nosso encontro.

O eco também é semelhante a um raio de luz reflectido num espelho.
Um eco é um som reflectido.

Só ouvimos os ecos como sons isolados quando eles nos atingem um décimo de segundo ou mais depois do som original.
Esse é o tempo necessário para o ouvido humano separar um som do outro.
Se o leitor quiser ouvir o seu eco deve ficar pelo menos a 17 metros de distância da parede reflectora.
Se o leitor gritar diante de um penhasco a 17 metros, o som caminhará 17 metros até o penhasco e mais 17 de volta para si, numa distância total de 34 metros.

Porquê 34 metros?
Porque o som tem a velocidade de 340 metros por segundo, e tem de percorrer essa distância em um décimo de segundo. O eco chega ao seu ouvido um décimo de segundo depois do leitor ouvir a sua voz original.

Mas há ecos e ecos.
Um eco pode provocar séria interferência na audição, principalmente num ginásio grande ou num auditório. Os ecos cobrem as palavras de quem fala, causando confusão. Pode-se superar esse problema usando material amortecedor de som para as paredes, tectos e chão.

Mas não é desses ecos que estamos a falar ou estamos a escrever – perdão, quem escreveu foi Monsenhor Eduardo Melo Peixoto.

Para não criarem confusão foram colocados em letra impressa no jornal Correio do Minho, a cada Domingo que passava. Na Rádio Antena Minho, as manhãs de Domingo também acolheram estes ecos diferentes porque eram “ecos da vida”.
Porquê em livro, se já foram transcritos num jornal e ouvidos numa rádio, ainda por cima neste tempo das novas tecnologias? Podiam ser colocados num blogue, na Internet... dirão alguns.

Não há como um livro, como afirma o insuspeito fundador da Microsoft. Escreve ele que “os meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história”.

Explicado o que é um eco e justificada a necessidade de um livro sobre ecos, é tempo de definirmos que este livro inclui ECOS da Vida.

O que é a vida?

Desculpem meus senhores – leitores e autor dos ‘Ecos da Vida’ – mas eu entendo a vida como uma viagem de comboio. Estou a fazer uma escolha inconveniente mas ecológica, além de ser uma comparação extremamente interessante, quando bem interpretada.

Em anterior edição deste livro, o eng. Abílio da Cunha Vilaça dava-nos o mote para estas reflexões, quando escreveu que “Os Ecos da Vida traduzem vivências, reflexões, pensamentos, sempre numa atitude de alerta, e de despertar o sentido crítico de quem está nesta vida, não apenas para ver “passar os comboios”, mas que actua e faz actuar os que estão à sua volta” (1)
Interessante, porque nossa vida é como uma viagem de comboio, cheia de embarques e desembarques, de pequenos acidentes pelo caminho, de surpresas agradáveis com alguns embarques e de tristezas com os desembarques.



Quando nascemos — ao embarcarmos neste comboio, encontramos duas pessoas que, acreditamos que farão connosco o percurso até o fim: os nossos pais.

É verdade mental mas não real. Infelizmente, num qualquer apeadeiro, eles desembarcam, deixando-nos órfãos do seu carinho, dedicação, mimos, protecção e amor. Ficamos sem a rectaguarda protectora, mas isso não impede que a viagem prossiga. Assistimos ao embarque de pessoas interessantes que vão ser especiais para nós: irmãos, professores, patrões, companheiros, colegas, camaradas, amigos e amores.

Muitas pessoas entram neste comboio para passear. Outras viajam para esquecer as tristezas da vida. Há outras pessoas que vagueiam de carruagem em carruagem abertas a ajudar quem precisa.

Alguns passageiros que nos são tão caros acomodam-se em vagões diferentes do nosso. Isso obriga-nos a fazer essa viagem separados deles, quantas vezes durante anos, sem nos vermos, falarmos, amarmos. Com maior ou menor dificuldade, a vida faz com abandonemos o nosso vagão e consigamos chegar até eles. Afinal, eles eram o melhor pedaço de nós.

Às vezes é difícil aceitarmos que não podemos sentar ao seu lado, pois outra pessoa está a ocupar esse lugar. Essa viagem da vida é assim: cheia de atropelos, sonhos, fantasias, desilusões, traições, derrotas, triunfos, esperas, embarques e desembarques.

Uma coisa é certa: este comboio não volta ao início da viagem. Por isso, só nos resta uma alternativa: fazer esta viagem da melhor maneira possível, tentando manter um bom relacionamento com todos, procurando em cada um o que tem de melhor, lembrando sempre que, em algum momento do trajecto podem fraquejar. Nós mesmos fraquejamos algumas vezes e queremos que algum passageiro nos entenda.

O grande mistério desta viagem de comboio é que não sabemos em que apeadeiro descemos do vagão da vida.
Acresce que, quando chegar o apeadeiro da saída, vai ser dramático deixar os filhos a viajar sozinhos, separar-me dos amigos que nele fiz, e arrancar-me do amor da minha vida.

Resta a esperança de chegar estação principal, onde sentiremos o agradável arrepio de prazer em ver os pais, irmãos, professores, patrões, companheiros, colegas, camaradas, amigos e amores, todos com a bagagem, que não tinham quando embarcaram.

Em que é que esta história contribui para a felicidade dos leitores. Em nada, porque o que nos deixa felizes é saber que de alguma forma, eu colaborei para que essa bagagem tenha crescido e se tornado valiosa.

Ora, este é o objectivo de Monsenhor Eduardo Melo Peixoto quando decidiu publicar em livro as crónicas “Ecos da Vida” – que escreveu para o jornal Correio do Minho e leu na Rádio Antena Minho. Contribuir para que cada leitor cresça e tenha uma vida mais valiosa para os seus pais, irmãos, professores, patrões, companheiros, colegas, camaradas, amigos e amores.

Desta forma, Monsenhor Eduardo Melo Peixoto aponta-nos uma nova maneira de encarar o desembarque final na viagem da vida. A última estação não é a representação da morte, mas é sobretudo o clímax de uma história, de uma vida que duas ou mais pessoas construíram porque tiveram sempre a coragem de reconstruir para recomeçar.

“Ecos da Vida” acompanha-nos nesta viagem e cada crónica é um símbolo de garra e de luta, um vagão de sabedoria da vida, uma carruagem que frequentamos e nos ensina a tirar o melhor de "todos os passageiros".
“Ecos da vida” é uma dupla delícia porque traz a vantagem da gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado nesta viagem de comboio.

Monsenhor Eduardo Melo aproveita, de forma simples, directa, afirmativa e acessível a todos – como um bom jornalista! - pedaços da vida para extrair deles valores que podem ecoar como lições na vida de quem lê.
Os textos das crónicas são curtos, adequados a um excelente livro de cabeceira que funciona como exame de consciência de um dia que passamos na carruagem da vida ou programa de vida até ao apeadeiro do dia seguinte.

“Ecos da Vida cumpre os requisitos de um livro, traçados pelo nosso padre António Vieira - é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, um morto que vive – mas também é a prova de que os homens são capazes de fazer magia.
Como director do jornal Correio do Minho, ao tempo em que Monsenhor Eduardo Melo Peixoto escreveu estes textos, agradeço a honra de o termos tido connosco ao longo de largas dezenas de semanas.

Termino com uma provocação aos leitores: o verdadeiro cavalheiro compra sempre três exemplares de cada livro — um para ler, outro para guardar na estante e o último para dar de presente.

“Ecos da vida” é um bom companheiro de viagem.

(1) PEIXOTO, EDUARDO MELO, Ecos da Vida, Ed. Irmandade de São Bento da Porta Aberta, Terras de Bouro, 2005, p. 15

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