Friday, July 10, 2009

Franceses em Braga há 200 anos (15)


O Grande exército que, em Pratzen, dobrou vencera dois Impérios e conquistou "a mais fulgurante e estimável vitória para as águias napoleónicas" — como descreve Carlos Azeredo, veio aqui ao Minho e Norte de Portugal saborear o travo amargo da derrota.

Foi uma humilhante derrota imposta pela tenacidade sem limites, pelo sacrifício sem reservas e pela coragem sem vacilações da humilde gente rural, incentivada pelos padres das aldeias e apoiada por alguns Militares, mostrando ao povo um grande General, Francisco Silveira.

O que restava dos homens e cavalos comandados por Soult estava a salvo, apesar de o General Silveira os ter perseguido pelo caminho de Montalegre até Padroso e passando junto ao Cabeço de Lamas a mais de 1200 metros de altitude, onde recebeu ordem de Wellesley para regressar, tendo entrado em Montalegre a 19 de Maio a caminho de Chaves onde entrou a 20 de Maio de 1809.

Deixando atrás de si um rasto de destruição, sangue e morte, assim acabou a «bela expedição» a Portugal, como se lhe referia o próprio Napoleão nas instruções para a sua execução.

O Marechal Soult perdeu mais de um quarto — 27% — dos efectivos com que violou a fronteira para pisar a Terra Lusitana, entrar na Póvoa de Lanhoso, invadir Braga e conquistar o Porto: mortos ou aprisionados foram cerca de 5700 homens, dos quais 2000 perdidos nesta terrível retirada entre por Lanhoso, Salamonde e Montalegre.

Vencido sem que se tivesse empenhado em qualquer grande e decisiva batalha, a não ser a da Serra do Carvalho, em Covelas e Carvalho d'Este, Soult viu-se obrigado a destruir a sua artilharia e a largar o produto das pilhagens, numa retirada humilhante e precipitada através de vielas com um exército, descalço e esfarrapado nos seus uniformes, faminto e atirado para um estado moral lastimável!

A figura militar do Tenente-General Francisco da Silveira que se afirmou nesta II invasão e em batalhas posteriores, continua praticamente afastada das galerias das nossas unidades e as praças das nossas cidades foram bem mais pródigas em estátuas e placas de Generais mais políticos que militares, mas com menos projecção nacional que Silveira, sem dúvida o Militar mais notável do Exército Portugues durante as campanhas da Guerra Peninsular. Recentemente, foi feita alguma justiça, com a inauguração de um belo monumento em Chaves, na presença do presidente da República.

É que a fantástica vida militar do General Francisco da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira, não terminou em Chaves no dia 20 de Maio, de 1809, uma vez que prosseguiu no ano seguinte, em Agosto, quando reconquista a vila leonesa de Puebla de Sanábria, ocupada em finais de Julho por tomas francesas que bateram o General espanhol Taboada; após 10 dias de cerco e de combates, o inimigo rendeu-se entregando nas mãos de Silveira 400 prisioneiros, material de guerra e uma insígnia imperial de um Batalhão Suíço.

Nesse ano, de 1810, desde o inicio de Setembro até meados de Novembro, bloqueia a praça de Almeida, e mais tarde, a 24 de Novembro, em Valverde, ataca a Divisão Gardanne que obriga a retirar, deixando no terreno mais de 300 mortos.

A 31 de Dezembro Silveira é batido com as suas pequenas forças transmontanas, pelos 8000 homens de uma divisão do 9.º Corpo, de Drouet, na Ponte do Abade, onde perde 200 homens, mas, a norte do Douro consegue opor-se com sucesso, durante todo o rude inverno de 1810-1811 às tentativa, de Claparéde para passar o Douro afim de recolher provisões no rico Entre-Douro-e-Minho para o faminto exército de Massena.

Em 1813, durante a Campanha do Sul da França, Silveira assume o comando da divisão do General Hamilton, a qual tem uma acção importante no ataque a Tormes a 25 de Maio.

A 21 de Junho, na batalha de Vitória (60 000 franceses contra 80000 aliados) a Divisão Silveira (única Divisão portuguesa na batalha), envolvendo a esquerda do inimigo caiu-lhe sobre a retaguarda pondo-o em fuga desordenada e capturando parte da sua Artilharia, bagagens e o célebre tesouro do Rei José Bonaparte.

O General Francisco Silveira foi condecorado pelo Governo Inglês com a Medalha de Ouro de Comando em Vitória, de que apenas foram cunhados três exemplares, cabendo um deles ao próprio Wellington, e pelo Rei de Espanha foi-lhe concedido o título de Grande de Espanha e a comenda da Grão Cruz da Ordem de São Fernando.

— D. João VI atribui-lhe a Grão-Cruz das Ordens de Cristo e da Torre e Espada e ainda o título de Grande de Portugal. antes de falecer a 28 de Maio de 1821 na sua casa em Vila Real de Trás-os-Montes. Os seus restos mortais descansam em sepultura própria, na Capela do Espírito Santo da povoação de Canelas do Douro.

Aliás, foi em memória e homenagem a este General e a todos anónimos Portugueses que, numa Pátria invadida, moribunda e arruinada, não desistiram e souberam lutar, que o general Carlos Azeredo dedicou o seu livro “As populações a norte do Douro e os Franceses em 1808 e 1809”, editado em 1984 pelo Museu Militar do Porto e constituiu importante apoio na elaboração de algumas das partes desta série de trabalhos.

No comments: