Saturday, December 6, 2008

Uma boa companhia "Em horas de solidão"


Domingos da Silva Araújo acaba de lançar mais um livro, intitulado “Em horas de solidão” cuja leitura constitui uma boa companhia para “esses dias”, nem que seja um só poema de cada vez.

Este volume surge no mesmo ano em que foi lançado “Livro das Horas”, com quase duzentas páginas, um título há muito anunciado na sequência de “Refúgio” e de “Vivências do Natal”.

Na apresentação do “Livro das Horas”, Domingos da Silva Araújo justificava que os seus poemas eram a “expressão do meu sentir e do meu relacionamento com Deus. Não sei viver sem Ele e sem conversar com Ele”.

Tal como em “Livro das Horas” o autor recolhia poemas que tinham sido escritos entre 1954 e a actualidade, também neste “Em horas de solidão”, o antigo director do jornal Diário do Minho partilha um dos “dois quartos” do seu coração (a dor e o prazer), na perspectiva definida por Antero de Quental.

Neste volume, Silva Araújo coloca à nossa disposição os escritos referentes ao primeiro quarto, “da dor física e da dor moral”, desde os seus 18 anos até 2008, destacando aqueles dias em que se viu “ferido, roto e ensanguentado” ou, então, “exausto e desanimado”.

São pedaços daqueles momentos da vida de cada um de nós em que “a única saída — escreve o autor — me pareceu ser o desabafar com o papel, transferindo para ele os sentimentos da minha angústia, da minha revolta, do meu inconformismo, da minha insatisfação, das minhas limitações, das tentações do desânimo”.

Valeu a pena, porque estes desabafos para o papel transferiram “mais vontade de viver” e vontade de ultrapassar as contrariedades para saborear a “indesmentível fidelidade de familiares e amigos” bem como “um sem número de consolações”.

E quais são as contrariedades que Silva Araújo partilha connosco para nos ensinar e ajudar a ultrapassar? São, entre outras, as “desilusões provocadas por pessoas em quem tinha posto uma ilimitada confiança; o lavar de mãos de quem me devia ter apoiado e cobardemente não o fez; a crueza de quem de mim se serviu e me tratou mais como objecto do que como pessoa”.

Folhear com olhos gulosos estas seis dezenas de poemas de Silva Araújo é entrar numa “gaiola vazia” onde nos sentimos “estrangeiros no mundo”, embora possamos aqui e ali vislumbrar o “jardim da Esperança” que dá colorido ao cinzento-e-preto do “anoitecer” quando chega o momento do “porquê” que nos ensina a “ser e querer” para “esgotar o cálice da amargura que (nos) fora destinado”.

Só quem sabe e balbucia no “Credo” que “Deus existe” — como quem pede que “deixem dormir o menino” que há em nós — pode entender um “poema de inverno” que nos leva a passear até “ao mar de sargaços e de areias/que trago no meu peito a cachoar”!

Ora, quem, como o autor, anda pelo “cais da vida”, “nesta escalada íngreme da vida, cheia de precipícios e surpresas” pode perscrutar pelo postigo das “trevas” que a dor também tem uma porta de saída? O leitor.

Para além deste livro, o autor também merece porque começou a sua aventura literária em 1961 com “Poemas da hora que passa” e tem dedicado grande parte da sua vida à divulgação de temas como o jornalismo, política, literatura portuguesa, religião, além de ter colaborado em várias colectâneas.

Em preparação, este vimaranense, actual Reitor da Basílica dos Congregados, tem mais alguns livros de versos e prosas diversas.

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